É difícil imaginar que um ciclista que esteve tão bem na Volta a Portugal, no ano passado, tinha pensado várias vezes durante a época em desistir. Aconteceu com António Carvalho, um dos principais corredores portugueses no pelotão nacional e que mostrou que até poderia ter condições para discutir a corrida se assim se tivesse proporcionado. Um ano depois tudo está diferente. O ciclista da W52-FC Porto está feliz e motivado. Nem os consecutivos azares que o têm perseguido em 2018 o desmoralizam. Recusa em assumir-se como líder da equipa na Volta, mas não esconde que está preparado para o fazer se assim se proporcionar. Vencer? Porque não!
Numa altura em que vai arrancar uma fase com algumas das corridas mais importantes para as equipas portuguesas, António Carvalho espera que a sua sorte mude: "É uma questão que tenho abordado com as pessoas que me são mais chegadas e colegas de equipa. Tenho tido muito azar. Já foram mais de dez vezes este ano!" O ciclista de 28 anos brinca dizendo que se tiverem de acontecer azares - e os furos não o largam -, então que seja agora, para que possa chegar à Volta a Portugal sem surpresas que lhe estraguem a prova. Por isso, com tantos azares, a época tem sido discreta, mas a sua voz exalta a confiança de quem reencontrou o prazer de ser ciclista. "Foi o ano que me apliquei mais no Inverno. Por norma deixo-me engordar 12, 14, 16 quilos e este ano só engordei seis quilos", contou ao Volta ao Ciclismo. Outra das razões que o levam a não ter resultados de nota nesta altura da época é porque a preparação foi apontada mais para o que aí vem no calendário.
A questão do peso leva-o a admitir que em 2017 estava a perder a vontade de continuar uma carreira que se augura que venha a contar com muitas grandes vitórias. "Para ser sincero, as coisas não me estavam a correr bem e eu quando algo não me corre bem viro-me muito para o comer. Um dos meus maiores prazeres é cozinhar e principalmente pastelaria. Gosto muito de fazer bolos. Cheguei a um ponto que só me apetecia fazer bolos. Não me apetecia treinar, só me apetecia comer bolos", confessou. Recuperou a forma física a tempo de ser uma importante figura na vitória de Raúl Alarcón, terminando na sexta posição. Até poderia ter sido melhor, mas manteve-se leal a Gustavo Veloso quando este sofreu na Serra da Estrela.
"[A minha mulher] fez-me ver que se me aplicasse poderia andar melhor durante o ano e os resultados poderiam acontecer. Foi logo a partir da Volta que o meu chip mudou"
"Este ano estou bem mais magro do que nos últimos anos. Os watts têm aparecido, sei que tenho treinado bem e que estou numa boa condição física. Chega a hora da verdade e as coisas não têm saído, mas o mais importante é saber que o trabalho está a ser feito, os valores a nível de treino estão lá e sei que mais cedo ou mais tarde vai dar os seus frutos", assegurou. E é mesmo caso para dizer que por trás de um grande homem está uma grande mulher, pois foi a esposa de António Carvalho que o ajudou a "mudar o chip", como explicou: "Fez-me ver as coisas de outra forma, principalmente no ano passado, depois da Volta. Fez-me ver que se me aplicasse poderia andar melhor durante o ano e os resultados poderiam acontecer. Foi logo a partir da Volta que o meu chip mudou. Não me deixei engordar tanto." Carvalho conta como quando vivia com os pais, por cima do supermercado que têm, não resistia quando via a carrinha dos donuts chegar: "Vou ser sincero e isto é muito mau para um atleta, mas chegava a comer seis ou oito donuts ao pequeno-almoço. Sou muito doceiro!" Agora já consegue controlar melhor este seu gosto por doces.
Não hesita em dizer que encontrou a sua motivação e que a mudança psicológica foi importante. "Com o aproximar da Volta não terei de fazer tantos sacrifícios como no ano passado. Agora é encarar o resto da época e vêm aí corridas muito importantes para a equipa e para mim", disse. Uma dessas competições, é o Grande Prémio Jornal de Notícias - que já venceu - e que começa esta segunda-feira em Viseu. "Tenho sempre grande ambição [nesta prova]. Não quer dizer que seja para mim. Temos de ver que tem dois contra-relógios. Irei tentar defender-me. Irá passar um pouco pela táctica da equipa. Não podemos ser aquela W52-FC Porto a levar toda a gente às costas, pois na parte final podemos pagar a factura", referiu.
António Carvalho fará o que o director desportivo, Nuno Ribeiro, lhe pedir, quer seja o líder ou não, mas realça como a corrida também dita as suas condições e como na equipa todos estão dispostos a sacrificar-se pelo colega que esteja em melhores condições para vencer. Será assim no Grande Prémio Jornal de Notícias, já foi assim na Volta a Portugal - com a vitória de Rui Vinhas em 2017 como o melhor exemplo - e poderá ser também na próxima edição da Grandíssima.
Era inevitável perguntar se o ciclista se vê a lutar pela vitória em Agosto. "Se estiver nas condições [físicas] do ano passado, acredito que posso vencer uma etapa e até a Volta, mas depende muito da estratégia", respondeu. Porém, é peremptório em afirmar que não se coloca como líder da equipa que tem dominado a Volta nos últimos anos: "É bom realçar que isto não quer dizer que serei chefe-de-fila ou o quer que seja na Volta a Portugal. No ciclismo todos sabem que existem quatro vencedores da Volta nesta equipa, por isso, não significa que seja chefe-de-fila. Não me quero pôr aqui em bicos de pés. Nem o director, Nuno Ribeiro, me permite, nem os meus colegas merecem isso."
"Ficou-me atravessado! Se tivesse sido tacticamente um Rui Costa - para mim é dos melhores a nível mundial a ler corridas - poderia ter vencido os Nacionais"
Recordando como os adeptos lusos olham para António Carvalho como um potencial vencedor, sabendo-se como por cá se gosta de ver um ciclista português ganhar, o corredor mostrou-se satisfeito como os atletas nacionais são apoiados, dando novamente como exemplo a vitória de Rui Vinhas. "A partir do momento em que vestiu a camisola amarela, o público todo, por ser português, esteve de volta dele e isso é de louvar. Também me lembro no ano em que o Cândido Barbosa pediu aos portugueses para colocarem as bandeiras cá fora. Toda a gente aderiu e acho que os portugueses preferem sempre que ganhe um português, independentemente da equipa. Eu sou apenas mais um português na W52-FC Porto e terei de trabalhar nas alturas que terei de trabalhar. Caso isso não aconteça e se tiver de assumir a equipa, irei assumir", realçou. E acrescentou: "Se chegar à Volta e andar o que andei no ano passado, assino já por baixo e já dava a Volta como realizada." Mas claro que se puder fazer melhor, pelo menos vencendo uma etapa, então ainda melhor.
Não se cansa de repetir o quanto está a desfrutar mais do ciclismo este ano, não perdendo a oportunidade para realçar que na W52-FC Porto o importante é a equipa e que esta saia vitoriosa nas corridas, independentemente do ciclista que vença. Nem ao recordar os momentos difíceis que passou devido ao excesso de peso perde o sorriso ou a confiança. Porém, quando se fala dos Campeonatos Nacionais, há um suspiro mais profundo. "Ficou-me atravessado! Se tivesse sido tacticamente um Rui Costa - para mim é dos melhores a nível mundial a ler corridas - poderia ter vencido os Nacionais", frisou, ao lembrar-se da edição do ano passado, em Gondomar. "Foi das corridas que mais me revoltou. Apesar de ter feito sexto, senti que poderia ter vencido. O Ruben Guerreiro venceu, mas sei que poderia ter estado na discussão."
Elogia de imediato o actual campeão nacional, afirmando que se está perante um dos melhores jovens ciclistas e que já está numa equipa do World Tour, a Trek-Segafredo. Contudo, recorda como quem estivesse a ver na televisão tudo o que aconteceu naquela corrida: "Eu ainda ataquei com o Tiago Machado e com o César Fonte. Tínhamos 3:30 de atraso e conseguimos chegar à frente, quando já era impensável. Mal chegámos à frente da corrida, torna-se a partir e eu fiquei no grupo de trás e eu fui sozinho a recuperar para cinco ciclistas, com quatro deles no World Tour. Ainda consegui chegar à frente, mas já ia vazio." Considera que Ruben Guerreiro "foi felino" pela forma como o atacou e venceu os Nacionais, mas irá para Belmonte com uma enorme vontade de finalmente vestir a camisola de campeão português. "Já fiz segundo, fui batido pelo Manuel Cardoso a 25 metros da meta. Vou sempre com o objectivo tentar vencer. Não me passa pela cabeça ir para os Nacionais para fazer segundo ou terceiro", salientou.
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