20 de fevereiro de 2020

Fóia marca uma estreia na carreira de Evenepoel

Se há uns anos houve uma emoção especial ao ver ao vivo Alberto Contador e aquele estilo tão inconfundível a subir o Malhão e a ali ganhar - afinal era Contador e mais palavras para quê - há que admitir que, desta feita na Fóia, poder ver primeiro Tadej Pogacar (em 2019) e esta quinta-feira Remco Evenepoel vencer, também faz pensar que vir até à Volta ao Algarve é simplesmente imperdível quando tanto se gosta de ciclismo. Estamos a falar de dois nomes que estão em ascensão, mas já ninguém tem dúvidas que são as estrelas do presente e com um futuro em que tudo pode acontecer. Mas na Fóia, já se pode dizer que se viu um pouco do talento destes de dois nomes que vão ser enormes na modalidade.

Remco Evenepoel tem apenas 20 anos, mas já começou a ganhar desde que chegou há um ano à Deceuninck-QuickStep, directamente do escalão de juniores. Venceu a Volta a Bélgica, mas o primeiro sinal forte de grandeza foi deixado na Clássica de San Sebastian. Deixou todos para trás, numa fuga que parecia de loucos e que ficou para a história como a primeira grande exibição deste prodígio belga ao mais alto nível. Em 2020 foi à Argentina vencer San Juan, numa temporada em que a equipa o vai levar à primeira grande volta, em Itália. Até é suposto ser para se adaptar e aprender um pouco. Contudo, para Evenepoel não há melhor maneira de aprender do que a lutar por vitórias!

A Volta ao Algarve apareceu neste caminho de preparação para o Giro e já se sabia que Evenepoel não vinha para aproveitar o sol do sul do país. Na Fóia deu espectáculo. Não foi um daqueles ataques em que deixa a concorrência longe, mas foi o suficiente para tirar Miguel Ángel López (Astana) e Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), por exemplo, da discussão, numa subida que marcará a sua carreira: pela primeira vez, como atleta de elite, Evenepoel ganhou uma etapa a terminar em alto. A equipa destacou isso mesmo nas redes sociais.

Este facto tem significado quando se se tem em conta que o belga quer tornar-se num voltista e conquistar as mais míticas subidas e as mais míticas corridas. A Fóia foi assim uma demonstração que Evenepoel tem capacidade para fazer ataques em qualquer terreno, mesmo numa subida mais longa. Bateu Max Schachamann (Bora-Hansgrohe) por poucos centímetros, com Daniel Martin (Israel Start-Up Nation), Rui Costa (UAE Team Emirates) e Tim Wellens (Lotto Soudal) a ficarem a apenas dois segundos.

Na Algarvia, Evenepoel tem mantido uma postura discreta. Talvez focado num objectivo, a tentar não se deixar levar pela imensa euforia que o rodeia, o belga pouco sorri e opta por escapar a longas trocas de palavras. Este é um jovem que quer estar em correr, é ali o seu terreno e não lidar com o mediatismo que o persegue desde a sua performance nos Mundiais de 2018 - ainda no escalão de juniores - e consequente contratação da Deceuninck-QuickStep. A sua dedicação e a sua juventude ficam bem patentes pela forma como se emociona quando ganha. Na Fóia não foi excepção. E finalmente sorriu!

Já era candidato à geral, agora reforça esse estatuto, vestindo uma camisola amarela que pertencia ao seu companheiro Fabio Jakobsen, vencedor da etapa ao sprint, em Lagos. O holandês ficou com a camisola vermelha dos pontos, Evenepoel apoderou-se de todas as outras, isto é, classificação da montanha e, naturalmente, da juventude.

O Malhão, no sábado, será mais um teste importante. É uma subida mais curta e mais explosiva, mas com o contra-relógio a concluir esta edição da Volta ao Algarve, Evenepoel poderá obrigar os seus adversários a não se guardarem para a etapa final. O belga é forte no contra-relógio, vestindo inclusivamente a camisola de campeão europeu.

Mas uma palavra para João Almeida. O jovem português já tinha trabalhado muito bem para Jakobsen no primeiro dia e na Fóia repetiu a exibição, sendo um aliado essencial para Evenepoel. Terminou na 13ª posição a 17 segundos, o que mantém em aberto de também ele poder alcançar uma classificação de relevo no Algarve.

3ª etapa: Faro-Tavira (201,9 quilómetros)


Depois de 183,9 quilómetros da primeira etapa de montanha da corrida - Sagres marcou o início da tirada que passou por terras alentejanas - chega o dia mais longa na bicicleta para o pelotão. Tavira não só tem tradição por ter uma equipa com 41 anos de existência - a agora Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel -, como é o local de um sprint também tradicional. E ali já ganharam André Greipel, Marcel Kittel e nos dois últimos anos Dylan Groenewegen. A lista também inclui, por exemplo, Tony Martin e Alberto Contador, mas em 2013 e 2009, respectivamente, Tavira foi palco de um contra-relógio. Por curiosidade, o último português a ali vencer foi Cândido Barbosa, com a equipa da Banesto.

A etapa tem duas terceiras categorias em Portela da Corcha e Cachopo, mas será uma surpresa que o final não se dispute ao sprint. Jakobsen vai tentar manter o pleno da Deceuninck-QuickStep no Algarve, enquanto Elia Viviani (Cofidis) e Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) procuram a primeira vitória de 2020.

Classificação via FirstCycling, com destaque para três portugueses no top dez: Rui Costa, Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) e Amaro Antunes (W52-FC Porto).




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