© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep |
O que se viu no final da segunda etapa do Tirreno-Adriatico foi uma exibição muito pouco de Wolfpack. Sim, esteve lá a garra, a táctica e a execução final para selar mais uma vitória em 2021. E já são 10. Porém, atacar um colega de equipa que está a dar tudo o que tem e não tem para ganhar, é simplesmente desleal. Vê-se pouco no ciclismo (felizmente), mais inesperado é ver-se numa Deceuninck-QuickStep que se auto-intitula de Wolfpack (alcateia) para dar ênfase à sua forma de estar na modalidade, sempre em prol do colectivo, em que todos (ou quase) acabam por ter a sua oportunidade para brilhar e todos ajudam para que o faça.
Claro que há estatutos. E Julian Alaphilippe tem um muito, muito alto. Não só na equipa, como no pelotão em geral. E vestir a camisola de campeão do mundo é apenas um dos feitos que ajudaram a cimentar o francês como um dos ciclistas mais respeitados. Contudo, um verdadeiro campeão também sabe respeitar quem num dia, em vários dias, pode estar ao seu lado a trabalhar para que Alaphilippe possa vencer.
O ataque de Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) tinha encurtado em muito a já escassa vantagem de João Almeida. Para trás tinha ficado Pavel Sivakov e só depois Thomas, seu colega de equipa, atacou... Se Alaphilippe não tivesse acelerado, talvez Almeida tivesse sido igualmente ultrapassado. Não se apresentava fácil a missão, mesmo com a meta ali tão perto. Se, se, se... A história não se escreve de "ses". Alaphilippe, como colega, como até líder, deveria ter respeitado o português e esperado que outro ciclista acelerasse primeiro.
Claro que na sua mente esteve, provavelmente, o receio de voltar a perder para Mathieu van der Poel, como aconteceu na Strade Bianche. E quase assim foi. Se não tem arrancado naquele momento, Alaphilippe teria tido dificuldade em bater o holandês da Alpecin-Fenix. Viu a oportunidade de conquistar mais uma vitória e não hesitou. Desportivamente nada a dizer. Cumpriu. Mas a que custo?
João Almeida nada tem com que se preocupar. Está a crescer como ciclista. A fazer seu caminho.. Fez o que lhe competia. Infelizmente ficou sem "companheiros de fuga" um pouco cedo e fazer o que acabou por ser um autêntico sprint a subir, durante mais de 1500 metros para fugir aos perseguidores, não é fácil. Grande exibição, grande atitude. A vitória há-de chegar.
Numa altura em que se fala que a UAE Team Emirates estará a tentar contratar o ciclista para 2022 - está em final de contrato com a Deceuninck-QuickStep - sentir o respeito de todos, principalmente de alguém como Alaphilippe é importante. João Almeida já tem o seu estatuto, mas, naturalmente, ainda não está ao nível de Alaphilippe.
Já na Volta a Itália, que revelou todo o talento e potencial de Almeida ao mais alto nível do ciclismo, Fausto Masnada não tinha sido um corredor com atitude de Wolfpack. Tinha acabado de chegar à equipa, é italiano... mas não lhe ficou bem não ajudar mais. Esta atitude de Alaphilippe, ainda assim, custa mais a digerir.
A João Almeida resta continuar o seu trabalho e espera-se que possa também ele contribuir para o elevado número de triunfos que, ano após ano, a Deceuninck-QuickStep alcança. Com as exibições que tem feito, já ninguém o perde de vista e a continuar assim, poderá ver-se na situação bem agradável de poder escolher o que pretende para 2022 e adiante, seja na equipa belga, ou não. E este Tirreno-Adriatico ainda não acabou. Está na luta.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
Veja o vídeo dos metros finais da segunda etapa da prova italiana (Camaiore-Chiusdino, 202 quilómetros).
🇫🇷@alafpolak1 of 🇧🇪@deceuninck_qst wins stage 2 of 🇮🇹@TirrenAdriatico #TirrenoAdriatico (📺@Eurosport_IT) pic.twitter.com/mBiuBJc4mN
— World Cycling Stats (@wcsbike) March 11, 2021
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