(Fotografia: © João Fonseca) |
Época após época a dominar o ciclismo nacional, a vencer a Volta a Portugal e muitas das principais corridas no país, esta W52-FC Porto já pedia algo mais. Foram necessários cerca de três anos para ser possível concretizar o objectivo de subida ao escalão Profissional Continental, algo muito bem-vindo para Samuel Caldeira que, aos 33 anos, ambicionava poder competir noutras corridas. Ir mais além fronteiras.
2019 acaba assim por ser duplamente mais feliz para o ciclista algarvio. Não só vai poder ter objectivos diferentes e, por consequência, motivantes, como está de regresso à competição depois de uma lesão de complicada recuperação a uma vértebra. Apesar de ainda ter estado no Grande Prémio Nacional 2, em Julho, o próprio admite que foi mais a nível de participação do que competitivo. Falhou a Volta a Portugal e o regresso "a sério" deu-se mesmo neste arranque de temporada.
"Estava com muita vontade e muita ambição de voltar a correr. Foram tempos complicados. Mas tive sempre o apoio da equipa, o que acabou por me dar alguma tranquilidade. Pude focar-me nesta época e numa boa recuperação, mas é sempre complicado ter uma lesão como a que tive", contou ao Volta ao Ciclismo. Caldeira reiterou a importância que teve a mensagem transmitida pelos responsáveis da equipa, que contavam com ele e que deveria concentrar-se apenas em recuperar bem.
A lesão aconteceu devido a uma queda na última etapa na Volta à Comunidade de Madrid, a 6 de Maio, pelo que foi muito tempo que Samuel Caldeira esteve sem objectivos competitivos. Sem surpresa, a sua motivação para 2019 é ainda maior. "Uma lesão é sempre difícil e esta pode trazer problemas futuros a nível de saúde, mas sinto que a superei bem. Sinto-me perfeitamente bem", assegurou.
"Estou numa idade - já não sou novo, tão pouco estou velho - em que tenho vontade de discutir corridas no estrangeiro"
Agora quer obter bons resultados numa equipa Profissional Continental e não nega que a mudança de escalão chegou numa boa altura da sua carreira: "Não vou mentir, não é que estivesse a ficar desmotivado, mas já eram muitos anos na mesma coisa, a ter os mesmos objectivos, a conseguir alcançá-los... Acaba por se tornar um pouco monótono. Sempre ambicionei ter um calendário mais internacional, sinto-me bem a correr nesse tipo de corridas. Penso que sou um ciclista que encaixo bem, pois sempre que vou lá fora consigo estar na frente. Este ano, tendo essa oportunidade, sinto uma enorme felicidade por isso."
Samuel Caldeira disse mesmo que se "chega a um ponto em que a motivação não pode ser ganhar 20 vezes a Volta a Portugal". "Temos ganho e não é garantido que vamos ganhar a próxima e isso é sempre um desafio, mas motivar os atletas em abrir o leque competitivo com outros desafios, acaba por ser bom para todos", salientou. O ciclista, que vai para a sua sétima temporada na estrutura do Sobrado, vai escolher um calendário que inclua mais corridas no estrangeiro. "Tenho essa vontade de correr lá fora. Estou numa idade - já não sou novo, tão pouco estou velho - em que tenho vontade de discutir corridas no estrangeiro e levar o nome da W52-FC Porto lá fora. É esse o meu objectivo."
A equipa começou a época na Volta à Comunidade Valenciana e, tal como no ano passado, irá estar muito presente por Espanha. Caldeira referiu que a W52-FC Porto estará novamente em provas como a Volta a Castela e Leão, Comunidade de Madrid e Astúrias, mas também irá a Aragão. "Além de Espanha temos possivelmente algumas saídas à China, Turquia e outras corridas que acabamos por abrir o leque. Talvez Bélgica, Itália... Devagarinho a equipa vai começar a ir mais além fronteiras", realçou.
"Há algumas coisas que irão mudar e estão a mudar. Mais do que nada, agora temos de desfrutar e de nos concentrar para que tudo saia bem"
O director desportivo, Nuno Ribeiro, manteve o núcleo duro que tem sido garantia de sucesso da equipa e que inclui quatro vencedores da Volta a Portugal: Raúl Alarcón, Rui Vinhas, Gustavo Veloso e Ricardo Mestre. Este último ganhou ao serviço do Tavira. Samuel Caldeira é mais um dos ciclistas com papel central na equipa. Esta continuidade é um factor positivo neste momento de subida, na perspectiva do algarvio: "É confortável para nós. Acaba por ser uma adaptação minha e da equipa, não é só minha. Há algumas coisas que irão mudar e estão a mudar. Mais do que nada, agora temos de desfrutar e de nos concentrar para que tudo saia bem." E garantiu que entre as mudanças por esta subida de categoria está a mentalidade, a ambição e a "injecção de motivação" que os ciclistas receberam por agora estarem no nível Profissional Continental.
A este núcleo duro juntaram-se seis reforços, dois dos quais já bem conhecidos na equipa. Rafael Reis e Joaquim Silva são corredores que regressaram à W52-FC Porto. O primeiro esteve dois anos na Caja Rural, o segundo apenas um. O destaque para as escolhas das novas caras, é o facto de serem todas portuguesas. "Eu sempre disse que nós portugueses temos ciclistas, uns aqui, outros noutras formações, que têm bastante qualidade para fazer uma equipa a nível internacional para competir de igual para igual com as estrangeiras", afirmou, frisando precisamente a aposta que a W52-FC Porto faz nos ciclistas nacionais.
Edgar Pinto (ex-Vito-Feirense-BlackJack) e Daniel Mestre (Efapel) trouxeram, além de ainda mais qualidade, experiência, enquanto Jorge Magalhães e Francisco Campos, ambos ex-Miranda-Mortágua, são dois jovens promissores. Este último com características de sprinter, tal como Samnuel Caldeira. Será o seu sucessor? "Ele tem um futuro bastante bom pela frente. A curto prazo penso que estará a ganhar grandes corridas", disse.
Em 2017 conseguiu finalmente conquistar uma etapa na Volta a Portugal, depois de ter estado algumas vezes tão perto. Samuel Caldeira vê agora abrirem-se outras perspectivas e só pensa em aproveitar esta oportunidade, pois foi preciso esperar 10 anos para ver novamente uma equipa portuguesa a este nível.