(Fotografia: © Team Movistar) |
Depois de semanas de indefinição e de um intenso braço-de-ferro, a Movistar divulgou um curtíssimo comunicado dando conta que chegou a acordo com Andrey Amador. Vão seguir caminhos separados. O ciclista da Costa Rica tem assim o caminho livre para assinar pela Ineos, como há muito pretende. Uma batalha resolvida, mas as consequências da guerra que esta situação agravou entre o director da equipa espanhola, Eusebio Unzué, e o empresário Giuseppe Acquadro, poderão não ter ficado pela saída de importantes ciclistas da equipa no final de 2019.
Durante anos, Acquadro foi um importante aliado de Unzué na contratação de ciclistas. Com uma aposta forte nos corredores da América Latina e com a formação espanhola a ser sempre muito receptiva a estes atletas, a relação foi profícua, mas azedou rapidamente no ano passado. De tal forma, que Unzué não só afirmou que não trabalharia mais com o agente, como houve ciclistas que tiveram de deixar Acquadro caso quisessem assinar pela Movistar. Imanol Erviti é um exemplo, pois só ao deixar o empresário pôde renovar, enquanto Sergio Samitier (ex-Euskadi-Murias), teve de o fazer se queria dar o salto para esta formação do principal escalão.
Acquadro tem muita influência no ciclismo, com uma lista de alguns dos melhores ciclistas da actualidade. Em anos recentes tem-se verificado uma forte aproximação à Ineos, com Egan Bernal a ser um dos seus clientes mais mediáticos. O agente não tem problemas em admitir que se há uma equipa que paga melhor, que irá tentar colocar os seus atletas nela. Além da Ineos, a Astana também beneficia do trabalho de Acquadro, tendo, por exemplo, os irmãos Izagirre, dois ex-Movistar, com passagem pela então Bahrain-Merida.
O final da relação com a Movistar precipitou-se quando começou a tentar levar Richard Carapaz para a Ineos. Estávamos em plena Volta a Itália quando Acquadro fez saber do desejo de melhorar o salário do equatoriano. Porém, entretanto, já estaria em negociações com a Ineos. Carapaz ganhou essa grande volta, apesar de Mikel Landa ser a principal aposta da equipa espanhola e acabaria mesmo por escolher a estrutura britânica para prosseguir a carreira em 2020.
Era suposto liderar a Movistar na Vuelta, mas Carapaz foi uma semana antes competir num critérium na Holanda, sem autorização da sua equipa. Acquadro chegou a admitir que nada foi dito a Unzué, porque este teria dito não. Carapaz caiu, lesionou-se e ficou de fora da grande volta espanhola.
Era suposto liderar a Movistar na Vuelta, mas Carapaz foi uma semana antes competir num critérium na Holanda, sem autorização da sua equipa. Acquadro chegou a admitir que nada foi dito a Unzué, porque este teria dito não. Carapaz caiu, lesionou-se e ficou de fora da grande volta espanhola.
Entre os clientes de Acquadro está também Nairo Quintana, um ciclista que há muito que tinha entrado em rota de colisão com o responsável da Movistar e que mudou-se para a Arkéa Samsic. Mas acabaria por ser Andrey Amador a gerar definitivamente uma guerra entre Unzué e Acquadro. A meio da temporada foi anunciada a renovação de contrato do ciclista que representou a equipa espanhola durante 11 anos. No entanto, acabaria por mudar de ideias perante o interesse da Ineos e em meados de Setembro iniciou-se o complicado divórcio, com a equipa britânica na expectativa.
Acquadro afirmava que Amador não tinha assinado nada com a Movistar. Unzué dizia o contrário e afirmou que se o ciclista quisesse sair, teria de pagar. O caso acabou na UCI, que ainda não anunciou uma decisão. E já não precisa. Com a época a decorrer, Amador pode finalmente assinar pela Ineos, aguardando-se agora por este anúncio*.
Com Acquadro a ter uma lista de atletas tão relevante, a equipa pode encontrar dificuldades nos próximos anos em contratar ciclistas importantes ou emergentes, principalmente quando procurar na América Latina, a não ser que enterre o machado de guerra com o empresário.
Quanto a Amador, a Movistar limitou-se a escrever nas redes sociais que tinha chegado a acordo com ciclista e que lhe deseja o melhor para o futuro. Já o corredor foi mais emotivo na hora do adeus, agradecendo todo o apoio ao longo de 11 anos, considerando que encontrou naquela estrutura uma segunda família quando deixou o seu país (carta completa em baixo, publicada no Twitter de Amador).
Muchas gracias @Movistar_Team por estos 11 años juntos. Intenté agradecer todo el apoyo que me brindaron en esta carta, aunque es imposible. Les deseo lo mejor 🙌🏼 pic.twitter.com/nsy87JfdWc— Andrey Amador (@Andrey_Amador) February 11, 2020
O eterno gregário e a liderança que lhe escapou
Amador tornou-se num dos melhores ciclistas de trabalho do pelotão e a Ineos irá ganhar um homem muito importante na sua estrutura. Aos 33 anos, esta mudança não é para assumir um papel de maior protagonismo. Essa oportunidade surgiu em 2015 e 2016 e pensou que 2017 repetiria no Giro esse estatuto. Mas não. A equipa levou Alejandro Valverde e apesar das tentativas de Amador em ter protagonismo, o espanhol foi a aposta. Amador percebeu definitivamente que nunca seria um líder da equipa. Ainda assim, nesse 2017 foi oitavo na grande volta onde sempre se deu bem, tendo sido quarto em 2015 e envergou a camisola rosa por um dia em 2016. A Costa Rica vestiu-se dessa cor para celebrar o feito.
Com a chegada de Landa fechou-se ainda mais o espaço para ter oportunidades para lutar por resultados pessoais. Na Ineos viverá uma nova experiência, numa equipa com um ambiente mais calmo e com um ritmo de sucesso bem mais elevado. E o ordenado será vai subir, algo também importante quando já não lhe restará muito mais tempo para assinar grandes contratos. Em boa forma, não será de estranhar ver Amador ganhar um lugar entre os gregários de confiança dos líderes da equipa britânica.
Acquadro fez um "desvio" polémico em 2018
Esta situação não é a primeira polémica de uma transferência que envolve o empresário. Em 2018 ficou acordado verbalmente que Iván Ramiro Sosa, um dos colombianos em ascensão e que estava na Androni Giocattoli-Sidermec, iria para a Trek-Segafredo. Foi inclusivamente anunciado como reforço. Porém, antes que fosse colocada uma assinatura num contrato, Sosa foi "desviado" para a Ineos. Acquadro é o seu representante, tendo ainda na equipa ciclistas como Michal Kwiatkowski e Jonathan Castroviejo (um ex-Movistar). David de la Cruz é outro corredor representado por Acquadro. O espanhol deixou a Movistar rumo à UAE Team Emirates, outra equipa que o agente também já estará a reforçar relações, pois, afinal, o poderio económico tem aumentado de ano para ano.
(*NOTA: Andrey Amador assinou pela Ineos até 2022 no dia seguinte, 12 de Fevereiro.)
(*NOTA: Andrey Amador assinou pela Ineos até 2022 no dia seguinte, 12 de Fevereiro.)
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