© Photo Gomez Sport/La Vuelta |
É que não foi só Roglic que teve razões para sorrir. O esloveno conquistou a sua quarta etapa (!) está de novo na liderança - troca outra vez com Richard Carapaz -, mas o equatoriano também saiu satisfeito do contra-relógio de 33,7 quilómetros. Os últimos 1,8 foram na subida até ao Mirador de Ézaro, com pendente média de quase 15%. E o que dizer de Hugh Carthy? Quase que foi o mais feliz de todos!
Para Roglic foi, então, importante ultrapassar uma possível barreira psicológica com os contra-relógios em grandes voltas. Não muda nada o que aconteceu no Tour, mas pode influenciar muito os contra-relógios que virão, principalmente na Volta a França. E em 2021 serão dois, em 58 quilómetros no total. Para Carapaz foi importante não ver Roglic ganhar demasiada diferença. O Alto de la Covatilla, no sábado, é a subida mais difícil até ao final da Vuelta, mas até lá haverá muita montanha para ultrapassar.
Com a diferença a ser de 39 segundos, a Ineos Grenadiers e o seu líder, Carapaz, sabem que terão trabalho a fazer para atacar Roglic, mas o equatoriano também sabe que este tempo é recuperável. Nada está perdido. O esloveno não tem um historial muito bom na terceira semana das grandes voltas. Tem tendência a perder algum fôlego. Carapaz vai tentar explorar qualquer possível fraqueza que surja por parte do ciclista da Jumbo-Visma.
O mesmo acontecerá com Hugh Carthy. O britânico da EF Pro Cycling, vencedor no Angliru, demonstrou que está mesmo em boa forma. Fez um excelente contra-relógio e não só consolidou o seu terceiro lugar, como está ao assalto ao segundo e de olhos postos numa possível surpresa. São 47 segundos a separá-lo de Roglic.
Carthy está a demonstrar que é o ciclista que está a melhorar mais com o decorrer da competição. Agora tem de comprovar isso nos próximos quatro dias (domingo é dia de consagração até Madrid). Espera que Michael Woods continue a ter um papel essencial na ajuda, como aconteceu nas mais recentes etapas de montanha, incluindo no Angliru.
Se este trio vai dominar as atenções, há que referir que Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) também não esteve mal. Porém, 1:42 minutos já é uma diferença complicada de recuperar para Roglic, mas o irlandês não irá certamente abandonar a ideia de pelo menos chegar ao pódio.
E há mais alguém? Enric Mas foi um desastre, o próprio admite. A Movistar sai derrotada do contra-relógio. 3:23 minutos já deixa pouca margem para o espanhol sequer pensar no pódio, salvo algum volte face inesperado. O que pode valer a Mas é que estamos na Vuelta e as reviravoltas acontecem! Alejandro Valverde bem terá de se esforçar para segurar o top 10. Marc Soler continua a cair na classificação.
Referências positivas, ainda que a ambicionar "apenas" por ficar nos dez primeiros: Wout Poels (Bahrain-McLaren) é mais um ciclista em subida de forma, assim como David de la Cruz (UAE Team Emirates).
© Photo Gomez Sport/Movistar |
A referência mais positiva é Nelson Oliveira. Vira-se a análise para o lado português e o nosso maior especialista de contra-relógio ficou novamente perto de conseguir a vitória que tanto merece. Apesar de ser um candidato a melhor gregário da Vuelta (se tal distinção existisse como prémio), o ciclista de Anadia teve liberdade para ir a fundo no contra-relógio. A Movistar bem precisa de ganhar. Só tem duas vitórias em 2020 e visto que a geral já não estava bem encaminhada ainda antes de Enric Mas partir para a etapa, ver Oliveira sair vencedor seria um resultado bem-vindo.
O português esteve muito bem, fez uma boa troca de bicicleta antes da subida final e chegou a sentar-se na cadeira do mais rápido. Por pouco tempo, no entanto. Will Barta (CCC) bateu por nove segundos o tempo de Oliveira, que acabaria a 10 dos 46:39 de Roglic. Ficou a dúvida se Barta não terá recebido uma ajuda além das regras, quando foi empurrado por um membro da equipa. Parece ter passado a linha limite, mas o resultado manteve-se e Roglic acabou por ser o vencedor, não dando azo a possíveis polémicas.
Nelson Oliveira fica regularmente entre os melhores no contra-relógio nas grandes competições, mas aquela vitória que tanto procura continua a escapar.
De referir ainda, que o actual campeão nacional, Ivo Oliveira (UAE Team Emirates) ficou a 2:14 de Roglic. O companheiro Rui Costa fez mais 3:31 minutos, com a subida final a não correr tão bem como toda a parte mais plana. O outro Oliveira, o Rui, terminou com mais 5:13. Ricardo Vilela (Burgos-BH) fez mais 7:14 minutos.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
14ª etapa: Lugo - Ourense, 204,7 quilómetros
Sobe, desce, sobe mais um pouco, toca a descer... Vai ser assim numa etapa rara da Vuelta: tem mais de 200 quilómetros. E não será a mais longa, pois quinta-feira o pelotão terá pouco mais de 230 pela frente.
Com tiradas mais curtas, a velocidade tem sido grande quase todos os dias. Nesta fase final da corrida, o esforço já se faz sentir em todos e é preciso saber onde se irá arriscar para fazer abanar Roglic e, principalmente, a Jumbo-Visma, que tem um Sepp Kuss, que compete com Nelson Oliveira para ser o melhor gregário. Entrou-se na fase que qualquer erro, pode pagar-se caro.
»»Hugh Carthy no nível há muito esperado««
»»O protesto, a estreia a vencer, o empate na frente e a expectativa para o Angliru««
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