26 de fevereiro de 2017

Sagan e Ewan aprenderam rapidamente com os erros

Ewan já ia festejar quando Kittel o ultrapassou, no sprint da 2ª etapa em Abu Dhabi
(Fotografia: Facebook Volta a Abu Dhabi)
Mesmo os mais experientes fazem erros. Faz parte de qualquer profissão, de qualquer atleta de alta competição. Por outro lado, quando ainda se está numa fase de desenvolvimento, há lições que podem ser muito dolorosas e a forma como se as "encaixa" e como as colocam em prática, pode ser a diferença entre um atleta se tornar num vencedor, ou ficar a ver os outros vencerem. Quando já se tem alguma experiência, é preciso saber admitir que não se é invencível e que se está sempre a aprender. Este domingo assistimos aos dois casos. O primeiro refere-se a Caleb Ewan, o segundo a Peter Sagan. Ambos conquistaram vitórias depois de dois erros quase de principiantes em dias anteriores. Sagan já se sabe que é um ganhador, mas pode ser ainda mais se começar a assimilar melhor algumas lições. Quanto a Ewan, a juventude e a emoção pregaram-lhe uma dura partida, mas o australiano está agora pronto para se impor entre a elite dos sprinters.

Comecemos por Caleb Ewan. O australiano tem apenas 22 anos, mas desde 2014 que a Orica-Scott acredita que está perante um talentoso sprinter. No ano seguinte foi à Volta a Espanha conquistar uma etapa, mas 2016 não foi exactamente o ano de afirmação que se esperava. No que diz respeito em debater-se com os melhores, Ewan mostrou na época passada ainda não estar preparado. Começou 2017 em grande no seu país: quatro vitórias no Tour Down Under, mais a classificação por pontos. Porém, continuava a faltar aquele triunfo em frente dos grandes nomes. O momento parecia ter chegado na segunda etapa da Volta a Abu Dhabi. Tudo bem feito pela Orica-Scott e Ewan já levantava os braços quando Marcel Kittel o passou. Mais do que um erro de principiante, é um daqueles humilhantes e que é preciso estofo para recuperar. Dois dias depois, chegou a redenção e a prova que Ewan tem o que é necessário para se debater com os melhores, tanto física, como psicologicamente.



Foi com autoridade que bateu Mark Cavendish e André Greipel e o pequeno australiano, -que sprinta de forma tão estranha, deitado no guiador - admitiu publicamente o erro de festejo precoce, mostrando que custou, mas que foi uma lição que perdurará para o resto da carreira. E se era preciso mais provas, desta feita até teve tempo para festejar antes de cortar a meta, mas só o fez depois! Pelo sim, pelo não! Há que não esquecer, tem apenas 22 anos. É pequeno e com umas constituição física bem diferente de sprinters como Kittel e Greipel, mas Ewan, assim como Fernando Gaviria (Quick-Step Floors), são desde já os líderes de uma nova geração de sprinters que está preparada para se impor nos grandes momentos da temporada.

Quanto a Peter Sagan, com tantos segundos lugares seria de esperar que já tivesse a fórmula certa para não cometer erros básicos. Porém, isto é ciclismo e uma decisão mal feita num segundo e estraga-se horas de trabalho. Foi o que aconteceu no sábado na Omloop Het Nieuwsblad. A forma como quis controlar Avermaet no sprint final, abrindo espaço na curva, deixando caminho aberto para o belga foi algo estranho de se ver. Depois faltaram pernas para apanhar Avermaet. Sagan foi ainda criticado por ter trabalho durante muitos quilómetros antes da formação do trio que disputaria a vitória. Porém, é a forma de Sagan correr e se é certo que tem de se resguardar um pouco mais, também é verdade que é quase contranatura ver Sagan jogar à defesa.

Peter Sagan conquistou a primeira vitória de 2017
(Fotografia: ©BORA-hansgrohe/Stiehl Photography)
Na Kuurne-Bruxelles-Kuurne, Sagan não deixou de trabalhar bastante, ainda que teve mais ajuda, até porque o grupo era composto por cinco ciclistas. Porém, o factor decisivo foi a forma como encarou a última curva antes da recta da meta. Preocupou-se em ficar bem colocado e não em ver como estavam os outros. Depois foi esperar pelo momento certo para atacar. Quase parece fácil quando se vê Sagan ganhar assim. E desta vez não houve Avermaet para estragar a festa do eslovaco. A "besta negra" do campeão do mundo ficou para trás quando Jasper Stuyven atacou e não foi atrás de Sagan quando o ciclista da Bora-Hansgrohe resolveu ir para a frente da corrida.

Por falar em Bora-Hansgrohe, certamente que os responsáveis estarão mais tranquilos. A sua grande estrela mostrou que aprende rápido e conquistou a primeira vitória da equipa desde que a formação alemã - que conta com o campeão nacional José Mendes - chegou ao escalão World Tour. Ainda assim, é um pouco preocupante ver que ninguém consegue acompanhar Sagan para o ajudar em momentos importantes das corridas. O eslovaco está habituado, é certo - teve uma grande escola na Tinkoff -, e há muito que se "desenrasca" sozinho. Mas ainda assim, esperava-se mais da Bora-Hansgrohe como equipa.

Veja aqui os resultados da clássica belga.

Lições aprendidas e vitórias conquistadas. Para Ewan foi a primeira frente aos melhores, para Sagan a primeira de 2017. Tanto um como outro certamente que terão oportunidade para mais festejos. É muito provavelmente uma questão de começar a contar e, para Sagan, o difícil costuma ser conquistar a primeira vitória, depois... engata!

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