26 de julho de 2016

As emoções da nossa Volta

(Fotografia: Volta a Portugal)
Chegou aquele momento em que saímos de uma Volta a França onde estiveram os grandes nomes do ciclismo para uma Volta a Portugal que por mais que esteja longe do esplendor de outros tempos continua a provocar emoções quando se gosta de ciclismo. É preciso mudar o "chip", é certo, mas as emoções da "nossa volta" continuam a ser incomparáveis, pois quando se cresce a ver os ciclistas passarem nas estradas nacionais, com os avós a levarem os netos, os pais a tentarem identificar aos filhos quem são as grandes figuras que passam tão rápido e que ainda assim causam aquele arrepio na espinha... É o ciclismo português, mesmo que a volta não tenha a projecção de outros tempos. Não, na Volta a Portugal não temos um pelotão de luxo que a Volta ao Algarve já vai trazendo, mas temos aquela tradição que teme em não morrer apesar de por vezes tanto sofrer.

De Oliveira de Azeméis a Lisboa, 2016 trouxe uma Volta a Portugal um pouco diferente e que desde logo deu que falar: não haverá chegada em alto na Torre. Parece que faltará algo, mas a etapa, ainda assim, tem tudo para ser espectacular. E claro que a norte haverá grande expectativa para ver as bicicletas a passarem num troço normalmente destinado ao Rali de Portugal, em Fafe.

Se o percurso é bom ou mau, haverá tempo para discutir durante os próximos dias e já a partir desta quarta-feira. Agora é o pelotão que conta, ainda mais com o regresso do FC Porto e do Sporting e já se sabe como em Portugal o clubismo é capaz de contribuir ainda mais para que o ciclismo possa ter outro tipo de projecção. Mas, em Portugal é muito mais do que as equipas que contam, pois Joni Brandão (segundo classificado em 2015 e um dos principais candidatos, na liderança da Efapel) , Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista), Rafael Reis (W52-FC Porto) e Amaro Antunes (LA Alumínios-Antarte) sabem que contarão com um carinho especial, assim como os portugueses que representam equipas estrangeiras como José Gonçalves (que muito espectáculo deu há um ano), Domingos Gonçalves e Ricardo Vilela (todos da Caja Rural, a equipa estrangeira mais forte presente na Volta) ou Bruno Pires (Team Roth).

Claro que para cumprir também uma tradição deste século, são os espanhóis os favoritos: Gustavo Veloso (W52-FC Porto) procura a terceira vitória consecutiva, enquanto Alejandro Marque (agora na LA Alumínios-Antarte) procura a segunda. Os dois são novamente considerados os principais candidatos, pois defendem-se muito bem no contra-relógio que este ano fecha a competição. São dez vitórias espanholas no século XXI (cinco de David Blanco) e apenas duas portugueses, com Nuno Ribeiro, em 2003, e Ricardo Mestre, em 2011.

Na Volta a Portugal aprendeu-se a viver mais pela emoção, pela proximidade. É o momento para reviver momentos como que se prolongam há décadas na Senhora da Graça, cuja peregrinação dos adeptos repete-se ano após ano, com crise ou sem crise. E mesmo que a Torre não tenha uma meta colocada continuará a ser um dos pontos de eleição de quem não quer perder um dos grandes momentos de uma competição que é conhecida como a Grandíssima.

É preciso fazer mudanças para que um dia a Volta a Portugal possa regressar a ter um papel mais importante no calendário internacional. O dia talvez chegará, mas são conversas para outro dia. Para já o que poderemos desejar é que as equipas portuguesas, que muito vão lutando para continuar na estrada, mostrem o seu melhor naqueles que são os dez dias mais importantes do ano para elas. Também desejamos que algumas das equipas estrangeiras - este ano são 12 - estejam cá para um pouco mais do que fazer treino em competição, como aconteceu em 2015.

O ciclismo está a chegar às nossas terras. Este ano até desce um pouco a Sul. Chegou o momento de preparar a marmita escolher o local e ir para a estrada. A Volta a Portugal vai começar!



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