(Fotografia: © BettiniPhoto/UAE Team Emirates) |
Mais do que nunca, aquele gesto de celebração e aquela expressão com dentes cerrados deixou transparecer alguma (provavelmente até muita) libertação de raiva e frustração, demonstrando tudo o que vai na alma de Alexander Kristoff. Desde que venceu dois monumentos em 2014 e 2015 que o norueguês tem estado constantemente a ter de provar que é um ciclista de topo e que merece ser um líder. Porém, tem revelado a capacidade de, por mais que as coisas lhe corram mal, conseguir aparecer com pelo menos uma grande vitória todas as épocas. Pode não ganhar muito nas principais corridas como outrora, mas ao juntar a Gent-Wevelgem deste domingo ao seu currículo, a lista é de respeito e deixa claro que mantê-lo como lançador de Fernando Gaviria será injusto.
A sua saída da Katusha foi inevitável, depois de ter tantas dificuldades em manter o nível que tinha demonstrado. Nunca deixou de ganhar, mas começou a vencer menos e parecia estar sempre a ver as costas dos principais rivais. Em 2015 chegou a somar 20 triunfos, tendo conquistado a Volta a Flandres, um ano depois de ter sido o mais forte na Milano-Sanremo e em duas etapas no Tour. Estava no topo, mas a queda (e a quebra) foi grande. Chegou ao ponto de ser acusado de estar gordo! Aguentou toda a desconfiança, tentando não se deixar afectar e desconfiar dele próprio. Na UAE Team Emirates reencontrou quem lhe oferecia tudo para ser líder, mas acabou por ser só durante 2018.
Não foi uma época fantástica, mas vencer nos Campos Elísios é o ponto alto de qualquer sprinter. Kristoff, então o campeão europeu em título, deixou novamente a mensagem que não estava acabado, mas, aos 31 anos, não conseguiu transmitir toda a confiança aos responsáveis de uma equipa com cada vez mais dinheiro e que agarraram a oportunidade de contratar Fernando Gaviria. O norueguês foi-se resignando ao facto de ter de ser um lançador e até já desempenhou e bem o papel, com o colombiano a elogiá-lo. Contudo, não estava, nem era possível alguma vez estar, satisfeito com essa quebra de estatuto.
Na Gent-Wevelgem, uma das mais importantes corridas do pavé, Kristoff admitiu que tinha de preparar o sprint para o companheiro. Era este o plano da UAE Team Emirates. Foi Gaviria quem lhe disse para tentar a sua sorte, já que não se sentia no seu melhor, depois de ter sido segundo na Driedaagse Brugge-De Panne, onde foi batido categoricamente por Dylan Groenewegen (Jumbo-Visma).
O norueguês aproveitou, mas já antes tinha mostrado quilómetros antes que não queria ser o número dois. Atacou, tentou apanhar a frente da corrida onde estavam, entre outros, Peter Sagan (Bora-Hangrohe) e Matteo Trentin (Mitchelton-Scott), demonstrando logo ali uma força e uma vontade de raiva de lutar por uma vitória que a chegada de Gaviria à equipa não lhe permite.
O norueguês aproveitou, mas já antes tinha mostrado quilómetros antes que não queria ser o número dois. Atacou, tentou apanhar a frente da corrida onde estavam, entre outros, Peter Sagan (Bora-Hangrohe) e Matteo Trentin (Mitchelton-Scott), demonstrando logo ali uma força e uma vontade de raiva de lutar por uma vitória que a chegada de Gaviria à equipa não lhe permite.
Foi então um esforço inglório, é certo, mas ficaram forças para um sprint aos bons velhos tempos de Kristoff. Numa corrida de 251,5 quilómetros, feitos a uma velocidade louca - a média ficou nos 46,2 quilómetros/hora, mas chegou a ultrapassar os 51 -, era difícil não haver uma perna cansada nos que conseguiram chegar à recta da meta na frente. Mas foi Kristoff que deixou desta vez todos a verem as suas costas.
Foi a segunda vitória do ano - menos uma do que Gaviria -, depois de uma etapa na Volta a Omã, onde desde 2014 vence sempre. Kristoff precisa de mais se quer sair da inconfortável posição em que ficou com a chegada de Gaviria. Ir ao Tour como líder do sprint é uma ilusão, em circunstâncias normais. No entanto, se conseguir manter o nível, talvez tenha aberto uma porta para mais oportunidades, sem ter o colombiano a limitá-lo. E estando em final de contrato, se o seu pensamento estiver em procurar, outra vez, uma equipa que lhe dê o estatuto de líder para o sprint e clássicas, então é este Kristoff da Gent-Wevelgem que tem de aparecer mais vezes e não apenas numa grande vitória por ano.
A concorrência é forte, as opções para contratar são muitas, mas este Kristoff vale a pena não deixar cair para segundo plano. Nesta altura precisa de consistência e tem de se mostrar nos monumentos que se aproximam. Daqui a uma semana é a Volta a Flandres, seguindo-se no domingo seguinte, 14 de Abril, o Paris-Roubaix.
E no início do ponto alto das clássicas do pavé - a Através da Flandres realiza-se na quarta-feira - Kristoff e Oliver Naesen (AG2R) são duas das principais figuras pela forma que estão a apresentar. Quem diria! O belga fez pódio na Milano-Sanremo e foi agora terceiro na Gent-Wevelgem. Não está fácil confirmar as expectativas criadas há dois anos, mas este Naesen promete. Já Peter Sagan e Greg van Avermaet (CCC), os eternos favoritos, levantam muitas dúvidas quando ao estado de forma. Ambos precisam de um bom resultado. E sim, a Deceuninck-QuickStep pode ser derrotada. Essa foi uma das lições da Gent-Wevelgem.
Pode ver aqui a classificação completa da 81ª edição da Gent-Wevelgem neste link, via ProCyclingStats.
Na corrida feminina, a holandesa Kirsten Wild (WNT-Rotor Pro Cycling) está a mostrar-se imbatível neste terreno, vencendo novamente, depois de ter conquistado a Driedaagse Brugge-De Panne. A portuguesa Daniela Reis (Doltcini-Van Eyck Sport) continua a fazer uma boa campanha de clássicas, terminando na 44ª posição, integrada no pelotão (resultados completos neste link).
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»»Rui Costa está bem após acidente e a pensar no próximo objectivo««What a race! A lot of attacks in the finale but in the end @Kristoff87 took the win in the sprint 🥇🇳🇴 pic.twitter.com/sO8pPSTwpU— GentWevelgem (@GentWevelgem) 31 March 2019
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