Aos 30 anos, Luís Mendonça vive um sonho que poderá atingir um nível que muitos dificilmente acreditariam ser possível quando há três anos resolveu ser ciclista. Chamaram-lhe louco, mas para o atleta a sua decisão e o que alcançou desde então são a prova que "nunca é tarde para nada". Convidado pela Funvic Soul Cycles-Carrefour para competir na Volta a Portugal, a inesperada oportunidade vai estender-se até à China, onde voltará a representar a equipa brasileira, Profissional Continental, na esperança de garantir um contrato.
"É realmente uma lição de vida. Nunca é tarde para nada. Quando entrei para o ciclismo todos me apelidaram de louco. Diziam que com a idade que tinha o corpo já não ia reagir a nada", recordou ao Volta ao Ciclismo. Luís Mendonça referia-se ao facto de na altura ser modelo (e também barman) e ter um corpo muito musculado. "[O corpo] estava muito virado para a moda e nada virado para o ciclismo." Foi um árduo caminho para conseguir cumprir aquilo que mais desejava: ser ciclista profissional. "Curiosamente, perder músculo é mais difícil do que perder gordura", afirmou, sorrindo. Explicou que "demorou o seu tempo a modificar o corpo, a afinar, a perder peso e a perder músculo", mas agora sente-se um ciclista. De 85 quilos, passou a pesar 68.
Foi aos 27 anos que resolveu levar a modalidade a sério, mas Luís Mendonça já tinha participado em competições: "Não posso dizer que fui um ciclista a sério porque fazia épocas de dois/três meses e deixava. Ia competindo..." Acrescentou que a faculdade também não o permitiu progredir como queria, mas agora que apostou a sério no ciclismo quer ver "até onde vai dar esta evolução".
A inesperada presença na Volta a Portugal
A competir pela Sicasal/Constantinos S.A/UDO, Luís Mendonça realizou um bom início de temporada. O ciclista considera que o terceiro lugar no Grande Prémio Abimota abriu-lhe "bastantes portas". Através do seu empresário, Diogo Sousa, surgiu a oportunidade de fazer a Volta a Portugal pela Funvic Soul Cycles-Carrefour.
"Não estava a contar ir à Volta a Portugal e cheguei lá com algum desgaste. Depois houve uma segunda surpresa: o andamento da Volta! Muito forte", admitiu Luís Mendonça, que ainda assim disse que a competição "correu acima das expectativas". "Apontei para seis etapas para chegar ao sprint. Chegaram algumas fugas o que limitou mais boas prestações. Mas três top dez... acho positivo." Na geral foi 56º a mais de uma hora do vencedor, Rui Vinhas.
"Com 30 anos, interessa-me mais a parte monetária. Não posso andar aí a salários mínimos. Tenho que aproveitar cada dia, aprender tudo muito rápido"
E a Funvic também teve a mesma opinião, pois resolveu levar o português até à Volta à China, que começa no dia 9 de Setembro. O desejo é conseguir assinar "um bom contrato para 2017". Luís Mendonça não tem dúvidas que a equipa brasileira será a melhor opção, comparativamente com as equipas portuguesas. "Em termos de profissionalismo talvez as portuguesas sejam melhores. Na Funvic ainda estamos a aprender muita coisa, mas com 30 anos, interessa-me mais a parte monetária. Não posso andar aí a salários mínimos. Tenho que aproveitar cada dia, aprender tudo muito rápido", salientou.
Na China, o ciclista do Porto sabe que "vai ser duro", mas mostra-se muito motivado para garantir um contrato com a Funvic. "A equipa quer crescer... quer contratar mais portugueses."
A garra, alegria e ambição com que compete comprovam que os 30 anos e o início tardio não impedem Luís Mendonça de procurar uma boa carreira no estrangeiro. E quando se fala em idade, o ciclista imediatamente refere exemplos: "Davide Rebellin tem 45 anos, Alejandro Valverde 36 e é o que nos vemos... é um enorme ciclista. A idade é apenas um número. O nosso estilo de vida, a forma como nos cuidamos, dita muito a nossa saúde, bem-estar e a performance física."