29 de junho de 2019

Dobradinhas confirmadas mas foi necessário lutar muito para as alcançar

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Melgaço está a testar ao máximo as capacidades dos ciclistas que procuram os títulos nacionais. O percurso é duro e o calor tem aquecido as corridas. Uma jovem sub-23 tentou ameaçar a experiente Daniela Reis, mas a qualidade de uma atleta do World Tour fez a diferença, mesmo estando num dia menos bom. Já João Almeida, também ele um favorito, teve bastante trabalho para deixar para trás um Fábio Costa batalhador e mais um corredor a confirmar a excelente temporada da UD Oliveirense-InOutBuild. As esperadas dobradinhas confirmaram-se nos Nacionais, mas não foram fáceis de alcançar.

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
A corrida de sub-23 acabou por concentrar grande parte da emoção do dia, como era expectável. Almeida não entrou na fuga inicial, onde já estava Fábio Costa. O ciclista da Hagens Berman Axeon acabou por recuperar o terreno perdido para entrar na frente da corrida ainda com mais de 100 quilómetros do fim. As últimas duas das seis voltas da corrida (143,2 quilómetros) tiveram Almeida e Costa isolados, com Hélder Gonçalves (UD Oliveirense-InOutBuild) e Marcelo Salvador (Sicasal-Constantinos) a serem os últimos a ceder. Mas atrás foi feita uma perseguição feroz e que chegou a ameaçar ainda baralhar a decisão da corrida. Tarde de mais, com João Almeida a fazer um derradeiro ataque já perto da meta que quebrou de vez a resistência do seu rival do dia.

"Tem um significado muito especial conquistar este título. Desde início que me senti muito bem. Decidi arriscar naquela volta quando ninguém estava à espera, para ter tempo de descansar um bocado. Gastei muita energia para chegar lá, mas consegui chegar e depois foi poupar energias. No fim, foi dar o que tinha", explicou um exausto João Almeida. Há um ano tinha somado dois segundos lugares nos Nacionais de Belmonte, então batido pelos gémeos Oliveira (Ivo no contra-relógio e Rui na prova de fundo). Porém, até pelos resultados internacionais que estava a alcançar - venceu a Liège-Bastogne-Liège de sub-23, por exemplo, mas não só -, estes eram uns títulos nacionais que se sabia que ficariam muito bem a João Almeida.

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
A luta de Fábio Costa ajudou a dar ainda mais valor à conquista deste jovem ciclista, que está a evoluir numa das melhores equipas de formação do mundo e de onde já saíram para o World Tour grandes nomes do ciclismo mundial, destacando-se também três portugueses: Ruben Guerreiro (actualmente na Katusha-Alpecin, depois de dois anos na Trek-Segafredo) e os gémeos Oliveira (UAE Team Emirates). 2019 não está a ser tão positivo como o ano anterior para João Almeida, mas o corredor de 20 anos espera agora virar a página.

Fábio Costa terminou a 11 segundos do vencedor, com Bernardo Saavedra (Vito-Feirense-PNB) a conquistar a medalha de bronze, cortando a meta a 36 segundos, menos um que André Carvalho, outro português na Hagens Berman Axeon (classificações neste link, via ProCyclingStats, com atenção que Bernardo Saavedra está como João Leite, que é também parte do seu nome).

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Para Daniela Reis (Doltcini-Van Eyck Sport), os Nacionais de Melgaço não foram apenas para cumprir calendário. Se se confirmou que não tinha rival, ainda assim, a dificuldade do percurso de 88,6 quilómetros e um dia em que não se sentiu a 100%, acabou por provocar alguns problemas à ciclista que se sagrou tetracampeã nacional (2015, 2016, 2018 e 2019). "Não foi fácil. Tive a noção que não estava num dia bom. Esta [vitória] foi sofrida. Foi gerir e dar tudo na última volta. Foi conseguir uma vantagem para a minha adversária porque o ciclismo é assim, há dias muito bons, há dias menos bons. Felizmente deu para a vitória", afirmou, após ter confirmado mais uma dobradinha, pois na sexta-feira já tinha revalidado o título de campeã nacional de contra-relógio.

Se a maior parte do pequeno pelotão de elite ficou rapidamente para trás, logo na primeira volta (alinharam 20 ciclistas, tendo terminado 12), Daniela Reis teve a companhia a companhia de duas jovens talentosas. Numa concorrência directa estava Raquel Queirós, corredora da Quinta das Arcas-Jetclass-Xarão, que está no seu primeiro ano como sub-23. Porém, como no ciclismo feminino de estrada, não há este escalão e Raquel estreou-se na elite nos Nacionais. Terminou a 2:10 minutos de Daniela Reis, mas só começou a descolar na terceira volta, deixando boas indicações para o futuro. Bem longe da discussão da corrida, mas com direito a lutar e conquistar a medalha de bronze, esteve Sandra Santos (Eneicat), que terminou a 6:19 minutos da vencedora (classificações, via ProCyclingStats).

No entanto, houve outra ciclista a impressionar. É mais uma Daniela, mas de apelido Campos e é melhor decorar este nome. É júnior, mas fez parte do trio da frente. Vários escalões juntam-se para fazer a prova feminina: cadetes, júniores, elites, master 30, 40 e 50 (difere a distância). É certo que Daniela Campos tinha menos uma volta para fazer (66,1 quilómetros no total) do que as duas outras corredoras, mas tendo em conta a idade e a fase de evolução em que está, principalmente comparando com Daniela Reis, não deixou de impressionar. A ciclista das 5Quinas-Município de Albufeira-CDASJ venceu sem discussão no seu escalão, com a segunda classificada a ficar a 10 minutos (Rafaela Ramalho, da equipa Maiatos) e a terceira a 11:22 (Beatriz Martins, da Bairrada).

Daniela Reis gostou do que viu quanto às jovens adversárias e que num futuro próximo poderão ser rivais de muito respeito. "Vim um bocado sem saber porque faz agora um ano da última vez que corri em Portugal. Vi algumas Taças e já sabia que havia miúdas novas a andar muito bem. É excelente para o ciclismo. Não sabia o que esperar delas. Sei que treinei para estar bem aqui e sabia o que tinha de fazer. Fico muito feliz que haja miúdas novas a quererem fazer o ciclismo andar para a frente, a superarem-se", salientou.

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
A primeira ciclista a chegar ao mais alto nível do ciclismo mundial vai agora fazer novamente as malas, pois seguem-se corridas no estrangeiro e Daniela Reis admitiu que está numa boa forma e que quer procurar obter bons resultados.

Em Melgaço foram atribuídos seis títulos nacionais. As cadetes e masters cumpriram a distância de 43,6 quilómetros:

Elite: Daniela Reis (Doltcini
Júnior: Daniela Campos (5Quinas-Município de Albufeira-CDASJ)
Cadete: Beatriz Roxo (Maiatos)
Master 30: Nadia Mendes (CE Gonçalves-Azeitonense)
Master 40: Ana Neves (Bike & Nutrition Shop)
Master 50: Maria Jesus (5Quinas-Município de Albufeira-CDASJ)

Este domingo será a vez da elite masculina sair para a estrada, como 197 quilómetros à espera do pelotão, com partida (11 horas) em Castro Laboreiro e chegada em Melgaço. Será que José Gonçalves (Katusha-Alpecin) consegue também a dobradinha? O irmão, Domingos (Caja Rural), é o campeão em título.




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