19 de março de 2019

Adeus Sky. Nova era arranca a 1 de Maio

(Fotografia: Facebook Team Sky)
Questão resolvida. A Sky já tem novo patrocinador e nem vai perder tempo a mudar o nome. Fica um sentimento de despedida depois de dez anos a dizer este nome, ligado a algumas das grandes vitórias e de grandes momentos do ciclismo recente. Pouco mudará, talvez "só" o orçamento, que até pode aumentar. Ou seja, o poderio financeiro da Sky continuará a marcar a diferença. Perdão, Ineos. A partir de 1 de Maio é assim que a equipa se chamará.

A estreia será no Tour de Yorkshire, que começa a 2 de Maio, ficando por perceber como será na Volta à Romandia, que arranca a 30 de Abril e termina a 5 de Maio. A equipa explicou em comunicado, sem se referir a esta situação específica, que as questões da mudança terão de ser discutidas com a UCI.

Nos últimos dias surgiram notícias que davam conta do iminente o anúncio que foi feito esta terça-feira. Vários dos ciclistas, quando questionados sobre o futuro da equipa, mostravam-se confiantes que o futuro da estrutura iria ficar resolvido em breve, dando mais umas dicas que tudo estava bem encaminhado.

O director, Dave Brailsford, e todos os corredores desejavam que fosse encontrada uma solução rapidamente e assim foi. Há já umas semanas que as havia indicações que a equipa Sky iria mesmo continuar. Não faltaram rumores - como o regresso de Oleg Tinkov -, ou reuniões que não resultaram em nada com empresas na Colômbia e até a Israel Cycling Academy chegou a ser mencionada que poderia fazer algo idêntico à aquisição da CCC da BMC. Mas não. O investimento continuará a ser britânico. 

O aumento de orçamento ainda está por confirmar, apesar da possibilidade estar a ser adiantada por alguns meios de comunicação social. Se já muito se fala do fosso entre a Sky e a maioria das equipas, então como será se o orçamento subir os estimados 45 milhões de euros de 2019? Muitas das equipas World Tour têm entre 10 a 15 milhões para gerir anualmente, depois há formações como a UAE Team Emirates que estão também a crescer financeiramente, mas ainda uns bons milhões abaixo da Sky.

As apostas feitas em jovens como Egan Bernal ou Pavel Sivakov estão mais do que garantidas e Dave Brailsford vai continuar a ter o melhor dos argumentos para contratar quem quer. Este era um dos desejos do director. Um orçamento mais baixo seria algo que não agradaria, contudo, nada como ter o apoio de Jim Ratcliffe, o homem mais rico do Reino Unido em 2018, segundo o Sunday Times, para garantir que a equipa britânica terá tudo para se manter no topo.

Quem é Jim Ratcliffe?

É o fundador da empresa de produtos químicos Ineos - que emprega 18.500 pessoas -, detém 60% desta e é detentor de uma fortuna estimada em 25 mil milhões de euros. Em 2017 era o 18º mais rico do seu país, mas em 12 meses subiu ao primeiro lugar. A sua entrada no ciclismo não será uma estreia no mundo do desporto. Ratcliffe já abriu os cordões da generosa bolsa para a Ineos patrocinar uma equipa de vela. Desembolsou quase 130 milhões de euros, segundo o próprio admitiu numa entrevista ao The Telegraph.

Adepto do Chelsea, também chegou a ser ligado a uma eventual compra do clube londrino, mas o dono continua a ser o russo Roman Abramovich. No entanto, Ratcliffe comprou em 2017 o clube da segunda liga suíça, FC Lausanne-Sport.

Ratcliffe, de 66 anos, não é uma figura consensual. Apoiante do Brexit, o empresário natural de Failsworth (perto de Manchester), estará a preparar uma mudança para o Mónaco, juntamente com dois dos homens fortes da Ineos, de forma a poupar nos impostos. Segundo o The Guardian, essa poupança seria no mínimo de 4,6 milhões de euros.

Outro assunto coloca Ratcliffe e a empresa na mira dos ambientalistas: a produção de plástico por parte da Ineos. Será uma das maiores produtoras deste material e alguns ambientalistas temem que o patrocínio à equipa seja uma forma de tentar limpar um pouco a imagem da Ineos. Há que recordar que em 2018 a Sky vestiu uma camisola especial durante a Volta a França. O equipamento reforçava uma campanha contra a utilização de plásticos e pretendia alertar para o impacto negativo que este material está a ter nos oceanos. Além disto, Ratcliffe tem sido muito crítico com o que os britânicos apelidam de "impostos verdes" da União Europeia.

Ineos assume todas as responsabilidades

A Sky tinha alertado que cumpriria com os seus compromissos até Dezembro de 2019. No entanto, a Ineos não esperará por 2020. Comprou a Tour Racing Limited (empresa que detém a equipa) e vai assumir todas as responsabilidades de gestão da equipa britânica. Isto significa que todos os contratos serão honrados, o que é um alívio para Brailsford que em 2018 renovou com algumas das suas figuras, como Geraint Thomas (até 2021) e Egan Bernal (até 2023), por exemplo. Thomas salientou isso mesmo num twit, ou seja, que todos os ciclistas da equipa vão continuar juntos. Os contratos dos membros do staff também se mantêm inalterados, tal como os acordos com os restantes patrocinadores.

Desde que foi tornado público que a Sky iria deixar de patrocinar a equipa, em Dezembro, que foi inevitável algumas equipas ficarem atentas ao que iria acontecer nos meses seguintes. Era o que se poderia chamar de uma lista de luxo de potenciais reforços. A CCC, por exemplo, não escondeu o desejo de contar com Michal Kwiatkowski, mas agora terá de esperar pelo menos até ao final de 2020, quando termina o contrato do polaco.

Com uma renovação de geração em curso - além de Bernal, há Iván Ramiro Sosa, Tao Geoghegan Hart, Pavel Sivakov... - a Sky, futura Ineos, vai continuar o seu trabalho que está a marcar uma era no ciclismo. Não se livra de polémicas - o pacote suspeito de Bradley Wiggins, o salbutamol de Chris Froome -, mas tudo decorrerá como programado para aumentar um impressionante currículo que conta com o domínio na Volta a França (seis vitórias em sete anos) e um Giro, mas também com dois monumentos (Milano-Sanremo e Liège-Bastogne-Liège), ainda que seja nas grandes voltas que mais se concentre. Para quem nasceu para ver um britânico ganhar uma corrida de três semanas, mais precisamente o Tour, tem sido uma caminhada impressionante.

Portanto, manter-se-á a questão de quem bate a Sky no Tour. Ou melhor, quem bate a Ineos.


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