2 de outubro de 2020

Volta a Itália arranca com o estreante João Almeida

© João Calado/Volta ao Algarve
"É preciso muito trabalho e também muita sorte para encaixar nesse pelotão [World Tour]." Estávamos em 2016 quando esta frase foi dita numa entrevista ao Volta ao Ciclismo. Foi um ano que João Almeida e Daniel Viegas tinham dominado no escalão de juniores. Faltavam poucos dias para o Mundial de Doha e ambos sabiam da importância de aproveitar provas como essa para se mostrarem. Dadas as performances naquela temporada, onde ganhava um ou ganhava outro, era impossível não falar sobre a possibilidade de um dia chegarem ao World Tour. Já nessa altura, Almeida demonstrava o seu lado trabalhador, mas também humilde. Sonhava, mas mantinha os objectivos bem reais. Quatro anos depois, João Almeida prepara-se para um grande dia: vai estrear-se numa grande volta.

Logo no seu primeiro ano de World Tour, o ciclista da Caldas da Rainha consegue uma chamada para a Volta a Itália. Na Deceuninck-QuickStep tem estado fantástico. Se na Austrália começou "devagar", na Volta ao Algarve foi decisivo na ajuda à vitória de Remco Evenepoel e fechou top dez. Os bons resultados continuaram na retoma do ciclismo: venceu a camisola da juventude no Tour de l'Ain e foi terceiro na geral da Volta a Burgos e Giro dell'Emilia.

João Almeida arrancou em 2020 como um dos novos ciclistas no World Tour a seguir com atenção. Agora é um dos jovens talentos de quem ninguém tira os olhos. Não é o momento para dizer desde já que vai alcançar um grande resultado no Giro. É altura sim, para ver como o corredor de 22 anos se adapta a uma prova muito exigente, de três semanas.

Na sua fase de formação, Almeida deu mostras como poderia ser ciclista para certas clássicas. E até venceu a Liège-Bastogne-Liège de sub-23 em 2018. Mas então, na Hagens Berman Axeon, também já revelava como as provas por etapas lhe assentavam bem. A Deceuninck-QuickStep já seguia a evolução do português e chegou a chamá-lo para estágios.

João Almeida começa assim a confirmar as expectativas de ser um vencedor e um dedicado trabalhador para atingir o seu melhor, características que já se viam quando ainda estava nos escalões de formação. Este sábado, ao arrancar o contra-relógio de 15,1 quilómetros entre Monreale e Parlemo, o ciclista dá mais um passo numa carreira que ainda tem muitos para dar, mas que está a ir na direcção certa.

Por ser mais um português a ter o que é necessário (e é muito) para triunfar no World Tour, era inevitável colocá-lo em destaque neste início do Giro, mesmo que na corrida estejam nomes como Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) Simon Yates (Mitchelton-Scott), Vicenzo Nibali (Trek-Segafredo), Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), Jakob Fuglsang (com Miguel Ángel López desta feita em segundo plano, depois de fazer o Tour pela Astana), as principais figuras na luta pela maglia rosa. E ainda há um Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) a estrear-se na Volta a Itália, esperando que possa finalmente regressar às vitórias em etapas.

Remco Evenepoel também lá estaria em condições normais. Mas a grave queda na Lombardia terminou com uma temporada que estava a ser sensacional, só com vitórias. Como João Almeida estava a ser um braço-direito importante para o belga, já se falava a possibilidade de eventualmente ser chamado. Foi mesmo e sem Evenepoel abrem-se também outras perspectivas para o português e para os restantes ciclistas da equipa.

A Deceuninck-QuickStep não centrará a sua táctica tanto num ciclista ou dois. Haverá alguma liberdade, com Fausto Masnada a poder assumir alguma relevância, enquanto Álvaro Hodeg será o homem dos sprints. Davide Ballerini, Mikkel Frolich Honoré, Iljo Keisse e Pieter Serry serão tanto homens de trabalho, como de fuga, com James Knox a ser mais um jovem com oportunidade para se mostrar, tal como Almeida.

Rúben Guerreiro em acção

Para Rúben Guerreiro será a sua segunda grande volta, depois do brilharete na Vuelta do ano passado. Mudou-se da Katusha-Alpecin para a EF Pro Cycling e gostou de tal forma da experiência das três semanas que, desde então, nunca se coibiu de dizer que queria mais. Muito mais.

Custou um pouco conseguir estar numa grande volta, até porque tem sido um ciclista com algum azar, entre problemas de saúde e quedas. Na Volta a Espanha, passou pela experiência que João Almeida vai agora viver no Giro. E foi uma experiência muito bem conseguida. Esteve perto de ganhar uma etapa, andou em fugas, animou tiradas e garantiu contrato para 2020. Ao perceber que tinha o necessário para ser competitivo nas grandes voltas, tornou-se uma aposta sua.

A EF Pro Cycling não terá um líder assumido, o que significa que Guerreiro terá a possibilidade de correr como gosta: livremente. Contem com ele para tentar aparecer, pois o entusiasmo pelas grandes voltas é mesmo muito grande por parte deste ciclista de 26 anos.

1ª etapa (3 de Outubro): Monreale - Palermo (CRI), 15,1 quilómetros

O Giro começa com uma subida quarta categoria, mas depois será a descer ou em plano. Os especialistas irão à procura de vestir a maglia rosa. Realce para Victor Campenaerts, que por esta altura já sabe que a NTT está com problemas e apesar de ter contrato, procura garantir o seu futuro perante a indefinição da estrutura sul-africana.

Não que precise de mais motivação, porque é um homem que gosta e sabe o que é ganhar, mas 2020 não lhe está a correr de feição na sua especialidade e o belga aposta forte na Volta a Itália. Mas a concorrência será forte. Rohan Dennis também precisa de um bom resultado e já sabe o que é vestir de rosa.

A Ineos Grenadiers tem ainda o novo campeão do mundo, que sucedeu precisamente a Dennis: Filippo Ganna. Com Geraint Thomas para a geral, a equipa britânica tem uma imagem a limpar, depois de um Tour muito fraco.


Sem comentários:

Enviar um comentário