(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta) |
Quintana nunca foi um ciclista de loucuras. Houve sempre um toque metódico na sua forma de correr. No entanto, ganhou o Giro em 2014 e a Vuelta em 2016 por assumir-se como um líder, como um candidato, tomando os riscos necessários para que quem ganhar. Porém, as suas vitórias trouxeram a pressão de conquistar o Tour. Chris Froome (Sky) não o deixou. Veio depois o objectivo de ganhar Giro e Tour no mesmo ano. As dificuldades nos contra-relógio mais planos e Tom Dumoulin não deixaram em Itália e em França foi o descalabro de um Quintana esgotado com o esforço inglório feito no Giro. Concentrou-se novamente no Tour em 2018 e falhou por completo, tal como toda a Movistar, que quis enfrentar a Sky olhos nos olhos e acabou por mal assustar. O "castigo" foi ir à Vuelta. Quintana falhou de novo, apesar de ter assumido que esta corrida era mesmo para ganhar.
Conservador por excelência e que tantas críticas lhe valem, das poucas vezes que tentou mexer com a corrida, chegou a fazê-lo a olhar para trás e não com os olhos postos no prémio. Em dois dias, Quintana pagou caro a sua postura. No contra-relógio faltou-lhe o de sempre: maior capacidade para se defender em percursos maioritariamente planos. Na etapa de muita montanha desta quarta-feira, faltaram-lhe as pernas. Nos outros dias tinha-lhe faltado um pouco mais de audácia, que Simon Yates (Mitchelton-Scott), o companheiro Alejandro Valverde e Miguel Ángel López (Astana) não tiveram receio de mostrar. Os dois primeiros estão a recolher os frutos dos riscos, enquanto o outro colombiano não está onde queria, mas pelo menos está a lutar e muito por conquistar o que quer.
Falta sempre algo a Quintana e com mais este falhanço na Vuelta - que só uma reviravolta, que até para esta corrida já é demasiado improvável, poderia evitar - em 2019 poderá começar a faltar um pormenor essencial: estatuto na Movistar. A contratação de Mikel Landa abanou e muito Quintana. A rivalidade interna foi sendo desmentida, mas existe. O espanhol lesionou-se e ficou de fora da Vuelta. O colombiano pensou que seria líder solitário, como não esconde preferir. Valverde mostrou que estava também para disputar a Vuelta e é agora a aposta, com Quintana a assumir que irá trabalhar para o colega.
Se Landa aparecer ao seu nível em 2019 - também ele desiludiu no Tour -, Quintana poderá ver-se definitivamente relegado para um segundo plano. Apostar nos dois, com Valverde como salvaguarda não resultou no Tour. Se se falou da possibilidade de Landa até quebrar contrato com a Movistar, tal não se confirmou. Mas não será de admirar que, tal como aconteceu no ano passado, Quintana seja falado para outras equipas. E se calhar uma mudança até pode fazer-lhe bem. Apesar de ter apenas 28 anos, o crédito está a esgotar-se numa formação que não só tem Landa, como tem um Marc Soler e um Richard Carapaz que não será possível deixar na sombra por muito mais tempo.
Aproximam-se mais tempos difíceis para Quintana a quem neste momento será muito importante demonstrar que também trabalha para a equipa. Falhou como líder. Tem de mostrar que é bom companheiro e ficar ao lado de Valverde para que a Movistar não saia derrotada de mais uma grande volta. A aposta feita no Tour pela equipa pode não ter sido a mais acertada, mas na Vuelta, mesmo com dois líderes, a equipa tem trabalhado e deixado os seus ciclistas bem posicionados. Valverde está a corresponder. Quintana não.
Luta acesa
(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta) |
A dose de moral está agora do lado do espanhol, mas Yates tem aspectos positivos a retirar. O irmão, Adam, está de facto bem nesta última semana, tal como a restante equipa. A poupança de esforços da Mitchelton-Scott, que chegou a irritar Valverde e Quintana, está a agora a ter os seus dividendos.
Yates sempre se preocupou mais com Valverde do que com Quintana e tinha muita razão. Porém, nem um nem outro podem descuidar-se. Se têm tudo para serem os dois discutir a Vuelta, há um joker que já está no terceiro lugar. Enric Mas foi mais uma vez sensacional. O espanhol, de apenas 23 anos, da Quick-Step Floors teve mais um grande dia e, ao contrário de Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo), não pagou o esforço do excelente contra-relógio.
Enric Mas aproveitou a quebra de Quintana, López e Kruijswijk para se meter no pódio, a 1:22 de Yates. Começou a Vuelta discreto, foi aparecendo aos poucos e agora está com os melhores, ataca, contra-ataca... Arrisca e está a resultar. Pode não ser visto como a das maiores das ameaças à dupla da frente, mas como hoje ficou provado, se for consistente e manter-se na frente, basta alguém fraquejar que ele aproveita.
Apesar da etapa não ter sido perfeita, López ainda assim subiu a quarto, estando a 1:36. A Astana continua a trabalhar muito bem, faltando agora o Superman, como é conhecido, voar para um resultado que o recoloque na disputa pela vitória, ou pelo menos no pódio. Kruijswijk está agora a 1:48 e Quintana a 2:11.
De quatro candidatos, passou-se a seis no contra-relógio e é possível que se fique reduzidao a dois, com um Mas a espreitar uma surpresa. Neste momento, no pódio está a referência do ciclismo espanhol ainda em actividade e um corredor que tem tudo para vir a ser uma das referências da nova geração.
18ª etapa: Ejea de los Caballeros - Lleida, 186,1 quilómetros
Michael Woods deu a segunda vitória à EF Education First-Drapac p/b Cannondale nesta Vuelta, depois de Simon Clarke na quinta etapa. As vitórias este ano estão a escassear para a equipa americana. Tinha apenas quatro quando chegou a Espanha. O canadiano foi sétimo na geral há um ano, contudo, em 2018, tem com Rigoberto Uran destinado para a geral, Woods perseguiu a vitória de etapa, a sua primeira numa grande volta com uma dedicatória muito especial.
O ciclista, de 31 anos, contou que há dois meses o seu filho nasceu morto. "Perdemos o pequenino. O nome dele era Hunter. Todo o tempo em que ia a subir, estava a pensar nele. Queria ganhar tanto por ele e consegui", confessou o vencedor da tirada entre Getxo e Balcón de Bizkaia (157 quilómetros).
Pode ver aqui as classificações completas, com destaque para a mudança de dono na camisola da montanha. Luis Ángel Maté (Cofidis) cedeu a liderança que controlou desde a primeira etapa em linha. Thomas de Gendt atacou com tudo o que tinha esta classificação nesta etapa e tem agora dez pontos de vantagem sobre o espanhol, que até já tinha ajudado noutra etapa. O ciclista da Lotto Soudal é mais forte na alta montanha, onde Maté não tem consigo aguentar o ritmo e que provavelmente lhe custou uma camisola por que tanto trabalhou.
Esta quinta-feira será então um dia atípico na Vuelta: não há contagens de montanha. Os sprinters podem entrar em acção, antes da chegada a Madrid, no domingo. Depois chegam os dois dias de montanha finais. O último com a muito esperada etapa de 97,5 quilómetros (*).
(*) Por lapso foi referido no texto anterior que esta etapa curta era na sexta-feira. As mais sinceras desculpas pelo erro, que foi entretanto corrigido.
»»Carros da caravana da Vuelta foram vandalizados««
»»Yates, López e Valverde atacam. Quintana mantém conservadorismo que só lhe custa segundos««
18ª etapa: Ejea de los Caballeros - Lleida, 186,1 quilómetros
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O ciclista, de 31 anos, contou que há dois meses o seu filho nasceu morto. "Perdemos o pequenino. O nome dele era Hunter. Todo o tempo em que ia a subir, estava a pensar nele. Queria ganhar tanto por ele e consegui", confessou o vencedor da tirada entre Getxo e Balcón de Bizkaia (157 quilómetros).
Pode ver aqui as classificações completas, com destaque para a mudança de dono na camisola da montanha. Luis Ángel Maté (Cofidis) cedeu a liderança que controlou desde a primeira etapa em linha. Thomas de Gendt atacou com tudo o que tinha esta classificação nesta etapa e tem agora dez pontos de vantagem sobre o espanhol, que até já tinha ajudado noutra etapa. O ciclista da Lotto Soudal é mais forte na alta montanha, onde Maté não tem consigo aguentar o ritmo e que provavelmente lhe custou uma camisola por que tanto trabalhou.
Esta quinta-feira será então um dia atípico na Vuelta: não há contagens de montanha. Os sprinters podem entrar em acção, antes da chegada a Madrid, no domingo. Depois chegam os dois dias de montanha finais. O último com a muito esperada etapa de 97,5 quilómetros (*).
(*) Por lapso foi referido no texto anterior que esta etapa curta era na sexta-feira. As mais sinceras desculpas pelo erro, que foi entretanto corrigido.
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