31 de janeiro de 2017

Sprinters, contra-relogistas, trepadores. Mais uns grandes nomes confirmados para a Volta ao Algarve

Nacer Bouhanni, o bad boy do ciclismo, irá discutir os sprints na Volta ao Algarve
(Fotografia: Team Cofidis)
John Degenkolb e Arnaud Démare eram os dois ciclistas confirmados para animar os sprints na Volta ao Algarve, mas a concorrência vai ser intensa com mais uns nomes confirmados para a corrida portuguesa. Nacer Bouhanni (Cofidis) - o rival francês de Démare e o bad boy do ciclismo - o alemão André Greipel (Lotto Soudal), Dylan Groenewgen (campeão holandês da Lotto-Jumbo), Edvald Boasson Hagen (Dimension Data) e Fernando Gaviria (a jovem promessa colombiana da Quick-Step Floors, que recentemente venceu duas etapas na Volta a San Juan) vão marcar presença na Algarvia. Portanto, Lagos e Tavira têm tudo para ser palco de disputa entre alguns dos melhores sprinters mundiais. Mas há mais nomes a dar forma a mais um pelotão de luxo na Volta ao Algarve.

Para as etapas de montanha e para o ataque à geral, Michal Kwiatkowski (Sky) regressa para tentar repetir o triunfo de 2014, mas terá de enfrentar Rafal Majka - que este ano é um dos líderes da Bora-Hansgrohe -, Andrey Amador (Movistar), Tony Gallopin (Lotto Soudal), Primož Roglič - quinto classificado em 2016 -  e Lars Boom (ambos da Lotto-Jumbo). Para completar este fantástico grupo de ciclistas, estará ainda Daniel Martin, o irlandês da Quick-Step Floors.

Ainda falta confirmar vários corredores que irão completar as equipas, mas já dá para perceber que as formações World Tour vão apresentar-se no Algarve com candidatos a vencer qualquer das cinco etapas. No contra-relógio, o campeão da Europa Jonathan Castroviejo (Movistar) irá juntar-se ao campeão do Mundo Tony Martin (Katusha-Alpecin). Os dois terão certamente a forte concorrência do quatro vezes campeão nacional da especialidade, Nelson Oliveira.

A Movistar terá os dois portugueses entre os eleitos. Além de Nelson Oliveira, a equipa espanhola contratou este ano Nuno Bico, que aos 22 anos começa a sua experiência ao mais alto nível do ciclismo. O outro campeão nacional, mas de fundo, José Mendes (Bora-Hansgrohe), também estará nas estradas algavias. Estes ciclistas juntam-se aos já confirmados Tiago Machado e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) e Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo). Do escalão Profissional Continental, a Caja Rural terá Rafael Reis na equipa e a Manzana Postobón contará com Ricardo Vilela.


No dia da apresentação da corrida, que este ano tem a categoria 2.HC (a segunda mais alta), foram também apresentados os patrocinadores das quatro camisolas:

  • Geral individual: camisola amarela/Turismo do Algarve;
  • Montanha: camisola azul/Liberty Seguros;
  • Pontos: camisola vermelha/Cofidis;
  • Juventude: camisola branca/Sicasal.

A Volta ao Algarve realiza-se entre 15 e 19 de Fevereiro, contando com duas etapas planas, uma de contra-relógio e duas de montanha, com a decisão final marcada novamente para o Alto do Malhão. Uma das grandes novidades será o regresso da transmissão televisiva, com o Eurosport e a TVI24 a transmitirem a última hora das etapas.


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30 de janeiro de 2017

12 ciclistas terão utilizado motores na Volta a França de 2015. Sky sob suspeita

(Fotografia: UCI)
O muito aguardado programa "60 minutes", da CBS, sobre a utilização de motores no ciclismo foi transmitido este domingo nos EUA. Surgiram novas alegações, reforçaram-se as já conhecidas, mas não foram avançados nomes, apenas lançadas mais suspeitas. As principais recaem na Volta a França de 2015, durante a qual 12 ciclistas terão utilizado motores nas suas bicicletas. Quem o disse foi Jean-Pierre Verdy, antigo director da agência anti-doping francesa, que, no entanto, não divulgou qualquer nome. Também a Sky ficou sob suspeita, pois na pesagem das bicicletas de contra-relógio, estas eram 800 gramas mais pesadas do que as das outras equipas. E é precisamente 800 gramas que o peso de uma bicicleta pode aumentar caso esta tenha uma roda traseira munida com tecnologia de ponta que permite aumentar a velocidade, ou seja, uma forma de doping mecânico.

Suspeitas prontamente desmentidas pela Sky, que em 2015 conquistou o Tour por intermédio de Chris Froome.  A CBS cita fontes que garantiram que a UCI não permitiu que investigadores franceses pesar as rodas das bicicletas da equipa britânica separadamente. A reportagem volta a levantar a questão sobre a utilização de motores no ciclismo profissional, com o antigo ciclista Greg Lemond, um dos entrevistados, a dizer que não irá confiar em nenhuma vitória no Tour "até encontrarem forma de tirar o motor" das bicicletas.

'Stefano' Varjas, o pai do doping mecânico, voltou a ser entrevistado. Varjas já demonstrou várias vezes como podem funcionar os motores, estejam instalados nos quadros ou nas rodas, que é um sistema mais recente. Varjas continua a não dizer a quem vendeu vários motores, explicando que lhe deram dois milhões de dólares pela exclusividade do sistema durante 10 anos, o que considerou ser uma proposta irrecusável. 

Varjas continua a defender que as rodas devem ser pesadas e que assim poderão descobrir quem anda a utilizar a tecnologia. É o que diz Kathy LeMond, mulher do antigo ciclista, que trabalhou em segredo com a polícia francesa e que pediu a Varjas para colaborar na investigação.

Jean-Pierre Verdy referiu ter ficado perturbado ao ver as velocidades que se atingem nas etapas de montanha na Volta a França e que em 2014 lhe foi dito que estavam a ser utilizados motores. Através de informações que recolheu junto de pessoas envolvidas no ciclismo, inclusivamente directores de equipas e ciclistas, Verdy chegou então à conclusão que 12 corredores recorreram a motores no Tour de 2015. "Estão a prejudicar o desporto deles. Porém, a natureza humana é assim. O Homem sempre tenta encontrar uma poção mágica", afirmou Verdy.

As suspeitas da utilização de motores nas bicicletas começaram há alguns anos e ganharam força em 2010. Fabian Cancellara foi acusado de ter recorrido ao doping mecânico no Paris-Roubaix. O suíço sempre desmentiu tais alegações e nunca nada foi provado. E a palavra suspeita era a mais utilizada até há um ano, quando pela primeira vez foi descoberto um motor. Aconteceu nos mundiais de ciclocrosse, com a a belga Femke Van den Driessche, de 19 anos, a ser apanhada numa inspecção. Cerca de três meses depois, um programa de televisão francês, "Stade 2", e o jornal italiano Corriere della Sera, divulgaram que através de um detector de calor foi possível verificar que foram utilizados motores em duas provas, uma delas a Strade Bianchi. Não foram adiantados nomes, apenas imagens dos alegados motores nas bicicletas.

A UCI tem melhorado a tecnologia de detecção de possíveis infractores. No entanto, a própria não se livra de suspeitas (de novo esta palavra) de estar a proteger algumas equipas ou determinados ciclistas. O presidente da UCI, Brian Cookson, afirmou, ainda antes da transmissão do programa da CBS, que o organismo está ciente que a tecnologia existe, garantindo que tem formas como lidar com o chamado doping mecânico, que a UCI prefere apelidar de fraude tecnológica.

No ano passado, a inspecção a bicicletas foi reforçada em praticamente todas as grandes corridas e sempre amplamente divulgada. O receio que se possa estar a lidar com uma nova bomba relógio no ciclismo é bem real. A modalidade ainda se está a refazer das ondas de choque do caso Armstrong, e esta nova forma de doping tem estado no centro das preocupações. Porém, Femke Van den Driessche é o único caso confirmado, o que não invalida que o ciclismo esteja a tentar viver com mais uma suspeição, muito alimentada, mas pouco confirmada.

Ganhou a corrida, chocou com um fotógrafo e foi para o hospital sem passar pelo pódio

McLay bem disposto, mesmo depois de ser obrigado a celebrar a vitória no hospital
(Fotografia: Twitter Fortuneo-Vital Concept)
Daniel McLay nem teve tempo para festejar. O sprinter britânico da Fortuneo-Vital Concept bateu no sprint Matteo Pelucchi (Bora-Hasngrohe), Nacer Bouhanni (Cofidis) e André Greipel (Lotto Soudal). A discussão pelo Trofeo Palma - a última corrida do Challenge de Maiorca - foi de tal forma renhida que só com photofinish se conseguiu definir o vencedor. Porém, McLay recebeu a notícia quando estava no chão, a sangrar do rosto e a preparar-se para ir de ambulância para o hospital.

O insólito aconteceu este domingo. Depois de um sprint a alta velocidade, McLay viu um repórter fotográfico na sua direcção. "Estava à espera que ele se mexesse, mas ele continuava a olhar para a sua máquina. Eu não conseguia desviar-me para a direita porque estavam lá ciclistas. Queria evitá-lo, mas naquele momento ele levantou-se e chocámos. Ainda não sabia que tinha ganho. Foram os meus colegas de equipa que me disseram depois da queda", explicou McLay, num comunicado divulgado pela Fortuneo-Vital Concept.

No Twitter, o britânico referiu que, entretanto, o repórter fotográfico já lhe pediu pessoalmente desculpa, que foram aceites por McLay e que deixou ainda um recado: "Foi um erro que pode ser evitado no futuro com uma melhor organização, mas ambas as partes estão bem, tirando uns arranhões."

Além de McLay e o fotógrafo, o incidente ainda provocou a queda de algumas motos da organização, ainda com os motards sentados nelas, que estavam paradas por trás de onde estavam os repórteres fotográficos. Foi um momento confuso, segundo explicou ao Cycling News Oliver Neilson, um fotógrafo que também estava na zona da meta. Neilson não viu o que aconteceu, mas ainda captou imagens dos motards que caíram no estranho incidente que marcou o final do Challenge de Maiorca.

Sem possibilidade de ir ao pódio receber o prémio da vitória, foram os colegas de McLay que o fizeram pelo britânico. O ciclista considerou que foi um momento "fixe" ver quem tanto trabalhou para que conseguisse vencer, subir ao pódio para receber o troféu.



29 de janeiro de 2017

Volta a San Juan. Muita Quick-Step Floors e os sinais positivos de Bauke Mollema, Rui Costa e Rafael Reis

Bauke Mollema começa 2017 com uma vitória moralizadora,
a pensar na Volta a Itália (Fotografia: Twitter Trek-Segafredo)
No ano da internacionalização, ou seja, da subida de categoria UCI para 2.1, a Volta a San Juan só não foi 100% internacional, porque Maximiliano Richeze venceu duas etapas, dando um toque argentino a uma corrida que apenas pela segunda vez nos seus 35 anos de história não teve um vencedor da casa. San Juan sempre viveu com intensidade a sua corrida e a festa foi intensa com a presença de algumas das melhores equipas e também de ciclistas de renome. E como é uma edição para ficar para a história, então é perfeito que tenha sido inscrito na lista de vencedores de etapas dois campeões do mundo - Tom Boonen e Rui Costa -, um dos mais promissores sprinters - Fernando Gaviria - e um vencedor que começa 2017 a mostrar que aos 30 anos está pronto para lutar por uma grande volta: Bauke Mollema.

Para garantir que a Volta a San Juan seja ainda mais falada no futuro, a Bahrain-Merida, a primeira equipa do Médio Oriente no World Tour, venceu pela primeira vez por intermédio de Ramunas Navardauskas. A segunda equipa do Médio Oriente no World Tour, a UAE Abu Dhabi - e o estatuto de primeira e segunda é apenas por uma questão de datas de confirmação da existência das formações, pois fazem as duas a estreia no principal escalão - também já ganha, com Rui Costa a ficar com o feito de ter sido o primeiro.

Quick-Step Floors venceu cinco das sete etapas
(Fotografia: Volta a San Juan)
Mas vamos a algumas conclusões que se podem tirar desta Volta a San Juan. O grande destaque vai para a Quick-Step Floors. A equipa belga dominou a corrida, conquistando cinco das sete etapas. Sem Marcel Kittel, Fernando Gaviria (22 anos) tinha um hipótese de ouro para se mostrar. Duas tiradas foram para ele e o colombiano comprovou que a formação belga tem mais um potencial grande sprinter a despontar. Richeze (33) também aproveitou a oportunidade para vencer outras duas etapas, mas o argentino sabe que lhe está reservado um papel de apoio aos líderes durante grande parte da época. E para começar bem o último ano da carreira, ou melhor, os últimos quatro meses da carreira, Tom Boonen também ganhou, um triunfo motivante para o veterano ciclista (36 anos) que se prepara para se despedir no Paris-Roubaix, a 9 de Abril.


Rui Costa com razões para sorrir
(Fotografia: Volta a San Juan)
Rui Costa regressou às vitórias depois de mais de um ano sem celebrar uma conquista. Um triunfo importante para o ciclista português - e logo na etapa rainha da Volta a San Juan - que surge em 2017 com uma ambição renovada, apostado em experimentar um novo calendário, como comprova a estreia na Volta a Itália, deixando o Tour de ser o momento do ano para Rui Costa. A vitória permiti-lhe também deixar garantias aos responsáveis da UAE Abu Dhabi que podem contar com ele como líder, mesmo depois de três anos frustrantes numa Lampre-Merida que nunca deu a Rui Costa as condições esperadas de apoio a um chefe-de-fila.

Quanto ao outro português em prova, Rafael Reis fez a sua estreia pela Caja Rural. E que estreia! Se o quinto lugar de Rui Costa na geral (a 26 segundos de Mollema) é um resultado expectável para um ciclista do nível do campeão do mundo de 2013, já Rafael Reis alcançou uma classificação que por um lado comprova o seu talento, mas que por outro talvez não fosse esperada tão cedo na temporada. O ciclista de Palmela foi 15º  na geral (a 2:36 do vencedor), e 17º na sua especialidade, o contra-relógio, na terceira etapa. E este resultado pode muito bem ser só o início de uma carreira internacional promissora. Rafael Reis estará na Volta ao Algarve com a equipa espanhola.





Naturalmente que o grande vencedor da corrida argentina é Bauke Mollema. Mas mais do que ter conquistado a Volta a San Juan, o ciclista holandês deixou indicações muito fortes que quer chegar à Volta a Itália em condições de lutar pela maglia rosa. Com a chegada de Alberto Contador à Trek-Segafredo, Mollema sabia que não podia fazer do Tour o seu principal objectivo, mesmo depois de em 2016 ter sonhado com a vitória ao estar na segunda posição durante várias etapas (acabou em 11º).

O holandês mudou os objectivos, contudo, parece aparecer mais motivado que nunca e principalmente terá atingido a maturidade tanto física como psicologicamente. Aos 30 anos poderá começar a confirmar todo o potencial que há muito lhe é reconhecido, para ser um forte candidato nas grandes voltas, depois de em 2011 ter sido quarto na Volta a Espanha.

Veja as classificações da 35ª edição da Volta a San Juan.

»»A longa espera terminou. Rui Costa voltou às vitórias e bem ao seu estilo««

»»"Rafael Reis pode perfeitamente chegar ao World Tour"««

»»Volta a San Juan e o início de um Rui Costa de ambição renovada««

»»Tom Boonen, o senhor relações públicas... depois do Paris-Roubaix««

Antes de se concentrar na estrada, Ivo Oliveira conquistou mais três títulos nacionais de pista

João Matias e Miguel do Rego seguram o campeão Ivo Oliveira, no pódio da corrida
de perseguição individual (Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
De regresso a Portugal depois do estágio na Califórnia com a nova equipa, Ivo Oliveira chegou a Sangalhos para dominar os nacionais de pista. O ciclista, de 20 anos, venceu três das quatro provas de elite, mas não haverá muito tempo para festejos, pois Ivo escreveu no Twitter que agora vai focar-se na estrada, com estreia marcada pela Axeon Hagens Berman na Volta ao Alentejo (de 22 a 26 de Fevereiro). Destaque ainda para o irmão, Rui, que alcançou dois pódios, deixando indicações que poderá estar a recuperar a melhor forma depois de um 2016 complicado, devido a problemas numa perna (uma operação mal feita após uma queda) a estragarem-lhe grande parte da temporada. Nas senhoras, foi Daniela Reis quem dominou. A ciclista portuguesa não dá hipótese nem na estrada, nem na pista e em Sangalhos ganhou duas das três corridas de elite.

Ivo Oliveira vestiu a camisola de campeão nacional na prova do omnium, corrida por pontos e perseguição individual. João Matias (LA-Metalusa-BlakJack) foi o campeão em scratch, tendo sido segundo no omnium e na perseguição individual. Quanto a Rui Oliveira, foi terceiro no omnium e segundo no scratch.

Mais dois títulos nacionais para Daniela Reis
(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Daniela Reis, actual campeã de fundo e contra-relógio (de estrada), venceu na corrida por pontos e na perseguição individual. De recordar que a atleta, de 23 anos, está em 2017 no mais alto nível do ciclismo feminino, ao representar a equipa belga Lares-Waowdeals. Soraia Silva foi campeã nacional de scratch.

O velódromo de Sangalhos recebeu este fim-de-semana os Nacionais de pista e aqui ficam os campeões de 2017:

Elite Masculina 
Omnium: Ivo Oliveira (Axeon Hagens Berman) 
Scratch: João Matias (LA-Metalusa BlackJack) 
Perseguição Individual (Axeon Hagens Berman) 
Corrida por Pontos: Ivo Oliveira (Axeon Hagens Berman) 

Elite Feminina 
Scratch: Soraia Silva (Bairrada) 
Perseguição Individual: Daniela Reis (Lares-Waowdeals) 
Corrida por Pontos: Daniela Reis (Lares-Waowdeals) 

Juniores Masculinos 
Omnium: João Dinis (Rádio Popular-Boavista) 
1 km: Eduardo Silva (Academia Joaquim Agostinho) 
Scratch: Francisco Duarte (Sicasal/Liberty Seguros) 

Juniores Femininas 
Scratch: Maria Martins (Bairrada) 
Perseguição Individual: Maria Martins (Bairrada) 
Corrida por Pontos: Maria Martins (Bairrada) 

Cadetes Masculinos 
Scratch: Pedro Silva (Seissa/KTM Bikeseven/Matias & Araújo/Frulact) 
Perseguição por Equipas: Seissa/KTM Bikeseven/Matias & Araújo/Frulact 
Corrida por Pontos: Daniel Dias (Maia) 

Cadetes Femininas 
Scratch: Daniela Campos (5Quinas/Município de Albufeira) 
Perseguição Individual: Daniela Campos (5Quinas/Município de Albufeira) 
Corrida por Pontos: Daniela Campos (5Quinas/Município de Albufeira) 

Masters Femininas 
Scratch: Orieta Oliveira (5Quinas/Município de Albufeira) 
Corrida por Pontos: Filomena Paulo 

Masters Masculinos 
Eliminação Master 30: José Leita (BMC/Sram/Póvoa de Varzim) 
Eliminação Master 40: Luís Machado (Boavista/NAST) 
Eliminação Master 50: Vítor Lourenço (Viveiros Vítor Lourenço) 
Elininação Master 60: Sílvio Serrenho 
Corrida por Pontos Master 30: Hélder Pereira 
Corrida por Pontos Master 40: Luís Machado 
Corrida por Pontos Master 50: Vítor Lourenço 
Corrida por Pontos Master 60: Sílvio Serrenho 

Paraciclismo 
C2 500m: Telmo Pinão (LA-Metalusa BlackJack) 
C4 500m: José Castanheira (UD Lorvanense) 
C5 500m: Manuel Ferreira (Silva & Vinha/ADRAP/Sentir Penafiel) 
D 500m: João Marques (Academia Joaquim Agostinho) 
C2 Perseguição Individual: Telmo Pinão (LA-Metalusa BlackJack) 
C4 Perseguição Individual: José Castanheira (UD Lorvanense) 
C5 Perseguição Individual: Carlos Santos (LA-Metalusa BlackJack) 
D 500m: João Marques (Academia Joaquim Agostinho)


Primeira nova competição do World Tour recebeu quase todas as principais equipas

Sprint da Cadel Evans Great Ocean Race (Fotografia: Facebook da corrida)
À terceira edição, a Cadel Evans Great Ocean Race chegou à categoria World Tour e teve o maior pelotão, sem surpresa, da sua curta história. O maior em quantidade e qualidade. Com as principais equipas a terem a possibilidade de escolher se querem ou não participar nas novas provas, 13 das 18 formações World Tour estiveram na corrida que nasceu em homenagem ao único australiano a vencer a Volta a França, Cadel Evans. Foram elas: Orica-Scott, Sky, Bora-Hansgrohe, BMC, Dimension Data, Lotto Soudal, Katusha-Alpecin, Sunweb, Lotto-Jumbo, AG2R, Trek-Segafredo, Cannondale-Drapac e a Quick-Step Floors.

Durante os 173,9 quilómetros em Geelong, alguns dos principais ciclistas da actualidade demonstraram a vontade de tentar conquistar a vitória, com destaque para Chris Froome (Sky) que fez a primeira competição do ano. Richie Porte (BMC), Johan Esteban Chaves (Orica-Scott), Robert Gesink (Lotto-Jumbo) foram alguns dos que atacaram, numa corrida muito mexida, mas que acabou por ser discutida ao sprint. 

O vencedor Nikias Arndt (Fotografia: Facebook da corrida)
Nikias Arndt foi o vencedor, dando a primeira vitória do ano à Sunweb, que assim começa 2017 muito melhor do que 2016, quando teve de esperar até Maio para começar a ganhar, na altura na primeira etapa da Volta a Itália, por intermédio de Tom Dumoulin. Três edições, três vitórias europeias. O belga Gianni Meersman venceu em 2015 e o britânico Peter Kennaugh no ano passado. É uma das poucas corridas australianas em que os ciclistas "da casa" não conseguem conquistar, apesar de terem sempre alguém no pódio. Simon Gerrans (Orica-Scott) e Cameron Meyer (KordaMentha Real Estate Australia) completaram o pódio em 2017.

Mas falemos dos portugueses. Na sua segunda prova de World Tour e depois de uma estreia fantástica no Tour Down Under, Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo) acabou por abandonar, tendo Tiago Machado sido o melhor português ao terminar no 40º lugar, a 37 segundos do vencedor. O colega da Katusha-Alpecin, José Gonçalves, acabou logo a seguir, em 46º.

Restrepo, um ciclista a seguir com atenção em 2017

Das principais estrelas, Richie Porte chegou com o pelotão, já Chris Froome, depois do seu ataque não ter resultado, ficou para trás, terminando a 43 segundos de Arndt. Chaves demorou mais 54 segundos que o alemão a cortar a meta. Mas há um nome que pode ainda não ser uma estrela, mas parece que começa a mostrar que o pode ser: Jhonatan Restrepo.

Restrepo venceu a classificação da juventude no Tour Down Under
(Fotografia: Twitter Katusha-Alpecin
Aos 22 anos está a fazer a segunda temporada na Katusha e depois de ter vencido a classificação da juventude no Tour Down Under e ter ficado em 10º na geral, o colombiano foi quarto na Cadel Evans Great Ocean Race. Em 2016, Restrepo mostrou algum do seu talento em provas como a Volta à Califórnia, Volta à Suíça e inclusivamente na Vuelta, tendo terminando no top dez em quatro etapas. Ainda muito jovem, já se percebeu que Restrepo pode muito bem seguir os passos dos colombianos que já estão entre a elite do ciclismo, como Nairo Quintana, Johan Esteban Chaves e Rigoberto Uran. Falta saber em que tipo de ciclista Restrepo irá evoluir, pois já demonstrou que tanto pode lutar em corridas por etapas, como em provas de um dia.

Perante o cancelamento da Volta ao Qatar, agora será preciso esperar até 23 de Fevereiro pela próxima prova World Tour, que será também uma estreia nesta categoria: a Volta a Abu Dhabi. Mas até lá, alguns ciclistas vão permanecer na Austrália para a Herald Sun Tour (de 1 a 5 de Fevereiro), outros vão começar a pensar na Volta ao Dubai (31 de Janeiro a 4 de Fevereiro). E claro, o Algarve espera por alguns dos grandes nomes do ciclismo entre 15 e 19 de Fevereiro.


28 de janeiro de 2017

Américo Silva: "A Efapel está colectivamente mais forte"

(Fotografia: Facebook Efapel)
A Efapel fez a contratação mais mediática do pelotão nacional para 2017. O regresso de Sérgio Paulinho a Portugal, depois de 12 anos no World Tour, significa que a equipa de Ovar tem um novo líder, depois de ter perdido dois dos principais ciclistas: Joni Brandão e Filipe Cardoso. Porém, permaneceram Daniel Mestre, Henrique Casimiro, Rafael Silva, António Barbio e Álvaro Trueba. Bruno Silva está de regresso depois de dois anos na La Alumínios-Antarte, o espanhol Jesus del Pino (26 anos, ex-Burgos BH) foi contratado a pensar na montanha, tal como o jovem colombiano Matteo Garcia (20 anos, ex-EPM-UNE-Área Metropolitana). Conclusão de Américo Silva: "A Efapel está colectivamente mais forte."

O director desportivo está satisfeito com os ciclistas com quem está a trabalhar este ano, salientando que apesar das saídas, "mantém-se a parte da coesão da equipa, que também tem um papel fundamental". No entanto, Américo Silva avisa que 2017 não será como no ano passado: "As equipas reforçaram-se e todas têm um líder consistente para vencer corridas. Em 2016, as vitórias e o trabalho realizado em busca dessas vitórias foram repartidos entre a Efapel e a W52-FC Porto. Acho que este ano as corridas serão mais competitivas."

Ganha o público que terá corridas mais indefinidas, perde a Efapel que poderá não conseguir tantas vitórias. Mas Américo Silva garantiu que a formação estará na luta da primeira à última corrida. "Os nossos objectivos serão sempre dois: vencer e trabalhar para vencer", salientou o responsável ao Volta ao Ciclismo. A Efapel, que só venceu uma Volta a Portugal, aposta forte com a contratação de Sérgio Paulinho, ainda assim, Américo Silva afirmou que a pressão para alcançar a vitórias, nomeadamente na principal corrida portuguesa, não aumentou. "Este patrocinador logicamente que gosta de vencer como todos, mas tem a noção do investimento que faz e tem estado satisfeito com a prestação da equipa em termos desportivo e de imagem", explicou.


"Noto que o Sérgio já assimila essa liderança. Agora as provas vão nos dar determinados pormenores para saber se é preciso ir corrigindo algo, ou não, nessa capacidade de liderança"

David Blanco conquistou a única Volta a Portugal para a Efapel, em 2012, e Américo Silva acredita que Sérgio Paulinho pode dar essa vitória à equipa. A experiência do ciclista de 36 anos será uma arma e o trabalho para "transformar" um gregário num líder está a ser feito de forma gradual. "As corridas terão um papel muito importante, mas noto que o Sérgio já assimila essa liderança. Agora as provas vão nos dar determinados pormenores para saber se é preciso ir corrigindo algo, ou não, nessa capacidade de liderança, para que assim possa tentar chegar às vitórias", frisou.

Américo Silva terá de aliar a experiência de Sérgio Paulinho à juventude de ciclistas como Matteo Garcia. O colombiano destacou-se como sub-23 na Colômbia, mas o próprio director desportivo da Efapel admitiu que não sabe o que esperar de Garcia. "Já vi qualidade nele [durante o estágio]. Não estamos à espera de o ver conquistar logo vitórias, mas precisamos de ciclistas para a alta montanha e ele mesmo tendo pouca experiência tem uma característica muito importante: a vontade de aprender. Tendo vontade e humildade - e ele tem muita - está tudo encaminhado para que possamos ter um ciclista com a qualidade que nós pretendemos", referiu.

António Barbio (23 anos) e Alvaro Trueba (24 anos) são também ele jovens promissores, mas Américo Silva recordou: "Normalmente juventude representa inexperiência e isso nunca é uma mais valia. Mas existe qualidade na juventude da equipa e agora há um trabalho muito maior a fazer, principalmente da minha parte, para conseguir tirar resultados. É um trabalho interessante de desenvolver."

O pelotão mais competitivo dos últimos anos

O regresso de ciclistas como Sérgio Paulinho, Edgar Pinto (LA-Alumínios-Metalusa-BlackJack) e Fábio Silvestre (Sporting-Tavira), as permanências de Joni Brandão e Gustavo Veloso, por exemplo, ajudam a fazer do pelotão nacional "um dos mais competitivos dos últimos anos". Américo Silva considera que poderá assistir-se ao um (re)início de crescimento do ciclismo em Portugal, com maior interesse por parte dos adeptos e eventualmente de patrocinadores.

"Esperemos que tenha esse tipo de repercussão. A crise afectou todas as áreas em Portugal, em termos desportivos, empresarial... Está tudo interligado. Agora, no desporto e concretamente no ciclismo, vai este ano haver alguma melhoria. Não será significativa, mas podem ser os primeiros passos", disse o director desportivo.

(Fotografia: Facebook Efapel)

A Efapel apresentou este sábado os seus ciclistas, uma semana antes do arranque da temporada no Troféu Liberty Seguros (5 de Fevereiro), 160 quilómetros que começam em Anadia, com a meta precisamente na "casa" da Efapel, em Ovar.

»»Sérgio Paulinho: "Acho que 2017 vai ser um ano espectacular. Acho que vou ser bastante feliz"««

»»Sérgio Paulinho: "O Alberto Contador nunca foi capaz de me dizer nada. Foi isso que mais me magoou"««

27 de janeiro de 2017

A longa espera terminou. Rui Costa voltou às vitórias e bem ao seu estilo

Um momento que Rui Costa tanto procurava: voltou a levantar os braços
para celebrar uma vitória (Fotografia: Facebook Rui Costa)
579 dias depois Rui Costa voltou a celebrar uma vitória. A ambição renovada para este ano comprovou-se logo na primeira corrida que está a fazer em 2017. Venceu a quinta etapa - a rainha - da Volta a San Juan. Mas mais do que um triunfo, esta conquista poderá muito bem ser o mote que o ciclista português procurava para se reencontrar com os melhores momentos. E há algo que já ninguém lhe tira: na história da UAE Abu Dhabi, Rui Costa ficará como o primeiro a vencer pela equipa do Médio Oriente.

Triunfou com um daqueles arranques que já o vimos fazer muitas vezes, mas que há mais de um ano não surtia o efeito desejado. Rui Costa enfrentou a altitude (mais de 2500 metros) do Alto El Colorado, nos Andes, enfrentou o vento de frente e de lado, enfrentou os constantes ataques numa daquelas etapas em que ninguém consegue pode estar desatento por um segundo que seja.

"Estou tão feliz... não imaginam o quanto é maravilhoso voltar a levantar os braços. Já tinha saudades", lê-se no diário que Rui Costa publica no seu blogue. O ciclista português admite que não teve as "melhores sensações" no início da etapa. Mas soube gerir o esforço, acompanhado pelos colegas de equipa. "Na subida derradeira estive sempre à espreita mas sem desgastar demasiado pois sabia o quanto longa e dura seria aquela montanha até ao risco final. O trabalho dos meus colegas foi fundamental e agradeço-lhes todo o apoio. Esta equipa começa da melhor maneira e a união do grupo é um ponto a nosso favor", referiu.




Rui Costa subiu à quinta posição da Volta a San Juan e está a 26 segundos do novo líder Bauke Mollema, quando faltam duas etapas para terminar a corrida. O holandês está a mostrar credenciais para a Volta a Itália, tal como o português, que vai estrear-se no Giro. A última vitória de Rui Costa havia sido nos Nacionais de Braga em 2015. Mas se o discurso desde que vestiu pela primeira vez a camisola da UAE Abu Dhabi já demonstrava um ciclista com uma motivação diferente da dos últimos dois anos na Lampre-Merida, esta vitória demonstra que Rui Costa está preparado para voltar aos grandes dias, que já lhe valeram três etapas no Tour e um Mundial, entre outros triunfos. 

Todas aquelas semanas de indecisão quanto ao futuro da equipa, com o patrocinador chinês a falhar e a ser necessário encontrar uma alternativa, estão claramente ultrapassadas e Rui Costa está apenas focado em competir. E a Liège-Bastogne-Liège, o seu monumento preferido, será certamente um dos grandes objectivos em 2017.

»»Volta a San Juan e o início de um Rui Costa de ambição renovada««

»»Rui Costa mostra novo equipamento e vai estrear-se na Volta a Itália««

»»Como uma corrida de Fórmula 1 ajudou a definir o futuro da equipa de Rui Costa««

Froome começa na Austrália mais um ano a sonhar ver o seu nome ao lado de Merckx, Hinault, Anquetil e Indurain

Froome quer vestir esta camisola em Paris pelo menos mais duas vezes
(Fotografia: Team Sky)
E começa a odisseia de Chris Froome rumo ao que pretende ser a quarta vitória na Volta a França. O britânico quer o seu nome ao lado das lendas Eddy Merckx, Bernard Hinault, Jacques Anquetil e Miguel Indurain e para isso ambiciona chegar aos cinco triunfos no Tour. Quando começou a cimentar a sua superioridade na Volta a França em 2013, Froome sempre recusou falar de deixar a sua marca na história do ciclismo. Mas agora o discurso é outro. Depois de muito se ter especulado se poderia tentar conquistar a centésima edição do Giro (conquistou a do Tour), pois Froome admitiu gostar do percurso, o britânico optou por manter-se 100% focado em continuar a sua senda na Volta a França e tentar ser o primeiro a ganhar Tour/Vuelta no mesmo ano, desde que a Volta a Espanha passou a ser a última grande volta do ano.

"Olhando para este ano, serão passos críticos para cimentar o meu lugar no ciclismo", afirmou Chris Froome, que este domingo começa a temporada na Cadel Evans Great Ocean Race, uma das novas corridas do World Tour. O percurso da Volta a França não deixou Froome particularmente feliz, principalmente pelos contra-relógios curtos que podem não o prejudicar, mas também não o deverão beneficiar. No entanto, o ciclista e a Sky mantém-se fiéis à ambição que dura desde a criação da equipa: tudo pelo Tour.

Peter Kennaugh venceu a Cadel Evans Great Ocean Race em 2016, mas o homem da Sky não está este ano na Austrália, com Froome a aparecer como o líder e um dos favoritos à vitória, que seria realmente começar 2017 em grande. A seu lado estarão Sergio e Sebastián Henao, Ian Stannard, Danny van Poppel, Luke Rowe e o reforço Kenny Elissonde.

A época pode estar agora a dar os primeiros passos, mas depois da exibição e vitória de Richie Porte (BMC) no Tour Down Under - primeira prova World Tour do ano - já se anseia por ver o antigo fiel escudeiro de Froome enfrentar o britânico. "Sempre tive muita confiança na qualidade do Richie e sempre disse que ele era um candidato [a vencer] a Volta a França", salientou Froome.

Para aumentar o interesse da corrida haverá ainda Johan Esteban Chaves (Orica-Scott), que também esteve bem no Tour Down Under. Para os portugueses, as atenções voltam a centrar-se em Ruben Guerreiro. Depois do brilharete na sua estreia pela Trek-Segafredo, é inevitável esperar voltar a ver Ruben mostrar-se ao lado dos melhores do mundo. Tiago Machado e José Gonçalves também estarão presentes ao serviço da Katusha-Alpecin.


26 de janeiro de 2017

Os dados que indicam que Quintana pode atacar o Tour "numa forma perfeita", mesmo depois de fazer o Giro

Quintana (à direita) ao lado do outro líder da equipa, Valverde, durante
a apresentação da Movistar em Madrid (Fotografia: Facebook Movistar)
"Não fazemos as coisas só por fazer." Foi assim que Eusebio Unzué respondeu quando questionado pela mudança de calendário de Nairo Quintana, que este ano vai tentar a "dobradinha" Giro/Tour que tanto parece assustar os principais ciclistas: desde 1998 que ninguém consegue vencer as duas corridas no mesmo ano e poucos o tentaram. O director desportivo da Movistar explicou que a decisão foi tomada depois de uma análise cuidada aos dados de Nairo Quintana. Estes indicam que o colombiano está melhor na segunda grande volta do ano que faz do que na primeira.

Se estivermos a falar do ano passado, então é um facto. Quintana não esteve bem no Tour - a equipa justificou que o ciclista sofreu de alergias - e depois apareceu na Vuelta em grande forma e venceu a corrida. Já em 2015, foi segundo em França e quarto em Espanha. Porém, não existem dados que comparem a performance de Giro e Tour, pois quando em 2014 esteve na Volta a Itália, que venceu, não foi ao Tour, mas sim à Vuelta. Parecia que estava a caminho da vitória quando caiu no contra-relógio e acabou por abandonar.

Mas voltemos às declarações de Eusebio Unzué, feitas na apresentação da Movistar: "Temos dados técnicos que nos permitem pensar que o Nairo pode estar bem nas duas voltas e a história diz que na segunda grande corrida da época ele está melhor do que na primeira." Unzué disse mesmo que se Quintana terminar bem o Giro poderá atacar o Tour "numa forma perfeita".

No entanto, há outros dados que Unzué também destacou. Digamos que são uma espécie de dados históricos pessoais do director desportivo: quatro das sete vitórias que celebrou no Tour aconteceram depois dos ciclistas em causa terem feito o Giro, nomeadamente Pedro Delgado e Miguel Indurain. Este último conseguiu mesmo a "dobradinha" por duas vezes. Porém, como o próprio Unzué referiu, eram outros tempos.

A preparação de Nairo Quintana será feita com grande atenção ao "tempo de descanso", isto não, fora da competição. O responsável da Movistar explicou que entre o final da Vuelta (11 de Setembro) e o início do Tour (1 de Julho), o colombiano terá cumprido 40 dias em competição, 21 dos quais no Giro, se tudo correr como o previsto. "Ele não estará cansado, mesmo que o Giro certamente provoque algum desgaste", afirmou.

Já Nairo Quintana voltou a recordar como em 2016 conseguiu estar bem na Vuelta depois de ter feito o Tour, mas salientou que apesar de ir tentar quebrar o enguiço de dura desde 1998, quando Marco Pantani venceu o Giro e o Tour, o principal objectivo será sempre a Volta a França. "A minha disposição será mais tranquila, mesmo durante a preparação [para o Giro]", explicou. No entanto, garantiu que não estará na centésima edição da Volta a Itália apenas para treinar.

Quanto ao seu grande rival, Chris Froome, Quintana disse que não foi "um alívio" vencer o britânico na Vuelta, mas sim um prémio para o seu trabalho e da Movistar durante o ano. O colombiano referiu ainda que não é inferior a Froome, considerando que a diferença é que o britânico "está no pico da sua carreira", enquanto ele ainda está a evoluir.

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Três equipas francesas e uma belga recebem convites para o Tour

Voeckler vai terminar a carreira no Tour (Fotografia: Facebook Direct Energie)
Foi uma atribuição bem mais pacífica do que os convites dados para a Volta a Itália. A Amaury Sport Organisation (ASO) atribuiu os quatro wildcards para o Tour, com três das quatro equipas francesas do escalão Profissional Continental a serem escolhidas, assim como a belga Wanty-Groupe Gobert. Sem surpresa, Direct Energie, Cofidis e Fortuneo-Vital Concept vão voltar a marcar presença na Volta a França (de 1 a 23 de Julho). O destaque acaba por ir para a Direct Energie, pois Thomas Voeckler havia anunciado que queria terminar a carreira este ano no Tour e terá assim essa oportunidade.

Voeckler tem sido uma das figuras do ciclismo francês nos últimos 17 anos. Irreverente, por vezes polémico, um lutador incansável e, claro, o estilo inconfundível da língua de fora. Terá 38 anos quando cortar a meta em Paris pela última vez e o grande objectivo será conquistar pelo menos uma etapa (soma quatro na carreira no Tour) e quem sabe, sendo a derradeira prova da carreira, Voeckler tente ainda vestir novamente a camisola amarela ou mesmo tentar vencer a classificação da montanha, por exemplo. Será difícil repetir o feito de 2011, ano em que liderou durante dez etapas, terminando o Tour na quarta posição.

A Direct Energie também deverá apresentar Bryan Coquard, um sprinter a ganhar créditos a cada ano que passa e que quererá rivalizar com os melhores, começando por Nacer Bouhanni, que se se portar bem fora das corridas, deverá ser o líder da Cofidis. De recordar que em 2016 envolveu-se numa luta na noite antes da corrida de fundo dos nacionais. Deu um murrro a um homem que estaria a fazer barulho no hotel e acabou por se lesionar na mão, de tal forma que ficou de fora da Volta a França.

A Fortuneo-Vital Concept deverá apresentar-se um pouco mais ambiciosa do que em 2016, pois contratou dois bons ciclistas franceses: Maxime Bouet (ex-Etixx-QuickStep) e Arnold Jeannesson (ex-Cofidis e que antes esteve seis anos na FDJ). No ano passado uma das figuras foi Armindo Fonseca, o luso-descendente que chegou a andar em fuga numa da etapa que foi muito falada por ter sido francamente aborrecida. O ciclista continua na equipa.

A Wanty-Groupe Gobert conseguiu o importante convite que comprova o crescimento da equipa belga. A atribuição do wildcard não é uma surpresa depois de no ano passado ter alcançado bons resultados, com destaque para a vitória na Amstel Gold Race por intermédio de Enrico Gasparotto, que entretanto mudou-se para a Bahrain-Merida. A presença de Yoann Offredo poderá ter sido uma ajuda para a Wanty, pois o ciclista francês alcançou alguns resultados interessantes na carreira, sempre ao serviço da FDJ.

Quem ficou de fora foi a Delko Marseille Provence. Porém, não há a polémica que se está a verificar em Itália, depois da organização ter deixado de fora duas equipas transalpinas na atribuição dos convites. A ASO compensou a Delko Marseille Provence com convites para o Paris-Nice e Critérium du Dauphiné e tendo em conta o tipo de ciclistas que a equipa tem, poderá ser mais benéfico na tentativa de conquistar algum resultado, mas claro que a nível de exposição do patrocinador, o desejo é sempre o Tour. Por esta estrutura passaram os gémeos Gonçalves: José em 2013 e 2014 e Domingos em 2014.



25 de janeiro de 2017

Tom Boonen é o primeiro a ganhar uma corrida numa bicicleta com travões de disco. O que pensam os ciclistas portugueses deste sistema?

Tom Boonen diz ser fã dos travões de disco (Fotografia: Instagram do ciclista belga)
A poucos meses de se retirar da competição, Tom Boonen fez um pouco mais de história. Ao vencer a segunda etapa da Volta a San Juan, na Argentina, o belga tornou-se no primeiro ciclista a conquistar uma vitória utilizando uma bicicleta com travões de disco. Depois de no ano passado a fase de testes ter sido cancelada pela UCI após o incidente com Francisco Ventoso no Paris-Roubaix, os travões de disco voltaram a ser permitidos e Boonen optou por terminar a sua carreira a utilizar o sistema que considera ser "um grande melhoramento". "Não só dá mais segurança, como permite um melhor controlo da bicicleta ao travar para as curvas", escreveu o belga na sua conta de Instagram.

A utilização dos travões de disco no ciclismo de estrada tem sido alvo de muita discórdia no pelotão internacional. Muitos são contras, mas também há aqueles que defendem que é um sistema bem-vindo. Em causa tem estado principalmente as questões de segurança. Numa queda colectiva, por exemplo, os travões de discos podem provocar cortes e como aquecem com a utilização também aumentam o perigo de ferimentos. Após o Paris-Roubaix, Ventoso classificou os travões de disco como facas, depois de dizer que foi cortado por um numa queda que lhe deixou a perna num estado impressionante.

A UCI suspendeu a experiência, mas este ano os travões voltaram a ser permitidos depois de, alegadamente, ter sido melhorada a sua protecção. Ninguém dúvida que a travagem é melhor, mas questiona-se se é realmente necessário. Pesando na balança as vantagens e as desvantagens, com a segurança a ser o principal elemento desequilibrador, para já tem pendido para a não utilização de grande parte dos ciclistas. E depois ainda há uma dúvida constantemente levantada: o objectivo é mesmo melhorar as condições dos ciclistas ou é uma questão de marketing por parte das marcas?

Outro problema que entretanto foi levantado por quem faz o apoio neutro nas corridas, é o facto de os travões de disco poderem ter tamanhos diferentes e as rodas serem presas também de formas distintas de equipa para equipa, ou seja, de marca para marca. Ou seja, o apoio neutro arrisca-se a não ter o material indicado para ajudar determinado ciclista. Para tal, será necessário que todos utilizem sistemas idênticos.

Em Portugal ainda não se fala na integração dos travões de disco, pois tem sido uma discussão, para já, mais a nível do World Tour. O Volta ao Ciclismo foi saber o que pensam alguns ciclistas portugueses deste sistema de travagem.

Edgar Pinto (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack): "Sinceramente já discuti isso com alguns atletas, mas ainda não tive a oportunidade de experimentar. Tudo o que seja para melhorar a modalidade, ok, mas dentro da segurança. O problema é quando há quedas. Os discos se não estiverem devidamente protegidos podem ferir gravemente um atleta, uma pessoa do público... Não estou contra os discos, desde que estejam devidamente protegidos para que não se verifiquem acidentes."

Filipe Cardoso (Rádio Popular-Boavista): "Acho que pode ser visto de muitos pontos de vista. Se gosto de travões de disco? Gosto. Acho que são agradável, acho que funcionam, são engraçados. Se vou ser mais rápido em corrida por causa do travão de disco? Não, não vou ser mais rápido, não vou ganhar tempo nenhum. E agora tinha de entrar em mil aspectos técnicos para explicar porquê! Há mais poder de travagem, mas o contacto do pneu com o alcatrão - a largura do pneu tem no máximo 25 mm, é pouco, é um pneu estreito - dar muito poder de travagem, mas a superfície ser a mesma, ela vai derrapar, porque o chamado grip do pneu não suporta uma travagem muito potente. E o travão, no nosso caso para competir, ninguém quer chegar a uma curva e travar a fundo. Quando se trava a fundo numa corrida é para cair, é porque houve uma queda e se trava a fundo para cair o mais devagar possível. Não é travar muito, é fazê-las travar pouco, fazê-las rápido. 

Talvez seja ligeiramente mais confortável no toque. Na travagem em si é mais potente, é mais confortável à mão, mas o pneu não aguenta uma travagem muito forte. Para lhe dar um exemplo: pega nuns travões de um Ferrari e coloca-os num carro citadino. O Ferrari tem uma largura de pneu muito maior do que um citadino. Se puser o travão potente numa roda de um carro citadino, vai travar e ele simplesmente vai derrapar. A superfície que toca no alcatrão é muito estreita, não faz sentido. A mesma lógica aplica-se nas bicicletas.

Em dias de chuva trava muito melhor, a água não interfere tanto no poder de travagem no travão de disco. E depois tem o problema das quedas. Isso não tenho dúvidas nenhumas que é um risco acrescido para os ciclistas. Há um teste que é simples de fazer: pegar numa bicicleta que está parada, com travões de disco, fazer uma descida de 300/400 ou 500 metros, travar a fundo, fazer duas ou três travagens e no fim tocar com a mão no disco. Ele vai estar a ferver. Uma queda onde caiam 10 ou 20 ciclistas e discos a ferver a tocar uns nos outros, vai ser certamente... Isso já aconteceu, foi por isso que foram proibidos.

O que vai acontecer é a coisa natural das marcas estarem a pressionar muitíssimo toda a gente para que os travões de disco sejam norma e a partir desse momento, milhões e milhões de pessoas em todo o mundo vão ter de trocar as bicicletas e os assessórios e os componentes. E é isto que está a acontecer. Eu gosto dos travões de disco. Eu se neste momento comprasse uma bicicleta para mim, para ter em casa, comprava com travões de disco. Acho realmente engraçado. Para competir analiso os prós e os contras. A nível de travagem não me faz falta neste momento ter uns travões mais potentes. O travão tradicional com as pastilhas certas é um travão que trava muito bem. Pesando as coisas, tudo o que seja colocar mais um risco para o ciclista, na minha maneira de ver, não faz sentido."

Hélder Ferreira (Louletano-Hospital de Loulé): "Eu até agora não experimentei os travões de disco nas bicicletas de estrada. Acho que ainda está a haver uma polémica internacionalmente. Portugal anda sempre um passito atrás, por isso, até chegar cá vai demorar e depois posso opiniar sobre a questão. Quanto à segurança, das opiniões que tenho ouvido, há certos problemas. Mas só vendo."

Joni Brandão (Sporting-Tavira): "Eu acho que para os travões de discos serem homologados era necessário que competíssemos todos com travões de disco e não uns com travões de disco e outros com normais, porque acho que é uma desigualdade muito grande. Quem vai de travão de disco tem uma capacidade de travagem muito superior aos normais e na minha maneira de ver, esta é uma decisão que não está a ser bem tomada porque se todos fossem obrigados a correr de discos era uma coisa, agora uns com discos e outros sem discos... Acho que é uma desigualdade grande. E depois é a questão da segurança que não sei se foi rectificada, mas acho que sim. Falta saber como e só depois é que podemos dar uma opinião mais concreta em relação a isso."

José Mendes (Bora-Hansgrohe): "Eu nunca usei travões de disco em bicicletas de estrada. Há quem diga que a travagem é melhor, mas aquilo que me preocupa é a segurança e foi o que fez com que fosse suspensa a integração dos discos. Na minha opinião, penso que não se deveria usar discos. Sou contra. É óbvio que se deve evoluir, mas acho que é dos costumes que infelizmente há no nosso desporto e quando há um pelotão, com muitos ciclistas juntos, penso que aquele disco pode ser muito perigoso. 

Infelizmente não sei quem tem mais interesse que os travões de disco sejam integrados. Penso que não é da parte dos ciclistas. Eu ainda não vi nenhum ciclista a reivindicar a reintegração dos discos para a sua segurança. Por isso, falar em termos de segurança, não é correcto. Possivelmente as marcas têm interesse nessa integração. Estou um pouco apreensivo com a integração dos discos pelo problema da segurança. Penso que vai criar insegurança e medo. Com o tempo aquilo aquece. É mais um elemento que pode provocar sérias lesões. Já temos as pedaleiras, mas isso não podemos tirar. Mesmo uma bicicleta de estrada ter uma capacidade superior de travagem, à velocidade que nós atingimos, penso que até isso pode ser perigoso.

Nunca experimentei, por isso, não posso dizer se é melhor ou pior. Aquilo que me deixa apreensivo é mesmo essa parte da segurança."

Rui Vinhas (W52-FC Porto): "Em Portugal não podemos muito falar nisso. Eu pessoalmente nunca usei travões de disco. Se é uma mais valia? Penso que sim. Para incutir isso na alta competição tem de ter benefícios. Agora eu não sou a melhor pessoa para responder porque nunca trabalhei com travão de disco na estrada. Acho que tem um bom poder de travagem, uma boa segurança e penso que na bicicleta de estrada será um bocado parecido. É uma questão de experimentar para ver como seria. Há polémicas, mas isso é como em tudo. Nós tendo quedas com bicicletas normais ficamos sempre com mazelas, mas com uma bicicleta a cortar como foi o caso do Ventoso, um travão de disco que era novidade, as pessoas metem logo problemas nisso. Mas acho que é uma questão de experimentar e andar um ano ou dois para ver se realmente aquilo serve para a alta competição ou não."

Sérgio Paulinho (Efapel): "Eu tenho uma bicicleta de travão de disco e para ser sincero quando chove e com a estrada molhada, é muito melhor. A travagem é muito melhor, o tempo de reacção é muito melhor, a bicicleta trava muito melhor. Em seco não vejo diferença. Quase que digo que prefiro o travão tradicional que o travão de disco. Para mim, o grande problema que está aqui é o disco em si. Se houver um protecção do disco por causa das quedas, acho que o disco pode ser bem-vindo ao ciclismo.

Na minha opinião, se a decisão fosse minha, a decisão é não ao disco. Acho que não traz nada de novo ao ciclismo. Traz de novo às marcas porque é uma inovação, mais vendas. Que me desculpem as marcas, mas é assim mesmo. Inovação no ciclismo? Eu não a vejo. Não é por aí. Acaba por tornar a bicicleta mais pesada. Se houver uma protecção, vamos supor - e todos sabem que no Tour há sempre aquelas quedas enormes - que acontece alguma fatalidade por causa de um travão de disco... Elas às vezes já acontecem sem travão de disco, com um travão de disco há uma probabilidade maior. Acho que temos de ponderar todas as situações, por isso, na minha opinião, se fosse eu a decidir, não vale a pena."

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