15 de maio de 2020

Chris Froome de saída da Ineos? Um tema diferente para se discutir

© Team Ineos
Perante um ano atípico, sem corridas e em sequer certeza se haverão corridas, pouco se fala do mercado de transferências. São vários os nomes de relevo em final de contrato, com Chris Froome a destacar-se, não fosse ele o detentor de sete vitórias em grandes voltas. Parece surreal pensar que o britânico não renovará pela Ineos, mas como 2020 está a ser algo surreal, então foi noticiado que Froome poderá estar a ponderar rumar a outra equipa. A melhor parte? Até pode sair já este Verão e fazer o Tour com as novas cores.

A notícia foi avançada ontem pelo site Cycling News e claro que criou uma onda de interesse, ainda mais quando os recentes temas vão sempre bater à pandemia e ao confinamento. Interessados no britânico não devem faltar. Afinal, mesmo estando a poucos dias de celebrar 35 anos, Froome é Froome. Além da idade, persiste a dúvida sobre se o britânico irá conseguir regressar ao nível necessário para ganhar uma Volta a França, depois da grave queda há quase um ano no Critérium du Dauphiné. Mas... Froome é Froome e muito tem o ciclista feito para passar a mensagem que vai estar forte, seja quando for que o Tour aconteça (a esperança é que arranque no final de Agosto).

Mudanças com a época a decorrer é algo muito raro no ciclismo. Entre os casos mais recentes temos, por exemplo, Rohan Dennis em 2014 - da Garmin Sharp para a BMC - e Carlos Verona em 2016, quando trocou a Etixx-Quick Step pela Orica-BikeExchange.

No caso de Froome, até não é difícil perceber porque se fala de uma eventual saída já. Há poucos dias Egan Bernal afirmou que, estando bem fisicamente, não se vai sacrificar por ninguém na Volta a França. Venceu o último Tour, tem uma qualidade e um potencial do mais elevado que se viu nos últimos anos, tem perfil de líder e é visto como o sucessor de Froome na Ineos.

Inevitavelmente, Froome sabe que se o colombiano estiver em boa forma, pode ter dificuldades em impor-se. Não será como aconteceu em 2018 com Geraint Thomas. Mesmo sendo o galês o ciclista melhor fisicamente, Froome - que tinha ganho o Giro - nunca perdeu o estatuto de líder na equipa, mesmo que Thomas tenha conseguido segurar a camisola amarela até Paris.

Thomas é outro galo para o poleiro, mas mesmo sendo um vencedor do Tour, se já em 2019 teve poucos argumentos para se impor perante Bernal, agora estará reduzido a um eventual azar ou deslize tanto do colombiano, como de Froome. No entanto, também vai afirmando que quer ser líder.

A Froome não agradará nada ter de competir num Tour sem sentir que tem toda uma equipa a apoiá-lo. Passados oito anos, Froome vê-se no lugar de Bradley Wiggins (com as devidas diferenças do que ambos alcançaram na carreira): está a perder estatuto. No entanto, não é ciclista de desistir, ou virar a cara a uma luta, a um desafio e quererá mostrar, pelo menos este ano (se houver Tour), que merece toda a confiança

Chris Froome quer competir pelo menos mais quatro anos e ganhar dois Tours, para assim ser o recordista solitário. Ficar na Ineos - sem dúvida a sua casa - parece ser sempre o caminho mais óbvio e provável. Mas, caso se confirme que está mesmo a ponderar sair, quem está interessado e (mais importante) quem pode pagar a Froome, mesmo que este reduza um pouco as exigências salariais?

Esta paragem forçada na época devido à pandemia está a deixar várias equipas com problemas financeiros preocupantes. Ainda assim, há quem vá mantendo alguma estabilidade e pode olhar para o futuro com ambição. Curiosamente, a Ineos pode ser a equipa mais poderosa financeiramente, mas a ligação do patrocinador ao mundo do petróleo - que muito desceu durante as últimas semanas - já fez abanar um pouco a estrutura da equipa de ciclismo. Porém, para já, renovar com Froome é uma opção.

Se sair, há duas equipas que já estão a ser dadas como muito interessadas: Movistar e Israel Start-Up Nation. A equipa espanhola contratou Enric Mas para preencher as vagas de Mikel Landa e Nairo Quintana, mas o jovem ciclista ainda tem muito a provar quanto a poder discutir uma grande volta, principalmente um Tour. Já tem um pódio na Vuelta, talento não lhe falta, mas não se pode ainda olhar para Mas como um forte candidato a uma vitória em França. Aos 40 anos, Alejandro Valverde continua a ser a voz de comando na equipa, mas já pouco poderá dizer se Froome chegar para tentar conquistar o seu quinto Tour.

Jose Joaquin Rojas, um dos históricos da Movistar, até brincou com a situação, abrindo as portas da formação espanhola a Froome com uma mensagem no Twitter: "Amigo, sabes que em Espanha temos boa comida e tu terás um bom apoio." Fica à consideração de Froome, que saberá que tem gregários de qualidade naquela equipa, como o português Nelson Oliveira. Outro aspecto importarnte, a empresa de telecomunicações Movistar está a entrar no mercado britânico. Froome seria um rosto excelente, a pensar no lado promocional.

A Movistar pode ter a concorrência da Israel Start-Up Nation, pelo menos a nível de interesse. A equipa que este ano chegou ao World Tour precisa muito de um líder com capacidade de vencer. Daniel Martin é um ciclista de top dez, mas não um candidato a uma vitória numa grande volta e já pouco se acredita que chegue sequer a um pódio. Nesta equipa não haverá discussões de lideranças. Se Froome assinasse seria o número um. Contudo, apesar de alguns corredores de qualidade, a formação israelita não tem um bloco que possa colocar Froome a concorrer com a Ineos, por exemplo. O magnata Sylvan Adams estará disponível para aumentar o orçamento da equipa para garantir Froome, segundo notícias divulgadas em Israel.

Olhando para o aspecto financeiro há duas equipas que dinheiro têm, interesse desportivo é que não. A UAE Team Emirates pode contratar Froome, mas, com Joxean Fernández Matxin ao leme, esta equipa está num processo de rejuvenescimento e o britânico não tem lugar. Tadej Pogacar é o jovem líder que a formação de Rui Costa e dos gémeos Oliveira quer levar à vitória no Tour e noutras grandes voltas. A Jumbo-Visma ainda menos espaço tem. Conta com demasiados líderes: Steven Kruijswijk, Primoz Roglic e Tom Dumoulin.

A Bahrain-McLaren tem agora Rod Ellingworth a coordenar e a sua longa ligação à Sky/Ineos poderia ajudar a influenciar Chris Froome. Mikel Landa é que não acharia piada nenhuma e com a equipa a ser uma das que reduziu os ordenados quando a temporada foi suspensa, seria difícil explicar aos atletas uma contratação de peso, ainda mais a meio da época e até mesmo para 2021.

Outras formações poderiam - em condições normais - surgir na lista, mas entre as dificuldades financeiras, ou o terem os plantéis com líderes definidos, percebe-se as razões de a Movistar e a Israel Start-Up Nation surgirem nos meios de comunicação social especializados como as principais candidatas, se não houver uma renovação.

Depois de tantas semanas em que falar do ciclismo actual era difícil (se não impossível) sem referir o coronavírus, pelo menos há uma novela de transferência a desenrolar-se, mesmo que no final fique tudo como está.

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