2016 estava quase a terminar quando chegou a confirmação: a Movistar tinha contratado Nuno Bico, um dos ciclistas portugueses de maior talento da nova geração. Aos 22 anos, o corredor de Viseu ia tornar-se no quarto português a estrear-se no World Tour em 2017, juntamente com Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo), José Gonçalves (Katusha-Alpecin) e José Mendes (Bora-Hansgrohe). Dois meses depois do início da nova fase da carreira, Nuno Bico sente-se completamente integrado na equipa espanhola, não hesitando dizer o quanto está a adorar a experiência: "Agora quero aproveitar e aprender ao máximo porque, ao fim e ao cabo, sou um benjamim no meio de tanta gente experiente."
A Movistar está a preparar calma e minuciosamente Nuno Bico para voos mais altos. Fez a estreia nas corridas do Challenge de Maiorca, marcando depois presença na Volta ao Algarve e na Volta ao Alentejo. Porém, ainda este ano deveremos ver o português nas clássicas do pavé e também nas Ardenas. "[A presença] depende de como recuperar fisicamente", explicou o ciclista ao Volta ao Ciclismo. Confessou que a preferida é a Liège-Bastogne-Liège, mas Nuno Bico revela ter os pés bem assentes na terra e não tem pressa de estar já nas principais corridas: "A equipa tem um lote de ciclistas muito forte, pelo que um lugar nesse monumento é muito difícil. Um passo de cada vez. Se não for este ano será para o ano ou no próximo."
"Eles [responsáveis da Movistar] querem apenas que me integre, que faça o trabalho que me peçam e que, acima de tudo, me sinta bem, me sinta em casa!"
É nas corridas de um dia que Nuno Bico sempre demonstrou ter mais talento e o jovem não esconde que são as suas favoritas. "Todas as corridas têm o seu encanto, mas as clássicas têm uma magia inexplicável", realçou. E foi precisamente numa prova deste género que o ciclista provavelmente convenceu de vez a Movistar. Nos Mundiais do Qatar, Nuno Bico foi uma das principais figuras da corrida de sub-23. Esteve na fuga e foi quem mais trabalhou, sendo apenas alcançado já com poucos quilómetros para o fim. "Os Mundiais foram uma ajuda, sem dúvida", confirmou. Naquela altura, o corredor já sabia que não poderia continuar na Klein Constantia, pois a equipa satélite da então Etixx-QuickStep ia fechar portas no final do ano. Não ia subir à equipa belga do World Tour, pelo que tinha de encontrar uma alternativa. "Houve algum interesse da Movistar logo em Outubro, mas não se confirmou, nem se negou. Fui correndo e felizmente fechou-se um contrato e aqui estou eu pronto para enfrentar este desafio", afirmou.
Tudo o que está a viver desde Janeiro "é um mundo novo" para Nuno Bico. "São os melhores do mundo", salientou, acrescentando que considera que tem "de melhorar em tudo" como ciclista. "Há que aprender ao máximo com eles e tentar ver o que eles fazem todos os dias e absorver todos esses ensinamentos", referiu. E conta com uma ajuda preciosa: a de Nelson Oliveira. que está na equipa desde 2016, mas já tem uma experiência de seis anos no World Tour. "Temos um bom relacionamento e como ele já está integrado no grupo, torna tudo muito mais fácil", admitiu.
Apesar das muitas diferenças que encontrou ao chegar ao mais alto nível do ciclismo, Nuno Bico realçou que a experiência que teve na Klein Constantia "ajudou muito": "Agora estamos a falar de uma equipa onde há uma hierarquia muito bem definida. Tem os seus líderes e nós temos de desenvolver o nosso trabalho em prol de outros. No ano passado, no escalão de sub-23, as corridas eram muito mais desorganizadas e no World Tour não é assim. Claro que é necessário fazer uma adaptação, mas está a correr tudo muito bem."
Naturalmente que existe pressão, mas a Movistar está a oferecer muita tranquilidade ao jovem português: "Eles [responsáveis] querem apenas que me integre, que faça o trabalho que me peçam e que, acima de tudo, me sinta bem, me sinta em casa!" E é assim que Nuno Bico se sente, em casa e cada vez mais confiante.