23 de agosto de 2016

Uma Vuelta com ritmo colombiano e sotaque francês

Atapuma demorou três anos a confirmar as expectativas. Agora lidera a Vuelta
(Fotografia: Team Sky)
Nos últimos anos muito se tem falado no potencial dos ciclistas colombianos. Chegou inclusive a existir uma equipa apoiada pelo Estado. Já terminou, mas todo o trabalho feito no país e o scouting feito pelas grandes equipas fazem com que contratem colombianos e com resultados que justificam as apostas. Porém, até ao momento só Nairo Quintana alcançou um grande triunfo - venceu a Volta a Itália em 2014. Rigoberto Uran quase ganhou também o Giro, quase foi campeão olímpico em Londres2012, mas ficou-se muito pelo quase. Nesta Volta a Espanha podemos muito bem assistir, de um vez por todas, à confirmação que a Colômbia pode começar a conquistar mais grandes voltas e com maior frequência.

Uran não está, mas está um Quintana mais discreto no discurso comparativamente com o do Tour, mas muito mais activo na estrada. A seu lado nas subidas tem estado Johan Esteban Chaves. Quase parece existir uma aliança silenciosa entre ambos, a julgar por estas duas últimas etapas. E até poderá ser bem valiosa. É que Chaves não tem equipa (Orica-BikeExchange) para o ajudar e Quintana que tem uma Movistar forte (bem mais do que a Sky), deverá ainda assim estar a duvidar das intenções de Alejandro Valverde, que parece estar com ideias, apesar de manter o discurso de que o líder é o colombiano.

Com dois falhanços consecutivos na Volta a França, Quintana (26 anos) quer conquistar a sua segunda grande volta em Espanha. Chaves (26) despontou precisamente há um ano, ao vencer duas etapas e a vestir a camisola vermelha durante uns dias. Foi segundo no Giro e está mais do que preparado para se impor na Vuelta. A aliança poderá ser bastante importante quando há um homem chamado Chris Froome, que não está com um apoio da Sky como é habitual no Tour. E a aliança, a existir, funcionará até que, naturalmente, deixe de interessar a um deles. No entanto, se o britânico estiver bem, é para durar até bem perto do final. Chaves e Quintana estão nesta fase a 39 segundos da liderança.

Em Espanha temos também John Darwin Atapuma (28). E é caso para dizer: até que enfim! O ciclista é precisamente um dos produtos da tal equipa estatal, a Team Colombia, tendo chamado a atenção com boas performances em terras norte-americanas. Há três anos na BMC, só em 2016 está a confirmar o potencial que há muito se via nele. Se calhar nada como a motivação de estar em final de contrato... Este ano somou as três primeiras vitórias como profissional, foi nono na geral da Volta a Itália depois de uma excelente terceira semana e aparece nesta Vuelta precisamente com a forma apresentada no final do Giro.

Esta terça-feira atingiu provavelmente o ponto mais alto da carreira, até ao momento (esperemos), ao vestir a camisola da liderança na Volta a Espanha. São apenas 29 segundos de vantagem para Valverde e 33 para Froome, mas, pelo menos por um dia, aquela camisola é dele. Poderá até ser mais, mas a BMC tem então uma decisão a tomar. Samuel Sánchez é o líder da equipa e aos 38 anos o espanhol poderá estar a viver os últimos dias nesta posição na formação. Neste momento é sexto, a 1:08 minutos. A ver vamos o que as próximas montanhas ditam.

Ainda é muito cedo numa Vuelta complicada, que tem trocado de líderes todos os dias e que tem colocado desde cedo alguns candidatos em aflições (que o diga Contador e Kruijswijk), mas Atapuma poderá certamente ter ideias de pelo menos ficar num top dez. Pode ter muita qualidade, no entanto, não está ao nível de um Quintana ou Chaves.

Há ainda Miguel Ángel Lopéz, que para já fica com o título do mais azarado da Vuelta. Primeiro foi um problema mecânico no contra-relógio por equipas e na segunda-feira caiu e agora vai continuando em prova sem três dentes. É uma desilusão, não só para ele e para a Astana. Também é para os fãs de ciclismo. É um jovem de 22 anos com um tremendo potencial, que ganhou a Volta à Suíça e foi chamado para os Jogos Olímpicos. Talvez também ele se possa aliar a Quintana e Chaves com um olho numa vitória de etapa.

Em Espanha é que os franceses estão bem

Quatro etapas, duas vitórias consecutivas francesas. Depois de Alexandre Geniez (FDJ),
Calmejane venceu a etapa (Fotografia: Team Sky)
foi a fez de um ciclista que a Direct Energie tem muita esperança: Lilian Calmejane, 23 anos, que faz a sua primeira grande volta. Mais uma vez a fuga triunfou. A Movistar controlou, mas não pareceu interessada em manter a camisola vermelha de Rúben Fernández. Aliás, o espanhol até parece que levou um puxão de orelhas no dia anterior de Valverde por ter deixado os seus líderes para tentar ganhar a etapa. Esta terça-feira não teve outro remédio que não trabalhar, o que fez com que cedesse cedo na última subida. Foi pelo menos um dia de sonho e aos 25 anos ainda tem tempo e talento para muitos outros momentos importantes na carreira.


Regressando a Calmejane. A juntar à vitória pessoal, está a da equipa. A Direct Energie tem muito para festejar. É que há quatro anos que a formação gaulesa (a anterior Europcar) não ganhava numa grande volta.

Além dos triunfos dos ciclistas e equipas francesas é de notar ainda que outros da mesma nacionalidade têm atacado e andado nas fugas. Por curiosidade, a França é o país mais representado nesta Vuelta com 34 ciclistas, seguindo-se a Espanha com 27 e a Bélgica com 21.

Os franceses parecem estar a gostar da dureza do percurso da Vuelta. Senhor Christian Prudhomme, director do Tour, se calhar está na altura de endurecer a Volta a França para motivar os ciclistas da casa!

Etapa 5: Viveiro - Lugo (171,3 quilómetros)
Se os sprinters conseguirem ultrapassar os 11 quilómetros a 3,6% de pendente média da terceira categoria, então é mesmo que aproveitar, pois esta etapa pode ser para eles. E os sprinters não podem mesmo desperdiçar estas escassas oportunidades.


Resumen - Etapa 4 (Betanzos / San Andrés de... por la_vuelta

Veja os resultados da quarta etapa entre Betanzos e San Andrés de Teixido (163,5 quilómetros).

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