6 de agosto de 2018

O que ainda podemos esperar da Volta (ou pelo menos desejar)

(Fotografia: PODIUM/Paulo Maria)
"Sabia que era a minha última hipótese. Sou sprinter e as subidas não são para mim." A frase de Riccardo Stacchiotti resume bem o que aí vem. A Volta a Portugal não é conhecida por ser para os puros sprinters. Por isso mesmo, escasseiam por cá. Subir e descer faz parte da corrida e a partir de quarta-feira, é subir e descer em etapas que se está a fazer um esforço enorme para não pensar que já está tudo decidido. O que se pode esperar? Por um lado a continuação do absoluto controlo da W52-FC Porto, como tão bem tem feito nos últimos anos. Por outro, talvez apareça mais alguém a juntar-se a Joni Brandão na inconformidade contra um domínio que demora a ser colocado em causa.

A W52-FC Porto continua noutro patamar comparativamente com as restantes cinco equipas de elite portuguesa. Excluímos aqui as três sub-25, cujos objectivos são diferentes. No entanto, sem Amaro Antunes, o conjunto de Nuno Ribeiro dá indicações de estar um pouco abaixo daquele apresentado há um ano. Mais fraco parece ser de mais dizer, mas talvez menos consistente. A etapa da Serra da Estrela, mesmo sem Torre, demonstrou isso. A equipa desfez-se rapidamente, mas com Alarcón na forma em que está e com os adversários na forma em que não estão, o resultado está a ser o mesmo de 2017. O espanhol está de camisola amarela e vai ser preciso algo especial para alguém lhe tirar esse símbolo de liderança.

Os dias de descanso são sempre uma incógnita, pois há ciclistas que não se dão muito bem. Com tanto calor nestes últimos dias, pode ser que faça bem a todos. Os 165,4 quilómetros entre Sernancelhe e Boticas serão muito exigentes. Quarta-feira será uma das etapas mais difíceis da Volta. Espera-se, portanto, atitude por parte de quem disse que veio discutir a Volta a Portugal. O que Joni Brandão fez nas Penhas da Saúde pode não ter terminado com o resultado desejado, mas o ciclista do Sporting-Tavira demonstrou que não vai entregar de mão beijada a vitória a Alarcón. Se está mesmo mais forte, se depender de Brandão (que está a 52 segundos), o espanhol vai ter de o mostrar.



Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano-Uli) está obrigado a tentar algo. 1:41 minutos já é uma distância de respeito. Não é ciclista de se conformar, mas a ver vamos se não terá a tentação de tentar salvaguardar um pódio, caso considere que não consegue fazer frente ao poderio azul e branco. Joni Brandão pode contar com um Sporting-Tavira melhor apetrechado de homens de trabalho, mas Mateos não de se pode queixar de Luís Fernandes, mas seria bom que David de la Fuente e Oscar Hernandez aparecessem mais fortes na recta final da Volta.

Se Edgar Pinto se sentir bem, é ciclista para também ele tentar um gesto ao estilo de Joni Brandão. Porém, o líder da Vito-Feirense-BlackJack está a 1:58 minutos. Chegar pelo menos o pódio dificilmente não entrará no pensamento de uma equipa que surgiu este ano e que quer dar uma prenda no 100º aniversário do clube.

A pensar mais no pódio estará João Benta, da Rádio Popular-Boavista. Já com 2:19 de atraso, é difícil aspirar a melhor. Já a Efapel até dessa luta poderá estar de fora se não atacar. É talvez das equipas que mais estará sobre pressão para alcançar algum resultado nas cinco etapas que faltam. Não conseguiu levar Daniel Mestre à vitória em nenhuma tirada, viu Sérgio Paulinho ficar a mais de cinco minutos e Henrique Casimiro fraquejou nas Penhas da Saúde e está a 3:34 de Alarcón.

Por vezes fala-se de alianças entre equipas, mas por cá pouco se vê. Porém, se todos tentarem algum tipo de ataque, pelo menos testarão a resistência da W52-FC Porto, que é forte, mas não inabalável.

Pode-se então esperar que alguém tente atacar e que Alarcón esteja à altura dos acontecimentos e certamente que se deseja que esta Volta ainda tenha algum espectáculo para oferecer e que não se fique presa ao poderio de uma equipa.

De recordar, que a Volta terá a última etapa em linha na Senhora da Graça. Antes da mítica subida haverão duas primeiras categorias (Alto da Barra e Barreiro), mas com as diferenças como estão, ninguém se poderá dar ao luxo de deixar tudo para sábado, até porque no contra-relógio Alarcón é superior a quase todos os rivais. Na quinta-feira, a chegada a Viana do Castelo é normalmente selectiva, mas na sexta será um sobe e desce constante entre Barcelos e Braga, antes que a Senhora da Graça dite o mais forte. Tudo terminará com o contra-relógio de Fafe.

Stacchiotti repete vitórias no dia em que Vinhas sofreu

(Fotografia: PODIUM/Luís Braga)
Um pormenor que poderá mudar a postura dos adversários da W52-FC Porto será a permanência ou não de Rui Vinhas na Volta. O vencedor de 2016 embateu contra um carro da caravana e ficou muito mal tratado. Falou-se de um heróico Lawson Craddock (EF Education First-Drapa p/b Cannondale) no Tour. Por cá, foi Vinhas quem assumiu esse papel. Rosto ensanguentado, várias feridas no corpo e um equipamento feito em farrapos. Toda a equipa o apoiou, especialmente o amigo Alarcón. Ainda tentou fazer o seu trabalho, mas acabou por recuar no pelotão, onde Rafael Reis (Caja Rural), antigo companheiro na equipa portuguesa de Vinhas, manteve-se algum tempo ao lado do ciclista. Acabou por perder contacto, mas terminou a etapa. Agora é esperar para saber o que os resultados dos exames hospitalares vão ditar (ainda não são conhecidos aquando da publicação deste texto). Mesmo que continue, ficará sempre a dúvida se estará nas melhores condições para ajudar Alarcón.

Vinhas foi o destaque que não queria ser num dia do mais normal que há no ciclismo. Uma fuga, uma perseguição, umas tentativas de ataques tardios e um sprint para fechar. Neste aspecto Riccardo Stacchiotti não dá hipóteses. Não houve quem o ameaçasse e deixou todos a vê-lo pelas costas. Depois de vencer em Albufeira, conquistou Viseu e empatou com Raúl Alarcón em número de vitórias de etapa. Uma estadia em Portugal muito produtiva para a equipa romena MSTina Focus, que também ganhou uma tirada no Grande Prémio Nacional 2, por intermédio do mesmo ciclista.

Estamos a falar de um corredor que poderá estar agora no escalão Continental, mas passou quatro temporadas na Nippo-Vini Fantini (Profissional Continental), tendo inclusivamente participado em duas Voltas a Itália. Este tipo de experiência acaba por fazer a diferença em corridas como a Volta a Portugal, onde os homens mais rápidos do pelotão nacional não têm um currículo que se aproxime de Stacchiotti.

Os 191,7 quilómetros entre Sabugal e Viseu não determinaram mudanças nas classificações: Alarcón está de amarelo e de azul (montanha), Mateos de verde (pontos), Xuban Errazkin (Vito-Feirense-BlackJack) de branco (juventude) e o Sporting-Tavira lidera colectivamente. Pode confirmar ao pormenor aqui.


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