30 de julho de 2016

Ninguém se entendeu, fizeram birra, Rui Vinhas está de amarelo e a vantagem táctica é da W52-FC Porto. Isto está animado!

Momento de grande emoção para Rui Vinhas (Fotografia: Volta a Portugal)
Uma coisa é certa, esta etapa não teve um momento aborrecido. Desde um pelotão partido logo a começar, com Gustavo Veloso a fugir dos restantes candidatos, a uma fuga que acabou com dois na frente e uns perseguidores que tinha um ciclista que viria a viver algo único... Não temos Froome, Contador ou Quintana, mas lá que este pelotão sabe animar uma corrida, lá isso sabe!

Rui Vinhas (29 anos) poderia ter pensado muita coisa quando subiu para a bicicleta em Montalegre, mas vestir a camisola amarela não foi uma delas. Aliás, durante boa parte da etapa, o ciclista da W52-FC Porto, juntamente com o colega Joaquim Silva, trabalharam muito na fuga na perspectiva de desgastar a Efapel. Afinal este domingo espera-os a Senhora da Graça. Os restantes companheiros da fuga deram uma ajuda menor deixando o trabalho para os homens da W52-FC Porto, que estiveram muito bem.

Depois veio aquela espécie de birra entre directores desportivos. Primeiro foi Américo Silva (Efapel), que depois de ter a sua equipa a "caçar" Gustavo Veloso, "fartou-se" de a ter a perseguir sozinha a fuga que chegou a ter cerca de 10 minutos de avanço. A Rádio Popular-Boavista tomou as rédeas, mas José Santos aproveitou a entrevista na RTP para atirar farpas à Efapel. Acusou a equipa que tem um candidato de não trabalhar. "Mas tem o Rui Sousa?", atirou o jornalista. "Oh!", foi a resposta de José Santos. Rui Sousa pode ser um veterano e as hipóteses de ganhar são poucas, mas ainda assim... esta resposta...

Enfim, era um momento de tensão. Da LA Alumínios-Antarte só se viu quando Alejandro Marque resolveu a poucos quilómetros do fim, minimizar estragos (só serviu para gastar energias que lhe podem fazer falta), o Sporting-Tavira não tem capacidade para estas andanças, enquanto a W52-FC Porto de Nuno Ribeiro tinha a melhor desculpa: Gustavo Veloso é o líder, mas se está um ciclista em posição de vestir a amarela, então a restante equipa vai ficar sossegada. Bom... quase, no final resolveu acelerar, mostrando que Veloso continua a ser cabeça de fila, independentemente dos 3:19 minutos que Rui Vinhas tem de vantagem sobre Daniel Meste (Efapel)

Das equipas portuguesas falta falar do Louletano-Hospital de Loulé, que tinha Micael Isidoro na frente, portanto ficou sossegada no pelotão. Já as equipas estrangeiras, a Drapac e a Androni lideravam, as restantes ficaram a ver o que ia acontecer. Já agora o vencedor da terceira etapa em Macedo de Cavaleiros foi o australiano William Clarke, da Drapac.

Entre as birras de directores desportivos iam-se fazendo contas. Rui Vinhas ia para a amarela e a única questão era com que vantagem iam deixá-lo ficar. Iam permitir que a Volta ficasse praticamente decidida? A Efapel lá regressou à frente do pelotão, com a Rádio Popular-Boavista a dar uma ajuda e o tempo desceu um pouco.

Ainda assim, esta Volta a Portugal acabou por sofrer uma reviravolta inesperada. Rui Vinhas é de repente o homem que todos falam e até Gustavo Veloso diz que o vai ajudar. Uma cortesia de um líder respeitado, pois Rui Vinhas sabe o seu lugar e desde logo afirmou que o galego é o número 1, tal como Nuno Ribeiro assegurou que a hierarquia mantém-se.

A dor de cabeça está toda do lado das outras equipas, principalmente da Efapel, claramente o conjunto que até ao momento demonstrou conseguir medir forças com a W52-FC Porto. Nuno Ribeiro pode dar-se ao luxo de jogar com dois trunfos. É altura de ver o melhor que o ciclismo tem tacticamente e saber como fisicamente se vão comportar os restantes candidatos, agora que o cenário ganhou contornos inesperados e os planos terão forçosamente de ser alterados. Lá emoção vamos ter, pois tudo aconteceu logo antes da mítica Senhora da Graça.

Para juntar aos muitos momentos desta etapa, a organização resolveu juntar-se à festa e anulou os cortes de tempo que tinha decidido na segunda etapa... 24 horas depois!



4ª etapa: Bragança - Mondim de Basto/Senhora da Graça (191,9 quilómetros)

É um dos dias mais aguardados do ano no ciclismo nacional. A subida à Nossa Senhora da Graça é um dos momentos com mais história em Portugal e Mondim de Basto veste-se de gala para receber o pelotão, que é como a quem diz, espera os ciclistas o habitual ambiente de milhares de pessoas que se espalham pelos cerca de 11 quilómetros da subida, mas a enchente até começa antes. A nível competitivo, o dia conta ainda com outra primeira categoria, no Alvão, sendo uma etapa que poderá ser muito importante, inicialmente para os ciclistas que precisavam de ganhar tempo para não ficarem à mercê dos melhores contra-relogistas, agora para resolverem a questão chamada Rui Vinhas.

29 de julho de 2016

A luta olímpica dos Josés

José Gonçalves durante o prólogo (Fotografia: Volta a Portugal)
José Gonçalves ambicionava - e com toda a legitimidade - uma presença nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O ciclista de Barcelos tem construído uma carreira à base da sua garra e ambição por lutar pelos seus objectivos, não baixando os braços quando não os alcança. Vejamos o exemplo da sua prestação na Vuelta em 2015. Tentou e tentou e voltou a tentar vencer uma etapa e este ano certamente que será mais um dos animadores da competição. Mas este ano alcançou aquele que é o seu melhor resultado na carreira: a Volta a Turquia. A competição atrai equipas World Tour, neste ano a Lampre-Merida e a Lotto Soudal, e a vitória deu uma projecção a José Gonçalves que começa a ser impossível não o ver mudar-se para uma equipa do principal escalão do ciclismo. No entanto, não estará nos Jogos Olímpicos.

Não esconde a desilusão, mas bem ao seu estilo, prefere concentrar-se nas lutas que pode combater. José Gonçalves viu José Mendes ser o eleito para completar o quarteto olímpico, que conta com Rui Costa como líder, André Cardoso e Nelson Oliveira (que irá também competir no contra-relógio). A escolha de José Poeira criou alguma surpresa, afinal, perante o percurso e a forma agressiva como José Gonçalves enfrenta este tipo de dificuldades até pareciam ideais para que Portugal tivesse mais uma hipótese para atacar a medalha. Poeira optou por uma equipa completamente concentrada no apoio a Rui Costa. Não que José Gonçalves não seja um "jogador de equipa", nada disso, mas "prender" o ciclista de Barcelos num percurso como o do Rio de Janeiro seria quase criminoso.

Não está em causa a escolha de José Mendes. Recentemente sagrou-se campeão nacional e foi segundo no contra-relógio, mostrando que também ele encontra-se num bom momento de forma. Numa perspectiva de ser um gregário para Rui Costa, a escolha é quase natural e de grande qualidade, ficando André Cardoso como um possível plano B. Mas Rui Costa será sempre o líder indiscutível.

José Gonçalves está desiludido, mas não abatido. A sua "fúria" já se começou a notar nas estradas portuguesas: um terceiro lugar, dois segundos e está a dois segundos da liderança de Daniel Mestre (Efapel). O ciclista a Caja Rural mantém o discurso da sua equipa: está na Volta a Portugal para preparar a Vuelta. Há um ano também o estava e muito lutou pela por vencer uma etapa. Talvez não o vejamos a lutar nas montanhas, ainda que a ambição deste ciclista possa surpreender até a própria equipa. No domingo, na Senhora da Graça, já ficaremos a perceber as intenções de José Gonçalves.

Aos 27 anos e com a forma que apresenta, é normal que o ciclista pensasse que tinha chegado o seu momento olímpico, mas há que admirar a sua postura. Não foi convocado e, por isso, só pensa que ainda irá representar o país nuns Jogos Olímpicos. Objectivo por cumprir, significa para José Gonçalves que a luta continua!

O discurso da Caja Rural

Gavazzi venceu a etapa

(Fotografia: Volta a Portugal)
A equipa espanhola é provavelmente a mais forte entre as estrangeiras, a par da italiana Androni Giocattoli-Sidermec, que esta sexta-feira venceu com Francesco Gavazzi, que bateu precisamente José Gonçalves. Com três portugueses nos eleitos é difícil acreditar que a Caja Rural não tenha um pouco mais de ambição que não vá além do que não conseguem impedir mesmo que quisessem: ver José Gonçalves lutar por uma etapa. Enquanto o irmão gémeo, Domingos, é um homem mais de trabalho, Ricardo Vilela poderá ser uma aposta para quando os grandes momentos da Volta chegarem, nomeadamente a Senhora da Graça e a etapa da Torre.

Percebe-se que sendo uma equipa espanhola, brilhar na Vuelta é o grande objectivo da temporada, mas talvez haja espaço para algo mais em Portugal.

O salto do Rali de Portugal... em bicicleta


(Fotografia: Volta a Portugal)
Não se poderia deixar passar o que será um dos principais momentos desta Volta a Portugal. A passagem por um troço em terra batida (da Lameirinha), cerca de 2,2, quilómetros, contava com o salto que tanto espectáculo proporciona no Rali de Portugal. Não foi possível dar um grande salto, mas Wilson Diaz (Funvic/Soul Cycles) resolveu dar uma imagem diferente da que deixou 24 horas antes, tornando-se no primeiro a passar no mítico local do Rali português. Na quinta-feira, o colombiano celebrou uma vitória quando ainda faltava mais uma volta ao Sameiro. Agora entrou na história e vestiu a camisola da liderança da montanha, que César Fonte (Rádio Popular-Boavista) tanto lutou.

Daniel Mestre (Efapel) manteve a camisola amarela por apenas dois segundos, com a ajuda preciosa de uma meta volante, mas na chegada a Fafe houve cortes e a organização determinou diferenças de tempo. Dos favoritos, só Gustavo Veloso (W52-FC Porto) ficou com o tempo de Gavazzi, Rinaldo Nocentini (Sporting-Tavira) perdeu um segundo, Joni Brandão (Efapel) e Alejandro Marque (LA Alumínios-Antarte) quatro. Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista) gastou mais dez segundos, mas a grande preocupação com o veterano ciclista era a sua condição física após uma queda. O resultado dos exames no hospital deram boas notícias: Rui Sousa vai continuar na Volta a Portugal.


3ª etapa: Montalegre - Macedo de Cavaleiros (158,9 quilómetros)

O pelotão vai dirigir-se para o Nordeste Transmontano. A passagem pelo alto de Mosteiro de Cima poderá convidar algumas fugas, pois até Chaves as dificuldades não serão de maior. Mas em Mirandela será tempo para subir a Serra de Bornes, antes de uma chegada que se prevê rápida a Macedo de Cavaleiros.

28 de julho de 2016

Efapel marca posição

Daniel Mestre venceu a etapa em Braga e lidera a geral (Fotografia: Volta a Portugal)
Com a actual denominada W52-FC Porto a dominar nos últimos três anos e apresentar-se em 2016 com o conjunto aparentemente mais forte - e claro, com o homem que nos últimos dois anos não tem dado qualquer hipótese à concorrência, Gustavo Veloso -, a Efapel marcou desde cedo a sua posição na Volta a Portugal. A entrada de Américo Silva como director desportivo, há um ano, trouxe um novo fôlego à equipa que apesar de ter sido incapaz de derrotar Veloso, colocou dois dos seus ciclistas no pódio da Volta em 2015: Joni Brandão e Alejandro Marque. No entanto, a ambição é agora maior e após a indefinição se Joni ficaria na Efapel, a sua continuidade permitiu dar estabilidade e um foco à equipa: tudo para levar Joni Brandão à vitória na Volta a Portugal, até porque Marque mudou-se para a La Alumínios-Antarte.

O ciclista de Santa Maria da Feira tem feito uma temporada positiva, mas ele próprio admite que tem o handicap do contra-relógio, pelo que foi uma das vozes desagradadas com o percurso escolhido para a Volta a Portugal, nomeadamente a não chegada em alto na Torre. Como é que Joni Brandão respondeu? Com um segundo lugar no prólogo, que provavelmente surpreendeu a ele próprio, mas que lhe dará aquela dose extra de confiança, que tanta importância ainda poderá vir a ter. É um trepador nato e sabe que terá muito trabalho para tentar ganhar tempo que lhe permita defender-se no contra-relógio final de Vila Franca de Xira - Lisboa. Mas aos 26 anos, e perante os recentes resultados do ciclista da Efapel, fica a ideia que todos sentem que é este o ano para Joni subir ao lugar mais alto do pódio... Até porque a tentação do estrangeiro poderá começar a ser difícil de resistir.

E a Efapel mostrou já nesta primeira etapa como o seu grupo trabalha unido e sabe impor respeito, liderado por um brilhante Filipe Cardoso, que tanto trabalha para lançar um sprint como certamente dará uma ajuda a Joni nas montanhas e quem sabe tente repetir a épica vitória de 2015 na Senhora de Graça. E foi mesmo uma daquelas vitórias difíceis de se esquecer.

Esta quinta-feira foi a vez de Daniel Mestre tirar partido do excelente trabalho da equipa nas duas subidas ao Sameiro. W52-FC Porto, Rádio Popular Boavista e Efapel trabalharam para anular a fuga, mas depois foram os homens de amarelo que melhor preparam o sprint que Daniel Mestre não desperdiçou, sendo agora o líder da classificação geral, ou seja, vai vestir um amarelo um pouco diferente do que está habituado!

Ainda é muito cedo na competição, mas sem praticamente dias para recuperar o fôlego nesta Volta, esta demonstração de força da Efapel é importante para mostrar que não quer e tem armas para não ficar atrás de Gustavo Veloso. Pelo menos parece estar garantida uma luta bem interessante, que não está reduzida a estes nomes, pois os líderes da LA Alumínios-Antarte e o Sporting-Tavira têm andado um pouco mais discretos, por enquanto (Rinaldo Nocentini, do Tavira, até já teve uma queda).

Américo Silva sabe que tem alguma pressão do seu lado, pois um dos projectos que há quase uma década vai sobrevivendo a todas as dificuldades, mantendo-se no ciclismo, só conta com uma Volta a Portugal, em 2012 com David Blanco, naquela que foi a quinta vitória do espanhol. Agora se a Efapel conseguisse com um português, seria ainda mais especial.

2ª etapa: Viana do Castelo - Fafe (160 quilómetros)

O destaque do dia vai para a passagem no troço de 2,2 quilómetros que normalmente "pertence" ao Rali de Portugal. Parece ser poucos metros, mas vão exigir grande atenção dos candidatos, para evitar azares que os façam perder tempo preciso. A etapa desta sexta-feira será tudo menos fácil, contando com a habitual passagem no Gerês.



27 de julho de 2016

Rafael Reis não tem futuro em Portugal

(Fotografia: Volta a Portugal)
Não é algo que se escreva com base em 3,6 quilómetros em Oliveira de Azeméis. Estes últimos quilómetros acabaram por ser mais uma consagração (vestiu a camisola amarela) para um jovem ciclista com um futuro que não poderá passar por Portugal. A evolução dos últimos anos e o potencial que continua por explorar em Rafael Reis, faz com que aos 24 anos o jovem de Palmela tenha certamente à sua espera uma carreira - que muito merece - além fronteiras.

No contra-relógio continua a afirmar-se cada vez mais como um grande talento e em Portugal já é difícil batê-lo. Este ano soma oito vitórias, a maioria precisamente no esforço individual e só nos Campeonatos Nacionais encontrou quem já está noutro nível, ainda que completamente acessível a Rafael Reis daqui a alguns anos: Nelson Oliveira (ciclista da Movistar). José Mendes (Bora-Aragon 18) relegou Rafael para terceiro, mas um título nacional de elite é algo que deverá acontecer com alguma naturalidade nos próximos anos. Não nos podemos esquecer que o cartão de visita de Rafael foi apresentado em 2014, quando foi quarto nos Mundiais de Ponferrada, em sub-23 (já era campeão nacional daquele escalão).

Mas na Volta a Portugal voltou a impor a sua superioridade que só o companheiro e líder da W52-FC Porto parecia ter capacidade de a colocar em causa. No entanto, Gustavo Veloso teve um furo e foi obrigado a trocar de bicicleta. Rafael Reis acaba por ser um justo primeiro líder, numa perspectiva de tudo o que já fez este ano, que o colocam como líder o ranking nacional. Não há qualquer discussão de Rafael ameaçar a liderança de Veloso. A equipa portista tem como único objectivo levar o galego à terceira vitória consecutiva na Volta a França. São apenas 11 segundos de diferença. Porém, pelo menos na primeira etapa, Rafael Reis poderá mostrar um sorriso de quem tem a camisola amarela vestida. E talvez até consiga mantê-la mais um ou outro dia, pois o jovem da W52-FC Porto também tem evoluído na montanha.

Quem também estará certamente feliz será Joni Brandão. O líder da Efapel teve um resultado muito animador no contra-relógio, uma modalidade que não é de todo o seu forte, mas neste prólogo foi o melhor entre os candidatos à geral. Com diferenças tão curtas, não há razões para grandes festas. Mas lá que deve ser motivador, certamente que o é.

1ª etapa: Ovar - Braga (167,4 quilómetros)


Ao segundo dia não haverá descanso. A etapa será bastante sinuosa e terá um segunda categoria antes da descida final até à meta em Braga, com destaque para o difícil circuito Bom Jesus/Sameiro/Falperra, que será ultrapassado duas vezes. Santa Maria da Feira, Gondomar, Valongo, Paredes, Santo Tirso e Famalicão serão municípios em festa com a recepção do pelotão.

26 de julho de 2016

As emoções da nossa Volta

(Fotografia: Volta a Portugal)
Chegou aquele momento em que saímos de uma Volta a França onde estiveram os grandes nomes do ciclismo para uma Volta a Portugal que por mais que esteja longe do esplendor de outros tempos continua a provocar emoções quando se gosta de ciclismo. É preciso mudar o "chip", é certo, mas as emoções da "nossa volta" continuam a ser incomparáveis, pois quando se cresce a ver os ciclistas passarem nas estradas nacionais, com os avós a levarem os netos, os pais a tentarem identificar aos filhos quem são as grandes figuras que passam tão rápido e que ainda assim causam aquele arrepio na espinha... É o ciclismo português, mesmo que a volta não tenha a projecção de outros tempos. Não, na Volta a Portugal não temos um pelotão de luxo que a Volta ao Algarve já vai trazendo, mas temos aquela tradição que teme em não morrer apesar de por vezes tanto sofrer.

De Oliveira de Azeméis a Lisboa, 2016 trouxe uma Volta a Portugal um pouco diferente e que desde logo deu que falar: não haverá chegada em alto na Torre. Parece que faltará algo, mas a etapa, ainda assim, tem tudo para ser espectacular. E claro que a norte haverá grande expectativa para ver as bicicletas a passarem num troço normalmente destinado ao Rali de Portugal, em Fafe.

Se o percurso é bom ou mau, haverá tempo para discutir durante os próximos dias e já a partir desta quarta-feira. Agora é o pelotão que conta, ainda mais com o regresso do FC Porto e do Sporting e já se sabe como em Portugal o clubismo é capaz de contribuir ainda mais para que o ciclismo possa ter outro tipo de projecção. Mas, em Portugal é muito mais do que as equipas que contam, pois Joni Brandão (segundo classificado em 2015 e um dos principais candidatos, na liderança da Efapel) , Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista), Rafael Reis (W52-FC Porto) e Amaro Antunes (LA Alumínios-Antarte) sabem que contarão com um carinho especial, assim como os portugueses que representam equipas estrangeiras como José Gonçalves (que muito espectáculo deu há um ano), Domingos Gonçalves e Ricardo Vilela (todos da Caja Rural, a equipa estrangeira mais forte presente na Volta) ou Bruno Pires (Team Roth).

Claro que para cumprir também uma tradição deste século, são os espanhóis os favoritos: Gustavo Veloso (W52-FC Porto) procura a terceira vitória consecutiva, enquanto Alejandro Marque (agora na LA Alumínios-Antarte) procura a segunda. Os dois são novamente considerados os principais candidatos, pois defendem-se muito bem no contra-relógio que este ano fecha a competição. São dez vitórias espanholas no século XXI (cinco de David Blanco) e apenas duas portugueses, com Nuno Ribeiro, em 2003, e Ricardo Mestre, em 2011.

Na Volta a Portugal aprendeu-se a viver mais pela emoção, pela proximidade. É o momento para reviver momentos como que se prolongam há décadas na Senhora da Graça, cuja peregrinação dos adeptos repete-se ano após ano, com crise ou sem crise. E mesmo que a Torre não tenha uma meta colocada continuará a ser um dos pontos de eleição de quem não quer perder um dos grandes momentos de uma competição que é conhecida como a Grandíssima.

É preciso fazer mudanças para que um dia a Volta a Portugal possa regressar a ter um papel mais importante no calendário internacional. O dia talvez chegará, mas são conversas para outro dia. Para já o que poderemos desejar é que as equipas portuguesas, que muito vão lutando para continuar na estrada, mostrem o seu melhor naqueles que são os dez dias mais importantes do ano para elas. Também desejamos que algumas das equipas estrangeiras - este ano são 12 - estejam cá para um pouco mais do que fazer treino em competição, como aconteceu em 2015.

O ciclismo está a chegar às nossas terras. Este ano até desce um pouco a Sul. Chegou o momento de preparar a marmita escolher o local e ir para a estrada. A Volta a Portugal vai começar!



Quem ganhou mais dinheiro na Volta a França?

(Fotografia: Team Sky)
Com mais de dois milhões de euros preparados para distribuir entre ciclistas e equipas, sem surpresa foi a Sky quem mais amealhou no Tour, com a vitória de Chris Froome a render 500 mil euros. Com as presenças no pódio de Romain Bardet e Nairo Quintana, a AG2R e a Movistar ocuparam os mesmos lugares no que diz respeito ao dinheiro ganho. Claro que aos valores de 200 mil euros pelo segundo posto e 100 mil pelo terceiro, juntam-se vitórias de etapas e no caso da equipa espanhola a vitória colectiva.

O facto de aparecer o nome das equipas e não dos ciclistas que mais ganharam explica-se porque normalmente os valores são divididos por todos os membros, o que faz com que valha muito a pena todo o esforço e perfeccionismo da Sky!

Destaque para Rui Costa, pois levou para a Lampre-Merida cinco mil euros por ter sido o primeiro a passar no ponto mais alto da Volta a França e ainda por recebido o prémio da combatividade numa das etapas em que andou em fuga.

Para se ter uma noção de alguns dos valores, os vencedores das classificações por pontos (Peter Sagan) e montanha (Rafal Majka) recebem 25 mil euros e o melhor jovem (Adam Yates), 20 mil. Por cada dia que um ciclista ande com a camisola amarela são 500 euros, de verde, bolinhas ou branca 300 euros. Peter Sagan ainda levou 20 mil euros por ter sido o mais combativo do Tour.

Quem ganhar uma etapa amealha 11 mil euros, o segundo fica com 5500 e o terceiro 2800. Até à 20ª posição são pagos 300 euros.

Depois existem vários aliciantes, tanto nos sprints intermédios como em algumas passagens nas montanhas, como no Tourmalet (cinco mil euros), por exemplo.

Aqui fica a lista dos prémios monetários (valores em euros):

  • Sky: 599,240
  • AG2R La Mondiale: 247,140
  • Movistar: 229,350
  • Tinkoff: 189,470
  • Orica-BikeExchange: 158,810
  • BMC: 121,170
  • Lotto-Soudal: 90,860
  • Dimension Data: 88,590
  • Etixx-QuickStep: 87,610
  • Katusha: 68,500
  • IAM Cycling: 67,230
  • Lampre-Merida: 61,900
  • Giant-Alpecin: 51,570
  • Astana: 39,430
  • Bora-Argon 18: 32,730
  • Direct Energie: 29,290
  • FDJ: 27,870
  • Trek-Segafredo: 26,360
  • Cofidis: 22,760
  • LottoNL-Jumbo: 21,750
  • Fortuneo-Vital Concept: 20,120
  • Cannondale-Drapac: 14,100

25 de julho de 2016

A Volta a França em dez pontos

Esperava-se por espectáculo, mas temia-se que o tradicional conservadorismo dos últimos anos voltasse a aparecer. A ASO desenhou um percurso dos mais interessantes das mais recentes edições. Ainda assim, Chris Froome adaptou-se às menos chegadas em alto e estava bem preparado para as descidas e para as esperadas etapas com muito vento (que tanto desesperaram Quintana). No entanto, um bom percurso não chega para o espectáculo. Os ciclistas não corresponderam às expectativas, não se atrevendo (ou talvez não conseguindo) contrariar uma super Sky. Portanto, o Tour foi aborrecido: nas etapas de montanha só nos Alpes houve alguma emoção (pouca e apenas pelo top dez); tivemos a confusão do Mont Ventoux (que poderá levar à mudança de regras) e que ficará como um dos momentos da história de todos os Tours; a crono-escalada foi uma das tiradas mais interessantes; Sagan soube ser o showman do costume; a Tinkoff destacou-se pelo melhor e pelo pior; Mark Cavendish fez história; Rui Costa e Nelson Oliveira com prestações positivas. Para agravar o aborrecimento, aquelas longas etapas, de mais de 200 quilómetros feitos a ritmo de passeio... que horror, que desespero!!

1. Chris Froome alterou um pouco a sua preparação visando principalmente estar em melhor forma na terceira semana, depois do susto em 2015, quando viu Nairo Quintana ameaçar tirar-lhe a camisola amarela. Não só o britânico apareceu de facto melhor na última semana do Tour, como soube surpreender os seus adversários em alturas totalmente inesperadas. Froome como que se reinventou: quanto todos esperavam que voltasse a tentar decidir tudo nas montanhas, eis que o britânico planeou tirar partido de outras situações de corrida. Primeiro foi na oitava etapa quando desceu com um pedalar ainda mais ortodoxo do que aquele que tem quando está a subir! Na etapa 11 aproveitou o vento e uma aliança com Peter Sagan para ganhar mais alguns segundos. Claro que o episódio do Mont Ventoux ficará para a história pelo momento insólito da corrida, mas o golpe final foi na crono-escalada, que venceu (já tinha sido segundo no primeiro contra-relógio). Nos Alpes, mesmo caindo e parecendo que poderia dificultar a sua vida, espelhou a sua superioridade, com a ajuda da toda poderosa Sky.

2. A perfeição de uma equipa. A Sky tem apresentado ano após ano equipas excelentes no apoio ao seu líder. No entanto, talvez 2016 a Sky tenha sido a melhor de sempre, mesmo sem Richie Porte, agora na BMC. Sergio Henao, Vasil Kiryenka, Mikel Landa, Mikel Nieve, Wout Poels, Luke Rowe, Ian Stannard e Geraint Thomas mereciam ter subido ao pódio ao lado de Chris Froome, pois se há uma camisola amarela que foi de facto um feito colectivo, foi esta do britânico. Rowe e Stannard tiveram um trabalho mais talhado para as etapas planas, enquanto Thomas tanto foi importante na tiradas de vento, por exemplo - excelente protecção a Froome - como também nas montanhas. O momento mais visível foi quando cedeu a sua bicicleta quando o britânico caiu na antepenúltima etapa, nos Alpes. Kiryenka, Landa e Nieve foram gregários de luxo - como seria de esperar puxaram, puxaram, puxaram -, mas o destaque vai para Sergio Henao que esteve com o seu líder durante as primeiras etapas de montanha, enquanto Wout Poels apareceu em grande na segunda metade do Tour. Tudo pensado ao pormenor, numa equipa que não fez nada por acaso nesta Volta a França... Tirando a corrida no Mont Ventoux que certamente quebrou toda uma organização da Sky, mas comprovou como Froome faria tudo para conquistar o seu terceiro Tour, até correr pela montanha com sapatos de ciclismo!

3. Nairo Quintana foi uma desilusão. Tanto falou do "sueño amarillo" que a Volta a França transformou-se num pesadelo. O ano foi preparado apenas e só a pensar no Tour e dificilmente poderia ter corrido pior. Sim, porque o terceiro lugar no pódio, para a ambição do colombiano, acaba por saber a muito pouco. Quintana não irá esquecer que ficou 4:21 minutos de Froome e que até teve de lutar para ficar em terceiro com Adam Yates e Richie Porte a criarem-lhe problemas. A qualidade de Quintana é inegável, mas ainda não está ao nível de Froome. Tem de melhorar no contra-relógio e nas descidas e aquela postura desesperadamente conservadora, colado à roda de Froome sempre na expectativa, talvez seja uma atitude a rever. Claro que como todos os outros adversários, Quintana não tem equipa para competir com a Sky, mas o colombiano nem sequer demonstrou ter capacidade para vencer um frente-a-frente com Froome. No final surgiu a notícia que não irá aos Jogos Olímpicos por não se sentir bem e precisar de perceber o que se passa com a sua saúde...

4. A armada francesa não esteve ao nível esperado. Thibaut Pinot foi provavelmente a maior desilusão do Tour. Mal o terreno começou a subir, o francês começou a perder tempo. Mudou de táctica e resolveu tentar ganhar etapas e lutar pela camisola da montanha... acabou por abandonar. Pierre Rolland foi perseguido pelo azar, ou seja, pelas quedas e Warren Barguil ainda tem muito para evoluir. Já Romain Bardet confirmou todas as suas credenciais. Acabou por ser dos maiores animadores - dentro do pouco que houve de animador no Tour - e o seu segundo lugar é mais do que merecido e deixa o ciclista a sonhar com outros voos, legitimamente.  Venceu uma etapa em grande estilo (infelizmente para Rui Costa) e é um nome a ter em conta para as próximas edições.

5. Adam Yates acabou por ser a grande surpresa do Tour e nem ser atingido por um insuflável o parou. Quarto lugar, esteve na luta pelo pódio e venceu a classificação da juventude. Já se sabia que o britânico da Orica-BikeExchange tinha potencial, agora confirmou-o e em final de contrato com a equipa, é um dos ciclistas que maior interesse está a gerar. A nova geração britânica começa a demonstrar que Froome poderá ter sucessores à altura.

6. Não se esperava que na estreia Fabio Aru vencesse o Tour. Ainda assim, o 13º lugar sabe a pouco. De quando em vez houve rasgos daquele italiano irreverente que ataca e deixa todos em alerta. Nos Alpes, a Astana chegou mesmo a trabalhar para Aru, que depois não teve forças e ficou para trás. Bauke Mollema (Trek-Segafredo) estará muito desiludido. Esteve em segundo e não fosse a decisão da organização em "salvar" Froome no Mont Ventoux, teria ficado muito perto do primeiro. Quis fazer frente a Froome... e terminou fora do top dez (descer, ainda mais com chuva, não é de todo com ele). Já Richie Porte merecia mais do que uma BMC que o abandonou quando teve um furo logo na segunda etapa. O australiano foi dos ciclistas que apareceu em melhor forma. Apesar de nos Alpes algum cansaço se ter apoderado dele, se não fosse aquele furo, talvez tivesse conseguido o pódio.

7. Jarlinson Pantano foi outra das figuras deste Tour, principalmente na última semana. A IAM prepara-se para fechar portas, mas venceu uma etapa na Volta a França, juntando ao triunfo no Giro (por Roger Kluge), quando nunca tinha ganho numa grande volta. O colombiano Pantano foi um animador e é impressionante o seu espírito de lutador. Quando parece que vai ficar para trás, eis que lá vem ele novamente. E claro, não passou despercebido quando deu uma ajuda a Bauke Mollema, já a pensar que em 2017 deverá estar na Trek-Segafredo. Mais um colombiano a ter em atenção. Também atenção a Tom Dumoulin. Definitivamente ameaça tirar o lugar a Tony Martin como o melhor contra-relogista do munto. Dumoulin venceu ainda uma etapa de montanha (mais uma vez à custa de Rui Costa) e esperemos que a queda já perto do final do Tour não o tire dos Jogos Olímpicos.

8. Mark Cavendish renasceu. De outsider para vencer sprints, recuperou a coroa de rei dos sprints: conquistou quatro (e faltam quatro vitórias no Tour para igualar de Eddy Merckx), com Marcel Kittel e André Greipel a somarem apenas uma vitória cada um. Cumpriu o sonho de vestir a camisola amarela, nem que tenha sido apenas por um dia e deu nova dimensão à... Dimension Data, equipa que voltaria a vencer pelo inevitável Stephen Cummings. Pena e de certa forma reprovável que não tenha cumprido a promessa de estar nos Campos Elísios - até fez uma promo para a televisão a falar de quanto gosta de competir em Paris...), mas o apelo dos Jogos Olímpicos falou mais alto.

9. Peter Sagan é a figura da Volta a França, a seguir a Chris Froome, claro. Três etapas, três dias de amarelo, venceu pela quinta vez a camisola verde (dos pontos). Foi ainda nomeado o mais combativo do Tour. Mas Sagan foi muito mais numa Tinkoff a desfazer-se. A equipa russa está em contagem decrescente para o final, mas o Tour mostrou que cada um dos ciclistas estava a pensar mais no seu futuro. Roman Kreuziger desrespeitou ordens e abandonou Alberto Contador quando este precisou de ajuda numa subida. O checo tinha a sua agenda e o décimo lugar acaba por salvar a sua atitude. A Tinkoff voltou a ver o seu suposto líder, Contador, ter um Tour para esquecer (duas quedas e mais um abandono), mas Sagan garantiu que Oleg Tinkov tivesse muito para festejar, ao que se juntou Rafal Majka. Também ele chegou ao Tour com agenda própria e cumpriu ao garantir a camisola da montanha. Mas atenção, Peter Sagan foi um verdadeiro companheiro de equipa, pois não só lutou pelos seus objectivos, como ajudou sempre que foi preciso os colegas. E ainda houve tempo para uns cavalinhos! Não admira que falem num contrato de seis milhões de euros oferecido pela Bora-Hansgrohe em 2017.

10. Vamos terminar com os portugueses. Nelson Oliveira esteve muito bem no apoio a Nairo Quintana. No entanto, não se poderá esquecer que a Movistar falhou numa etapa em que o vento voltou a estragar as contas ao colombiano. Porém, Eusebio Unzué, director desportivo da Movistar, estará certamente satisfeito por ter escolhido português, que apareceu no contra-relógio. Foi terceiro, só batido por Tom Dumoulin e Chris Froome. Na crono-escalada serviu de teste para Quintana, ficando a sensação que se tivesse tido mais liberdade até poderá ter feito melhor do que o 21º tempo. Mas foi Rui Costa quem mais se mostrou, como era de esperar. A mudança de planos para lutar por etapas e não o top dez foi absolutamente correcta. Finalmente voltámos a ver o Rui Costa lutador e a mostrar toda a sua inteligência táctica. Esteve em seis fugas, foi o mais combativo numa etapa - na que foi ganha por Romain Bardet -, mas infelizmente não cumpriu o objectivo. Pode ser uma desilusão, mas o português mostrou-se em boa forma quando se aproximam os Jogos Olímpicos. O mesmo para Nelson Oliveira, que será um outsider de respeito às medalhas no contra-relógio. E já agora, Nelson subiu ao pódio no final com a Movistar, a melhor equipa do Tour, em tempo, pelo menos.


Best of - Tour de France 2016 por tourdefrance

Veja as classificações finais da Volta a França.

23 de julho de 2016

Stay cool! Isto é tudo nosso!

Momento em que Froome cortou a meta e garantiu a sua terceira Volta a França
(Fotografia: Twitter @TeamSky)

Esta é uma das ocasiões que aparecer apenas um nome como vencedor da Volta a França até parece ser algo redutor. Não se está a falar da importância em ter uma equipa para ganhar o Tour. Isso já se sabe. A questão é que este Tour foi mesmo ganho pela Sky como um todo. Naturalmente que quando Chris Froome foi chamado a fazer diferenças ele esteve lá. Mas é inegável como a equipa controlou a seu belo prazer a Volta a França, protegendo de forma quase perfeita o seu líder, que em muitas ocasiões não teve de se desgastar para responder a ataques, ou porque alguém da sua equipa o fazia, ou porque simplesmente o ritmo da Sky nem sequer permitia que um ciclista tentasse sair do grupo.

A 20ª etapa foi um bom exemplo. Quando se pensava que haveria todo o tipo de ataques para testar Froome após a queda de sexta-feira, a Sky fez o seu trabalho do costume, não teve muito com que se preocupar. Ou seja, o pensamento deveria ser qualquer coisa como "stay cool, isto é tudo nosso".

Mas atenção: Froome foi de longe o mais forte, pois sempre que tentou mexer na corrida provocou grandes problemas aos adversários. E nem precisou de mexer muito, pois - e sem tirar qualquer mérito à vitória do britânico - Nairo Quintana não foi o oponente que se esperava, Alberto Contador rapidamente ficou de fora, Bauke Mollema sonhou, mas quanto mais alto subiu... maior foi a queda e ciclistas jovens como Adam Yates e Romain Bardet ainda não estão ao nível de Froome, ainda que já muito prometam. Fabio Aru junta-se ao lote das desilusões e Richie Porte pode queixar-se da equipa, da falta de sorte e da falta de pernas nos Alpes.

Esta é a volta da Sky. Um poderio impressionante que terá inevitavelmente de provocar mudanças de mentalidade e funcionamento noutras equipas que pretendam discutir os próximos Tours. Sim, porque é fascinante ver como a Sky controla todo um pelotão com quase todos os grandes nomes do ciclismo, mas tem sido assim quase sempre nos últimos anos. Já se quer mais. Chegou a altura de todos elevarem o nível e começarem a equilibrar a competição e não esperar que a Sky falhe. Esta diferença não pode ser apenas explicadas pelas diferenças nos orçamentos...

Porém, hoje e principalmente amanhã quando Froome e a super Sky chegarem aos Campos Elísios, é o momento do britânico celebrar a terceira vitória na Volta a França, a quarta da equipa em cinco anos. Foi perfeitamente merecida. Froome começa a escrever a sua página na história como um dos melhores de sempre no ciclismo.


Summary - Stage 20 (Megève / Morzine) - Tour de... por tourdefrance_en

22 de julho de 2016

Só Froome consegue complicar a vida... a Froome

Wout Poels tem sido um fiel companheiro de Froome (Fotografia: Team Sky)
Só mesmo Chris Froome para complicar o que parecia quase certo (e ainda parece). Não que 4:11 minutos de avanço não lhe dê conforto, mas certamente que este sábado o britânico estará tudo menos confortável na sua bicicleta. Uma queda acontece a qualquer um, mas perante tal domínio, tinha de ser Froome e criar problemas a si próprio e eventualmente inspirar espectáculo que, verdade seja dita, até à etapa de hoje, tinha sido ele a dar de uma forma mais natural e também ortodoxa, no que diz respeito à luta pela geral.

Desta vez não houve motos ou adeptos envolvidos. Chris Froome caiu sozinho, numa
(Fotografia: Team Sky)
descida, numa altura em que a chuva complicava a etapa dos Alpes. E quando se discutia quem estava na luta pelo pódio, lá se viu Froome a deslizar pela estrada, provocando uma queda aparatosa a Vincenzo Nibali (Astana), que seguia o britânico. Desta vez houve logo uma bicicleta, a de Geraint Thomas, mas houve também ferimentos bem visíveis e a dor foi impossível esconder tanto durante a última subida, como na presença no pódio, onde o joelho apareceu bem embrulhado.

Froome tem sido o destaque quando se fala na luta pela geral. Foi ele quem desceu de uma forma louca, foi ele que correu Mont Ventoux acima, foi ele que conquistou a crono-escalada e agora foi ele quem abriu a porta a um último dia que poderá ter o espectáculo que praticamente faltou durante toda a Volta a França.


Chris Froome chute / crashes - Étape 19 / Stage... por tourdefrance

Se já esta sexta-feira houve quem tentasse atacar, então este sábado a Sky irá finalmente ser colocada à prova. Bom, assim se espera pelo menos, pois com o líder debilitado, será altura de aproveitar. Parece algo de pouco fair play, mas o desporto é assim. O próprio Froome já admitiu que será um dia difícil. Talvez se possa ver desta maneira: num Tour no qual dominou a descer, a rolar, a subir, no contra-relógio... eis o momento para se superar e ter um final mais épico do que apenas um resumo do género: Froome dominou e ganhou pela terceira vez. Há que dizê-lo que ao se escrever sobre esta Volta a França, talvez falte um episódio de grande ciclismo e não apenas um corrida no Mont Ventoux para recordar o eventual triunfo.

Poderá alguém concretizar a surpresa das surpresas?

Tirar a camisola amarela a Chris Froome, mesmo com ele debilitado, mais parece uma missão impossível. Romain Bardet (AG2R), o vencedor do dia, subiu ao segundo lugar e até poderá tentar a sua sorte, mas também estará mais a pensar no brilhante posto que alcançou. Nairo Quintana (Movistar) poderá igualmente tentar algo, mas mais a pensar em ultrapassar Bardet do que em assustar Froome. Tenham sido alergias, má condição física, má táctica, ou pura e simplesmente alguma falta de ambição em determinados momentos, Quintana é uma desilusão. Tentará a vitória na etapa, pelo menos. Adam Yates (Orica-BikeExchange) vai à procura de recuperar uma posição merecida no pódio.

Porém, perante tal diferença, só se realmente Froome estiver muito mal é que poderá verificar-se um ataque louco para tirar uma vitória há muito anunciada neste Tour.

Vamos lá Rui Costa!

Só falta uma etapa para tudo se decidir. Rui Costa (Lampre-Merida) tem tentado, mas ainda não conseguiu a ambicionada vitória, que já merece. Este sábado é o tudo ou nada. O ciclista português está a terminar muito bem, fisicamente, a Volta a França (boas perspectivas para os Jogos Olímpicos). E há que acreditar que ainda é possível conquistar uma etapa. Subiu ao pódio como o ciclista mais combativo, um pequeno mas valioso prémio depois de tanto trabalho. No seu blog, Rui Costa fala de alguma falta de sorte. Esta conquista-se com persistência, como muito se vê no português. Quem sabe se é em Morzine que a sorte finalmente chegará para um dos ciclistas que mais lutou por uma etapa neste Tour.



Résumé - Étape 19 (Albertville / Saint-Gervais... por tourdefrance

Etapa 20: Megève - Morzine (146,5 quilómetros)



Christian Prudhomme, líder da organização da Volta a França, escolheu para finalizar a competição uma estreia, o Col de Joux Plane. Serão 11,6 quilómetros com 8,5% de pendente média. Olhando para o gráfico, toda a subida está marcada a vermelho e preto, ou seja, não há momentos fáceis, pois o mais ligeiro que se encontra é um quilómetro a 6,8%. E não esquecer que a última subida do Tour é antecedida de outra de primeira categoria, no Col de la Ramaz. No entanto, a despedida não será feita em alto, a liderança terá um derradeiro teste numa descida até à meta. E a chuva ameaça voltar a marcar presença, tal como na sexta-feira.

Veja as classificações da Volta a França após a 19ª etapa.

18 de julho de 2016

O Tour é aborrecido e a culpa não é da Sky

(Fotografia: Team Sky)
Era o que se temia e não há Quintana ou Movistar que contrarie: a Sky volta a dominar a Volta a França a seu belo prazer e sim, o Tour está aborrecido, mas não, a culpa não é da Sky. Não se podendo dizer que o Tour está decidido, quando faltam quatro dias para o decidir, parece que se está mais na expectativa de ver se a Sky e Chris Froome fraquejam na última semana, como já aconteceu no passado, do que acreditar que alguém consiga medir forças com a equipa britânica. Há pouca fé que um Quintana ou mesmo um Bauke Mollema (que neste momento até se apresenta como a maior ameaça à liderança do britânico) possam de facto contrariar o poderio assustador desta super Sky.

Porquê assustador? Porque pura e simplesmente quando esta Sky está bem ninguém a consegue bater e é assustador pensar que isto poderá manter-se mais uns tempos. Nos últimos anos, só quando Froome caiu e foi obrigado a abandonar é que a equipa ficou exposta e Vincenzo Nibali aproveitou para conquistar a Volta a França e entrar no restrito grupo de ciclistas que venceu as três grandes voltas. Nos outros anos, a Sky pode ter tremido um pouco - como aconteceu em 2015 - mais não caiu.

Claro que este domínio nos faz pensar que se não fosse a Sky se calhar tínhamos mais espectáculo no Tour. No entanto, não se pode culpar a equipa britânica de tirar interesse à Volta a França. O problema está que desde que em 2012 a Sky começou a cumprir a promessa de vencer o Tour, nenhuma outra equipa encontrou ainda forma de contrariar a superioridade britânica.

A Sky mudou a forma de treinar, mudou a forma de competir, mudou a forma de contratar (tem dinheiro para escolher quem quer). A Sky revolucionou o ciclismo e tem estado desde então na linha da frente. As restantes equipas foram tentando adaptar-se, mas a Sky parece estar sempre um passo à frente, principalmente no que se refere à Volta a França. Por enquanto, ainda não tentou expressar todo o seu poderio em nenhuma das outras competições.

Sabendo deste poderio, a Movistar concentrou este ano Nairo Quintana apenas e só para o Tour, um pouco à imagem do que aconteceu há um ano, mas desta vez prometendo uma mentalidade diferente, tendo em conta que ficou a impressão que o colombiano poderia ter ganho se tivesse atacado a liderança mais cedo de Froome e não ter deixado para o fim.

O que se tem visto de Quintana? Um ciclista mais preocupado em não deixar fugir Froome do que em fazer a sua corrida. Passa o tempo na sua roda, na expectativa. Afinal a Movistar ainda não perdeu o respeito à Sky e receia atacar. Valverde já o fez, mas nem a ele próprio convenceu. E Quintana? Foi praticamente uma humilhação o que aconteceu no Mont Ventoux: tentou atacar duas vezes e das duas vezes foi apanhado por Wout Poels. Froome nem precisou de se mexer. Já para não falar que por duas vezes Quintana foi apanhado desatento e que por duas vezes Froome fugiu, além de no Mont Ventoux estar a desaparecer da vista do colombiano até ao insólito momento da moto e da corrida a pé.

Neste momento, só Bauke Mollema (Trek-Segafredo) e Romain Bardet (AG2R) dão indicações que têm ideias de perder o respeito à Sky. E quando se fala de perder o respeito, é numa perspectiva de atacar, não ficarem presos ao ritmo que a equipa impõe e que tantas dificuldades cria para quem quiser sair do grupo. A questão é que se nenhum destes ciclistas tem equipa para os ajudarem, talvez esteja na altura de formar alianças. Só com ataques sérios e não as amostras que até agora se viram, esta Sky pode ser colocada verdadeiramente à prova. Porque assim, parece imbatível, porque ninguém nem sequer testar os limites. Na Volta a França estão os melhores do mundo e não estão todos na Sky. Está na altura de se mostrarem

O tempo urge, e são quatro dias (três se descontarmos o contra-relógio, no qual estará cada um por si) para salvar algum espectáculo neste Tour. Para trazer alguma emoção que vá além de: será que Froome vai fraquejar? O que se quer é: será que Mollema, Quintana, Bardet, ou outro nome, poderá finalmente fazer Froome ser obrigado a defender a camisola amarela? É que até ao momento, até tem sido Froome a atacar de forma séria. E não nos podemos esquecer que o britânico afirmou que na preparação para este Tour concentrou-se em garantir que estará melhor na terceira semana do que aconteceu em edições anteriores.

A Sky pode ter o dinheiro para comprar qualquer ciclista. A Sky pode ter potencial para controlar um pelotão durante quilómetros e quilómetros e tem o estatuto para influenciar decisões como as do Mont Ventoux, mas se nenhuma outra equipa pelo menos tentar, então será impossível explorar algum ponto fraco, como há um ano surgiu no Alpe d'Huez... e quando descobriram já era tarde.

O poder da influência

Voltando à questão do Mont Ventoux e à polémica decisão de deixar Chris Froome de amarelo após a perda de tempo provocada pelo choque com uma moto e a bicicleta partida. A regra dos três quilómetros é para as etapas planas, mas quantas vezes se fala na "verdade desportiva"? Desta vez foi possível restabelecê-la. Afinal porque tinham os ciclistas de pagar por uma estupidez do público? Claro que as regras foram adaptadas e só o foram porque Chris Froome era um dos envolvidos. A influência da Sky a funcionar em pleno. Se tivesse sido só Bauke Mollema ou Richie Porte, o mais provável é que tivessem mesmo perdido tempo. Porém, quantas vezes mudaram-se regras precisamente porque algum influente ciclista esteve no centro da questão. Não foi Fabian Cancellara que parou uma corrida devido ao calor extremo e foi a voz do pelotão para a criação de uma regra para situações de meteorologia que coloquem em risco os ciclistas?

Exemplo diferente, é certo, e sem a influência directa do que se passou no Mont Ventoux, mas serve para demonstrar que é muitas vezes necessário alguém importante envolver-se para as regras serem alteradas. O correcto talvez tivesse sido cumprir a regra e mudá-la depois, mas então para quê falar em "verdade desportiva"? O importante será perceber se no futuro a mesma regra será aplicada, porque aí sim, será escandaloso se não for.

Ataquem, por favor

Regressando à estrada, de quarta a sábado não haverá uma etapa fácil. Mantém-se a esperança que alguém ataque e que esse alguém não seja apenas Chris Froome, que até tem sido quem mais espectáculo já deu entre os candidatos à geral. Isto é ciclismo. Quer-se espectáculo, ainda mais quando se fala da Volta a França, a mais importante prova da modalidade e uma das mais populares a nível mundial.

Não é a Sky que estraga o espectáculo, é a atitude conservadora de todos os outros que tem transformado mais um Tour aborrecido em muitas etapas, como foi o caso da deste domingo, que era uma das mais aguardadas. Porém, perante a importância e pressão dos patrocinadores em alcançar bons resultados no Tour - que não precisa de passar pela vitória na geral -, arriscar em demasia poderá estar fora de questão, contribuindo para o domínio da Sky. Ou seja, um lugar no pódio é para muitas equipas uma vitória e muitas vezes até um top dez já é um resultado mais do que desejado.

No fundo procura-se um ciclista que não só deseje ganhar o Tour (qual deles não ambiciona), como esteja disponível a arriscar ser aquele que bate a Sky e para tal terá de estar preparado para o melhor e para o pior, que pode significar perder tudo... Mas se alcançar a glória, esta é a Volta a França, e a glória será eterna. Não valerá o risco?

15 de julho de 2016

Loucura total no Mont Ventoux!!!

Corre Froome, corre! (Fotografia: Twitter @TeamSky)

Não há outra forma de dizer as coisas: o Mont Ventoux foi de loucos. A imagem é surreal. Chris Froome a correr pela montanha. Mas o melhor é começar por ver o vídeo, quer já se tenha visto o insólito ou não.


Froome running in the Ventoux - Étape 12... por tourdefrance

O ciclismo é pródigo em surpresas, mas nem o maior conhecedor da modalidade ou o mais imaginativo do adepto pensaria que um dia se veria Chris Froome a correr pelo Mont Ventoux. Perante a incredulidade, ainda assim não foi possível deixar de pensar que aqueles sapatos não dão jeito nenhum para aquilo... Mas a situação era séria! A Volta a França estava em jogo.

Parecia ser um dia de glória para o britânico. Nairo Quintana não teve pernas para acompanhar Froome e a diferença crescia a cada metro. Consigo estava Richie Porte (BMC). O seu antigo colega era a aliança perfeita, juntamente com um Bauke Mollema (Trek-Segafredo) finalmente a mostrar-se. Mas se na quarta-feira Quintana queixou-se do perigo da etapa devido ao vento, o que dizer do público que mal dava espaço para os ciclistas passarem? Quantas vezes sentimos um calafrio ao ver as pessoas tão perto, ao ver que nem conseguem ir dois ciclistas lado a lado, ao ver aquelas bandeiras ameaçarem enrolarem-se numa roda...

Nesta etapa foi uma moto da televisão que foi obrigada a travar proporcionando um grande plano absolutamente indesejável de Richie Porte. O australiano foi o primeiro a chocar, seguindo-se Froome e Mollema. O momento já era suficientemente mau, mas o britânico ainda viu outra moto partir-lhe a bicicleta. Pânico! E a reacção foi... correr Mont Ventoux acima (é altura de voltar a ver o vídeo)!

O carro da Sky estava demasiado longe, o apoio neutro lá chegou, mas a bicicleta não era a indicada... O tempo passava... Quintana, que já estava bem para trás antes do acidente, passava... Tanto trabalho feito a descer, em terreno plano e agora a subir era destruído por um acidente evitável. Sergio Henao chegou, mas sendo mais baixo, a sua bicicleta também não servia. Lá chegou o carro da Sky. No entanto, já tudo parecia perdido.

E para juntar ao ridículo da situação e a comprovar que realmente há muito gente que não pensa no que faz quando vai assistir in loco ao ciclismo, um homem resolveu correr à frente da câmara que entretanto chegou ao local... Boa... Era exactamente isso que se precisava, mais um a criar confusão...

A loucura no Mont Ventoux foi mais do que a que normalmente até se vê no Tour. E vê-se grandes loucuras. Porém, talvez se possa mesmo justificar com o encurtamento em seis quilómetros devido ao vento forte no alto da mítica montanha. Foram menos seis quilómetros para o público se distribuir. E não nos podemos esquecer que era feriado nacional.

Claro que se coloca a pergunta: mas onde estavam as barreiras? Estava-se no último quilómetro, mas como devido ao encurtamento da etapa, a organização disse que não foi possível instalar as barreiras naquelas zonas. Ora, cortaram seis quilómetros para garantir a segurança dos ciclistas, mas depois descuraram esta parte... Ok...

Como seria de esperar, basicamente todos estão de acordo que houve uma falha tremenda no controlo do público. Já não parece haver consenso na decisão da organização de dar o mesmo tempo a Mollema, Froome e Porte (como se tivessem acabado juntos) Como é óbvio Froome respirou de alívio, Porte concordou, Adam Yates (Orica-BikeExchange) - que seria o novo líder caso os tempos fossem os da meta - disse que não queria vestir a amarela naquelas circunstâncias, mas Bauke Mollema é que não achou lá muito bem. O holandês foi o primeiro a regressar à estrada após a queda e ascenderia ao segundo lugar da geral se os tempos fossem os da meta.

Mollema criticou o público, criticou a organização por não garantir a segurança e por ter decidido que os tempos seriam os do momento do acidente. "Fariam o mesmo se tivesse acontecido só comigo?" É uma boa questão, a de Mollema. Incidentes com o público não são inéditos, mas foi aberto um precedente importante. Vão levantar-se questões sobre decisões no passado e no futuro este caso servirá sempre como termo de comparação. A Trek-Segafredo ia contestar a decisão da organização.

Que dia de loucos!!!

Já agora, Thomas de Gendt venceu de forma brilhante a etapa. O belga da Lotto Soudal atacou, ficou para trás, recuperou, voltou a atacar...uff... e lá ganhou. É também novamente líder da classificação da montanha. De recordar que estamos a falar de um ciclista que já conquistou o Stelvio, na Volta a Itália de 2012.

Analisando o dia até ao incidente, Nairo Quintana é o grande derrotado. O colombiano fez o que lhe competia, tentando atacar. Tentou, mas nem sequer conseguiu provocar um esboço de reacção de Chris Froome. Wout Poels fez sempre a junção. Quando Froome atacou, Quintana ainda foi inicialmente com o britânico, mas rapidamente começou a ver Froome e Porte a afastarem-se. Oficialmente acaba por estar a 54 segundos, o que pode ser um mal menor se se pensar no que poderia ter acontecido se não tivesse havido queda. É que Froome estava a mostrar toda a sua força.

O próprio Quintana acabou por admitir que até está satisfeito por ter menos de um minuto de desvantagem na chegada ao primeiro contra-relógio do Tour.

Outra desilusão foram os ciclistas franceses. Nem vê-los no Dia Nacional de França. Não é normal. Romain Bardet (AG2R) afirmou que não era possível atacar, porque não conseguia passar por causa do público. Muito a repensar por parte da organização depois deste dia.

Na internet são muitos os memes sobre a corrida de Froome - não seria de esperar outra coisa -, mas ainda assim, há que destacar a reacção da Sky ao saber que o seu ciclista ia continuar de camisola amarela é fantástica. Um pouco de humor, numa situação tão séria, para aliviar a tensão!

Podemos não estar a assistir ao maior dos espectáculos de ciclismo neste Tour, mas lá vão acontecendo algumas coisas estranhas. No entanto, a corrida de Froome já bate aos pontos o insuflável que caiu em cima de Adam Yates! Certamente que ficará com um dos momentos mais memoráveis da longa história da Volta a França. (Se calhar é melhor ver o vídeo outra vez!)

Etapa 13: Bourg-Saint-Andéol - La Caverne du Pont-d'Arc (37,5 quilómetros)


Depois da loucura do Mont Ventoux segue-se o primeiro grande teste individual. As duas subidas que tem, podem muito bem favorecer ciclistas como Tejay Van Garderen ou mesmo Christopher Froome e Richie Porte e não tanto especialistas como Tony Martin ou Fabian Cancellara. O longo contra-relógio poderá permitir fazer algumas diferenças importantes numa altura que o Tour se vai aproximando dos Alpes e de todas as decisões. Atenção à possibilidade de vento (o fenómeno continua a perseguir Nairo Quintana), que poderá provocar dificuldades em algumas zonas do percurso.


Résumé - Étape 12 (Montpellier / Mont Ventoux... por tourdefrance