14 de setembro de 2018

"A Efapel, pelo percurso que tem tido, tem tudo para sonhar com um projecto dessa envergadura"

Avaliar o presente, pensar no futuro próximo e começar a preparar o mais além. A Efapel pode não ter alcançado os objectivos a nível de resultados na Volta a Portugal, mas o seu director desportivo, Américo Silva, não deixa de realçar que quanto ao empenho dos seus ciclistas, nada tem a apontar. Porém, mesmo não sendo possível fugir a má Volta na falta de concretização do que se pretendia alcançar, a equipa continua a receber um forte apoio de quem a patrocina e que quer agora vê-la chegar ao escalão Profissional Continental.

O sonho é que em 2021 seja possível subir ao segundo nível do ciclismo e assim aspirar a outro tipo corridas, piscando o olho a um possível convite para uma Volta a Espanha. Numa primeira fase é necessário fazer crescer a estrutura actual de uma forma sustentável, pois Américo Silva salienta que é um projecto que quer permanecer nesse escalão e não rapidamente dar um passo atrás. "Temos muita tendência depois da Volta a Portugal em se falar de novas equipas, muitos projectos e que maioritariamente, a curto prazo, nunca são realizáveis. Por isso, para se falar num projecto destes deve-se pensar mais nesta forma, mais a longo prazo, com as coisas um pouco mais sustentadas e só assim se pode sonhar em realizar-se este tipo de planos. Todos aqueles que no calor da Volta começam a projectar coisas muito altas, normalmente não são para se ligar nenhuma, não chegam a lado nenhum", referiu ao Volta ao Ciclismo.

"Tem de ser algo pensado e sustentado, no mínimo a três anos. Não faz sentido estar num escalão que pode dar acesso a estar numa Volta a Espanha e depois haver um retrocesso", acrescentou. Américo Silva confirmou assim o desejo anunciado durante a Volta a Portugal pelo presidente da equipa, Carlos Pereira. O facto de o prazo ter sido estabelecido em 2021 é para Américo Silva uma demonstração de credibilidade do plano, que irá então ser preparado durante as próximas duas temporadas.

"As corridas contabilizam-se não propriamente pelo rendimento e empenho de cada um, mas sim pelos resultados e logicamente, nesse campo, foi uma má Volta a Portugal"

"A Efapel, pelo percurso que tem tido ao longo dos anos, tem tudo para sonhar com um projecto dessa envergadura", considerou o director desportivo. A empresa iniciou o seu patrocínio em 2011, como secundário, mas no ano seguinte já era o principal e desde 2015 que a Efapel é o único nome da equipa.

Em 2012 a Efapel ganhou a sua única Volta por intermédio do espanhol David Blanco, mas desde então que a estrutura da actual W52-FC Porto tem dominado na principal prova para as equipas nacionais. Sérgio Paulinho foi a grande aposta em 2017 e 2018, com Henrique Casimiro a ter um papel de co-líder. Porém, a vitória na Volta nunca esteve perto de acontecer e nem o pódio foi alcançado. Este ano até a conquista de uma etapa não foi alcançada, apesar da Efapel muito ter trabalhado e muito procurado colocar ciclistas na frente.

A pergunta foi então directa. Foi uma má Volta para a Efapel? "Em termos de resultado sim. Em termos de entrega da equipa e de tudo aquilo que conseguimos fazer durante a Volta não", respondeu Américo Silva. "As corridas contabilizam-se não propriamente pelo rendimento e empenho de cada um, mas sim pelos resultados e logicamente, nesse campo, foi uma má Volta a Portugal porque dos dois objectivos, nenhum foi conseguido: tentar chegar ao pódio e vencer uma etapa", acrescentou.

Sérgio Paulinho cedo ficou fora da discussão e Henrique Casimiro acabou por ir perdendo tempo. Contudo, Américo Silva não quis falar apenas do que os seus ciclistas fizeram: "Em termos da geral temos de dar mérito aos adversários. O Sérgio na etapa da Serra da Estrela não esteve ao seu melhor nível e na Volta a Portugal ter um dia em que não se esteja bem, já não se consegue fazer depois a diferença. Não é como no Tour que um dia não se está bem, mas noutro recupera-se. Aqui é necessário regularidade todos os dias. O Henrique esteve ao nível dele. Os adversários é que estiveram bastante melhor."

Daniel Mestre foi dos que viu a vitória de etapa escapar, mas não é de falta de sorte que Américo Silva se queixa. "Este ano as coisas não aconteceram. Vendo agora com à distância, se formos avaliar etapa a etapa, tal como não ganhámos, poderíamos ter ganho duas. Falhou não termos conseguido, mas não nos podemos recriminar por nada do que fizemos na Volta a Portugal. Temos a consciência que tudo fizemos para conseguir. O que falhou foram as circunstâncias da corrida, o ter faltado um bocadinho mais de força, ou o quer que seja, mas não recorremos à parte da sorte", salientou.

"Não nos podemos recriminar por nada do que fizemos na Volta a Portugal. Temos a consciência que tudo fizemos para conseguir"

Os ciclista da Efapel acreditaram até ao fim que poderiam pelo menos vencer a etapa, mas esta não chegou, pelo que o melhor resultado acabou por ser o 10º lugar de Henrique Casimiro, a 6:49 do vencedor, Raúl Alarcón (W52-FC Porto).

O peso da Volta nas contas finais da equipas portuguesas é enorme, mas Américo Silva destacou como a nível de temporada geral a Efapel esteve bem. A primeira vitória só chegou no final de Março, na Clássica Aldeias do Xisto, por intermédio de Daniel Mestre, mas entretanto já são nove, além de oito classificações "secundárias". Rafael Silva ainda trouxe uma medalha de bronze para Portugal nos Jogos do Mediterrâneo. O último triunfo foi num dos circuitos de Verão, com Mestre a impor-se em Nafarros.

Mas ainda há mais uma conquista na mira antes de Américo Silva se concentrar a 100% na preparação para 2019, sendo que só então se começará a perceber que equipa e que papéis dentro da estrutura terão os ciclistas que a representarem. O espanhol Marcos Jurado está na disputa pela Taça de Portugal, com apenas 28 pontos a separá-lo de David Rodrigues, da Rádio Popular-Boavista. Porém, a luta irá incluir mais ciclistas, como por exemplo, o colega de Rodrigues, Luís Gomes, António Barbio e Francisco Campos, do Miranda-Mortágua, e Márcio Barbosa (Aviludo-Louletano-Uli), por exemplo. Frederico Figueiredo também está bem colocado, mas o ciclista do Sporting-Tavira está na Volta a China, que acaba este sábado.

Francisco Campos está ainda na luta pela vitória em sub-23, estando em igualdade pontual com André Carvalho, com vantagem para o ciclista da Liberty Seguros-Carglass. Hugo Nunes, também do Miranda-Mortágua, tem dez pontos de desvantagem para o duo.

A época irá terminar onde começou, na região de Aveiro. À espera do pelotão estão os últimos 151,6 quilómetros de estrada do ano, numa corrida que se inicia na Câmara Municipal de Anadia, às 11:30 de domingo, terminando cerca das 15:00, no Parque Municipal de Murtosa. Haverá duas contagens de montanha para se tentar fazer diferenças, em Talhadas e em Sever do Vouga.

É uma antecipação do final de temporada, depois do cancelamento da corrida de Tavira, que estava agendada para 6 de Outubro e que definiria o vencedor da Taça de Portugal, que será então conhecido já este domingo. O Festival de Pista de Tavira será assim novamente o local de despedida da temporada de 2018, a 5 de Outubro.


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