30 de março de 2021

Volta ao Algarve ganha forma

© João Fonseca Photographer
É desta! Esperemos bem que sim... O percurso da Volta ao Algarve, versão de Maio (5 a 9), foi apresentado e não há alterações de maior ao tradicional de anos recentes. O perfil de sucesso mantém-se, com duas etapas de montanha, duas de sprint e o contra-relógio. Desta feita, o esforço individual não fechará a 47ª edição, como aconteceu em 2020 (num dos últimos momentos de verdadeira normalidade antes da pandemia virar o mundo do avesso), com o Malhão a retomar o seu lugar como o local de decisão do vencedor.

Uma das novidades está no arranque da Algarvia. Lagos tornou-se numa cidade de vitórias para os melhores sprinters do mundo, mas em 2021 irá receber a partida da corrida com categoria mais elevada em Portugal. A Volta ao Algarve pertence ao circuito ProSeries e é uma das provas deste escalão que mais apela às grandes equipas mundiais. Para se saber quais são - se a Algarvia tivesse ido para a estrada em Fevereiro teria havido um recorde de formações do World Tour na prova -, vamos ter de esperar um pouco mais, mas é expectável que estejam alguns sprinters de renome a procurar ganhar em Portimão.

Local de partida em edições recentes, receberá o final da primeira etapa em 2021, que terá 189,5 quilómetros de extensão. Desde 2012 que Portimão não estava nesta condição. Então assistiu-se a Bradley Wiggins vencer o contra-relógio, meses antes de conquistar a Volta a França.



Na segunda etapa, vamos até à Fóia. A habitual subida na Serra de Monchique tem sido palco de bons espectáculos de ciclismo. Ali venceram nos dois últimos anos dois jovens talentos: Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep) e Tadej Pogacar (UAE Team Emirates). Michal Kwiatkowski (Sky) foi o melhor em 2018 e nestas três edições, quem ganhou na Fóia, conquistou a Algarvia.

A lindíssima paisagem de Sagres marcará o início de uma tirada com 182,8 quilómetros. Nos derradeiros 30 haverá três subidas e no total deste exigente dia, o pelotão somará um acumulado de 4100 metros.



O contra-relógio que, quando não fecha a corrida, surge por vezes na terceira etapa, será apenas no sábado. Ou seja, antes haverá mais uma oportunidade para os sprinters. Dia longo na sexta-feira, com 203,1 quilómetros e com Tavira a manter a tradição de uma chegada sempre emocionante para os homens mais rápidos. A tirada começa em Faro.



Pelo quarto ano consecutivo, Lagoa é o local eleito para o contra-relógio, no habitual percurso de 20,3 quilómetros. Dia importante que surge antes da subida ao Malhão.



Serão 170,1 quilómetros com muito sobe e desce. A fase final terá a subida em Vermelhos (3,2 quilómetros a 5,9%, a 43,1 quilómetros da chegada), Ameixeiras (apenas um quilómetro, mas a 14%, a 32,2 quilómetros da meta) e Alte (2,1 quilómetros a 5%, a 14 quilómetros do final). E depois, claro, o Malhão: 2,6 quilómetros com inclinação média de 9,2%. Este ano só se subirá uma vez ao Malhão.

Miguel Ángel López (Astana) venceu no ano passado, com Zdenek Stybar (Deceuninck-QuickStep) a surpreender em 2019, quando na época anterior Kwiatkowski dominou não só na Fóia, mas também no Malhão. E em 2017? Foi o grande momento do ciclismo nacional em tempos recentes na Volta ao Algarve, com o homem da casa a vencer: Amaro Antunes (W52-FC Porto).


A 47ª edição da Volta ao Algarve, adiada para Maio devido à pandemia, mantém o percurso que tanto sucesso lhe tem proporcionado. Deixando de ser uma corrida de início de temporada e coincidindo com a Volta a Itália, a corrida portuguesa poderá atrair tanto os ciclistas que se concentraram nas clássicas e que começam a olhar para os objectivos mais adiante na temporada, assim como aqueles que estão a preparar a Volta a França.


29 de março de 2021

A espera está a terminar. Conheça o calendário nacional para 2021

© Federação Portuguesa de Ciclismo
A espera já tem fim à vista... E espera-se que a pandemia não troque mais as voltas em 2021 no ciclismo nacional. Enquanto lá por fora várias corridas têm decorrido, o que tem permitido ter um sentimento de alguma normalidade, faltava o "nosso" pelotão regressar ao activo. Já tinha sido anunciado que dia 11 de Abril a elite vai finalmente competir, mas serão os sub-23 a inaugurar o calendário nacional de estrada este ano, no dia antes. O calendário mantém-se com muitas provas, com duas novidades e o objectivo de prolongar as corridas para lá da Volta a Portugal.

Tal como aconteceu no ano passado, Anadia será novamente o local de arranque numa fase de pandemia. Em 2020 foi com uma Prova de Reabertura, um contra-relógio individual, ganho por Rui Costa (UAE Team Emirates). Em 2021, mantém-se a recente tradição de uma Prova de Abertura na Região de Aveiro arrancar a temporada, normalmente em Fevereiro, mas estes não são tempos nada normais, pelo que será desta feita em Abril.

Circuito CAR Anadia será disputado no dia 10 (sábado) pelas equipas de clube, com 129 quilómetros à espera dos jovens ciclistas que quase não competiram em 2020 Será um circuito, no mesmo traçado utilizado na temporada passada na referida Prova de Reabertura.

No dia seguinte será a vez do pelotão profissional matar saudades da competição. Esperam aos ciclistas 172 quilómetros, com início em Aveiro e chegada em Anadia. O percurso, maioritariamente plano, passará por todos os concelhos da Comunidade Intermunicipal Região de Aveiro. A subida de segunda categoria, em Talhadas, a 40 quilómetros da chegada, será o único ponto montanhoso e o maior obstáculo ao previsível domínio dos roladores e dos sprinters.

Ambas as provas contarão para a Taça de Portugal Jogos Santa Casa, que contará com mais duas corridas: a Clássica Aldeias do Xisto, a 25 de Abril, e a Volta a Albergaria, no dia 30 de Maio.

Segue-se um calendário com naturais ajustes ao inicialmente agendado, no qual se destaca a entrada do Grande Prémio do Douro Internacional (10 a 13 de Junho) e a Clássica de Viana do Castelo (3 de Julho). Duas provas que contribuem para mais dias de corridas, num ano em que o Grande Prémio Jornal de Notícias (30 de Agosto a 5 de Setembro) e a Rota da Filigrana (18 de Setembro) - prova que se estreou no calendário em 2019 - dão mais objectivos às equipas depois da Volta a Portugal.

A principal prova para as equipas portuguesas tende a centrar muito (quase totalmente) as atenções dos ciclistas que por cá competem, mas há muito que se reclamava por mais provas, além dos habituais circuitos de Agosto, de forma a estender a época. Num país com condições meteorológicas tão favoráveis quase até ao Inverno, corridas nessa altura do ano são muito bem-vindas, ainda mais depois de toda esta espera até Abril, quando a temporada deveria ter arrancado em Fevereiro.

De referir ainda o Campeonato Nacional de Rampa. Regressou ao calendário em 2020 e vai manter-se com um dia muito especial. A subida será à mítica Senhora da Graça. 12 de Setembro é um dia a marcar na agenda.

Destaque ainda para as formações de clube. Além de serem elas a abrir o temporada velocipédica em Portugal, terão outras provas "exclusivas", continuando também a competir com o pelotão profissional em várias das corridas do calendário. O Troféu Ribeiro da Silva será composto por três corridas e não só será importante para revelar jovens talentos, como será uma merecida homenagem a uma das referências do ciclismo nacional e um dos melhores enquanto sub-23.

Prémio Anadia Capital do Espumante (31 de Julho), Circuito da Curia (1 de Agosto) e o GP Rota dos Móveis (19 de Setembro) completam o novo troféu em disputa para os sub-23.

No feminino também se nota uma maior aposta e até haverá uma Volta a Portugal, em versão reduzida, mas são passos que se dá na direcção certa para desenvolver mais a modalidade por cá entre as mulheres. Irá para a estrada entre 20 e 22 de Agosto e acrescenta-se mais uma prova por etapas, o Grande Prémio da Beira Alta (12 e 13 de Junho).

Em Janeiro publicou-se um calendário que muito se queria que se concretizasse. Ficámos novamente confinados e em Portugal isso significou que o ciclismo ficou parado. As equipas continuam dedicadas a preparar uma temporada que está finalmente a ganhar forma. Que seja desta que o calendário se torne realidade, rumo a uma verdadeira normalidade em 2021, 2022 e adiante.

De referir ainda que Portugal vai receber o Campeonato do Mundo de Paraciclismo. O Autódromo do Estoril foi o palco eleito para as competições, que se realizarão entre 9 e 13 de Junho.

Neste link pode conferir, na página da Federação Portuguesa de Ciclismo, as provas de estrada agendadas para esta temporada de todos os escalões. Em baixo fica o calendário de elite.

Ciclistas, directores desportivos, massagistas, mecânicos, adeptos, jornalistas... quem gosta de ciclismo já sente falta de também por cá se viver o ambiente das corridas. Dia 11 de Abril teremos as primeiras pedaladas.

Calendário de elite:

➤ 11 de Abril: Prova de Abertura Região de Aveiro (Taça de Portugal Jogos Santa Casa)

➤ 25 de Abril: Clássica Aldeias do Xisto (Taça de Portugal Jogos Santa Casa)

➤ 2 de Maio: Clássica da Arrábida 

➤ 5 a 9 de Maio: Volta ao Algarve 

➤ 13 a 16 de Maio: Grande Prémio O Jogo

➤ 29 e 30 de Maio: Memorial Bruno Neves 

➤ 30 de Maio: Volta a Albergaria (Taça de Portugal Jogos Santa Casa)

➤ 2 a 6 de Junho: Grande Prémio Abimota

➤ 10 a 13 de Junho: Grande Prémio do Douro Internacional

➤ 18 de Junho: Campeonato Nacional de Contra-relógio, em Vila Velha de Ródão

➤ 20 de Junho: Campeonato Nacional de Fundo, em Castelo Branco

➤ 23 a 27 de Junho: Volta ao Alentejo

➤ 3 de Julho: Clássica de Viana do Castelo

➤ 4 de Julho: Grande Prémio Anicolor

➤ 16 a 18 de Julho: Grande Prémio de Torres Vedras - Troféu Joaquim Agostinho

➤ 4 a 15 de Agosto: Volta a Portugal

➤ 20 de Agosto: Circuito de Alcobaça

➤ 22 de Agosto: Circuito da Malveira

➤ 23 de Agosto: Circuito da Moita

➤ 23 de Agosto: Circuito de Nafarros

➤ 30 de Agosto a 5 de Setembro: Grande Prémio Jornal de Notícias

➤ 18 de Setembro: Rota da Filigrana

➤ 5 de Outubro: Festival de Pista de Tavira

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20 de março de 2021

Jasper Stuyven, a surpresa numa Milano-Sanremo táctica e a alta velocidade

© Trek-Segafredo/Getty Images
O perfil da Milano-Sanremo faz cair na tentação de se pensar que, dos cinco monumentos, é o que tem potencial para ser mais aborrecido, até à fase final. 300 quilómetros (este ano 299), muito planos e com subidas que em nada se comparam a uma Flandres ou Lombardia e sem pavés. Não é por acaso que esta corrida é conhecida pelo monumento dos sprinters, ainda que o Poggio e a Cipressa tantas vezes destroem essa ideia. No entanto, essa sensação de possível corrida em que pouco ou nada acontece até aos quilómetros finais não podia ser mais errada, na maioria das edições. Van der Poel não atacou a 50 quilómetros da meta, Van Aert não deu nenhum do seus espectáculos, mas toda a preparação de várias equipas até o Poggio foi de grande beleza táctica. A Milano-Sanremo deste sábado foi um exemplo do melhor que o ciclismo tem, sem ser preciso empedrados ou subidas míticas.

Se inevitavelmente as individualidades ganham destaque, é no colectivo que está o "segredo" de como se prepara o caminho para uma vitória. Depois dos ataques monstruosos de Mathieu Van der Poel em corridas recentes, era o que mais se esperava na Milano-Sanremo. Seria mesmo? Vendo bem as coisas, seria mais do que expectável que tal não acontecesse. A qualidade deste pelotão e o estar em causa a conquista de um monumento fez com que nenhuma equipa estivesse disponível para dar oportunidade ao holandês de tentar o que já se tornou uma imagem de marca do ciclista da Alpecin-Fenix.

O ritmo da corrida foi aumentando e tornou-se óbvio que o objectivo de equipas como a Deceuninck-QuickStep era de garantir que não houvesse surpresas, pelo menos até ao Poggio, onde a maioria das edições se têm decidido nos últimos anos. Da equipa belga era de esperar, afinal contava com Julian Alaphilippe, vencedor em 2019. Sam Bennett tentou aguentar o quanto pôde, mas não ia ser um ano para sprinters, a não ser que se fosse Caleb Ewan. Mas já lá vamos.

Já Ineos... De repente parecia que se estava no Tour, nos bons velhos tempos da equipa britânica. Primeiro com Filippo Ganna e depois com o "capitão" Luke Rowe, o ritmo na Cipressa foi infernal. Esta é a nova Ineos. Uma formação que olha mais além do Tour, ou das três grandes voltas. Uma transformação que está a ser feita sob o efeito Thomas Pidcock.

Ainda tão jovem, 21 anos, acabadinho de chegar ao World Tour, mas a mostrar uma enorme irreverência em procurar desde cedo impor-se e ganhar. Não resultou na Milano-Sanremo e a Ineos viu o inglês ficar de fora do top 10 (o que nem surpreende, visto não ser um percurso que lhe assente bem - ainda assim foi à luta), sem esquecer que também contava com Michal Kwiatkowski, antigo vencedor da prova, mas num momento de forma bem diferente de Pidcock. Não resultou, mas esta Ineos começa a gerar um interesse bem maior nas clássicas.

Por esta altura, Van der Poel - sempre o holandês a chamar a atenção - lá tinha mesmo de fazer um arranque, mas apenas para melhorar um mau posicionamento. Wout van Aert (Jumbo-Visma) é um ciclista bem mais rigoroso nesse aspecto. Porém, o jogo táctico e de colocação continuava a ir muito além de um já pouco ou nada provável ataque de Van der Poel. A Bora-Hansgrohe jogava com Max Schachmann, enquanto Peter Sagan ainda apanhou um ligeiro susto no Poggio, mas não descolou por completo. Aparecia Greg van Avermaet (AG2R-Citröen) e Michael Matthews (BikeExchange). "Velha" guarda vs nova geração! Só podia dar espectáculo.

Pelo meio, o pequeno Caleb Ewan (Lotto Soudal) mostrava porque é entre os chamados sprinters puros aquele que menos se assusta com subidas perto da meta. Já se o viu ganhar em rampas que um sprinter prefere meter uma velocidade mais lenta, mas no Poggio revelou como tinha não só a lição bem estudada, como não o intimidava qualquer aceleração de um Van Aert, por exemplo. Aliás, a postura do australiano pode muito bem ter custado um segundo triunfo consecutivo ao belga da Jumbo-Visma. Com Ewan na roda, Van Aert não perseguiu Stuyven como era necessário para que o sprint não fosse pelo segundo lugar... que Ewan garantiu.

E, entre os nomes referidos à exaustão como candidatos, de primeira ou segunda linha, surgiu um Jasper Stuyven que parecia estar a cair na hierarquia da Trek-Segafredo nas clássicas, muito devido a um Mads Pedersen a melhorar cada vez mais após a conquista do título mundial. Talvez por isso mesmo e também por ser mais conhecido como ciclista forte no pavé, o belga da Trek-Segafredo foi subestimado. Atacou na descida no Poggio. A reacção da concorrência demorou. Até foi Pidcock o primeiro a tentar juntar-se a Stuyven, sem sucesso. Van Aert foi quem mais assumiu a perseguição, com ataques de outros ciclistas. Um deles Soren Kragh Andersen (DSM), que chegou a Stuyven e, inadvertidamente, foi uma ajuda preciosa. O dinamarquês não teve pernas para fazer mais que nono, mas o tempo em que esteve na frente, permitiu a Sutyven ganhar fôlego para sprintar e não se deixar apanhar por todos aqueles que lideravam as apostas.

O próprio admitiu que, se queria tentar ganhar, tinha de fazer algo, arriscar e dar tudo, tudo, tudo. O risco compensou. Para se ser um grande ciclista há que ganhar aos melhores e esta classificação da Milano-Sanremo é de luxo.

Stuyven conta com triunfos na Kuurne-Bruxelles-Kuurne, na Omloop Het Nieuwsblad, venceu uma etapa na Vuelta, entre outros sucessos. Contudo, quando surgiu no World Tour foi apontado como um potencial grande homem de clássicas, mas simplesmente não conseguiu concretizar as altas expectativas. Nunca deixou de ser regular, terminando em posições de topo, mas faltava aquela grande vitória. Pensar-se-ia que viria numa Volta a Flandres ou num Paris-Roubaix, mas Stuyven aproveitou não estar no radar de ninguém na Milano-Sanremo para concretizar mais uma surpresa, numa vitória que lhe fica muito bem, pela carreira que tem feito, mesmo que não seja o mais ganhador dos ciclistas.

Não só não se pode cair na tentação de pensar que a Milano-Sanremo pode ser o mais aborrecido dos monumentos, como se pode esperar que é o que maior surpresa pode trazer. Vincenzo Nibali, um trepador por excelência, vencedor das três grandes voltas, foi lá ganhar em 2018. Um quase desconhecido Gerald Ciolek venceu em 2012, num ano memorável de uma clássica da Primavera realizada num dia do mais rigoroso Inverno, apenas para referir dois exemplos. Junta-se agora Jasper Stuyven, um belga que, apesar de se comportar como um veterano dado os anos de profissionalismo, ainda só tem 28 anos.

E é impossível não referir Philippe Gilbert. Se Peter Sagan há muito que luta por colocar a Milano-Sanremo no seu currículo depois de já ter estado tão próximo - boas indicações do eslovaco depois de começar a época mais tarde devido à covid-19 -, o belga tem este monumento como o último grande objectivo da carreira. Só lhe falta a Milano-Sanremo para completar os cinco, mas aos 38 anos a missão é difícil. É um ciclista que para ganhar precisa de poder atacar e evitar um sprint, mas com o ritmo elevado da corrida deste sábado, rapidamente ficou claro que seria impossível o belga fechar o ciclo dos monumentos. Fica a faltar uma última tentativa em 2022, ano que marcou como o da sua despedida.

Classificação completa, via ProCyclingStats.

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15 de março de 2021

O difícil caminho da credibilização

© João Fonseca Photographer
Foi mais um golpe para o ciclismo nacional, que em tempos recentes tem visto alguns ciclistas serem suspensos por doping. A confirmação da sanção a Raúl Alarcón termina (finalmente) com um processo que se arrastava desde Outubro de 2019 e demonstra como o caminho da credibilização da modalidade em Portugal continua com percalços e com trabalho a fazer. Mas que vai sendo feito.

Mas se se tem de suspender, que se o faça. Se alguém não joga limpo, que seja retirado do jogo. Seja quem for. A sanção de Alarcón atingiu outro mediatismo entre as quatro recentes que aconteceram. Vencedor de duas Voltas a Portugal e líder da equipa que tem dominado o ciclismo em Portugal, o espanhol tornou-se numa das referências do pelotão nacional na W52-FC Porto, que vê agora o projecto ficar marcado por um caso de doping que lhe custa uma vitória na Volta.

Uma, porque, em 2017, o segundo classificado foi Amaro Antunes, então companheiro de Alarcón. Em 2018, Joni Brandão - que representava o Sporting-Tavira - ficou atrás do espanhol na geral. Terão de se fazer mais rectificações nas classificações entre 28 de Julho de 2015 e 21 de Outubro de 2019. Uma já está confirmada. Em Espanha, a organização da Volta às Astúrias já declarou Nairo Quintana como o vencedor da edição de 2017, que havia sido ganha por Alarcón.

Que seja reposta a verdade desportiva, ainda que ninguém esteja a celebrar vitórias atribuídas desta forma, o que se compreende.

Enquanto se acertam estes pormenores classificativos nas muitas corridas em que Alarcón participou durante as épocas incluídas na sanção, o ciclismo nacional recebe novamente uma publicidade negativa, numa altura muito delicada para a modalidade.

Com a pandemia, as restrições e os problemas em colocar provas na estrada, as equipas lutam para manterem-se activas, sabendo que ou competem, ou não têm forma de dar retorno ao investimento de patrocinadores. E estes não abundam. Já não abundavam e com a crise a crescer, a saúde financeira de muitas empresas pode "desviar" investimentos no ciclismo.

Todos os escalões estão a sofrer com a situação, com a elite a conseguir manter as nove equipas que tem no escalão Continental. Notícias do arranque da temporada demoram em chegar - deverá acontecer em Abril -, contudo, o doping acaba por marcar esta espera por corridas. Em Janeiro, Domingos Gonçalves foi suspenso por uso de métodos e/ou substâncias proibidas, a mesma razão apontada pela UCI a Alarcón. Quatro anos para ambos, com o espanhol de 34 anos a estar suspenso até 20 de Outubro de 2023.

Em Dezembro de 2020, Rinaldo Nocentini e Xuban Errazkin também receberam pesadas sanções, ainda que nenhum estivesse a competir. No entanto, foram mais dois ciclistas com passagem por Portugal a entrar na lista de suspensões da UCI.

Não tem sido fácil credibilizar o ciclismo nacional, ainda com algumas feridas por sarar do caso Liberty Seguros em 2009. "Credibilização" foi a palavra utilizada por Delmino Pereira. O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo considera que estamos perante uma demonstração que o sistema funciona. "O ciclismo é das modalidades que tem um sistema mais eficaz e evoluído do mundo, e estamos numa onda de maior credibilização da modalidade. Só que este processo pode resultar no que aconteceu agora, mas acho que a modalidade está no bom caminho", disse à Lusa.

Que este caminho de credibilização inclua o fim de um clima de suspeição, para que aqueles que jogam limpo, que honram a modalidade com trabalho e dedicação, não sejam arrastados para rumores que nada ajudam para a sobrevivência de um ciclismo a precisar de boa publicidade para recuperar do rombo de falta de competição devido à pandemia. Que se valorize e respeite quem merece.

Numa época em que tanto se fala de testar, testar, testar, que se o faça em Portugal, sem facilitismo, no ciclismo. É uma modalidade que historicamente tem estado sob pressão, com casos que marcam um dos piores lado do desporto, mas que, internacionalmente, soube mudar as regras e a forma de as aplicar e, assim... credibilizar. Que não se veja como perseguição, mas como forma de garantir que ninguém esteja a tentar fugir à verdade desportiva.

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11 de março de 2021

Atitude muito pouco de Wolfpack

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Estava ali à vista. Naqueles momentos que a meta parece estar tão perto, mas, ao mesmo tempo, a sensação que falta uma eternidade para lá chegar. João Almeida deu tudo. Poderia estar naqueles metros finais o caminho para a sua primeira vitória como ciclista do World Tour. Ficou sozinho, os "companheiros de fuga" não tiveram pernas. Almeida não desistiu apesar da perseguição feroz do que restava do pelotão. Geraint Thomas, Mathieu van der Poel, Wout van Aert, Julian Alaphilippe... que perseguidores de luxo. Bom, Alaphilippe não. Afinal é colega de equipa de Almeida. Pois...

O que se viu no final da segunda etapa do Tirreno-Adriatico foi uma exibição muito pouco de Wolfpack. Sim, esteve lá a garra, a táctica e a execução final para selar mais uma vitória em 2021. E já são 10. Porém, atacar um colega de equipa que está a dar tudo o que tem e não tem para ganhar, é simplesmente desleal. Vê-se pouco no ciclismo (felizmente), mais inesperado é ver-se numa Deceuninck-QuickStep que se auto-intitula de Wolfpack (alcateia) para dar ênfase à sua forma de estar na modalidade, sempre em prol do colectivo, em que todos (ou quase) acabam por ter a sua oportunidade para brilhar e todos ajudam para que o faça.

Claro que há estatutos. E Julian Alaphilippe tem um muito, muito alto. Não só na equipa, como no pelotão em geral. E vestir a camisola de campeão do mundo é apenas um dos feitos que ajudaram a cimentar o francês como um dos ciclistas mais respeitados. Contudo, um verdadeiro campeão também sabe respeitar quem num dia, em vários dias, pode estar ao seu lado a trabalhar para que Alaphilippe possa vencer.

O ataque de Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) tinha encurtado em muito a já escassa vantagem de João Almeida. Para trás tinha ficado Pavel Sivakov e só depois Thomas, seu colega de equipa, atacou... Se Alaphilippe não tivesse acelerado, talvez Almeida tivesse sido igualmente ultrapassado. Não se apresentava fácil a missão, mesmo com a meta ali tão perto. Se, se, se... A história não se escreve de "ses". Alaphilippe, como colega, como até líder, deveria ter respeitado o português e esperado que outro ciclista acelerasse primeiro.

Claro que na sua mente esteve, provavelmente, o receio de voltar a perder para Mathieu van der Poel, como aconteceu na Strade Bianche. E quase assim foi. Se não tem arrancado naquele momento, Alaphilippe teria tido dificuldade em bater o holandês da Alpecin-Fenix. Viu a oportunidade de conquistar mais uma vitória e não hesitou. Desportivamente nada a dizer. Cumpriu. Mas a que custo?

João Almeida nada tem com que se preocupar. Está a crescer como ciclista. A fazer  seu caminho.. Fez o que lhe competia. Infelizmente ficou sem "companheiros de fuga" um pouco cedo e fazer o que acabou por ser um autêntico sprint a subir, durante mais de 1500 metros para fugir aos perseguidores, não é fácil. Grande exibição, grande atitude. A vitória há-de chegar.

Numa altura em que se fala que a UAE Team Emirates estará a tentar contratar o ciclista para 2022 - está em final de contrato com a Deceuninck-QuickStep - sentir o respeito de todos, principalmente de alguém como Alaphilippe é importante. João Almeida já tem o seu estatuto, mas, naturalmente, ainda não está ao nível de Alaphilippe.

Já na Volta a Itália, que revelou todo o talento e potencial de Almeida ao mais alto nível do ciclismo, Fausto Masnada não tinha sido um corredor com atitude de Wolfpack. Tinha acabado de chegar à equipa, é italiano... mas não lhe ficou bem não ajudar mais. Esta atitude de Alaphilippe, ainda assim, custa mais a digerir.

A João Almeida resta continuar o seu trabalho e espera-se que possa também ele contribuir para o elevado número de triunfos que, ano após ano, a Deceuninck-QuickStep alcança. Com as exibições que tem feito, já ninguém o perde de vista e a continuar assim, poderá ver-se na situação bem agradável de poder escolher o que pretende para 2022 e adiante, seja na equipa belga, ou não. E este Tirreno-Adriatico ainda não acabou. Está na luta.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

Veja o vídeo dos metros finais da segunda etapa da prova italiana (Camaiore-Chiusdino, 202 quilómetros).

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2 de março de 2021

Van der Poel é quase tudo, mas Alpecin-Fenix vai mais além

© Photo News/Alpecin-Fenix
Alpecin-Fenix, a ProTeam com regalias World Tour. Vencer o ranking do segundo escalão do ciclismo em 2020, abriu as portas das grandes corridas mundiais, sem ter de esperar por convites. Foi um passo importante numa equipa que tem um dos ciclistas mais importante e mais popular do pelotão. Mathieu van der Poel por si só atrai muitos patrocinadores. Porém, não basta. Há que somar bons resultados, até porque, se não há pretensão de obter uma licença World Tour, mas se se quer ter esse calendário, há que ganhar novamente o ranking. A Alpecin-Fenix está a mostrar isso mesmo. Que pode ser mais do que Van der Poel.

Porém, não restam dúvidas, o holandês será sempre a principal história. Um companheiro ganhou esta terça-feira o Le Samyn... Van der Poel é o destaque porque com a manete direita partida, abdicou de lutar pela vitória e ajudou a preparar o sprint final! Não é qualquer um que faz isso, é certo. No entanto, Tim Merlier merece ser "primeira página" pelo excelente sprint que realizou... E sim, finalizando de forma perfeita o trabalho e esforço de Van der Poel.

O holandês já tem uma vitória, na primeira etapa da Volta aos Emirados Árabes Unidos - a equipa abandonou logo de seguida devido a um caso positivo de covid-19 entre o staff - e, depois de uma época de ciclocrosse onde ganhou, ganhou e ganhou, está na estrada para juntar mais uns grandes triunfos ao monumento da Flandres, conquistado em 2020.

A Alpecin-Fenix fez o que muitos considerariam impossível quando Van der Poel começou a mostrar-se na estrada. "Segurou" o ciclista, mesmo não sendo equipa World Tour. E pretendentes com muito dinheiro não faltaram. O holandês também quis ficar onde se sente bem. Onde é rei e tem uma palavra (ou muitas) a dizer sobre o que faz ou deixa de fazer.

Para equipas que apostam muito num ciclista, há sempre o risco de num ano menos bom, haver poucas vitórias, menor notoriedade e já se sabe que é preciso manter os patrocinadores felizes.

Mesmo sabendo que Van der Poel é notícia por quase tudo (caso da manete é exemplo disso), esteja bem ou esteja menos bem, contratar atletas como Jasper Philipsen (quebrou contrato com a UAE Team Emirates para se juntar à equipa belga), Silvan Dillier (AG2R), Xandro Meurisse (Circus-Wanty Gobert), Edward Planckaert (Sport Vlaanderen-Baloise) ou Laurens de Vreese (Astana), demonstra como a pretensão é não só garantir que a sua estrela tem apoio quando quiser - da forma como anda a atacar, para já tem andado muito por sua conta -, mas também opções para disputar vitórias.

© Photo News/Alpecin-Fenix
Merlier (na foto ao lado, a vencer o Le Samyn) comprovou como há mais soluções, principalmente no que a clássicas e sprints diz respeito. Meurisse pode dar algo mais nas gerais em provas por etapas. Petr Vakoc, Dries de Bondt, Louis Vervaeke são outros ciclistas que podem ser chamados a um papel de primeiro plano em certas ocasiões, tal como Sacha Modolo, ainda que o sprinter italiano há muito que anda longe da melhor forma. E há mais dentro de um vasto plantel, de uma formação que quer aproveitar bem esta regra da UCI que permite uma ProTeam ter vida de World Tour.

É também importante para que todos saibam que Van der Poel é a estrela, mas que eles também têm são valorizados. Um bom ambiente numa equipa é essencial e Van der Poel demonstrou que se for preciso trabalha para um companheiro. Outro pormenor muito importante.

Saber ir além das suas estrelas é uma forma de garantir a sobrevivência. Que o diga a Bora-Hansgrohe que apostou quase tudo em Peter Sagan, mas com o passar das épocas soube contratar e ir além do eslovaco. Quando Sagan começou a obter menos resultados, tinha ciclistas para cobrir o sucesso desportivo, enquanto Sagan continuou a ser a referência para os patrocinadores, mesmo ganhando menos.

Mas claro, por mais que a Alpecin-Fenix queira que vários dos seus ciclistas tragam bons resultados, é Mathieu van der Poel que suporta quase todo o mediatismo da equipa. E vitórias procuram-se nesta fase das clássicas e muita atenção vai haver sobre o holandês quando se estrear no Tour, mais à frente na temporada. Sábado é dia de Strade Bianche e do que se vai falar? Van der Poel vs Wout van Aert (Jumbo-Visma).

Percebe-se porque uma marca como a Alpecin deixou de patrocinar uma equipa do World Tour para se mudar para uma ProTeam que tem Van der Poel. Percebe-se porque a Canyon tenha feito um contrato específico com o ciclista, para que este fosse a imagem da marca de bicicletas. Percebe-se também que a forma de estar do holandês é de correr de forma livre, atacando a 80 quilómetros da meta, como fez na Kuurne-Bruxelles-Kuurne, mas também terá de selar grandes vitórias, daquelas que o colocarão na história como um dos melhores. Contudo, para já, gosta de as alcançar em grande estilo. Alguém consegue esquecer-se da Amstel Gold Race em 2019?!

Classificação completa, via Pro CyclingStats. De referir que o único português em prova, Bernardo Gonçalves (Lviv Continental Cycling Team), não terminou a corrida devido a uma queda aos 86 quilómetros, dos 205,4.

A prova feminina foi ganha ao sprint pela belga Lotte Kopecky (Liv), com a portuguesa Maria Martins (Drops-Le Col s/p Tempur) a também abandonar.

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