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Mas se se tem de suspender, que se o faça. Se alguém não joga limpo, que seja retirado do jogo. Seja quem for. A sanção de Alarcón atingiu outro mediatismo entre as quatro recentes que aconteceram. Vencedor de duas Voltas a Portugal e líder da equipa que tem dominado o ciclismo em Portugal, o espanhol tornou-se numa das referências do pelotão nacional na W52-FC Porto, que vê agora o projecto ficar marcado por um caso de doping que lhe custa uma vitória na Volta.
Uma, porque, em 2017, o segundo classificado foi Amaro Antunes, então companheiro de Alarcón. Em 2018, Joni Brandão - que representava o Sporting-Tavira - ficou atrás do espanhol na geral. Terão de se fazer mais rectificações nas classificações entre 28 de Julho de 2015 e 21 de Outubro de 2019. Uma já está confirmada. Em Espanha, a organização da Volta às Astúrias já declarou Nairo Quintana como o vencedor da edição de 2017, que havia sido ganha por Alarcón.
Que seja reposta a verdade desportiva, ainda que ninguém esteja a celebrar vitórias atribuídas desta forma, o que se compreende.
Enquanto se acertam estes pormenores classificativos nas muitas corridas em que Alarcón participou durante as épocas incluídas na sanção, o ciclismo nacional recebe novamente uma publicidade negativa, numa altura muito delicada para a modalidade.
Com a pandemia, as restrições e os problemas em colocar provas na estrada, as equipas lutam para manterem-se activas, sabendo que ou competem, ou não têm forma de dar retorno ao investimento de patrocinadores. E estes não abundam. Já não abundavam e com a crise a crescer, a saúde financeira de muitas empresas pode "desviar" investimentos no ciclismo.
Todos os escalões estão a sofrer com a situação, com a elite a conseguir manter as nove equipas que tem no escalão Continental. Notícias do arranque da temporada demoram em chegar - deverá acontecer em Abril -, contudo, o doping acaba por marcar esta espera por corridas. Em Janeiro, Domingos Gonçalves foi suspenso por uso de métodos e/ou substâncias proibidas, a mesma razão apontada pela UCI a Alarcón. Quatro anos para ambos, com o espanhol de 34 anos a estar suspenso até 20 de Outubro de 2023.
Em Dezembro de 2020, Rinaldo Nocentini e Xuban Errazkin também receberam pesadas sanções, ainda que nenhum estivesse a competir. No entanto, foram mais dois ciclistas com passagem por Portugal a entrar na lista de suspensões da UCI.
Não tem sido fácil credibilizar o ciclismo nacional, ainda com algumas feridas por sarar do caso Liberty Seguros em 2009. "Credibilização" foi a palavra utilizada por Delmino Pereira. O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo considera que estamos perante uma demonstração que o sistema funciona. "O ciclismo é das modalidades que tem um sistema mais eficaz e evoluído do mundo, e estamos numa onda de maior credibilização da modalidade. Só que este processo pode resultar no que aconteceu agora, mas acho que a modalidade está no bom caminho", disse à Lusa.
Que este caminho de credibilização inclua o fim de um clima de suspeição, para que aqueles que jogam limpo, que honram a modalidade com trabalho e dedicação, não sejam arrastados para rumores que nada ajudam para a sobrevivência de um ciclismo a precisar de boa publicidade para recuperar do rombo de falta de competição devido à pandemia. Que se valorize e respeite quem merece.
Numa época em que tanto se fala de testar, testar, testar, que se o faça em Portugal, sem facilitismo, no ciclismo. É uma modalidade que historicamente tem estado sob pressão, com casos que marcam um dos piores lado do desporto, mas que, internacionalmente, soube mudar as regras e a forma de as aplicar e, assim... credibilizar. Que não se veja como perseguição, mas como forma de garantir que ninguém esteja a tentar fugir à verdade desportiva.
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