30 de abril de 2019

Clássica Aldeias do Xisto vai decidir Taça de Portugal

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Mudança de data, mas a expectativa de uma boa corrida mantém-se. A Clássica Aldeias do Xisto tem sempre a capacidade de fazer uma selecção de quem vai discutir a vitória, não facilitando se alguém franquejar. A terceira edição tem como novidade a realização a 1 de Maio e não em Março, estando novamente em disputa um outro troféu. Desta feita será a Taça de Portugal, com o vencedor a estar em aberto, até porque os líderes não vão estar presentes.

Serão 154 quilómetros, com as aldeias eleitas para receber a partida e chegada a serem a de Pedrógão Pequeno e de Gondramaz, respectivamente. O percurso tem um acumulado de subida de 2750 metros, incluindo quatro prémios de montanha: Sertã (quarta categoria, ao quilómetro 16,1), Portela do Gavião (terceira, ao quilómetro 63,6), Pampilhosa da Serra (segunda, ao quilómetro 80) e Gondramaz. Esta última, de segunda categoria, será coincidente com a meta, tendo 5,5 quilómetros e uma pendente média de 8,5%. Ou seja, tem os ingredientes certos para ataques.


Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano) e Daniel Mestre (então na Efapel, agora ciclista da W52-FC Porto) foram os vencedores das duas primeiras edições. Porém, salvo alguma alteração de última hora - a lista oficial só será conhecida esta quarta-feira ao final da manhã -, nenhum dos ciclistas estará presente.

Além da vitória na Clássica Aldeias do Xisto, estará então em disputa a conquista da Taça de Portugal Jogos Santa Casa, pelo que será uma corrida duplamente importante, ainda mais tendo em conta que, das nove equipas portuguesas Continentais, só três já venceram em 2019: W52-FC Porto, Sporting-Tavira e Efapel. Nas duas primeiras edições, a corrida decidiu o Troféu Liberty Seguros, agora extinto.

Raúl Alarcón, da W52-FC Porto, é quem parte com alguma vantagem. Os dois líderes, Rui Oliveira e Jonathan Lastra não estarão presentes. O primeiro venceu a Prova de Abertura Região de Aveiro ao serviço da selecção, mas está actualmente a cumprir a época com a sua equipa World Tour, a UAE Team Emirates. Já o espanhol fica de fora, pois é a Caja Rural amadora que estará na corrida.

A Clássica Aldeias do Xisto deixou de ser uma prova de categoria internacional, como inicialmente previsto e como aconteceu nas duas primeiras edições. Pertence ao calendário nacional, o que faz com que as formações estrangeiras tenham de ser amadoras. Não haverá Lastra - venceu a Clássica da Arrábida -, mas será a oportunidade para ver dois jovens talentos portugueses: Diogo Barbosa e Guilherme Mota, ambos de 18 anos, que assinaram esta época pela equipa de Espanha.

Além das ausências dos líderes do ranking, há também outras muito devido ao percurso. César Martingil é um ciclista que se dá melhor com terrenos menos "acidentados", por exemplo, pelo que não estará presente pelo Sporting-Tavira, ele que soma os mesmos 65 pontos de Alarcón.

Quem estará então na luta? Luís Mendonça não é um trepador nato, mas nas últimas duas temporadas tem feito um trabalho intenso para melhorar nas subidas. Está na luta e desejoso de dar uma vitória à sua nova equipa, a Rádio Popular-Boavista. Mendonça soma 60 pontos.

Raúl Alarcón e Luís Mendonça são os principais candidatos, ainda que com 75 pontos para atribuir ao vencedor, algum ciclista com pontuação menor, poderá entrar na disputa, dependendo de como decorrer a corrida. Já entre os sub-23 está tudo muito mais por definir. Fábio Costa (UD Oliveirense-InOutBuild), Francisco Guerreiro (Sicasal-Constantinos) e Leonel Firmino (LA Alumínios-LA Sport) são três dos corredores que estarão na luta.

Por equipas, a Sicasal-Constantinos já garantiu o troféu em sub-23, comprovando o seu poderio neste escalão, num ano em que praticamente não dá hipóteses à concorrência. Entre a elite, a Aviludo-Louletano lidera com 32 pontos, mais cinco do que a W52-FC Porto.

A Clássica Aldeias do Xisto arrancará às 12:00, com a chegada prevista para cerca das 16:30.

Lista de inscritos provisória (clique na imagem para ampliar).



As edições anteriores:

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29 de abril de 2019

Aos 47 anos decidiu terminar a carreira mas quer despedir-se como campeão nacional

Quando se fala de longevidade no ciclismo, já não é estranho ver ciclistas próximos dos 40 anos a continuarem a competir e a ganhar e até já depois dos 40 vai aumentando o número daqueles que prolongam as carreiras. Porém, há um que não está longe dos 50, mas anunciou que 47 será a idade da reforma como atleta profissional. Davide Rebellin é um nome que marcou a modalidade pelas melhores e piores razões. Até assinou por uma nova equipa que começará a representar em Maio, mas será apenas por dois meses, para preparar um último grande objectivo: despedir-se como campeão nacional.

Rebellin considera que chegou o momento de se retirar e a data está então marcada para 30 de Junho, nos Nacionais de Itália, a pouco mais de um mês de celebrar 48 anos (9 de Agosto). É vestido com a camisola tricolor que o ciclista quer sair de cena, ele que foi uma das referências da modalidade no seu país, tendo como um dos seus grandes feitos a tripla das Ardenas. Isto é, ganhou no mesmo ano, 2004, a Amstel Gold Race, a Flèche Wallonne e a Liège-Bastogne-Liège. Venceu novamente a segunda corrida em 2007 e 2009. Entre as mais de 50 vitórias na sua longa carreira (27 anos), Rebellin conquistou também um Tirreno-Adriatico (2001) e um Paris-Nice, em 2008.

Esse acabaria por ser um ano marcante na sua carreira negativamente. O italiano conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim, mas deu positivo por CERA, uma forma de EPO, sendo suspenso por dois anos. Rebellin não mais conseguiu regressar a uma equipa do principal escalão, mas esteve quatro anos na polaca CCC, que apostou no veterano ciclista.

Depois de representar a Kuwait-Cartucho.es em 2017 - tendo estado na Volta a Portugal - Rebellin estava na equipa argelina Sovac. "Houve alguns problemas e decidimos terminar o contrato por mútuo acordo. Mas eu quero ser candidato à tricolor [camisola de campeão nacional], por isso cheguei a acordo com a Meridiana Kamen, uma equipa com licença croata e que tem um projecto interessante", explicou o ciclista à Gazzetta dello Sport. Rebellin admitiu mesmo que poderá continuar nesta formação Continental da Croácia com um outro papel depois de terminar a carreira como atleta. É uma estrutura que conhece bem, pois já por lá tinha passado em 2012.

Para agora vai apontar à Volta à Albânia para começar a preparar a participação nos Campeonatos Nacionais. A última vitória de Rebellin foi quase há um ano, a 6 de Maio, numa etapa da corrida argelina, Wilaya d'Oran. A concorrência nos Nacionais será bem diferente. O melhor que conseguiu foram dois terceiros lugares, um em 2007, com Giovanni Visconti a ser o campeão. Repetiu a posição em 2013, quando foi batido por Ivan Santaromita, o vencedor, e Michele Scarponi.

Rebellin estreou-se como profissional em 1992, na equipa italiana GB-MG Maglificio, onde também estava aquele que se tornaria num dos melhores sprinters: Mario Cipollini. Polti, La Française des Jeux, Liquigas e Gerolsteiner foram das principais equipas que representou, atravessando gerações.

"O ciclismo é a minha vida, [move-me] o amor por este desporto, que me dá muita satisfação. Enquanto as pernas me disserem para continuar, vou continuar", disse Rebellin numa entrevista ao Volta ao Ciclismo em 2017. As pernas estão a dizer-lhe para parar, mas o amor pela modalidade faz com que não tenha intenção de se afastar por completo.

Sky revela equipamento de transição. Só será utilizado numa corrida

(Fotografia: Facebook Team Sky)
Feitas as despedidas na Volta aos Alpes e na Liège-Bastogne-Liège, é tempo de a Sky passar a ser Ineos. Será esta terça-feira que o novo nome será adoptado, quando a equipa partir para a Volta à Romandia. Também haverá um equipamento único. Não será o que vai ser utilizado na restante temporada, pois esse está guardado para o Tour de Yorkshire, para assim a estreia ser no país desta estrutura. Isto significa que na quarta-feira ficar-se-á a conhecer o design eleito para o início da era Ineos. A mudança de novo nome é acompanhada por duas boas notícias: Vasil Kiryienka e Ben Swift estão de regresso à competição.

O equipamento único, de transição, tem precisamente essa característica. Ou seja, é preto, tem o Ineos escrito, mas aquela risca azul nas costas foi uma das imagens da Sky. A razão para existir um vestuário apenas para a Romandia deve-se ao regulamento da UCI. A Sky queria estrear o novo nome e equipamento em Yorkshire (a corrida arranca no dia 2 de Maio), mas não poderia estar a competir com duas designações diferentes em duas corridas que decorrem simultaneamente. Já o equipamento diferente, a UCI permitiu.

(Imagem: Facebook Team Sky)
Os primeiros a representarem a Ineos serão Geraint Thomas, Kenny Elissonde, Filipo Ganna, Vasil Kiryienka, Diego Rosa, Ben Swift e Dylan van Baarle.

A alteração do nome será inevitavelmente um dos focos de atenção na Romandia, mas há que olhar para o plano desportivo. A começar por Geraint Thomas. Tal como Chris Froome, tem andado muito abaixo do que é habitual na primeira fase da temporada. O melhor que fez foi um 12º lugar na Strade Bianche, depois de um 44º na Volta à Comunidade Valenciana. Seguiu-se um abandono no Tirreno-Adriatico e um 40º posto na Volta ao País Basco. Pouco ou nada se tem visto do galês, que, tal como Froome, tem a Volta a França como objectivo, pelo que há ainda muito tempo para começar a mostrar uma forma mais prometedora.

A Volta à Romandia servirá para Thomas perceber como está, mas será também uma competição muito importante Kiryienka e Swift. O bielorrusso não compete desde os Mundiais de Innsbruck, em finais de Setembro. Em Março, a Sky finalmente explicou a ausência do ciclista que tem sido um elemento essencial no poderio da equipa nas grandes voltas. Tinha sido detectada uma anomalia cardíaca e o corredor estava em tratamento.

"Estamos muito satisfeitos que o Vasil Kiryienka esteja preparado para regressar à acção. Ele respondeu bem ao tratamento para a sua anomalia cardíaca e recebeu alta para competir", anunciou a Sky no Twitter.

Quanto ao britânico Ben Swift, caiu durante um treino em Fevereiro e fracturou o baço. Ficou de fora das clássicas, numa temporada em que regressou a casa, depois de dois anos em que esteve muito abaixo do esperado na UAE Team Emirates.

A corrida suíça realiza-se de terça-feira a domingo e contará com Primoz Roglic (Jumbo-Visma), que este ano fez duas provas e ganhou ambas: Volta aos Emirados Árabes Unidos e o Tirreno-Adriatico. O esloveno venceu na Romandia em 2018. Entre os nomes para gerais, de destacar Emmanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe), Andrey Amador e Winner Anacona (Movistar), Michael Woods (EF Education First) e Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert), um dos corredores de equipas Profissionais Continentais em melhor forma. Em prova vai estar também o jovem talento belga Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep), que colocou a Romandia como um dos objectivos de 2019. Rui Costa (UAE Team Emirates) será o único português na corrida.

Na hora da despedida, a Sky partilhou dois vídeos. A partir desta terça-feira será a Team Ineos em acção.


28 de abril de 2019

Vitória mais do que merecida

(Fotografia: Facebook Astana)
A menos de cinco quilómetros da meta deixa-se escapar um bem audível "ai"... Não foi preciso levar as mãos à cabeça, pois Jakob Fuglsang conseguiu segurar a bicicleta, naquela que esteve perto de ser uma queda que custaria um monumento. Mas a reacção foi compreensível. Ali, naquele instante, um monumento poderia ter escapado a Fuglsang. Por tudo o que o dinamarquês tinha feito na corrida, por tudo o que fez na semana das Ardenas, por tudo o que tem feito numa excelente temporada, Fuglsang merecia ganhar a Liège-Bastogne-Liège.

"Um pequeno susto, um momento de adrenalina", descreveu o ciclista da Astana sobre aquela quase queda (ver vídeo em baixo). Mas nada evitou que concluísse uma feliz contagem: na semana das Ardenas começou com um terceiro lugar na Amstel Gold Race, um segundo na Flèche Wallonne e finalmente o primeiro na Liège-Bastogne-Liège. Se certamente teria gostado de vencer qualquer das corridas, conquistar um monumento é fazer parte da história das corridas mais históricas do ciclismo, pelo que escolheu a ideal para coroar a melhor época de clássicas que já realizou. E se quisermos um pouco mais na contagem, Fuglsang, antes de viajar para as Ardenas, foi quarto na Volta ao País Basco.

Ficou mais uma vez comprovado que não há de facto vencedores anunciados no ciclismo e alguma vez havia de acontecer a Julian Alaphilippe. Fraquejou. Por uns instantes esteve lado a lado com Fuglsang, na reedição da dupla que tanto tem andado junta desde a Strade Bianche. Tanto nesta prova italiana, como na Flèche Wallonne, Fuglsang perdeu para o francês e na Amstel só não discutiram a vitória entre eles, porque facilitaram e um super Mathieu van der Poel aproveitou para conquistar uma inesquecível vitória.

Na Liège, Fuglsang não quis arriscar. Não quis companhia num final que regressou à cidade belga e foi em terreno plano, bem diferente do que tem marcado a clássica nos últimos quase 30 anos, em Ans. O percurso chamou ciclistas que gostam de sprints, mas foi um que se dá bem com subidas que venceu. As muitas dificuldades da Liège-Bastogne-Liège não matam, mas moem e muito. Que o digam Alejandro Valverde e Rui Costa (abandonaram), Philippe Gilbert, Greg van Avermaet, Michael Matthews e muitos mais, que nem na discussão conseguiram estar.

Alaphilippe não resistiu na última subida de Roche-aux-Faucons e antes até terá desejado boa sorte a Fuglsang, ao perceber que não iria ter capacidade para discutir a corrida. Já há algum tempo que não se via o francês claudicar assim. Mas depois de tantos meses em alta rodagem, com nove vitórias, a Liège-Bastogne-Liège tem de esperar mais um ano. Há que não esquecer que alcançou o seu primeiro monumento na Milano-Sanremo, mas aquele que lhe parece tão perfeito volta a ficar adiado.

Novo fôlego de Fuglsang

Aos 34 anos, o dinamarquês ganha um novo fôlego na carreira. Depois de tantas épocas como gregário, Fuglsang muito lutou para ter o papel principal na Astana. Não conseguiu afirmar-se como líder no Tour como queria, apesar de em 2017 até ter ganho o Critérium du Dauphiné, a sua grande conquista até este domingo. A afirmação de Miguel Ángel López e a chegada de Ion Izagirre poderia fazer tremer Fuglsang, que não agarrou por completo a liderança após a saída de Aru. Mas não. Até poderá ter sido uma "pressão" positiva.

Talvez Fuglsang tenha feito o seu caminho para amadurecer como líder. 2019 está a ser um ano sensacional, tendo ganho a Ruta del Sol e foi terceiro no Tirreno-Adriatico. Não significa que será um forte candidato a discutir a Volta a França. Contudo, será o número um da Astana e será natural que aspire a um top dez, no mínimo e seria de estranhar que não sonhasse com o pódio. Difícil, mas a motivação estará em alta.

Liège estudada ao pormenor

Fuglsang tinha não só reconhecido o percurso de quase 256 quilómetros, como escolheu de imediato onde poderia atacar. Escolheu a última subida categorizada para deixar o grupo e numa pequena ascensão que se seguiu, quebrou a resistência de Michael Woods e Davide Formolo também não resistiu, aguentando pelo menos um segundo lugar. A Bora-Hansgrohe ainda fechou o pódio com Max Schachmann. O italiano ficou a 27 segundos e o alemão a 57, sendo o mais forte no sprint para o terceiro lugar.

Tudo estava destinado a ser perfeito e mesmo aquela forma de recuperar a bicicleta quando quase caiu foi só mais um pormenor de como perfeitamente se evita uma queda!

Classificações completas, via ProCyclingStats, com José Gonçalves (Katusha-Alpecin) a terminar na 73ª posição, a 13:11 minutos.

Na luta particular de vitórias entre Astana e Deceuninck-QuickStep, a formação cazaque soma 23 contra as 26 da formação belga. Tem sido destaque nas provas por etapas, mas Fuglsang finalmente foi ganhar no terreno predilecto da Deceuninck-QuickStep, nas clássicas.


Quando não se sabe correr mal

Na corrida feminina, a holandesa Annemiek van Vleuten regressou às vitórias depois de dois segundos lugares na Amstel Gold Race e na Flèche Wallonne. Exibição também perfeita da ciclista da Mitchelton-Scott, deixando a compatriota Floortje Mackaij (Sunweb) a 1:39 minutos, num pódio 100% holandês. Demi Vollering (Parkhotel Valkenburg) foi terceira, a 1:43.

Em 2019, o pior que Van Vleuten fez nas clássicas foi um sétimo lugar na Através da Flandres, tendo ganho a Strade Bianche.

27 de abril de 2019

Alaphilippe um vencedor anunciado? Há candidatos para o contrariar no regresso ao formato clássico do monumento

(Fotografia: Facebook Deceuninck-QuickStep)
Alaphilippe, Alaphilippe, Alaphilippe. É o nome que mais se pronuncia na aproximação à Liège-Bastogne-Liège, o quarto monumento do ano. Numa edição, a 105ª, em que a corrida regressa ao "formato clássico", para citar Miguel Indurain, Julian Alaphilippe é o primeiro a dizer que gosta das mudanças e do final, que passa a ser em plano. Há 27 anos que Ans era o local da meta, mas agora que a decisão está de volta a Liège, fazendo jus ao nome da corrida, o ciclista da Deceuninck-QuickStep é o maior dos favoritos para quebrar uma espera ainda maior: desde 1980 que um francês não vence o monumento belga, com Bernard Hinault a ter sido o último.

De vitórias anunciadas não vive o desporto e Alaphilippe sabe que não terá missão fácil, mesmo depois de se ter afirmado como o novo rei do Muro de Huy, na Flèche Wallonne. É o ciclista do momento, só batido por um fenomenal Mathieu van der Poel (Corendon-Circus), que não estará presente. Está numa Deceuninck-QuickStep rainha das clássicas, mas na Liège, poderá encontrar uma maior concorrência do que na Flèche Wallonne em que confirmou todas as expectativas.

É que o novo percurso parece agradar a muitos dos ciclistas que apostam forte na clássica. Subir o Côte de Saint Nicolas e depois pedalar uns cinco quilómetros até à meta, em ligeira ascensão era o final em Ans. Agora será o Côte de la Roche-aux-Faucons a última oportunidade para fazer diferenças a subir, com cerca de 15 quilómetros ainda por percorrer até à meta, os últimos serão planos.

Apesar de continuar a ter muitas subidas - nove só nos derradeiros 100 dos 255,5 quilómetros - esta fase final atraiu ciclistas como Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), que entretanto e perante a fraca época de clássicas, optou por adiar a estreia na Liège. Era um dos grandes pontos de interesse, mas está a ser um 2019 para esquecer para o eslovaco. No sentido contrário está Greg van Avermaet (CCC). Não era suposto competir no monumento, mas como também ele está a ter uma fase de clássicas muito abaixo do esperado, vai tentar salvar algo da temporada na Liège.

Max Schachmann, um dos homens do momento da Bora-Hansgrohe ou um Michal Kwiatkowski que confessou há muito esperava pela Liège, sendo um objectivo para o polaco são candidatos fortes. Adam Yates (Mitchelton-Scott) tem uma relação difícil com as Ardenas, mas se fizer as pazes, é um ciclista em forma, tal como Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), que realizou uma boa Volta aos Alpes, apesar de ter sido batido pela juventude da Sky.

Daniel Martin, um dos quatro vencedores da Liège na corrida de 2019 - Bob Jungels poderia ser o quinto mas abdicou das Ardenas esta temporada -, afastou qualquer hipótese de lutar por uma vitória, devido a um vírus que diz que o está a afectar desde a Volta ao País Basco. Vai apoiar Diego Ulissi, terceiro na Flèche Wallonne, com a UAE Team Emirates a ter ainda o português Rui Costa.

Michael Woods (EF Education First), Roman Kreuziger (Dimension Data) - dependendo do estado em que está depois da queda na Flèche Wallonne -, Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert), Romain Bardet (AG2R) e Tim Wellens são nomes a ter em conta, ainda que na Lotto Soudal há ainda que destacar um dos seus jovens talentos. Bjorg Lambrecht está a confirmar todo o seu potencial nas últimas corridas e há que não o perder de vista. Foi quarto na Flèche Wallonne, sexto na Amstel Gold Race e quinto na De Brabantse Pijl-La Flèche Brabançonne. Antes, na Volta à Catalunha e ao País Basco, também esteve a bom nível.

Valverde e um recorde ali tão perto

O espanhol da Movistar não é tão favorito como em anos anteriores. Ninguém se atreve a dizer que não estará na discussão, mas entre a fraca forma de Alejandro Valverde e a mudança de percurso, não será fácil igualar os recordes de Eddy Merckx. Está a uma vitória de somar dez na semana das Ardenas, tal como o belga tem, e também a uma de igualar as cinco na Liège-Bastogne-Liège, sendo o Canibal quem mais vezes conquistou este monumento.

Valverde não se mostra pessimista, mas não tem um discurso a transbordar confiança. Contou que na Flèche Wallonne engoliu uma abelha, tendo sido picado, o que o preocupou durante uns quilómetros, ainda que tenha afastado o incidente como razão para não estar na discussão no Muro de Huy com Alaphilippe e Fuglsang. Celebrou 39 anos na quinta-feira, contudo, será preciso um Valverde ao nível de anos recentes para fazer história na Liège. E esse versão do ciclista não parece querer aparecer em 2019.

Fuglsang a querer subir mais um lugar

Terceiro na Amstel Gold Race, segundo na Flèche Wallonne, só falta um lugar no pódio ao dinamarquês da Astana na semana das Ardenas. E as duas corridas nem era as que melhor assentavam ao ciclista. Já a Liège sim, pode não ser perfeita, mas tem tudo para ser a corrida em que Fuglsang fecha em grande a sua melhor temporada de clássicas.

Diz que se sente "super" e não afasta a hipótese de atacar de longe, pois aquele final em plano é a parte do percurso que pode ser preocupante para Fuglsang se tiver a companhia de Alaphilippe, por exemplo. O francês bateu o dinarmarquês na Flèche Wallonne e na Strade Bianche.

Se passarem as subidas, Greg van Avermaet, Michael Matthews (Sunweb) e Simon Clarke (EF Education First) são três homens que não se importarão de discutir um sprint.

O outro português em prova, além de Rui Costa, será José Gonçalves (Katusha-Alpecin).

Lista completa de inscritos neste link, via ProCyclingStats.

Mais pormenores do percurso

De destacar o regresso dos Côte de Wanne, Côte de Stockeu e Côte de la Haut-Levée, um trio de subidas ausente há três edições e que deverá começar a fazer uma maior selecção de candidatos. O Côte de la Redoute é sempre um dos momentos mais esperados, mas antes da subida final de Roche-aux-Faucons, há mais um regresso: o Côte des Forges, ausente do percurso desde 2014.

Bob Jungels foi o vencedor de 2018, mas este ano apostou mais nas clássicas do pavé, abdicando das Ardenas, estando já a pensar no Giro. Wout Poels (Sky) é o outro dos vencedores (2016) no activo e o holandês estará ao lado de Kwiatkowski, com Philippe Gilbert (2011) a ser outra hipótese da Deceuninck-QuickStep além de Alaphilippe. O primeiro já ganhou o Paris-Roubaix este ano, o segundo a Milano-Sanremo, o que significa que a que monumentos diz respeito, só faltou a Volta a Flandres para a formação belga.

A La Doyenne, ou a Velha Senhora - é a clássica mais antiga - espera para ver se o francês confirma o que há muito se espera dele, ganhar a Liège-Bastogne-Liège, ou se alguém tem capacidade para mostrar como não há vencedores anunciados.

A corrida deste domingo tem transmissão no Eurosport, a partir das 13:00.

(Gráfico: La Flamme Rouge)


Bruno Silva vence classificação da montanha na Volta a Castela e Leão

Bruno Silva conquistou a camisola vermelha da montanha
(Fotografia: Vuelta Castilla y León/Efapel)
Bruno Silva foi um dos portugueses em destaque na Volta a Castela e Leão. O ciclista da Efapel conquistou a classificação da montanha da corrida espanhola de três dias, tendo vestido a camisola vermelha logo na primeira etapa. Nelson Oliveira e João Matias também se fizeram notar numa prova marcada pela expulsão a um corredor que agrediu David de la Fuente, da Aviludo-Louletano.

O italiano David Cimolai foi o grande vencedor, seguido do companheiro Guillaume Boivin, em mais uma conquista para a Israel Cycling Academy. A equipa ganhou recentemente o Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela, por intermédio do colombiano Edwin Ávila. A formação israelita continua assim a manter a promessa de amealhar o máximo de pontos possíveis nas corridas em que vai participando, com uma potencial subida World Tour em vista. Cimolai - que está a preparar a participação na Volta a Itália - venceu ainda duas etapas, sendo que a primeira foi após desclassificação de Carlos Barbero (Movistar), por sprint irregular.

O protesto até foi feito pela Euskadi-Murias, que veria Enrique Sanz conseguir finalmente a vitória na última etapa. O nome não é estranho em Portugal, pois este espanhol triunfou em três das seis etapas da Volta ao Alentejo.

De referir que foi o segundo triunfo consecutivo da Israel Cycling Academy na Volta a Castela e Leão, que em 2018 teve o espanhol Rubén Plaza como vencedor.

Apesar de ajudar o companheiro Carlos Barbero na luta por etapas, Nelson Oliveira teve liberdade para procurar o seu resultado. Dois sextos lugares e um nono, valeram o sexto posto na geral, a 21 segundos de Cimolai. Nelson Oliveira foi o único português no top 20, sendo preciso descer até à 22 posição para encontrar o segundo melhor: João Matias (a 2:48 minutos). A maioria do tempo foi perdido logo na primeira etapa, mas foi na terceira etapa que se viu o melhor do ciclista da Vito-Feirense-PNB. Matias foi segundo, batido por um Enrique Sanz que foi simplesmente demasiado forte para toda a concorrência. Um bom resultado para o corredor português, com a equipa a ter Óscar Pelegrí a terminar no sexto lugar da última tirada, de 151,8 quilómetros, entre Léon e Villafranca del Bierzo.

A Efapel foi das seis equipas portuguesas presentes a que saiu de Castela e Leão com um prémio. O director desportivo, Américo Silva, admitiu que a classificação da montanha era o objectivo e tudo foi feito colectivamente para que Bruno Silva conquistasse a camisola. Na geral, Antonio Angulo foi o melhor da equipa, na 13ª posição, a 2:09 minutos de Cimolai, tendo sido terceiro nas metas volantes.

Alejandro Marque destacou-se no Sporting Tavira, com o 18º posto, a 2:29. António Carvalho foi o melhor da W52-FC Porto, na 28ª posição, a 3:14, Oscar Hernandez (Aviludo-Louletano) foi 36º, a 7:54 e Daniel Freitas (Miranda-Mortágua) foi 40º, a 8:05.


As equipas portuguesas regressam agora a casa para na quarta-feira, dia 1 de Maio, competir na Clássica Aldeias do Xisto, que vai decidir os vencedores da Taça de Portugal.

David de la Fuente agredido, também acabou sancionado

O ciclista espanhol da Aviludo-Louletano terminou a corrida na parte de baixo da tabela - antepenúltimo a quase 30 minutos -, mas foi notícia pelas piores da razões. De la Fuente esteve envolvido numa altercação que resultou na expulsão da Volta a Castela e Leão do ciclista da Delko Marseille Provence, Eduard Grosu, na segunda etapa.

Os directores da corrida acusaram o campeão romeno de "agressão com circunstâncias agravantes", multando-o em 200 francos suíços (cerca de 176 euros) e a perda de 10 pontos do ranking UCI, além da expulsão imediata da corrida. De la Fuente foi sancionado com a mesma multa e também pela dedução igual de pontos por "agarrar a camisola e ameaças".

Na página de Facebook, a equipa algarvia explicou que Grosu atirou o espanhol por uma ribanceira, "deixando-o mal tratado". Espera agora que a UCI aplique uma "sanção exemplar". Em casos recentes, Gianni Moscon (Sky) foi suspenso por cinco semanas por agressão a Elie Gesbert (Fortuneo-Samsic, actual Arkéa Samsic), na última Volta a França. Em 2017, na Volta ao Dubai, Marcel Kittel ficou a sangrar do sobrolho após agressão de Andrei Grivko (Astana), com a UCI a suspender o ucraniano por 45 dias.


26 de abril de 2019

A nova geração está pronta para continuar o legado Sky na Ineos

(Fotografia: Facebook Team Sky)
A Volta aos Alpes marcou o adeus vitorioso da Sky. Na especialidade desta equipa, corridas por etapas, nada como uma exibição de grande nível, ainda mais dos jovens que se preparam para ser o rosto da Ineos, o novo nome da formação a partir de 30 de Abril, na Volta à Romandia. A despedida da Sky será na Liège-Bastogne-Liège, nunca foram o ponto forte, pelo que o triunfo na corrida alpina teve um enorme significado, ainda mais por quem foi alcançado.

Pavel Sivakov chegou com Egan Bernal à estrutura em 2018. O colombiano "pegou" de imediato, o russo precisou de um maior período de adaptação. Bernal tinha a vantagem de ter passado dois anos na equipa italiana Profissional Continental Androni, de Gianni Savio, enquanto Sivakov tinha competido apenas a nível de sub-23. A experiência competitiva fez a diferença na forma como cada um singrou na Sky.

No ano antes a assinar pela equipa britânica, Sivakov foi fenomenal entre os sub-23. Somou vitórias importantes, como na Ronde de l'Isard e no Giro Ciclistico d'Italia, mas principalmente tinha somou grandes exibições. Chegou rotulado como próxima estrela, mas enquanto Bernal rapidamente se tornou cabeça-de-cartaz, Sivakov foi discreto.

Ritmo diferente para eventualmente chegar ao mesmo estatuto, com algumas lesões pelo meio. Ainda não está ao nível de Bernal, mas mostra que para lá caminha. Na Volta aos Alpes, o russo colocou na estrada de uma competição de muito espectáculo e dificuldade todo o seu potencial. Venceu uma etapa e ganhou a geral, não se intimidando com um Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) que muito o atacou, mas nunca conseguiu que o jovem Sivakov cedesse. No final até o italiano se rendeu à classe do russo, mas não só. É que Tao Geoghegan Hart fez algo que não se vê muito: sentar Nibali.

O britânico, de 24 anos, dois mais velho que Sivakov, também se estreou a vencer como profissional tal como o russo. Ficou com duas etapas e na chegada a Cles, no sprint com Nibali, deixou o italiano a sentar-se, derrotado pela sua força naqueles metros finais de muitos quilómetros a subir (e descer). Já no ano passado Hart tinha deixado excelentes indicações, tornando-se no escudeiro de Egan Bernal, ficando na memória como ambos estiveram tão bem na Volta à Califórnia que o colombiano conquistou. Ao ter uma oportunidade, Hart aproveitou-a e, além das etapas, subiu ao pódio na Volta aos Alpes, no segundo lugar (a 27 segundos), depois de um brilhante trabalho de ajuda a Sivakov. Com a evolução que tem demonstrado, não demorará muito para Hart merecer subir mais na hierarquia da equipa.

Chris Froome acrescentou a Volta aos Alpes ao seu calendário, para tentar ganhar mais ritmo, ele que das poucas vezes que tem competido, mal se tem visto. Na corrida italiana acabou como gregário e teve o seu papel na vitória de Sivakov, algo que certamente marcará o russo. Não é qualquer um que possa dizer que teve um vencedor das três grandes voltas, incluindo quatro Tours, a puxá-lo e a responder a ataques dos rivais para ajudar um jovem líder.

Se é o início de uma passagem de testemunho, os próximos meses o dirão. Até porque, falta saber em que ciclista se irá tornar Sivakov. Bernal é claramente um voltista. O russo tem capacidade para se adaptar a mais terrenos. Bernal tem um poder de arranque em montanha. Sivakov tem um impressionante poder de arranque em terrenos não tão inclinados. Porém, não seria de surpreender ver Sivakov tornar-se também ele num ciclista para as grandes voltas. Para já irá fazer da jovem equipa da Ineos que estará na Volta a Itália, com Bernal como líder.

Será a geração de 1997 em força, pois tanto estes dois ciclistas, como Iván Ramiro Sosa nasceram num ano muito generoso para o ciclismo. Bjorg Lambrecht (Lotto Soudal), Pascal Eenkhoorn (Jumbo-Visma), Max Kanter (Sunweb) e Gino Mäder (Dimension Data), são outros exemplos de ciclistas que muito prometem e que nasceram naquele ano. E a Sky tem mais um: Jhonatan Narváez.

Além de Bernal, Hart, Sivakov e Sosa, a Ineos (há que começar a habituar a este nome) deverá levar a Itália Gianni Moscon (25 anos), Sebastián Henao (25) e Salvatore Puccio, que poderá ser o "veterano" de 29 anos, pois ainda falta conhecer o oitavo elemento.

O tempo de Froome e Geraint Thomas ainda não acabou, mas não durará muito mais. Foram dois ciclistas que marcaram a Sky, mas os nomes que poderão marcar a Ineos estão aí, numa equipa que tem apostado forte na contratação de jovens talentos, pois há ainda a ter em conta Eddie Dunbar, Kristoffer Halvorsen, Filippo Ganna, Chris Lawless, sem esquecer Owain Doull, um especialista para as clássicas clássicas. Não perdendo a sua ligação às origens britânicas, a Sky/Ineos ameaça alargar o seu leque de grandes figuras do ciclismo a outras nacionalidades

Certo é que o futuro da Sky/Ineos já é bem presente e a expectativa para o Giro será muito alta, mesmo com a falta de experiência dos seus jovens, que em talento, capacidade física e mesmo em inteligência táctica já demonstram muita maturidade.

O nome Sky irá sair de cena na Liége-Bastogne-Liège de domingo, numa das poucas clássicas que a equipa conquistou. É um dos dois monumentos que tem. Foi o primeiro, dado por Wout Poels, em 2016, com Michal Kwiatkowski a ganhar a Milano-Sanremo no ano seguinte. E os dois estarão na edição deste ano da Liège. Não sendo os favoritos de topo, são fortes candidatos a um adeus que seria perfeito para a Sky, depois da tremenda Volta aos Alpes dos seus jovens ciclistas.


25 de abril de 2019

Fim da época das clássicas para Sagan. Já não vai estrear-se na Liège-Bastogne-Liège

(Fotografia: © Bettiniphoto/Bora-Hansgrohe)
Era um dos principais pontos de interesse desta época de clássicas. Pela primeira vez, Peter Sagan colocou a Liège-Bastogne-Liège no seu calendário, ficando assim em aberto juntar um terceiro monumento à Volta a Flandres e Paris-Roubaix, já que a Milano-Sanremo teima em "escapar". Mesmo numa forma muito longe do que o eslovaco habituou na sua carreira, o interesse mantinha-se alto, mas ter-se-á de esperar por outra oportunidade. Depois de abandonar a Amstel Gold Race e a Flèche Wallonne, Sagan e a Bora-Hansgrohe optaram por uma fase de repouso e tentar recuperar energias para a Volta a Califórnia.

Peter Sagan alterou um pouco o seu calendário e a sua preparação nesta primeira parte da temporada, um pouco a pensar na Liège-Bastogne-Liège. A mudança no percurso do monumento belga, principalmente nos quilómetros finais, aguçaram a vontade do tricampeão do mundo em estrear-se numa corrida que, até agora, nunca tinha sido opção para este ciclista. No entanto, 2019 está a ser um ano para esquecer para Sagan.

Um quarto lugar na Milano-Sanremo, um quinto no Paris-Roubaix e até o 11º na Volta a Flandres, poderiam ser classificações boas para vários ciclistas. Mas não para Sagan. O ciclista até pode ter o discurso que não foram más prestações. Contudo, o que os números não mostram é que Sagan acabou por nem discutir as vitórias. Principalmente na Milano-Sanremo e no Paris-Roubaix, o eslovaco até fez boas corridas, mas nos momentos cruciais faltaram-lhe as forças. O mesmo aconteceu noutra clássicas e também no Tirreno-Adriatico.

Na semana das Ardenas, Sagan nem era suposto ir à Flèche Wallonne, mas a equipa quis contar com a experiência do ciclista, numa corrida que iria ter o vento como potencial factor de fazer diferenças. Foi Sagan numa versão gregário, mas não foi uma versão muito diferente da de Sagan líder.

O que se passa com Peter Sagan? É a pergunta do momento, com a própria equipa à procura de explicações. Ainda chegou a dizer que Sagan estava a melhorar, mas nas corridas, não se tem visto essa melhoria. A sua capacidade de "explosão" apagou-se em 2019.

Sagan sofreu de problemas de estômago no estágio de altitude que a Bora-Hansgrohe realizou antes do Tirreno-Adriatico. Além de ficar longe dos treinos, o ciclista contou que passou a maioria do tempo no seu quarto. Na prova italiana. Sagan surgiu claramente mais magro, ainda que ficaram dúvidas se a perda de peso poderia também estar relacionada com a preparação para a Liège-Bastogne-Liège.

Para já, não há respostas para o que se passa com um dos melhores ciclistas. Um dos que mais espectáculo dá. Um que se tornou uma referência e imagem da modalidade. Mesmo com Mathieu van der Poel a "roubar" muitas das atenções nestas últimas semanas, a verdade é que o melhor Sagan faz falta.

Agora é esperar pela corrida onde é conhecido pelo "rei da Califórnia", pois tem 16 vitórias de etapa e uma classificação geral. Será de 12 a 18 de Maio, no arranque de uma preparação para o segundo objectivo do ano: a Volta a França e a conquista da sétima camisola verde (dos pontos), que, se conseguir, o tornará no recordista solitário, já que partilha a actual marca com Erik Zabel. Mais tarde, em Setembro, Sagan quer nos Mundiais de Yorkshire recuperar a camisola do arco-íris que está com Alejandro Valverde.

Sagan continuará a ser sempre candidato a vitórias, mas, de momento, predomina a desconfiança da estrela da Bora-Hangrohe. Curiosamente, a equipa até tem mostrado que já não depende tanto do seu número um, estando cada vez mais forte no seu bloco em corridas por etapas, na procura de classificações gerais e claro, tem um Sam Bennett (sprinter) num excelente momento.

Contudo, certamente que são os responsáveis da Bora-Hansgrohe quem mais anseiam por ter Sagan de regresso ao normal, pois é um pouco estranho que em 19 vitórias em 2019, Sagan só tenha contribuído com a conquista da terceira etapa do Tour Down Under, logo em Janeiro.

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Volta a França com direito a caderneta de cromos

(Imagem: Twitter Panini França)
Pela primeira vez a Panini vai lançar uma colecção de cromos dedicados à Volta a França. A edição irá marcar o centenário da estreia da camisola amarela na icónica corrida, que vai para a sua 106ª edição. Serão 352 cromos, numa caderneta que será lançada a 4 de Maio. O único senão é que, para já, as notícias dão conta que estará disponível apenas em França e Bélgica.

No entanto, há que esperar pelo lançamento oficial para se conhecer todos os pormenores, pelo que ainda não se perdeu toda a esperança. O que foi anunciado esta quinta-feira é que a caderneta contará com alguns cromos especiais, além dos ciclistas das 22 equipas presentes no Tour do próximo mês de Julho (de 6 a 28).

Haverá cromos dedicados às 21 etapas, a cidades e montanhas ícones desta grande volta, sem esquecer momentos e factos históricos do Tour, assim como as bicicletas e camisolas que marcaram a corrida. E num ano em que a Volta a França irá partir de Bruxelas, duas das páginas serão dedicadas a Eddy Merckx, a lenda belga. O "Canibal", como ficou conhecido, venceu cinco edições e 34 etapas, sendo ambos os números um recorde, ainda que a marca em vitórias na classificação geral seja partilhadas com mais três ciclistas - Bernard Hinault, Jacques Anquetil e Miguel Indurain.

Chris Froome é o candidato a juntar-se a este grupo muito exclusivo, mas na capa da caderneta é o companheiro da Sky quem teve direito a destaque, ou seja, o vencedor de 2017, Geraint Thomas.

Agora é esperar que a Panini dê a oportunidade aos fãs portugueses de ciclismo e de cromos de poderem comprar esta colecção, que em França e Bélgica terá um custo de um euro por saqueta (cinco cromos), além dos 3,95 pela caderneta.

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24 de abril de 2019

Flèche Wallonne segue guião à risca na confirmação do novo rei do Muro de Huy

(Fotografia: Twitter Flèche Wallonne)
"Este ano foi mais difícil", disse Alaphilippe, no entanto, fá-lo parecer tão fácil. O Muro de Huy ganhou um novo rei, com o francês a vencer pela segunda vez consecutiva. Bem se falou há um ano que, ao bater o Alejandro Valverde, cinco vezes vencedor da Flèche Wallonne, se estava perante uma passagem de testemunho. Alaphilippe confirmou isso mesmo esta quarta-feira, com mais uma exibição de enorme nível na segunda corrida da semana das Ardenas, deixando para trás a frustração de uma Amstel Gold Race perdida com a meta à vista.

Quanto a Valverde, nem se o viu no final, numa temporada muito aquém do que o espanhol habituou. Foi 11º em mais um resultado que ficou longe do ambicionado. O campeão do mundo celebra esta quinta-feira, 25 de Abril, 39 anos, e resta-lhe esperar que seja a Liège-Bastogne-Liège a corrida que o recoloque na disputa por vitórias.

Alaphilippe é agora a grande figura das Ardenas e, desde já, o favorito para o monumento de domingo. Foi com uma já habitual companhia das clássicas de 2019 que discutiu a vitória. Jakob Fuglsang não consegue descobrir forma de bater Alaphilippe. Perdeu a Strade Bianche para o francês, estava na discussão com o mesmo rival na Amstel Gold Race até que Mathieu van der Poel se intrometeu e, na Flèche Wallonne, não teve pernas para sobreviver ao Muro de Huy, sendo novamente segundo, atrás do francês.

Julian Alaphilippe reunia todo, mas mesmo todo o favoritismo para a Flèche Wallonne. Mesmo com o circuito final a ser mais endurecido com três passagens nas subidas Côte d’Ereffe e Côte de Cherave, em vez das duas de 2018, tal não fez diferença naqueles 1300 metros finais de Huy. Até surpreendeu ver Fuglsang ganhar alguma vantagem, com o próprio dinamarquês a admitir que a Flèche Wallonne não é a corrida que melhor lhe assenta. Mas com Alexey Lutsenko a ficar "sentado" ainda antes do Muro de Huy, a Astana apostou novamente num ciclista que está a realizar uma grande temporada. Contudo, Fuglsang admitiu a incapacidade de "apanhar" o ciclista francês, numa subida mais ao estilo de Alaphilippe do que do dinamarquês.

O que não foi surpresa, foi ver Alaphilippe fechar o espaço que Fuglsang chegou a conseguir abrir, ultrapassar o rival, dar um "chega para lá" quando sentiu o dinamarquês aproximar-se um pouco, e ganhar. Desta vez sabia que era o vencedor. Há um ano, pensou que uma fuga tinha singrado! Alaphilippe disse que foi mais difícil ganhar a segunda vez até porque a pressão era bem maior. Apesar de se ter desgastado para recuperar posição devido a um furo, o trabalho da equipa e a classe do francês garantiram a 25ª vitória de 2019 da Deceuninck-QuickStep.

Em causa estava também ultrapassar a enorme frustração que ficou por ver Van der Poel ganhar a Amstel Gold Race, quando tanto Alaphilippe e Fuglsang tinham tudo para discutirem apenas os dois. Dificilmente o francês não teria ganho esse confronto, mas a dupla deixou-se apanhar nos metros finais. A tripla das Ardenas ficou sem efeito para o francês, mas ser o rei de Huy deixa a confiança do ciclista reforçada ao máximo, quando este procura um monumento que parece esperar por ele.


Já ganhou um este ano, a Milano-Sanremo, mas a Liège-Bastogne-Liège sempre foi uma corrida que tem Alaphilippe como um ciclista com tudo para a ganhar. Aos 26 anos, o ciclista junta a uma fantástica forma física, uma capacidade perfeita de ler a corrida e de saber quando deve agir. E claro, com uma Deuceninck-QuickStep a poder controlar a corrida, perder a Flèche Wallonne teria sido um resultado inesperado para Alaphilippe e não discutir a Liège será algo impensável, em condições normais.

A clássica desta quarta-feira até foi mais mexida do que em edições recentes, mas o guião acabou por ser muito idêntico às últimas edições. A diferença é que antes se perguntava quem bate Valverde e a partir de agora será, quem bate Alaphilippe.

As quedas tiraram da corrida alguns candidatos, as "más sensações" tiraram outros, como Dan Martin. Pelo menos foi assim que a UAE Team Emirates justificou o abandono do irlandês. Porém, Diego Ulissi foi ao pódio, com Rui Costa colocar-se muito bem durante grande parte da corrida, mas na penúltima das subidas mostrou que não seria capaz de lutar por um lugar da frente, trabalhando para o colega. O português foi 26º, a 45 segundos, apontando agora à corrida que mais gosta das Ardenas: Liège-Bastogne-Liège.

José Gonçalves (Katusha-Alpecin) terminou na 73ª posição, a 7:40 do vencedor, e o colega de equipa, Ruben Guerreiro, foi 90º, a 10:29 (classificação completa neste link, via ProCyclingStats).

Fica a faltar o quarto monumento do ano para fechar as Ardenas e não é de afastar novo confronto entre Alaphilippe e Fuglsang. Na perspectiva do dinamarquês, tem vindo sempre a melhorar: terceiro na Amstel Gold Race, segundo na Fléche Wallonne... só falta o primeiro lugar...

Na corrida feminina também se confirmou o favoritismo de Anna van der Breggen (Boels-Dolmans). São cinco vitórias consecutivas na Flèche Wallonne, ela que tem o título de rainha de Huy, igualando o recorde de Marianne Vos, que, no entanto, não venceu as cinco vezes consecutivas. Vos bem tentou defender a sua marca, mas ficou no quarto lugar, a 14 segundos da campeã do mundo Van der Breggen (classificação completa neste link, via ProCyclingStats).


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