Corre Froome, corre! (Fotografia: Twitter @TeamSky) |
Não há outra forma de dizer as coisas: o Mont Ventoux foi de loucos. A imagem é surreal. Chris Froome a correr pela montanha. Mas o melhor é começar por ver o vídeo, quer já se tenha visto o insólito ou não.
Froome running in the Ventoux - Étape 12... por tourdefrance
O ciclismo é pródigo em surpresas, mas nem o maior conhecedor da modalidade ou o mais imaginativo do adepto pensaria que um dia se veria Chris Froome a correr pelo Mont Ventoux. Perante a incredulidade, ainda assim não foi possível deixar de pensar que aqueles sapatos não dão jeito nenhum para aquilo... Mas a situação era séria! A Volta a França estava em jogo.
Parecia ser um dia de glória para o britânico. Nairo Quintana não teve pernas para acompanhar Froome e a diferença crescia a cada metro. Consigo estava Richie Porte (BMC). O seu antigo colega era a aliança perfeita, juntamente com um Bauke Mollema (Trek-Segafredo) finalmente a mostrar-se. Mas se na quarta-feira Quintana queixou-se do perigo da etapa devido ao vento, o que dizer do público que mal dava espaço para os ciclistas passarem? Quantas vezes sentimos um calafrio ao ver as pessoas tão perto, ao ver que nem conseguem ir dois ciclistas lado a lado, ao ver aquelas bandeiras ameaçarem enrolarem-se numa roda...
Nesta etapa foi uma moto da televisão que foi obrigada a travar proporcionando um grande plano absolutamente indesejável de Richie Porte. O australiano foi o primeiro a chocar, seguindo-se Froome e Mollema. O momento já era suficientemente mau, mas o britânico ainda viu outra moto partir-lhe a bicicleta. Pânico! E a reacção foi... correr Mont Ventoux acima (é altura de voltar a ver o vídeo)!
O carro da Sky estava demasiado longe, o apoio neutro lá chegou, mas a bicicleta não era a indicada... O tempo passava... Quintana, que já estava bem para trás antes do acidente, passava... Tanto trabalho feito a descer, em terreno plano e agora a subir era destruído por um acidente evitável. Sergio Henao chegou, mas sendo mais baixo, a sua bicicleta também não servia. Lá chegou o carro da Sky. No entanto, já tudo parecia perdido.
E para juntar ao ridículo da situação e a comprovar que realmente há muito gente que não pensa no que faz quando vai assistir in loco ao ciclismo, um homem resolveu correr à frente da câmara que entretanto chegou ao local... Boa... Era exactamente isso que se precisava, mais um a criar confusão...
A loucura no Mont Ventoux foi mais do que a que normalmente até se vê no Tour. E vê-se grandes loucuras. Porém, talvez se possa mesmo justificar com o encurtamento em seis quilómetros devido ao vento forte no alto da mítica montanha. Foram menos seis quilómetros para o público se distribuir. E não nos podemos esquecer que era feriado nacional.
Claro que se coloca a pergunta: mas onde estavam as barreiras? Estava-se no último quilómetro, mas como devido ao encurtamento da etapa, a organização disse que não foi possível instalar as barreiras naquelas zonas. Ora, cortaram seis quilómetros para garantir a segurança dos ciclistas, mas depois descuraram esta parte... Ok...
Como seria de esperar, basicamente todos estão de acordo que houve uma falha tremenda no controlo do público. Já não parece haver consenso na decisão da organização de dar o mesmo tempo a Mollema, Froome e Porte (como se tivessem acabado juntos) Como é óbvio Froome respirou de alívio, Porte concordou, Adam Yates (Orica-BikeExchange) - que seria o novo líder caso os tempos fossem os da meta - disse que não queria vestir a amarela naquelas circunstâncias, mas Bauke Mollema é que não achou lá muito bem. O holandês foi o primeiro a regressar à estrada após a queda e ascenderia ao segundo lugar da geral se os tempos fossem os da meta.
Mollema criticou o público, criticou a organização por não garantir a segurança e por ter decidido que os tempos seriam os do momento do acidente. "Fariam o mesmo se tivesse acontecido só comigo?" É uma boa questão, a de Mollema. Incidentes com o público não são inéditos, mas foi aberto um precedente importante. Vão levantar-se questões sobre decisões no passado e no futuro este caso servirá sempre como termo de comparação. A Trek-Segafredo ia contestar a decisão da organização.
Que dia de loucos!!!
Já agora, Thomas de Gendt venceu de forma brilhante a etapa. O belga da Lotto Soudal atacou, ficou para trás, recuperou, voltou a atacar...uff... e lá ganhou. É também novamente líder da classificação da montanha. De recordar que estamos a falar de um ciclista que já conquistou o Stelvio, na Volta a Itália de 2012.
Analisando o dia até ao incidente, Nairo Quintana é o grande derrotado. O colombiano fez o que lhe competia, tentando atacar. Tentou, mas nem sequer conseguiu provocar um esboço de reacção de Chris Froome. Wout Poels fez sempre a junção. Quando Froome atacou, Quintana ainda foi inicialmente com o britânico, mas rapidamente começou a ver Froome e Porte a afastarem-se. Oficialmente acaba por estar a 54 segundos, o que pode ser um mal menor se se pensar no que poderia ter acontecido se não tivesse havido queda. É que Froome estava a mostrar toda a sua força.
O próprio Quintana acabou por admitir que até está satisfeito por ter menos de um minuto de desvantagem na chegada ao primeiro contra-relógio do Tour.
Outra desilusão foram os ciclistas franceses. Nem vê-los no Dia Nacional de França. Não é normal. Romain Bardet (AG2R) afirmou que não era possível atacar, porque não conseguia passar por causa do público. Muito a repensar por parte da organização depois deste dia.
Na internet são muitos os memes sobre a corrida de Froome - não seria de esperar outra coisa -, mas ainda assim, há que destacar a reacção da Sky ao saber que o seu ciclista ia continuar de camisola amarela é fantástica. Um pouco de humor, numa situação tão séria, para aliviar a tensão!
You can stop running now Chris Froome - you're still in the #YellowJersey #TDF2016 pic.twitter.com/1VijueYK6N— Team Sky (@TeamSky) 14 July 2016
Podemos não estar a assistir ao maior dos espectáculos de ciclismo neste Tour, mas lá vão acontecendo algumas coisas estranhas. No entanto, a corrida de Froome já bate aos pontos o insuflável que caiu em cima de Adam Yates! Certamente que ficará com um dos momentos mais memoráveis da longa história da Volta a França. (Se calhar é melhor ver o vídeo outra vez!)
Etapa 13: Bourg-Saint-Andéol - La Caverne du Pont-d'Arc (37,5 quilómetros)
Depois da loucura do Mont Ventoux segue-se o primeiro grande teste individual. As duas subidas que tem, podem muito bem favorecer ciclistas como Tejay Van Garderen ou mesmo Christopher Froome e Richie Porte e não tanto especialistas como Tony Martin ou Fabian Cancellara. O longo contra-relógio poderá permitir fazer algumas diferenças importantes numa altura que o Tour se vai aproximando dos Alpes e de todas as decisões. Atenção à possibilidade de vento (o fenómeno continua a perseguir Nairo Quintana), que poderá provocar dificuldades em algumas zonas do percurso.
Résumé - Étape 12 (Montpellier / Mont Ventoux... por tourdefrance
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