24 de fevereiro de 2017

Sagan, Avermaet, Boonen... A época das clássicas vai começar

(Fotografia: Facebook Volta a Flandres)
Antes das atenções se virarem para as competições de três semanas, chega uma altura do ano muito especial do ciclismo: a das clássicas. É a emoção das corridas de um dia com enorme tradição principalmente em terras belgas e francesas. O pavé que faz parte de algumas das mais icónicas corridas, ao que se junta muitas vezes o mau tempo que torna as provas nuns desafios infernais para os ciclistas e num espectáculo admirado por muitos fãs. Chegou o momento de grandes estrelas entrarem em acção, a maior de todas Peter Sagan, ainda sem vitórias este ano, mas já com uns segundos lugares, outra tradição (mais recente) do ciclismo! No entanto, se há um ano o eslovaco dividiu as atenções com Fabian Cancellara, que estava a fazer a despedida, em 2017 irá fazê-lo com outro dos maiores classicistas de sempre: Tom Boonen está mesmo na recta final, pois a 9 de Abril, no Paris-Roubaix, terminará uma carreira de sucesso invejável. E claro, Greg van Avermaet tem contas pendentes a ajustar, pois quando finalmente venceu uma clássica na Bélgica e parecia encaminhado para lutar pelos monumentos da Volta a Flandres e Paris-Roubaix, sofreu uma queda no primeiro e teve de assistir pela televisão à restante época das clássicas em 2016.

Tudo começa este sábado com a Omloop Het Nieuwsblad. A corrida belga irá fazer a sua estreia no calendário World Tour, uma subida que limita-se a confirmar a importância que já tinha. Em 71 edições contou com grandes vencedores e sempre foram muitos os ciclistas de renome que fizeram questão de estar presente na corrida. Em 2016, Greg van Avermaet finalmente venceu uma prova de um dia no seu país, confirmando a sua alcunha de "besta negra de Sagan", pois deixou, como já o fez noutras ocasiões, o eslovaco na segunda posição. No domingo, será a vez de outra clássica histórica. A Kuurne-Bruxelles-Kuurne é de categoria 1.HC, mas contará praticamente com o mesmo pelotão que estará na Omloop Het Nieuwsblad.

Durante os próximos dois meses haverá muita acção para se assistir. Aqui fica uma lista de ciclistas a seguir.

Tom Boonen (36 anos, Quick-Step Floors)
(Fotografia: Quick-Step Floors)
É uma questão de respeito começar pelo belga. Afinal estamos a falar de um dos grandes especialistas do ciclismo neste tipo de corrida que anunciou que chegou o momento de se retirar. Os últimos anos não têm sido fáceis para Tom Boonen. Ou não conseguia apresentar-se na melhor forma, ou uma queda acabava por lhe estragar a fase do ano que mais gosta. É preciso não esquecer que até se destacou como sprinter no início da carreira, mas foi nas clássicas que construiu o seu maior legado. Inevitavelmente as quatro vitórias no Paris-Roubaix e as três na Volta a Flandres são os seus maiores feitos, ao lado dos Mundiais em 2005. 2012 foi um ano memorável para Boonen, sendo quase imbatível nas clássicas, tendo conquistado pela última vez os dois monumentos. O objectivo de 2017 é terminar a carreira com uma vitória no Paris-Roubaix, depois de no ano passado ter sido surpreendido por Mathew Hayman. Mas até lá quer mais uns triunfos. E a julgar pelas provas que já realizou este ano, Boonen deverá apresentar-se em boa forma e nada melhor que começar as clássicas com uma conquista que falta no seu currículo: a Omloop Het Nieuwsblad.

Peter Sagan (27 anos, Bora-Hansgrohe)
(Fotografia: Bora-Hansgrohe)
É o maior especialista da actualidade. Porém, ainda só conta com um monumento, conquistado precisamente no ano passado, na Volta a Flandres. Em qualquer clássica que Sagan participe dificilmente (e estranhamente) não será considerado o principal favorito. No entanto, tem uma tendência em somar segundos lugares. Claro que isso significa que está na luta pelas vitórias e o próprio não se deixa abater por tal, preferindo de imediato pensar em ganhar a próxima corrida. Contudo, depois de dois Mundiais conquistados, cinco classificações por pontos do Tour e 89 vitórias como profissional aos 27 anos, o eslovaco quererá definitivamente afirmar-se como o rei das clássicas, sendo apontado como o ciclista que tem todas as qualidades para conquistar os cinco monumentos, ainda que a Lombardia não seja uma corrida que aprecie muito. A sua inteligência, a sua potência, o seu estilo de ataque tornaram-no numa referência. Agora é altura de consolidar um currículo que tem tudo para ser um dos mais impressionantes do ciclismo. Boonen, por exemplo, tem 113 vitórias como profissional.

Greg van Avermaet (31 anos, BMC)
(Fotografia: BMC)
2016 só não foi perfeito porque a queda com elementos da sua equipa na Volta a Flandres retirou-lhe a possibilidade de lutar por essa corrida e depois pelo Paris-Roubaix. No entanto, depois de anos a ver da primeira fila outros ganharem, Avermaet começou a somar triunfos e no ano passado venceu finalmente uma corrida na Bélgica. Apesar da queda, o ano teve tudo para ser memorável por boas razões. Venceu o Tirreno-Adriatico (bateu Sagan, pois claro), venceu uma etapa no Tour e vestiu a camisola amarela e foi campeão olímpico. O belga conquistou o seu espaço na BMC, que não se preocupou em tentar segurar Philippe Gilbert. Avermaet será o único líder da equipa para esta altura do ano e estando no seu melhor momento da carreira, é de esperar vê-lo sempre entre os primeiros... se não mesmo em primeiro.

Philippe Gilbert (34 anos, Quick-Step Floors)
(Fotografia: Quick-Step Floors)
O belga tenta reencontrar-se com as vitórias. Depois de dominar no início da década, a passagem pela BMC acabou por ser um pouco aziaga. Parecia que Gilbert tinha tudo para se transformar num dos grandes classicistas da história. Porém, depois de três monumentos em outros tantos anos (duas Lombardias e uma Liège-Bastogne-Liège), a última grande vitória numa clássica data de 2014, quando conquistou a sua terceira Amstel Gold Race. Na Quick-Step Floors, o ciclista espera recuperar algum dos prestígio perdido. Nesta primeira fase das clássicas estará mais no apoio a Boonen - algo que não o incomodará muito, pois não é um fã do pavé -, mas depois do Paris-Roubaix, terá caminho aberto para liderar a equipa, ainda que Niki Terpstra terá também sempre a sua oportunidade para lutar por vitórias.

John Degenkolb (28 anos, Trek-Segafredo)
(Fotografia: Trek-Segafredo)
Depois de um 2016 para esquecer - foi atropelado na pré-época e quase perdeu um dedo -, Degenkolb mudou de ares. Deixou a Giant-Alpecin e assinou pela Trek-Segafredo, que acredita que o alemão tem tudo para ocupar o lugar deixado vago por Fabian Cancellara. Em 2015 conquistou a Milano-Sanremo e o Paris-Roubaix e Degenkolb quer construir um grande currículo nas clássicas. As indicações de início do ano são muito animadoras. Conta com uma vitória e na Volta ao Dubai, tendo estado na luta nos sprints nessa corrida e também na Volta ao Algarve. Degenkolb está a recuperar as melhores sensações como ciclista e é um dos nomes a ter em conta. No entanto, não o vamos ver este fim-de-semana. Não está inscrito para a Omloop Het Nieuwsblad e não aparece na lista de pré-inscritos da Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Irá ao Paris-Nice antes de atacar os três monumentos: Milano-Sanremo, Volta a Flandres e Paris-Roubaix.

Jasper Stuyven (24 anos) e Edward Theuns (25)
(Fotografias: Trek-Segafredo)
A Trek-Segafredo apresenta-se com um lote muito forte de ciclistas para as clássicas. Se não há John Degenkolb, então a equipa americana joga com dois jovens de grande talento. Jasper Stuyven já comprovou que é homem para estas corridas, principalmente no inferno do pavé. Em 2010 venceu o Paris-Roubaix no escalão de juniores e no ano passado conquistou a Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Stuyven - vencedor da Volta ao Alentejo em 2013 - é uma das grandes esperanças da Trek-Segafredo, assim como Theuns. Porém, neste caso, há uma incógnita: Theuns sofreu uma queda muito grave no contra-relógio da Volta a França. A lesão nas costas fê-lo temer que o seu primeiro ano no World Tour seria o último. Recuperou, mas falta saber se conseguirá regressar ao seu melhor, para assim continuar a evoluir. Talento tem, agora é uma questão de perceber se o corpo está 100% recuperado e se mentalmente Theuns está pronto para enfrentar situações perigosas como as descidas, pois foi numa que caiu no Tour.

Tiesj Benoot (22 anos, Lotto Soudal)
(Fotografia: Lotto Soudal)
É um diamante em bruto. É muito jovem, pelo que poderemos ter de esperar algum tempo para o ver ganhar uma grande clássica. Ou talvez não... Benoot já tem resultados de nota nestas corridas, pelo que pode não ser um dos favoritos, mas é um candidato. No ano passado foi terceiro na Omloop Het Nieuwsblad e em 2015 foi quinto na Volta a Flandres. O recente vencedor da classificação da juventude na Volta ao Algarve tem tudo para se tornar na próxima referência belga nas clássicas, numa altura que Boonen vai dizer adeus e Gilbert e Avermaet já têm mais de 30 anos. A idade poderá traí-lo no que diz respeito à experiência que pode ser muito importante para corridas tão imprevisíveis como são as do pavé, por exemplo. Porém, a inteligência com que corre, revela maturidade para os apenas 22 anos que tem. É um corredor a seguir com atenção e os grandes nomes sabem que não o podem perder de vista.

Sep Vanmarcke (28 anos, Cannondale-Drapac)
(Fotografia:
Cannondale-Drapac)
O belga regressou a uma estrutura que já conhecia para tentar desbloquear a situação de ficar perto de ganhar, mas não conseguir a vitória. Sofre de uma espécie de síndroma de Avermaet. Soma pódios no Paris-Roubaix e Volta a Flandres e mais uns top dez em clássicas. Venceu em 2012 a Omloop Het Nieuwsblad, mas fica sempre perto de fazer algo mais. Porém, falta aquele bocadinho... É um ciclista feito para as corrida do pavé. Tem a estrutura física, a resistência e a inteligência necessária para triunfar. O que falta a Vanmarcke? Pode-se sempre dizer que lhe falta sorte, mas a verdade é que no momento da verdade, o belga não consegue dar a machada final, acabando por ver outros vencer. Na Cannondale-Drapac, Vanmarcke sabe que é o líder indiscutível para as clássicas. Não que não o fosse na Lotto-Jumbo, mas a formação holandesa tinha outros ciclistas também com as mesmas pretensões. A Cannondale-Drapac não hesitou em recuperar o belga, pois bem que precisa de alguém que lhe traga vitórias. A ver vamos se a união resulta.

Alexander Kristoff (29 anos, Katusha-Alpecin)
(Fotografia: Katusha-Alpecin)
Do norueguês nunca se sabe bem o que esperar. Nos três últimos anos foi capaz do melhor e do pior. Já tem uma Milano-Sanremo e uma Volta a Flandres. Porém, em 2016 ambicionou a muito, mas passou ao lado de praticamente todos os grandes momentos. Esta temporada não começou mal. Soma três vitórias em etapas e duas classificações por pontos. A Katusha-Alpecin de José Azevedo deu um voto de confiança muito forte a Kristoff ao contratar ciclistas para o ajudarem e não foram uns corredores quaisquer. Tony Martin estará ao lado do norueguês e depois do que fez em 2016 na Etixx-QuickStep nas clássicas do pavé (algo que até surpreendeu), Martin, poderá ser o verdadeiro gregário de luxo que Kristoff precisa para regressar aos bons velhos tempos... Não foram há muito, mas Kristoff já sente a pressão de precisar de voltar a conquistar grandes vitórias, ainda mais em ano de Mundiais no seu país.

E há muito mais...
Claro que estes são apenas alguns dos destaques. A lista de ciclistas a ter em conta é de respeito, o que apenas torna as corridas ainda mais interessantes. Niki Terpstra (Quick-Step Floors), Arnaud Démare (FDJ) - o primeiro conta com o Paris-Roubaix, o segundo com uma Milano-Sanremo -, Ryan Anderson (Direct Energie), Adam Blythe (Aqua Blue Sport), Stijn Vanderbergh (AG2R), Luke Rowe (Sky), Jurgen Roelandts (Lotto Soudal) e Lars Boom (Lotto-Jumbo) são outros ciclistas a seguir. E estamos a falar dos chamados classicistas, que aparecem já nas corridas de pavé, porque quando chegarmos à semana das Ardenas, outros nomes se juntarão, casos de Alejandro Valverde (Movistar) e de Rui Costa (UAE Team Emirates), por exemplo.

No que diz respeito a portugueses, o campeão do mundo de 2013 voltará a apostar forte na Liège-Bastogne-Liège, depois de no ano passado Wout Poels (Sky), lhe ter "tirado" a vitória. Já Nelson Oliveira (Movistar) está escalado para a Volta a Flandres e para o Paris-Roubaix, corrida que no ano passado não lhe correu bem. Caiu e foi obrigado a estar um tempo longe da competição.

Nem na Omloop Het Nieuwsblad (198,3 quilómetros), nem na Kuurne-Bruxelles-Kuurne (200,7) haverá portugueses, mas não faltam motivos de interesse. A começar que a meteorologia não estará nada simpática, algo que da perspectiva de quem assiste descansado no sofá às corridas é sempre mais uma razão para esperar espectáculo. Ambas as corridas têm transmissão em directo no Eurosport.

Veja aqui a lista de inscritos para a Omloop Het Niewsblad.

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