Egan Bernal não deixou arrastar a especulação e já anunciou publicamente qual a grande volta em que irá apostar na próxima temporada. Não fez segredo o desejo de ir ao Giro, mas a vontade da Ineos sobrepôs-se e o colombiano irá mesmo apostar na Volta a França. A decisão ficou tomada após o estágio de final de ano e início de temporada, antes do Natal, com a equipa britânica a deixar claro que quer o vencedor de 2019 a 100% para a edição do Tour de 2020, mesmo que haja o plano de tentar levar Chris Froome à quinta conquista.
"Não irei ao Giro. A nossa aposta será pelo Tour a 100%, onde tentarei estar bem", afirmou Bernal, citado pela versão colombiana do El País. O ciclista foi a estrela no Grande Prémio de Cali e com uma simples frase terminou com as dúvidas, que nem eram muitas. Não foi uma surpresa que tenha de adiar a ida à Volta a Itália. Bernal não é de grandes secretismo e mesmo dando a devida importância ao Tour, foi dizendo que quer conquistar outras vitórias e não concentrar-se apenas na grande volta francesa. Porém, mesmo tendo conquistado um estatuto muito importante com apenas 22 anos, ainda está algo preso às directrizes dos responsáveis da Ineos.
Se Chris Froome oferecesse neste momento garantias, a história poderia ser bem diferente. No entanto, ver Froome regressar ao seu melhor e ser um sério candidato a ganhar o Tour é uma garantia que não existe. Há que esperar ainda algumas semanas, para não dizer meses, para se perceber como irá o britânico recuperar da grave queda no Critérium du Dauphiné, em Junho.
A Ineos não abandona o seu capitão, mas também não deixa cair a sua ambição de ser dona e senhora da mais mediática e histórica das grandes voltas. Por mais que possa alargar os seus objectivos às outras duas provas de três semanas, é o Tour que mais quer continuar a conquistar. Já são sete vitórias em oito anos para uma equipa com uma década de existência.
Dave Brailsford e os seus directores desportivos querem fazer ainda mais parte da história da Volta a França e ganhar pela quinta vez com Chris Froome é o próximo capítulo procurado, depois de Bradley Wiggins ter sido o primeiro britânico a vencer o Tour. Cinco é o número mágico alcançado por Bernard Hinault, Eddy Merckx, Jacques Anquetil e Miguel Indurain. O sonho até já foi mais longe e pretendia-se levar Froome a ser o recordista solitário, mas por agora, a Ineos ficará satisfeita em ter o seu ciclista no restrito grupo com cinco vitórias.
Contudo, os responsáveis têm de ser realistas e pragmáticos e é aí que entra Bernal. Acima de tudo a Ineos quer manter o domínio em França e não quer ter um colombiano cansado do Giro, por mais talentoso e fora-de-série que seja Bernal. A equipa viu o que aconteceu a Froome quando este apostou no Giro (que ganhou), sofrendo depois em França, em 2018. Se o britânico não estiver em condições para disputar o Tour, é Bernal quem entrará em cena.
O colombiano terá de lidar com a posição desconfortável de não saber como será com o companheiro. Mas é difícil vê-lo como plano B. Ao mínimo sinal de fraqueza de Froome - partindo do princípio que estará em condições de ir à Volta a França - Bernal tomará as rédeas.
A Ineos sabe que o cerco dos rivais está a apertar-se, principalmente por parte da Jumbo-Visma. Não há margem para qualquer tipo de cedência e a equipa britânica responderá assim com os seus melhores ciclistas, ao anunciado tridente Primoz Roglic, Steven Kruijswijk e Tom Dumoulin.
A Volta a Itália ficará mesmo para Richard Carapaz, vencedor de 2019 ao serviço da Movistar, e que agora será líder indiscutível da Ineos. Geraint Thomas também deverá ir a Itália, mas o galês pediu para ir ao Tour. Se assim for, terá mesmo de regressar ao papel de gregário. Em Itália, poderá ter mais liberdade, ainda que seja Carapaz a principal aposta.
Quanto à restante época de Bernal, o calendário será idêntico ao de 2019. Começará em casa, na Volta à Colômbia, de 11 a 16 de Fevereiro. Seguir-se-á o Paris-Nice (que venceu este ano) e Volta à Catalunha em Março, Volta ao País Basco no mês seguinte e a Volta à Suíça (que também venceu) antes de atacar o Tour. Acresce a presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio, seis dias depois do final da Volta a França.