30 de novembro de 2016

Theuns entre a motivação de mostrar a sua qualidade e o medo de não conseguir voltar a estar ao melhor nível

Edward Theuns é considerado um dos ciclistas com grande
potencial para as clássicas, mas também nos sprints
A história de Adriano Malori transformou-se num exemplo de como a crença e o trabalho pode contrariar prognósticos médicos. O ciclista italiano da Movistar correu o risco de não voltar a competir, já para não falar que após a queda no Tour de San Luis não conseguir fazer os gestos mais básicos. A gravidade do seu caso - chegou a estar em coma em induzido - fez com que a sua história recebesse grande atenção mediática. Porém, 2016 tem, infelizmente, vários exemplos dos perigos que os ciclistas enfrentam. A morte de Antoine Demoitié em Março é o exemplo máximo, mas há ainda o caso do belga Stig Broeckx, em coma desde final de Maio e com um prognóstico muito incerto. Ambos os casos tiveram motos envolvidas nos acidentes. No caso de Malori terá sido um buraco a provocar a aparatosa queda, mas há ainda a história de Edward Theuns. No contra-relógio da Volta a França, o belga não conseguiu controlar a bicicleta quando a roda da frente "fugiu" ao fazer uma curva e um tronco acabou por fazer com que "voasse" até embater com violência com as costas no chão. A temporada acabou de forma dramática e com um grande susto para o jovem de 25 anos.

Theuns só pensou que o seu primeiro ano do World Tour seria o último da carreira. Não se conseguia vestir, comer ou ir à casa-de-banho sem ajuda. Recuperou e agora só pensa em continuar em mostrar em 2017 o que a queda na Volta a França interrompeu: que é um ciclista de grande qualidade e que pode dar muitas vitórias à Trek-Segafredo, ainda mais numa altura em que a equipa americana já não vai ter o seu rei das clássicas, Fabian Cancellara. Foi um alívio quando os médicos lhe disseram que poderia voltar a competir. Porém, Theuns deixa uma confissão: "Tenho medo de não conseguir voltar a estar ao meu melhor nível."

Era um dos ciclistas que estava a criar maior expectativa este ano. Só venceu uma etapa na Volta a Bélgica, mas alcançou resultados animadores noutras competições, que deu certezas à Trek-Segafredo que Theuns é uma contratação que tem tudo para dar vitórias à equipa. Na Topsport Vlaanderen-Baloise, o jovem belga rapidamente se tornou uma estrela e era óbvio que não demoraria a saltar para o World Tour. Em entrevista ao site Ciclismo Internacional, o ciclista recorda como ele o o seu agente estudaram as propostas que receberam, considerando que a Trek seria perfeita dada a aposta que faz nas clássicas. "Foi uma loucura partilhar a mesa com estrelas como Cancellara, Frank Schleck ou Hesjedal na primeira concentração [da equipa]", recordou.

Momento da queda (Fotografia:Página de fãs de Theuns no Facebook)
Apesar de pensar que iria ser uma aposta para as clássicas, a Trek-Segafredo surpreendeu ao apostar nele para sprinter. O belga admitiu que ficou sem saber muito bem o seu lugar tendo em conta a presença de Giacomo Nizzolo e Niccolo Bonifazio. No entanto, a equipa geriu a época do jovem ciclista, que foi ganhando confiança até 15 de Julho. Naquele dia, o contra-relógio acabou com uma queda aparatosa.

"Lembro-me de tudo. Foi no contra-relógio e queria fazer um bom tempo. Por isso, encarei as descidas de forma muito forte e estava a 80/90 quilómetros quando vi uma curva. Comecei a travar para evitar riscos, mas a roda da frente descontrolou-se e foi então que decidi deixar-me cair para evitar danos maiores. Infelizmente havia um tronco e choquei com a roda. Saí a voar pelo ar. Cai quase sentado e lesionei-me nas costas", descreveu. Soube logo que seria importante não se mexer para evitar agravar a lesão. Foi operado dois dias mais tarde, com a angústia a tomar conta do seu estado de espírito.

Theuns logo a seguir à queda que terminou com a sua temporada
(Fotografia: Página de fãs de Theuns no Facebook)
Entretanto regressou à Bélgica onde fez a longa recuperação e foi convidado para ser comentador em algumas corridas, experiência que o divertiu, mas que não pensa para já em tornar numa carreira. Agora só pensa em preparar-se para aparecer em 2017 na melhor forma possível, apesar de não esconder a ansiedade por não saber como se irá sentir em competição.

Saberá que não escapará a alguma pressão inerente a quem pertence a uma equipa World Tour e que tem a responsabilidade de alcançar resultados. No entanto, parece que neste momento é o próprio Theuns que coloca mais pressão sobre ele próprio.

Quando em forma, Edward Theuns é um daqueles ciclistas dotados para o espectáculo. É um lutador, ambicioso, com claras qualidades para em breve ombrear com Peter Sagan ou Greg van Avermaet, por exemplo, ou então - se a Trek continuar a apostar em Theuns para os sprints - com Marcel Kittel, André Greipel ou Mark Cavendish.

Porém, neste momento há um enorme ponto de interrogação sobre o que poderá render Edward Theuns, sendo um dos ciclistas a ter em atenção em 2017, esperando que possa concretizar as expectativas criadas e que a queda não deixe sequelas que travem uma promissora carreira.


Movistar de Nelson Oliveira vai estar na Volta ao Algarve

(Fotografia: Twitter Movistar)
Pouco mais de 24 horas depois do primeiro anúncio das equipas World Tour confirmadas na Volta ao Algarve (de 15 a 19 de Fevereiro) surge a oitava garantia e uma cuja única surpresa foi não ter surgido logo na lista inicial. A Movistar regressa à competição algarvia e claro que fica agora a expectativa para saber se alguma das suas principais estrelas apostará na prova portuguesa para preparar a temporada.

Nelson Oliveira será uma presença quase garantida. Porém, Nairo Quintana, recente vencedor da Volta a Espanha, costuma preferir fazer o seu início de ano em estágios de altitude na "sua" Colômbia. Este ano o colombiano competiu em Janeiro do Tour de San Luis, na Argentina, prova que não irá realizar-se em 2017. Depois só competiu nos Campeonatos Nacionais em Fevereiro, regressando em Março, já nas provas europeias. Será uma presença difícil, mas porque não fazer figas!

Já Alejandro Valverde deverá optar novamente pela Ruta del Sol, prova que se realiza precisamente nos mesmos dias da Volta ao Algarve e que conquistou este ano. É um ciclista que gosta de fazer grande parte do seu início de temporada em Espanha.

Andrey Amador (que deverá ser o líder da equipa no Giro, a não ser que Quintana resolva mesmo ir à Volta a Itália), Jonathan Castroviejo (campeão europeu de contra-relógio) ou Alex Dowsett são alguns dos grandes nomes que fazem parte desta equipa que há quatro anos consecutivos vence o ranking World Tour.

As épocas estão neste momento a ser preparadas pelas equipas, pelo que ainda teremos de esperar um pouco para as confirmações dos ciclistas que estarão na Volta ao Algarve. Mas uma certeza é que das 19 equipas garantidas oito são do principal escalão (Astana, Bora-Hansgrohe, Cannondale-Drapac, Dimension Data, Katusha-Alpecin, Lotto Soudal, Movistar e Quick-Step Floors), quatro Profissionais Continentais (Caja Rural-Seguros RGA, Gazprom-RusVelo, Manzana Postobón e Wanty-Groupe Gobert) e sete do nível Continental, incluindo as seis portuguesas (W52-FC Porto, Efapel, Rádio Popular-Boavista, Louletanto-Hospital de Loulé, a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack e o Sporting-Tavira) e a americana Rally Cycling.

A organização espera voltar a contar com 24 formações, tal como aconteceu este ano. A Sky venceu as últimas duas edições por intermédio de Geraint Thomas, mas ainda não confirmou a presença, assim como a Trek-Segafredo que em 2017 vai contar com Alberto Contador que costuma competir na prova algarvia.


29 de novembro de 2016

Aos 32 anos conseguiu ser ciclista. Mas uma queda mudou-lhe outra vez a vida: uma perna foi amputada

(Fotografia: Kenyan Riders Downunder)
Samwel Mwangi pedalava nas ruas de Eldoret, no Quénia, trabalhando como taxista, mas com uma bicicleta. Foi assim que foi descoberto por Nicholas Leong, o fundador da equipa Kenyan Riders Downunder. Com 32 anos, Mwangi viu a sua vida mudar ao tornar-se ciclista a tempo inteiro, participando em várias competições durante 2016. Alternou entre resultados modestos e alguns top 20. Porém, a vida deste queniano deu novamente uma grande volta. Uma queda muito grave na recente Volta ao Ruanda levou os médicos a optar por amputar a perna esquerda.

A notícia foi recebida com algum choque, principalmente depois da Volta ao Ruanda ter sido tão falada nos meios de comunicação um pouco por todo o mundo pelas imagens impressionantes de apoio de milhares de pessoas. A competição foi ainda elogiada pelo seu percurso e pelas paisagens que proporcionou. Não nos podemos esquecer que estamos a falar de um dos países mais pobres do mundo. Mas era nesssas estradas que Mwangi tentava mais uma vez mostrar-se. Foi na última etapa que aconteceu a queda que mudou a vida do queniano.

No Facebook da equipa lê-se que "Mwangi está a aguentar-se muito bem". "É uma inspiração desde a sua cama do hospital." É ainda referido que neste momento estão a estudar as hipóteses para o futuro de Mwangi.



A queda provocou o corte da artéria femoral, fazendo com que a circulação do sangue não chegasse à parte de baixo da perna. Por esta razões, os médicos optaram pela amputação, segundo o Cycling News.

Kenyan Riders Downunder estreou-se este ano, tendo no plantel maioritariamente ciclistas quenianos, mas também alguns australianos e neozelandeses. Pertence ao escalão Continental.

»»Ciclismo em África a crescer: ciclistas de qualidade e muito apoio do público««

IAM despede-se com documentário "Keep Fighting"

De uma ascensão meteórica a um adeus repentino. A IAM Cycling chegou rapidamente ao World Tour, mas ao segundo ano anunciou o final da equipa. Porém, a formação suíça quer despedir-se recordando os bons e também os maus momentos que viveu na curta passagem pela elite do ciclismo, mostrando ainda os rostos daqueles que muito trabalharam para garantir o melhor rendimento dos ciclistas.

"Keep Fighting" (continuem a lutar) terá quatro episódios e o primeiro foi esta terça-feira divulgado. A crença em Mathias Frank, o receio do fim de carreira precoce de Marcel Wyss, a importância de participar na Volta a França, o osteopata, a nutricionista, o cozinheiro, o motorista... depoimentos que mostram o outro lado da equipa. Um vídeo irresistível para os amantes da modalidade.

Veja o primeiro episódio.



»»IAM. O anúncio de final de equipa que resultou no melhor ano da formação suíça««

Volta ao Algarve já tem sete equipas do World Tour confirmadas. Ainda se espera pela Sky, Movistar e Trek de Alberto Contador

Fabio Aru esteve este ano no Algarve e a "sua" Astana já está confirmada para 2017
Astana, Bora-Hansgrohe, Cannondale-Drapac, Dimension Data, Katusha-Alpecin, Lotto Soudal e Quick-Step Floors. Estas equipas do World Tour já estão confirmadas para a 43ª edição da Volta ao Algarve (de 15 a 19 de Fevereiro), o que na prática poderá querer dizer que, por exemplo, Fabio Aru é uma hipótese para estar novamente nas estradas algarvias, Rafal Majka talvez, Tiago Machado e José Gonçalves pela Katusha (tal como Tony Martin, vencedor em 2013) e quem sabe uma luta de sprinters entre André Greipel e Marcel Kittel, sendo que Mark Cavendish também seria bem-vindo. E claro que com a Bora-Hansgrohe do campeão nacional José Mendes cá, sonhar com o campeão do mundo Peter Sagan não custa... Mas por enquanto ficamos no plano da especulação no que diz respeito aos ciclistas, porque aquilo que se pode esperar a curto prazo é a confirmação de mais seis equipas para fechar o lote de 24 que a organização quer ter na competição, repetindo assim o número deste ano.

Claro que o principal objectivo passará por tentar convencer mais equipas do principal escalão a viajarem até ao sul de Portugal, nomeadamente a Sky (vencedora das últimas duas edições por Geraint Thomas), a Movistar de Nelson Oliveira e a Trek-Segafredo de Alberto Contador (e também de André Cardoso). O espanhol gosta de preparar a sua temporada na Volta ao Algarve, prova que conquistou em 2009 e 2010, sendo segundo em 2014 e terceiro este ano, depois de ter vencido com autoridade no Alto do Malhão. Contador é uma das presenças mais desejadas, sendo muito admirado pelos adeptos portugueses. FDJ e Lotto-Jumbo também estiveram no Algarve este ano, mas, para já, não têm regresso agendado.

No site da prova lê-se que decorrem também contactos com equipas do escalão Profissional Continental, sendo que a ideia passa precisamente por garantir conjuntos dos dois principais níveis do ciclismo. Deste escalão já estão confirmadas a Caja Rural-Seguros RGA (de Rafael Reis), a russa Gazprom-RusVelo, a colombiana Manzana Postobón (que contratou Ricardo Vilela) e a belga Wanty-Groupe Gobert, que este ano destacou-se no escalão Continental, principalmente quando venceu a Amstel Gold Race por intermédio de Enrico Gasparotto. Também viveu um momento trágico com a morte de Antoine Demoitié num incidente com uma moto na clássica Gent-Wevelgem. Porém, acabou o ano a vencer o ranking UCI Europe Tour.

Do escalão Continental estarão naturalmente as equipas portuguesas: W52-FC Porto, Efapel, Rádio Popular-Boavista, Louletanto-Hospital de Loulé, a nova LA Alumínios-Metalusa-BlackJack e o Sporting-Tavira. Juntar-se-á ainda a formação norte-americana da Rally Cycling, presença justificada pela organização "por ser um conjunto que vence frequentemente nas corridas lusas em que participa".

De recordar que já foram apresentadas as etapas, mais ainda faltam conhecer pormenores do percurso (ver link em baixo).

28 de novembro de 2016

Pedalar em Gaza. A mulher que desafia o preconceito e a lei

Amna Suleiman tornou-se num exemplo de inspiração na luta que trava contra o preconceito. Tudo o que esta mulher de 34 anos faz é andar de bicicleta, algo que pode parecer ser tão simples, mas que em Gaza significa ser ostracizada e correr o risco de ter de enfrentar a dura lei, já que as mulheres não podem pedalar depois de atingirem a puberdade. A reportagem feita pelo The New York Times divulgou esta realidade e a BBC considerou agora Suleiman como uma das 100 mulheres do ano por tentar quebrar o tabu numa zona do planeta em que a liberdade de expressão e de escolha não é para todos.

A professora de 34 anos vive no campo de Jabaliya e resolveu desafiar o preconceito fazendo uma das coisas que mais gosta: andar de bicicleta. Reconhece os olhares reprovadores de que é alvo e que as duas raparigas, cerca de dez anos mais novas, que normalmente pedalam com Amna Suleiman, também sofrem além de comentários menos simpáticos. "Tenho a certeza que o que evita que as mulheres venham [andar de bicicleta] é o medo das autoridades. As mulheres têm medo do que as autoridades possam fazer", salienta no vídeo divulgado pela BBC.

Suleiman conta que uma vez colocou nas redes sociais que ia andar de bicicleta com duas amigas, questionando se alguma mulher se queria juntar. Recebeu várias respostas de mulheres que gostariam de as acompanhar, mas no dia marcado, ninguém apareceu. A bicicleta e a música são as duas formas de liberdade de expressão que esta professora encontrou.

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Na reportagem do The New York Times, Amna Suleiman deu um conselho às suas companheiras: "Vocês são jovens. eu quero que, quando se casarem, façam da bicicleta uma condição para o casamento." Uma das raparigas respondeu: "Ele irá bater-me." No jornal lê-se que são muitos os palestinianos que reprovam a ideia de as mulheres andarem de bicicleta em público, pois os homens podem olhar de forma inadequada as pernas a subir e descer, ou então cobiçar os seus rabos.

O secretário-assistente do Ministério da Juventude e Desporto de Gaza, Ahmad Muheisin, explicou que mulheres a andar de bicicleta em público é uma violação dos valores de Gaza. No entanto, garantiu que não tentará detê-las, a não ser que os líderes religiosos intervenham.

Num Gaza controlada pelo Hamas, uma maratona acabou por ser cancelada, em 2013, para evitar que as mulheres participassem. As que querem praticar desporto treinam em locais isolados, apenas para elas e os horários são rigidamente preparados para evitar que se cruzem com homens.

Amna Suleiman tornou-se o rosto da luta contra este preconceito. Porém, não será uma batalha fácil de ganhar. O medo domina, mas a exposição que a professora alcançou e agora esta distinção pela BBC podem ser mais um passo em motivar outras mulheres em mostrarem coragem idêntica, que não será, compreensivelmente, nada fácil.

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»»Foi dado como morto e agora voltou a pedalar nos 30 minutos mais especiais da sua vida««

27 de novembro de 2016

"Estamos a construir uma equipa com pessoas trabalhadoras e honestas. Acho que vamos ter um conjunto bom e unido"

Edgar Pinto representou a Skydive Dubai durante dois anos
(Fotografia: Facebook do ciclista)
Edgar Pinto está de regresso ao pelotão nacional. Mais uma das surpresas neste mercado de transferências, depois de Sérgio Paulinho ter assinado pela Efapel e Fábio Silvestre pelo Sporting-Tavira. O ciclista de Albergaria-a-Velha admite que estava bem na Skydive Dubai e que a equipa do Médio Oriente queria que continuasse. Porém, o apelo familiar - o pai é um dos mentores da nova equipa do ciclismo português, a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack - e estar num projecto com base na sua terra foram factores irresistíveis. "Só assim fazia sentido regressar", confessou ao Volta ao Ciclismo. Para trás ficaram dois anos de experiências que não irá esquecer e muitas delas sabe que não irá repetir.

"Fiz corridas importantes que seria difícil a uma equipa portuguesa participar. Fiz corridas bastante diferentes, como na Indonésia ou em África... algumas não voltarei a fazer. São muito longe e as deslocações implicam gastos enormes", contou, recordando ainda a dificuldade de treinar no Dubai: "Tínhamos de treinar de madrugada ou então à noite [devido ao calor]. Para treinar subidas, tinha de fazer uma viagem de carro de hora, hora e meia para fazer subidas de dois quilómetros!"

2017 será o regresso a Portugal para encabeçar um projecto que tem o pai, Fernando Pinto, como um dos mentores e o irmão Pedro Pinto, como mecânico. José Augusto Silva será o director desportivo. Edgar Pinto não descarta a possibilidade de voltar a aceitar uma experiência no estrangeiro, mas apenas se for "uma proposta interessante e de uma equipa de categoria superior". Agora só pensa no novo projecto e em "ajudá-lo a crescer".

Apesar da LA Alumínios ser um dos patrocinadores, o ciclista salienta que esta é uma nova equipa e que apenas herda da extinta LA Alumínios-Antarte um dos patrocinadores... e o autocarro. Toda a estrutura será nova e para já só dois ciclistas estão confirmados além de Edgar Pinto: César Fonte (Rádio Popular-Boavista) e Hugo Sancho, que estava na antiga LA. Apesar de ter começado tarde a contratar ciclistas, Edgar Pinto salientou que se houver união, será uma formação que poderá algumas conquistar vitórias. "Estamos a construir uma equipa com pessoas trabalhadoras e honestas. Acho que vamos ter um conjunto bom e unido", disse.

"Temos um calendário bem composto até final de Agosto. Depois da Volta a Portugal quase não corremos. Não é bom para o atleta, não é bom para os patrocinadores e prejudica a modalidade"

Edgar Pinto tem a ambição de ter um ano que vá além da Volta a Portugal. Não é segredo que o ciclista, de 31 anos, é crítico do calendário nacional. "Temos um calendário bem composto até final de Agosto, mas depois da Volta a Portugal quase não corremos e são muitos meses sem competir até Fevereiro. Não é bom para o atleta, não é bom para os patrocinadores e prejudica a modalidade", realçou. Por isso, um dos objectivos da temporada passa por "tentar alargar esse calendário". Ou seja, a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack tentará fazer mais competições após a Volta a Portugal. Edgar Pinto considera que seria importante a existência de grandes prémios até meados de Outubro e não apenas os habituais circuitos. "Temos bom clima para isso."

A boa forma é para manter todo o ano

A Volta a Portugal pode ser o ponto mais alto do ciclismo para as equipas portuguesas, mas Edgar Pinto avisou que não é ciclista "de pensar apenas na Volta". "Primeiro há outras corridas e depois pensarei na Volta, a seu tempo", afirmou. "Gosto de andar bem o ano inteiro e isso passa por estar em boa forma nos grandes prémios e em 2017 a Volta ao Algarve e a Volta ao Alentejo [em Fevereiro] será uma boa altura para já estar em forma", frisou. Crente que a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack terá ciclistas para discutir qualquer corrida, alerta que a equipa terá sempre a ambição de vencer, mesmo que no início da época possam existir algumas dificuldades devido ao facto da formação ter começado mais tarde do que as restantes a contratar e a preparar 2017: "Com o decorrer da época, as coisas irão compor-se."

"Quero estar bem, quero tentar discutir a Volta [a Portugal] e vencer, se possível"

Mas claro que a Volta a Portugal será também um dos objectivos. "Quero estar bem, quero tentar discutir a Volta e vencer, se possível." Edgar Pinto já soma top dez e uma vitória de etapa na principal competição portuguesa. Contudo, disse que um bom resultado também estará dependente do percurso. "Ultimamente têm colocado um contra-relógio a rolar, o que não é bom para os trepadores. Mas vamos tentar dar espectáculo e vencer a Volta."

E será certo que na Volta a Portugal estará um dos melhores pelotões dos últimos anos, pois a maioria dos melhores ciclistas que cá estavam, portugueses e estrangeiros, vão continuar em Portugal e o pelotão contará agora com Edgar Pinto, Sérgio Paulinho e Fábio Silvestre. O ciclista da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack destacou que todas estas presenças "são óptimas para o ciclismo português".

»»Sérgio Paulinho assina pela Efapel. "Está tão motivado como se continuasse no World Tour"««

26 de novembro de 2016

Terminaram as tréguas entre UCI e ASO. Redução de ciclistas nas grandes voltas tem afinal de ser aprovado

(Fotografia: Team Sky)
Aos poucos foi sendo claro que as tréguas entre a União Ciclista Internacional (UCI) e a Amaury Sports Organisation (ASO) não iam durar muito. E a guerra recomeçou mesmo. A decisão de cortar o número de ciclistas por equipas nas grandes voltas de nove para oito e nas restantes provas de oito para sete, afinal não pode ser apenas decidido pelos organizadores das corridas. A alteração da regra terá de ser aprovada pelo Conselho de Ciclismo Profissional (PCC, sigla em inglês), um aviso feito este sábado pela UCI, que reagiu assim à novidade avançada ontem.

Pelo o que está escrito no comunicado do organismo, dificilmente a ASO (que organiza o Tour), a RCS Sport (Giro) e a Flanders Classics (Volta a Flandres) vão conseguir concretizar o objectivo. "Este assunto foi discutido na reunião de Novembro do PCC e ficou acordado em estudar detalhadamente as implicações de tal redução nos próximos meses, sem que haja alterações em 2017", lê-se na nota divulgada pela UCI. É ainda salientado que os organizadores de várias provas de ciclismo estão devidamente representados no PCC e que qualquer mudança nos regulamentos tem de ser acordado no Conselho.

Segundo os regulamentos da UCI, para reduzir o número de ciclistas por equipa, o pedido terá de ser feito até dia 1 de Janeiro do ano em que se realiza o evento em que se pretende essa diminuição.

Este alerta da UCI irá certamente irritar principalmente a ASO (não é segredo que quer reduzir a possibilidade de domínios como tem acontecido com a Sky na Volta a França). É um tema falado há anos, mas que no acordo alcançado este ano entre ambos, não estava referido. De recordar que a ASO ameaçou retirar as suas provas do calendário World Tour, incluindo o Tour, se não fossem feitas algumas alterações. Uma delas era a redução do número de equipas no escalão principal, que acabou por ser adiado para 2019 de forma a que a Dimension Data não ficasse de fora um ano depois de ter subido ao World Tour. Há ainda o polémico sistema de promoção e despromoção, também adiado para 2019 que ainda deverá dar que falar.

Apesar da diminuição do número de ciclistas por equipa ser algo que até é apoiado por alguns corredores e directores desportivos, que concordam que um pelotão mais pequeno também poderá significar maior segurança, quando ontem os organizadores anunciaram a alteração, Jonathan Vaughters, manager da Cannondale-Drapac, afirmou que não é nesta altura do ano que se fazem mudanças, quando as equipas já prepararam os plantéis a pensar em determinado número de ciclistas para as competições.

E como tem sido habitual na longa guerra entre UCI e ASO, agora é esperar pelo próximo capítulo.

25 de novembro de 2016

Equipa de Rui Costa ainda sem licença World Tour. UCI vai analisar melhor o pedido. TJ Sport diz que solicitou adiamento do prazo

(Fotografia: Facebook Rui Costa)
A UCI confirmou esta sexta-feira 17 dos 18 pedidos de licenças World Tour para 2017 e 2018. De fora ficou a equipa de Rui Costa. A TJ Sport, que comprou a Lampre-Merida, tem o seu pedido ainda a ser avaliado. Quanto às restantes equipas não houve surpresas, com a Dimension Data a receber a licença, depois da incerteza perante a intenção de reduzir o número de equipas no principal escalão. Porém, confirmou-se a informação que a UCI iria adiar esse corte para 2019.

O comunicado da UCI não refere as razões que levaram o pedido da TJ Sport a ser submetido a mais avaliação, nem adianta quando anunciará a decisão. As equipas têm de responder a quatro critérios: administrativo, ético, financeiro e desportivo. A TJ Sport - que poderá tornar-se na primeira equipa chinesa no World Tour - limitou-se a explicar, num comunicado, que já tinha "pedido e obtido um adiamento do prazo pela UCI para completar os documentos de registo" para receber a licença World Tour. Lê-se ainda que a extensão foi "considerada necessária para fornecer da forma mais completa todos os documentos necessários" para assim "cumprir perfeitamente o requisitos da UCI".

A TJ Sport ficou com a maioria dos ciclistas que estavam na Lampre-Merida, incluindo o português Rui Costa. Contratou ainda Ben Swift (Sky) e John Darwin Atapuma (BMC). Garantiu também a parceria com a Colnago, que irá fornecer as bicicletas. No entanto, ainda não foram anunciados mais patrocinadores, apesar dos responsáveis terem dito que estavam em negociações.

No World Tour estão garantidas as seguintes equipas: AG2R La Mondiale, Astana, Bahrain-Merida, BMC, Bora-Hansgrohe, Cannondale-Drapac, Dimension Data, FDJ, Katusha-Alpecin, LottoNL-Jumbo, Lotto Soudal, Movistar, Orica-Bike Exchange, Quick-Step Floors, Sky, Sunweb (ex-Giant-Alpecin) e Trek-Segafredo.

Destaque para a Bahrain-Merida, a nova equipa e primeira do Médio Oriente, que entra directamente para o World Tour e também para a Bora-Hansgrohe (ex-Bora-Argon 18), que estava no escalão Profissional Continental e que irá continuar a contar com o português José Mendes.

Confirmada licença Profissional Continental para equipa de Ricardo Vilela

A equipa colombiana Manzana Postobón será uma das novas no segundo escalão do ciclismo, tendo sido confirmado oficialmente a licença à equipa que contratou o português Ricardo Vilela (ex-Caja Rural). A Irlanda também passará a ter uma equipa neste nível, a Acqua Blue Sport,  e a Israel Cycling Academy é outra das novidades.

A formação italiana Androni Giocattoli e a polaca Verva Activajet estão em posição idêntica à TJ Sport, com a UCI a anunciar que irá avaliar o pedido. Já a brasileira Funvic encontra-se numa posição mais complicada devido aos três casos de doping este ano (dois deles na Volta a Portugal, incluindo o vencedor da classificação da montanha Wilson Diaz). A licença da Funvic encontra-se actualmente suspensa. A equipa contratou o português Daniel Silva, da Rádio Popular-Boavista e terceiro classificado da Volta a Portugal.

Falta ainda saber a constituição do escalão Continental, mas aqui ficam todas as equipas (20) com licença aprovada para o nível Profissional Continental: Acqua Blue Sport, Bardiani-CSF, Caja Rural (que contará com Rafael Reis), CCC Sprandi Polkowice, Cofidis, Delko Marseille, Direct Energie, Fortuneo-Vital Concept, Gazprom-Rusvelo, Israel Cycling Academy, Manzana Postobón, Nippo-Vini Fantini, Roompot-Nederlandse Loterij, Sport Vlaanderen-Baloise, Novo Nordisk, UnitedHealthcare, Veranda’s Willems Crelan, Wanty-Groupe Gobert, WB Veranclassic Aqua Protect e WilierTriestina.

Pontos mais polémicos

A UCI confirmou que as equipas poderão escolher quais das dez novas provas do World Tour querem participar. Já a questão da promoção e despromoção de equipas que, faz parte do acordo com ASO, foi adiado para 2019, ano que o World Tour passará a ter 17 equipas e em 2020 serão 16. De recordar que já no próximo ano era suposto serem dadas 17 licenças. Porém, perante os 18 candidatos e com a principal candidata a ficar de fora a ser a Dimension Data - foi última do ranking World Tour -, a UCI e a ASO acordaram adiar a redução para 2019. Ajudou bastante a empresa Dimension Data ter um acordo para fornecer dados em directo na Volta a França.

No entanto, este sistema de promoção e despromoção promete ainda dar muito que falar.

Equipas nas grandes voltas com menos ciclistas

No mesmo dia em que a UCI anunciou as licenças foi também conhecido o acordo entre a Amaury Sports Organisation (ASO), RCS Sport e a Flanders Classics - três dos principais organizadores de corridas de ciclismo - que irá fazer com que as equipas passem em 2017 a competir com oito em vez de nove ciclistas na Volta a Itália, França e Espanha, e com sete em vez de oito noutras competições.

Este era já o desejo antigo, defendido também por ciclistas, principalmente em nome da segurança, pois esta forma permite diminuir o pelotão. E há que realçar que a ASO estava a pressionar para que esta decisão, agora tomada na assembleia da Associação Internacional de Organizadores de Corridas de Ciclismo, fosse oficializada. Uma das razões apresentadas para que sejam oito ciclistas e não nove nas grandes voltas é para tentar reduzir a probabilidade de um domínio declarado de uma equipa. Ou seja, da Sky na Volta a França, precisamente organizada pela ASO.

Calendário World Tour para 2017

  • Santos Tour Down Under (Austrália): 17 a 22 de Janeiro
  • Cadel Evans Great Ocean Road Race (Austrália): 29 de Janeiro*
  • Volta ao Qatar: 6 a 10 de Fevereiro*
  • Volta a Abu Dhabi: 23 a 26 de Fevereiro*
  • Omloop Het Nieuwsblad (Bélgica): 25 de Fevereiro*
  • Strade Bianche (Itália): 4 de Março*
  • Paris-Nice (França): 5 a 12 de Março
  • Tirreno-Adriatico (Itália): 8 a 14 de Março
  • MILANO-SANREMO (Itália): 18 de Março
  • Volta à Catalunha (Espanha): 20 a 26 de Março
  • Dwars Door Vlaanderen / A travers la Flandre (Bélgica): 22 de Março*
  • E3 Harelbeke (Bélgica): 24 de Março
  • Gent-Wevelgem (Bélgica): 26 de Março
  • VOLTA A FLANDRES (Bélgica): 2 de Abril
  • Volta ao País Basco (Espanha): 3 a 8 de Abril
  • PARIS-ROUBAIX (França): 9 de Abril
  • Amstel Gold Race (Holanda): 16 de Abril
  • Volta à Turquia: 18 a 23 de Abril*
  • Flèche Wallone (Bélgica): 19 de Abril
  • LIÈGE-BASTOGNE-LIÈGE (Bélgica): 23 de Abril
  • Volta à Romandia (Suíça): 25 a 30 de Abril
  • Eschborn-Frankfurt (Alemanha): 1 de Maio*
  • VOLTA A ITÁLIA: 6 a 28 de Maio
  • Volta à Califórnia (EUA): 14 a 21 de Maio
  • Critérium du Dauphiné (França): 4 a 11 de Junho
  • Volta à Suíça: 10 a 18 de Junho
  • VOLTA A FRANÇA: 1 a 23 de Julho
  • Clássica de San Sebastian (Espanha): 29 de Julho
  • Volta à Polónia: 29 a 4 de Agosto
  • RideLondon-Surrey Classic (Grã-Bretanha): 30 de Julho*
  • Eneco Tour (Benelux): 7 a 13 de Agosto
  • VOLTA A ESPANHA: 19 de Agosto a 10 de Setembro
  • Clássica de Hamburgo (Alemanha): 20 de Agosto
  • Clássica Bretanha-Ouest (França): 27 de Agosto
  • Grande Prémio do Quebéque (Canadá): 8 de Setembro
  • Grande Prémio de Montreal (Canadá): 10 de Setembro
  • GIRO DI LOMBARDIA (Itália): 30 de Setembro

*Novas competições no World Tour

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24 de novembro de 2016

Equipa queria o World Tour mas foi obrigada a dar um passo atrás e descer de escalão

(Fotografia: Facebook One Pro Cycling)
"No próximo ano o objectivo é estar nas grandes voltas, se não mesmo ser uma equipa World Tour." Em Fevereiro era este o discurso do ambicioso director desportivo da One Pro Cycling, equipa britânica que parecia estar a realizar um rápido crescimento para se juntar à Sky ao mais alto nível na representação da Grã-Bretanha. Nove meses depois, Matt Prior é um homem desiludido, mas não abatido: "Não conseguimos [substituir um patrocinador] portanto tomámos a decisão de ir para o nível Continental. Se vamos fazer algo, queremos fazê-lo bem."

No início de 2016, Prior admitiu que existiam conversas com grandes patrocinadores que poderiam permitir à One Pro Cycling chegar ao World Tour em 2017, ou o mais tardar em 2018, isto depois de a equipa ter começado em 2015 e recebido a licença Profissional Continental este ano. Na altura percebia-se o discurso. A equipa britânica começou a temporada muito forte com resultados de nota na corrida australiana Herald Sun e na Volta ao Dubai. Tinha ainda muita esperança na contratação de Matthew Goss, ciclista australiano que aos 20 anos já estava no World Tour, mas tinha tido um ano mesmo conseguido quando deixou a Orica pela então MTN-Qhubeka, no escalão Profissional Continental.

Outrora um ciclista de respeito nos sprints e nas provas de um dia, Goss não terminou a maioria das competições em que participou e anunciou que se iria retirar, alegando falta de motivação. Tem 30 anos.

Foi a primeira desilusão para a One Pro Cycling que apostava forte no australiano. Ainda assim, a equipa somou 13 vitórias, talvez as mais importantes a conquista da Tro-Bro Léon (França) pelo dinamarquês Martin Mortensen, com o britânico Peter Williams a ser segundo, e a primeira etapa da Volta à Noruega por intermédio do australiano Steele Von Hoff.

A ambição não se traduziu em resultados, mas o pior ainda estava para vir. Em Outubro, Matt Prior foi informado pela Factor Bikes, fornecedor das bicicletas, que a empresa não iria continuar com a equipa britânica. Irá agora entregar as suas bicicletas à formação francesa do World Tour AG2R. "[Essa saída] deixou-nos com um mês para cobrir o que faltava [de dinheiro] com outro patrocinador ou outro parceiro. Isso não aconteceu", explicou o director desportivo ao site Cycling News.

Prior acrescentou que entende que muitos vejam esta descida de escalão "como um passo a atrás". "Não era a direcção que queríamos, mas é a direcção que agora temos de ir. Mas não vamos ser uma equipa Continental para o resto das nossas vidas. A ambição é voltar já em 2018", salientou.

Ficou-se sem saber quem seriam os tais grandes patrocinadores que estariam interessados no início do ano em levar a One Pro Cycling até ao escalão World Tour. Mas uma coisa é certa, Matt Prior não atira a toalha ao chão. Aliás, afirmou que muitas equipas teriam terminado se estivessem na posição da sua. Há que dar mérito a Prior de pelo menos saber adaptar a sua ambição e não desistir. Essa atitude parece também motivar os seus ciclistas, pois muitos vão continuar com a equipa apesar da descida de escalão.

É mesmo caso para dizer que Matt Prior espera dar um passo atrás, para dar dois à frente, admitindo, no entanto, que perdeu o controlo da situação, percebendo também que uma estrutura World Tour implica uma base muito forte para ter futuro e não ser algo efémero. Essa base é algo que claramente a One Pro Cycling neste momento não tem.

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Nesta corrida os ciclistas não tentam esconder-se do vento, enfrentam-no de frente

(Fotografia: Wikimedia Commons)
Esqueçam a protecção aos líderes, o medo que o vento corte o pelotão e se perca tempo que custe uma Volta a França, Espanha ou Itália. Nesta corrida quanto mais forte for a rajada melhor. Chama-se Campeonato de Ciclismo de Vento de Frente Holandês e o objectivo é cumprir os 8,5 quilómetros o mais rapidamente possível (um contra-relógio, portanto), mas a enfrentar um vento de frente - que este ano chegou aos 110 quilómetros/hora - numa bicicleta de uma velocidade e com uma aerodinâmica nada habitual nas corridas.




Este ano realizou-se a quarta edição (no dia 20, domingo), que contou com 200 inscrições individuais e de 25 equipas. E até houve alguns nomes mais conhecidos, como Johnny Hoogerland, ciclista holandês que se retirou este ano da competição. A corrida realiza-se na barreira de Oosterscheldekering, que protege aquela zona de inundações. A competição é anunciada apenas três dias antes, quando há garantias que as condições meteorológicas serão perfeitas, ou seja, um bom temporal. Todos os ciclistas partem com bicicletas iguais, fornecidas pela organização e depois é "simples": pedalar contra o vento e fazer o melhor tempo.

O triatleta Teun Sweere venceu na competição masculina com o tempo de 22:30 minutos, enquanto nas senhoras Mathilde Matthijsse fez 28:09 e por equipas a melhor foi a Jan de Jonge Cycling. Foram os piores tempos das quatro edições, mas também foi dos anos em que o vento esteve mais forte.

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23 de novembro de 2016

A tentação do Giro que ameaça a Volta a França

(Fotografia: Facebook Katusha)
Ilnur Zakarin diz não à Volta a França e em 2017 vai estar no Giro e na Vuelta. O russo pode ainda não ser um dos grandes nomes do ciclismo, ao nível daqueles que a organização da 100ª edição da Volta a Itália mais quer ver a competir em Maio nas estradas transalpinas: Chris Froome, Nairo Quintana e Alberto Contador. Porém, esta confirmação sobre a temporada de Zakarin é muito importante tendo em conta que o russo é agora o número um da Katusha, com a saída de Joaquim Rodríguez. Ou seja, a equipa, que será suíça em 2017, não vai "jogar" o seu principal ciclista naquela que é considerada a prova mais importante e mediática do mundo: a Volta a França.

Viatcheslav Ekimov, director da equipa demissionário - assumirá um papel de embaixador - confirmou publicamente e Zakarin (que até venceu uma etapa no Tour) junta-se assim a Vincenzo Nibal (líder da nova Bahrain-Merida), Fabio Aru (líder da Astana), Rafal Majka (líder da Bora-Hansgrohe) e Steven Kruijswijk (líder da Lotto-Jumbo). É certo que a Bora, por exemplo, poderá ter Leopold König no Tour e a Lotto-Jumbo Robert Gesink, contudo Majka e Kruijswijk são as primeiras escolhas no que diz respeito a provas de três semanas. Quanto aos italianos, seria quase um crime os dois melhores da actualidade não estarem presentes, mas Aru já disse que depois vai à Vuelta, enquanto Nibali só confirmou, para já, o Giro.

E agora os nomes que podem deixar a organização da Volta a França pouco satisfeita. Quando foi anunciado o percurso do Giro praticamente todos os principais ciclistas elogiaram, mas aos poucos foram fazendo mais do que isso. Foram dizendo que gostariam de ir ao Giro. Thibaut Pinot (FDJ) e Romain Bardet (AG2R) foram inicialmente barrados pelas equipas, pois as estrelas francesas, de equipas francesas devem estar no Tour. Porém, já foram surgindo informações que afinal um deles ou mesmo os dois podem apostar fazer a dupla Giro/Tour. Tom Dumoulin também parece estar inclinado para atacar o Giro e não deverá encontrar resistência da Sunweb-Giant (novo nome da Giant-Alpecin) que optará novamente por apostar em Warren Barguil no Tour.

Chris Froome lançou a confusão quando também abriu a porta ao Giro, mas a Sky já anunciou Mikel Landa como líder. No entanto, parece que a esperança de ver o britânico em Itália ainda não morreu completamente.

A grande surpresa acabou por ser Nairo Quintana. Depois de um Tour para esquecer, mas de uma Vuelta brilhante, o colombiano parte para 2017 de confiança renovada e crente que se recuperou tão bem entre a prova francesa e a espanhola, então poderá ser possível fazer o mesmo entre Giro e Tour. A Movistar não parece estar completamente convencida e Andrey Amador vai sendo falado como líder. Mas Quintana tem grande influência na forma como a sua época é planeada, pelo que se decidir tentar fazer esta dobradinha, Eusebio Unzué certamente que lhe criará todas as condições para tal. O colombiano até é visto como o mais forte candidato a repetir um feito que não se vê desde 1998, quando Marco Pantani venceu o Giro e o Tour.

Alberto Contador é carta fora do baralho. O espanhol quer a Volta a França e só a Volta a França. Eventualmente lá fará a Vuelta, apesar de dizer que se retira de vencer o Tour. Foi o último ciclista a tentar ganhar as duas provas no mesmo ano, em 2015, triunfando no Giro, mas depois não teve pernas para acompanhar os rivais no Tour, sendo quinto a quase dez minutos do vencedor Chris Froome.

Já a Orica-BikeExchange mantém o mistério. Para uma equipa que sempre apostou em sprints ou clássicas, agora tem um grupo de ciclistas que lhe permite escolher atacar mais que uma grande volta. Johan Esteban Chaves foi segundo no Giro e terceiro na Vuelta e poderá ser escolhido para o Tour. Mas será que a Orica aposta tudo na Volta a França, colocando também os irmãos Yates, ou divide as forças? Certo será que a equipa australiana vai ao Giro para tentar ganhar, seja com quem for o líder.

A verdade é que a Volta a Itália ameaça "tirar" os melhores ao Tour. Pelo menos tirá-los da melhor forma, caso resolvam fazer as duas provas. Fica também a questão se o facto de Landa ter sido confirmado como líder da Sky, algumas equipas comecem a pensar que em vez de lutar contra o mais do que esperado domínio da equipa britânica no Tour, poderão antes apostar em provas nas quais podem ter uma hipótese de ganhar, como qualquer outra equipa. A Volta a França traz um mediatismo incomparável, mas ganhar uma grande volta, seja qual for, é sempre muito valorizado e a Sky não se tem mostrado tão forte no Giro e na Vuelta.

Num perspectiva portuguesa, será que é desta que Rui Costa deixa de ter a Volta a França como objectivo principal? Já José Mendes confessou em entrevista ao Volta ao Ciclismo que gostaria de estar no Giro e assim fazer o pleno nas grandes voltas.

Fica a sensação que perante tantas declarações de intenções e elogios ao Giro, que bastará um dos grandes nomes confirmar a presença, para motivar os outros a fazer o mesmo. É esperar para ver.


22 de novembro de 2016

Os emocionantes relatos de um dos momentos mais dramáticos do ano e as imagens de uma recuperação fantástica

(Fotografia: Facebook de Adriano Malori)
O caso de Adriano Malori tornou-se num dos exemplos de como a força de vontade pode ter uma grande influência na vida. Em Janeiro o italiano da Movistar sofreu um acidente na Volta a San Luis, na Argentina, que colocou em risco primeiro a própria vida, depois o futuro como ciclista profissional.

Neste vídeo, ciclistas que viveram de perto o momento dramático - como Nairo Quintana -, assim como médicos e fisioterapeutas que contribuíram para a fantástica recuperação em pouco mais de sete meses, dão o seu testemunho, relatos emocionantes, acompanhados por imagens comoventes dos dias difíceis que viveu Malori.

"Se quiseres, podes", é a lição que Malori diz ter tirado da sua experiência e que ainda não terminou, pois, como o próprio admite, só para o ano saberá se voltará a ser o Malori ganhador que era antes do acidente.

Movistar. Um exemplo de como uma verdadeira equipa mantém-se unida e a ganhar apesar dos maus momentos

(Fotografia: Facebook Movistar)
A Movistar acabou o ano em grande com uma excelente vitória de Nairo Quintana na Volta a Espanha. Uma demonstração de talento, qualidade e inteligência que o colombiano não tinha conseguido mostrar no Tour. Porém, o ano da Movistar teve momentos de verdadeiro pesadelo, mas Eusebio Unzué, o director desportivo, soube manter esta equipa unida e concentrada nos seus objectivos e só, por isso, já merecia um lugar de destaque. No entanto, a prova como esta formação espanhola reage às adversidades está nos resultados que a colocaram mais uma vez como a número um do ranking World Tour.

Era o ano do “sueño amarillo” de Nairo Quintana. Tudo pela Volta a França. Mas muito antes de sonho se tornar um pesadelo, a Movistar começou logo a viver um em Janeiro quando Adriano Malori foi de cabeça ao chão no Tour de San Luis, na Argentina. O italiano esteve em coma induzido e mesmo quando se ultrapassou a pior das expectativas, muito se duvidava se Malori voltaria a competir. A 9 de Setembro, no Grande Prémio do Quebéque lá estava ele. Uma recuperação extraordinária. O azar infelizmente perseguiu Malori: 19 dias depois caiu na Milano-Torino e partiu a clavícula.

Ainda a Movistar tentava recuperar psicologicamente do acidente de Malori – na altura pensou-se que falharia pelo menos a restante temporada se voltasse a competir – foi a vez de Francisco Ventoso tornar-se na voz da revolta contra a experiência então em vigor dos travões de disco. No Paris-Roubaix, o espanhol ficou envolvido numa queda na qual alguns ciclistas tinham bicicletas com os referidos travões. Ventoso ficou com um corte impressionante na perna. Numa carta aberta publicada, o espanhol falou dos perigos e apelou para que os travões de disco não fossem utilizados. A experiência foi suspensa (irá voltar em 2017). Ventoso voltou à competição quase um mês depois.

  • 1º lugar do ranking World Tour com 1471 pontos
  • 36 vitórias (12 no World Tour, incluindo uma etapa nas três grande voltas e a geral na Vuelta)
  • Alejandro Valverde e Nairo Quintana foram os ciclistas com mais vitórias: 7 cada um


E para terminar o ano, José Joaquín Rojas caiu na 20ª etapa da Vuelta e partiu uma perna. Apesar de não ter competido mais, o espanhol está a recuperar bem e vamos vê-lo em 2017 como um dos importantes homens de trabalho para Nairo Quintana.

Voltando ao “sueño amarillo” do colombiano. O ciclista preparou toda a temporada a pensar no Tour, passando muito tempo em treino de altitude na “sua” Colômbia, somando pouco dias de competição. Foram 74 no total, mais de metade passados no Tour e na Vuelta. A forma como escolhe as provas é perfeita, pois se compete é para ganhar: foi terceiro em San Luis (a vitória ficou para o irmão, Dayer), primeiro na Catalunha, terceiro no País Basco, primeiro na Romandia e Route du Sud. Só nos campeonatos nacionais (quarto) e no Grande Prémio Miguel Induráin (não terminou) ficou fora do pódio. Impressionante.

Ganhar a Volta a França é a grande obsessão da carreira de Quintana, mas se este é um pesadelo que fisicamente não deixou marcas, psicologicamente foi muito doloroso para o colombiano ser tão dominado pela Sky e terminar no terceiro lugar atrás o rival Chris Froome, sendo ainda ultrapassado por Romain Bardet (AG2R).

Mais uma vez a Movistar revelou como um momento mau pode ser transformado em força e motivação. Quintana chegou à Vuelta um ciclista transformado, mais próximo daquele que conhecemos e venceu a prova com autoridade à frente de Chris Froome, que se rendeu ao colombiano com uma das imagens do ano, ao aplaudir Quintana quando cortou a meta na penúltima etapa.

Seria impossível falar da Movistar sem falar de Alejandro Valverde. Mas que temporada louca do espanhol. Aos 36 anos participou nas três grandes voltas – já avisou que não o voltará a fazer – e foi terceiro na sua estreia no Giro (venceu uma etapa), sexto no Tour e 12º na Vuelta, não esquecendo que nas últimas duas foi um importante gregário para Quintana. Ganhou a Ruta del Sol e foi ganhar a sua querida Flèche Wallonne pela quarta vez, terceira consecutiva, depois de conquistar a Volta a Castela e Leão. E só para terminar, um sexto lugar na Lombardia e uma renovação de contrato até 2019. Fica a sensação que a idade não pesa (muito) em Valverde e que lhe esperam ainda umas vitórias importantes.

De quem também se espera muito é de Nelson Oliveira. O ciclista português teve uma primeira temporada na Movistar extremamente positiva. Não foi feliz na época das clássicas, com uma queda no Paris-Roubaix a prejudicar-lhe essa fase do ano. Porém, ganhou a confiança de Unzué e Quintana para ser um dos seus homens de confiança e cumpriu à risca o seu trabalho no Tour. As coisas podem não ter corrido bem na Volta a França para a equipa, mas Nelson Oliveira esteve em destaque, não só pelo que fez em prol de Nairo Quintana, mas também pelo terceiro lugar no contra-relógio, sendo apenas batido por Tom Dumoulin e Chris Froome.

A Movistar é das equipas que mais trabalha esta especialidade do ciclismo, pelo que Nelson Oliveira está a continuar a progredir. Além deste terceiro lugar, foi quarto nos Europeus (ganhos pelo colega Jonathan Castroviejo) e sétimo nos Jogos Olímpicos, além de ser campeão nacional pela quarta vez. Os Mundiais não correram tão bem – o calor e o percurso plano não o beneficiaram – sendo 20º classificado.

Porém, em 2017, Nelson Oliveira deverá voltar a ter o seu momento de liberdade em algumas clássicas e a ver vamos até onde vai esta evolução no contra-relógio, não havendo dúvidas que a Movistar aposta forte no português.