O sonho do dono da equipa é chegar alto. Já o director desportivo acredita que é possível dar o salto para o World Tour, mas agora há que consolidar o projecto como ProTeam. Pela primeira vez a Noruega tem uma equipa no segundo escalão mundial. É um país que tem um campeão do mundo, Thor Hushovd, Alexander Kristoff venceu monumentos e foi campeão da Europa, Edvald Boasson Hagen é dos ciclistas mais importantes do país, com vitórias importantes e todos eles ganharam em grandes voltas. Mas falta uma equipa de nível superior. A Uno-X Development tem orgulho em manter a palavra desenvolvimento no nome, pois é isso que, para já, se quer concentrar. Ou seja, em formar jovens ciclistas que façam crescer uma modalidade muito apreciada no país, mas ainda com um número reduzido de praticantes, a nível profissional.
"Eu costumo dizer que o ciclismo é um desporto ainda jovem na Noruega. Eu fui ciclista durante os anos 90 e a modalidade era muito pequena [no país]. Depois tivemos o Thor [Hushovd] campeão mundial em 2010 e nessa altura tornou-se muito popular em termos de acompanhamento do público. A partir daí tivemos equipas Continentais e agora esta equipa ProTeam, que será importante para manter as pessoas interessadas no desporto", realçou ao Volta ao Ciclismo Stig Kristiansen, o director desportivo da estrutura.
O convite para a Volta ao Algarve foi recebido com muita satisfação pela equipa, que assim teve a oportunidade de colocar os seus ciclistas no pelotão com formações do World Tour. Mas também na Noruega esta participação criou entusiasmo, como comprovou a aposta na transmissão televisiva. "É um dos desportos mais transmitidos na televisão. Normalmente é através do Eurosport, mas este ano o canal público, quando soube que vínhamos aqui, comprou os direitos. É uma nova dimensão. Temos sempre um ciclista com sucesso, como o Kristoff ou Edvald. Agora as pessoas podem relacionar-se com toda uma equipa norueguesa e conhecer-nos muito bem", afirmou o responsável.
Kristiansen salientou como enquanto existem milhares de crianças no futebol, mas o ciclismo tem uma realidade muito diferente. "Temos 150 ciclistas de elite na Noruega que fazem ciclismo como desporto principal", mas rapidamente acrescenta: "A nível de popularidade [de adeptos] é grande e o trabalho feito nas escolas e entre os juniores está a ser muito bem feito." Ou seja, o paradigma pode estar a mudar e a Uno-X quer ter o seu papel. A média de idades na equipa é de apenas 21,2 anos e Kristiansen espera continuar a formar ciclistas que possam dar o salto.
Dos que iniciaram o projecto em 2017, houve quem já desse o salto, com o destaque recente a ser Tobias Foss (22 anos), vencedor do Tour de l'Avenir em 2019 e contratado pela Jumbo-Visma. Esta aposta em jovens é para manter: "É para isso que estamos aqui. Tomamos conta dos ciclistas que temos e vamos encarar ano a ano. Penso que isso será um ponto essencial na equipa para se dar o próximo passo, se essa for a intenção." O plantel conta com 22 ciclistas, cinco dinamarqueses e os restantes de nacionalidade norueguesa.
Para Kristiansen é cedo para pensar no World Tour, não escondendo que é o desejo do dono, que detém a Uno-X, uma rede de bombas de combustível na Noruega. Contou que foi Jens Haugland quem quis patrocinar uma equipa e que não foi alguém à procura do seu patrocínio. "Foi uma forma algo contrária de agir comparativamente como as equipas normalmente trabalham", disse. A estrutura já existia, mas como Ringeriks-Kraft, de 2010 a 2016. No imediato, o importante é consolidar a formação nórdica no segundo escalão, antes de pensar dar o salto para o World Tour. "Temos o financiamento para isso e não vou dizer que não é uma boa ideia. Mas ir para o World Tour é um passo muito maior e, por isso, vamos ficar como ProTeam durante alguns anos. Mas que nunca se diga nunca! É uma equipa especial e está a crescer muito rapidamente", frisou.
Apesar da juventude, não significa que não haja experiência. Daniel Hoelgaard é a prova disso mesmo. É o mais velho de três irmãos e assinou pela Uno-X depois de quatro anos na Groupama-FDJ. Tem 26 anos e Kristiansen acredita que tem muito para dar. "Ele é importante. Dá-nos uma segurança maior para ajudar os mais jovens. Ele conhece o jogo do sprint, tem essa mentalidade do World Tour e é sempre bom para os mais novos que estão a aparecer ter alguém com quem aprender."
Hoelgaard é um dos ciclistas presentes na Algarvia, tal como Andreas Leknessund, um corredor mais para a montanha. O director desportivo espera vê-los a alcançar o top dez nas etapas das suas características. O primeiro foi nono em Lagos, o segundo subiu bem a Fóia, não ficou nos dez primeiros, mas o 27º posto a 2:01 do vencedor Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep), foi um bom resultado, tendo em conta o forte pelotão que está na Algarvia. "Aqui temos sprints, subidas e neste último aspecto talvez seja para o Andreas Leknessund. Ele tem 21 e sabemos que ele não é um Chris Froome, mas vamos dar o nosso melhor para dar luta, assim como com outros jovens", disse o director desportivo.
Depois da Volta ao Algarve, Kristiansen gostaria de continuar por Portugal: "É um país bonito. Podemos andar de bicicleta na Noruega nesta altura do ano, mas estão três graus e a chover! Aqui está muito bom." Não é só pela meteorologia, pois o objectivo passava por estar novamente na Volta ao Alentejo, tal como em 2019 (quando a equipa era Continental), aproveitando para competir antes na Clássica da Arrábida: "Queríamos cá estar outra vez, mas não recebemos um convite [para a Alentejana]. Talvez para o ano, vamos tentar."
Portanto, terminado o contra-relógio de Lagoa no domingo, a Uno-X fará as malas e a equipa prepara-se para competir em algumas corridas importantes do calendário mundial, como as clássicas Kuurne-Bruxelles-Kuurne, Le Samyn e Danilith Nokere Koerse. O responsável destacou também o convite para a Volta aos Alpes, considerando que será mais um ponto alto da Uno-X nesta primeira época como ProTeam. "É um calendário com exigência para os nossos ciclistas e é bom para eles experimentarem, como aqui no Algarve, competir com as equipas World Tour", frisou.
O responsável admitiu que, dada a juventude dos seus ciclistas e ao pouco contacto com a elite mundial até ao momento, por vezes, ficam impressionados quando estão ao lado de estrelas da modalidade. "Acontece isso nas primeiras vezes, quando estão no hotel e vêem o Mathieu van der Poel e no pelotão têm o Philippe Gilbert ao lado deles... Mas eles habituam-se. Faz parte do desenvolvimento."
Para terminar ficou a garantia que a Uno-X é uma equipa a seguir: "Temos bons ciclistas. Vamos tentar obter resultados e correr de forma honrada sempre que colocámos o dorsal."
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