Na Fóia, Frederico Figueiredo ficou à frente de Nibali e Mollema |
Questionado se a liderança já era merecida, Frederico Figueiredo começa por considerar que esse estatuto na Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel é algo que acabou por acontecer naturalmente, tendo em conta os seus resultados nos últimos anos. Na equipa algarvia foi um gregário importante para Joni Brandão, Rinaldo Nocentini, Alejandro Marque e no ano passado foi Tiago Machado que esteve primeiro plano. Mas como aconteceu em temporadas anteriores, a regularidade de Frederico Figueiredo foi um dos destaques mais positivos da era Sporting na equipa de Tavira.
No entanto, acabou por dizer sobre o seu novo estatuto: "Acho que já era uma situação merecida. Apesar do nosso director [Vidal Fitas] querer ter sempre mais do que um líder e com razão - pode sempre acontecer alguma coisa, como me aconteceu com a queda [na Volta a Portugal] -, penso que ter essa responsabilidade é bom e pelo que tenho feito nos últimos anos é importante." Sempre foi um ciclista com o pés bem assentes na terra, muito objectivo na forma de encarar a sua carreira, pelo que é o primeiro a admitir: "Falta aquele clique de mais alguma coisa... talvez uma vitória! Se calhar assim partia para outro nível. Já fiz muitos segundos, terceiros, quartos, quintos... Falta sempre aquele clique."
"Não temos nomes como já tivemos, como o Nocentini, Tiago Machado, Joni Brandão, José Mendes, que são ciclistas com cartas dadas. No entanto, temos ciclistas com muito valor e que podem trazer coisas boas para a equipa"
Não é por isso que está menos motivado, ou com menos ambição. Muito pelo contrário. Frederico Figueiredo começou bem a época na Volta ao Algarve, ficou satisfeito com a experiência na Argentina e acredita que tem uma equipa forte para o apoiar rumo ao tal clique e a outros bons resultados. Pode ser agora líder, mas continua a salientar o colectivo e de como o sucesso da equipa em 2020 poderá também ter o nome de outros corredores da Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel. "Temos dos melhores sprinters em Portugal - o César Martingil -, temos dos melhores trabalhadores - Livramento, Valter, Grigorev (que vai certamente fazer uma boa época), o Trueba (é um ciclista que faz muito bem o que os líderes querem) e depois temos o Marque que já venceu uma Volta a Portugal e que é um ciclista com provas mais do que dadas no ciclismo", afirmou ao Volta ao Ciclismo.
"Não temos nomes como já tivemos, como o Nocentini, Tiago Machado, Joni Brandão, José Mendes, que são ciclistas com cartas dadas. No entanto, temos ciclistas com muito valor e que podem trazer coisas boas para a equipa", salientou, referindo que o objectivo passará por todos os corredores se mostrarem seja em Portugal ou em provas no estrangeiro.
Indefinição para 2020 e uma nova mentalidade na era pós-Sporting
Foram semanas difíceis as que se seguiram ao anúncio que o Sporting não iria continuar no ciclismo. Contudo, os novos patrocinadores trouxeram algo de positivo: uma nova forma de estar nas corridas. "A nossa equipa mudou um pouco a estratégia que tinha. Com o Sporting o objectivo era ficar à frente do Porto, mesmo que fosse do meio da tabela para baixo. Em cinco dias de corrida [no Algarve], andámos em fuga e chegámos a puxar metade da etapa do Malhão. São coisas que se calhar o Sporting não ligava muito, mas com estes patrocinadores é uma maneira de fazer uma publicidade e o feedback tem sido positivo", referiu. Sem surpresa, não hesita em considerar que é melhor competir desta forma, referindo que antes era mais a mentalidade do futebol a falar, do que a do ciclismo.
Resolvida a indefinição quanto ao futuro, Frederico Figueiredo não escondeu como ficou satisfeito por poder continuar na equipa algarvia para uma quarta temporada, pois é adepto da continuidade quando está bem. "Estar sempre a trocar de equipa quando as coisas estão bem a nível de condições e também a nível financeiro... Não vejo porque se tem de trocar. Há que trocar quando as coisas não correm bem, ou quando a motivação já não é a mesma. Aí faz bem fazer uma mudança de chip e mudar de ares. Não é o caso. Sinto-me muito bem aqui."
"Trabalhei bem no Inverno. Aproveitei essa situação má para ter uma coisa boa no início de época. Agora é manter e gerir o resto da temporada, de forma profissional"
Confessou que muita coisa passa pela cabeça quando se está a tentar preparar a nova temporada sem saber se se vai ficar na mesma equipa, ou se será preciso mudar. Porém, tentou concentrar-se nos treinos, pois parte dos seus objectivos passava por arrancar 2020 forte. "Como terminei a época mais cedo devido à queda na Volta a Portugal, decidi que iria descansar - estive dois meses sem poder andar de bicicleta - e depois comecei a pensar na época seguinte. Iniciei os treinos muito cedo para também poder estar bem nesta altura. E tirei coisas positivas do Algarve. Trabalhei bem no Inverno. Aproveitei essa situação má para ter uma coisa boa no início de época. Agora é manter e gerir o resto da temporada, de forma profissional. Há que descansar bem e treinar bem", disse.
Na Algarvia foi sétimo no Alto da Fóia a apenas oito segundos de Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep - quer viria a vencer a corrida), mas o 14º lugar no Malhão (a 27 segundos de Miguel Ángel López, da Astana) não o deixou muito satisfeito, tendo explicado que passou mal a noite, com febre e nariz entupido. No contra-relógio correu tudo mal e tal custou-lhe um top dez que sabia que seria sempre difícil de segurar. Antes, na Volta a San Juan, Frederico Figueiredo viveu mais uma experiência que não esquecerá: "É diferente já ter uma corrida com sete dias feitos. No ano passado até andei bem no Algarve, mas faltava o andamento que tive este ano porque já tinha corrido na Argentina. É sempre bom, porque é outro nível, outra experiência, como tinha sido na China. Muito calor, pelotão de outro nível, muita gente na estrada - ali vive-se mesmo o ciclismo -, são experiências que marcam a nossa vida."
Recordou-se a quinta etapa, com chegada ao Alto Colorado, quando o português parecia estar bem, mas de repente... "A cinco quilómetros para a meta fiquei completamente vazio. Não deu para mais. Então só se pensa em acabar. Foi uma etapa feita com 44/45 graus. Andámos 80/90 quilómetros acima dos 1800 metros de altitude e depois com chegada em alto... não estamos habituados a nada disso", contou.
Agora é pensar nas próximas corridas e depois da queda na Volta a Portugal que o obrigou a desistir quando só faltava o contra-relógio final, Frederico Figueiredo até desabafou um "simples" desejo para 2020: "Da minha parte espero ter um ano sem azares!"
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