6 de setembro de 2018

Espanhóis já têm o seu líder. Inesperado e que não acreditam que dure

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Se havia alguém que não pensava que ia terminar o dia na liderança era Jesús Herrada. Provavelmente, nem ele, nem ninguém! A 5:45 minutos de Simon Yates, o espanhol partiu para a fuga na esperança de lutar pela etapa e assim salvar algo de um primeiro ano na Cofidis que começou prometedor, mas que não tem cumprido as expectativas. Com a Mitchelton-Scott a não se importar de ceder a camisola vermelha, para não ter de controlar etapas e com a Movistar a recusar fazer esse trabalho, pelo menos ao mesmo ritmo elevado, ao contrário do que aconteceu na quarta-feira, uma mudança de líder nem surpreendeu por completo, mas terminar com 3:22 de vantagem... Eis um cenário que se tem de dizer que só na Vuelta!

Em Espanha tanto se quis ver um ciclista seu de vermelho, que ver Herrada com o símbolo da liderança provocou um misto de alegria e desconfiança. O ciclista foi um dos jovens que muita atenção chamou enquanto júnior e sub-23. Aos 20 anos, o mais novo dos irmãos já estava na Movistar. O mais velho (quatro anos), José, só foi contratado no ano seguinte. Tem títulos nacionais de contra-relógio nas camadas jovens e dois de estrada como elite, em 2013 e 2017. Porém, na Movistar nunca conseguiu singrar como líder, sempre tapado por outros ciclistas. Tornou-se num importante gregário, mas quis mais.

Aos 28 anos representa a Cofidis. Desceu ao escalão Profissional Continental para elevar o seu estatuto, estando na companhia do irmão. Parecia destinado a quanto muito entrar em fugas e tentar uma etapa na Vuelta, com Luis Ángel Maté a ser o destaque desde o segundo dia quando atacou a classificação da montanha, não esquecendo que Nacer Bouhanni cumpriu ao vencer uma etapa para a equipa.

Se a Vuelta já estava a ser boa para a Cofidis, depois de um Tour menos conseguido, também por culpa de uma exibição abaixo do esperado de Herrada, que pouco se viu, em Espanha está a realizar uma das melhores corridas de três semanas dos últimos anos. Agora está de vermelho, mas há pouca crença a rodear o ciclista que seja uma camisola que mantenha por muito tempo. Até a pode perder amanhã.

Quando foi para a Cofidis, Herrada queria liderar uma equipa numa grande volta e assim tentar disputá-la. Pode ter chegado à Vuelta com um discurso mais comedido, mas aqui está ele, líder da Volta a Espanha. Melhor oportunidade para mostrar do que é capaz, não só a pensar nesta Vuelta, mas em futuras grandes voltas, não há. Se quer mostrar que tem capacidade para estar entre os tubarões, então Herrada tem de se mostrar nos próximos dias, mesmo que acabe a ceder a camisola.

Do seu lado tem a vantagem de ninguém lhe exigir mais, ou sequer esperar mais, do que hoje alcançou. Mas são 3:22 minutos que o distanciam da concorrência, à entrada de três dias de inferno montanhoso e com o contra-relógio à espera na terça-feira. "Vamos ver onde posso chegar", disse Herrada, mas Miguel Ángel López (Astana) e um corredor que tão bem conhece o espanhol, Alejandro Valverde (Movistar), já avisaram que tirar Herrada da liderança não será tão fácil como possa parecer.

Palavras de circunstância? Talvez, mas tudo dependerá agora de Herrada. Chegou o seu momento. Não esperava, mas não pode deixar passar. A Cofidis não tem uma equipa para controlar etapas e não se pode dar ao luxo de agora dizer a Maté para se sacrificar pelo companheiro. A camisola da montanha não só é um prémio que está completamente ao alcance, como seria injusto pedir ao ciclista para deitar fora o trabalho de quase duas semanas. Deixar embrulhar-se no sonho de ganhar a Vuelta... Só se Herrada passar os três testes, das próximas três etapas.

De recordar que nem é preciso recuar muito para ver quando um ciclista de uma equipa de segundo escalão venceu a Vuelta. Juan José Cobo fê-lo em 2011, pela Geox-TMC Transformers. No entanto, o palmarés do espanhol era bem diferente do de Herrada. Já tinha ganho uma Volta ao País Basco, uma etapa no Tour e também na Vuelta. Herrada tem como triunfo mais importante uma tirada no Critérium du Dauphiné, em 2016.

Glória francesa

A Cofidis é uma equipa francesa que juntamente com as outras duas na Vuelta está a realizar uma corrida que não esquecerá rapidamente. Enquanto celebrava a conquista da camisola vermelha, a AG2R festejava a segunda vitória de etapa. Depois de Tony Gallopin, foi a vez de Alexandre Geniez. E depois há a Groupama-FDJ que já andou na liderança com Rudy Mollard.

Herrada e Geniez fizeram parte de uma fuga de 18 ciclistas, na qual esteve novamente Tiago Machado (Katusha-Alpecin). O minhoto não desiste e ainda o vamos voltar a ver na frente à procura de uma grande vitória. Mas a 12ª etapa foi para Geniez, num dia em que a Movistar deixou claro que não quer deixar-se empurrar para a frente do pelotão, mas que não terá remédio se de facto quer ganhar a Vuelta. Será a equipa espanhola que terá de eliminar a diferença para Herrada, pois as outras equipas ficarão na expectativa, sabendo que a Movistar não vai baixar os braços.

Além da mudança de líder da geral, também por equipas houve uma alteração. Com dois homens na fuga - Mark Padun fechou no primeiro grupo e Vincenzo Nibali no segundo -, a Bahrain-Merida beneficiou desse facto para saltar dois lugares e desalojou a Lotto-Jumbo, tendo 14:10 minutos de vantagem. Valverde lidera nos pontos e no prémio combinado, Maté na montanha.

Pode ver aqui as classificações.

A etapa ficou ainda marcada por uma queda após a meta, com um membro da organização a provocar o incidente que afectou os quatro primeiros classificados, mas com Dylan van Baarle (Sky) a ser quem ficou mais mal tratado. Mais pormenores e vídeo neste link.
Etapa 13: Candás. Carrreño - Valle de Sabero. La Camperona, 174,8 quilómetros

Com os Lagos de Covadonga à espera do pelotão no domingo, La Camperona será o primeiro teste de três dias de dificuldade na Vuelta. Antes haverá uma primeira categoria, mas é a que terminará a etapa que mete muito respeito. São 8,3 quilómetros, com uma pendente média de 7,5%. Mas o que interessa mesmo são os últimos dois que chegam a ter quase 20%! Quem estiver mal pode perder tempo e já se começa a entrar na fase em que qualquer segundo a mais poderá ser irrecuperável.



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