24 de outubro de 2020

Um Giro para a história

© Giro d'Italia
Por cá, jamais esqueceremos a 103ª edição da Volta a Itália. Afinal foram 15 dias com um ciclista português como líder - algo inédito em qualquer grande volta para o ciclismo nacional -, numa exibição marcante do estreante João Almeida. E ainda estamos perto de ter outro dos nossos ciclistas a vencer pela primeira vez uma classificação numa corrida de três semanas. Ruben Guerreiro é o rei da montanha (camisola azul) e venceu uma etapa. Porém, este Giro ganhou mais um elemento histórico, daqueles que se falará em todo o mundo por muito tempo: pela primeira vez em grandes voltas dois ciclistas partem para a última etapa empatados em tempo.

85:22.07 horas. Foi preciso ir aos centésimos dos contra-relógios para encontrar o novo líder do Giro, com Jai Hindley a ficar com a camisola rosa do companheiro da Sunweb, Wilco Kelderman. Tal como no Stelvio, o holandês cedeu e tal como no Stelvio, Hindley seguiu a roda de Tao Geoghegan Hart que tem um novo melhor amigo: Rohan Dennis. O australiano está feito num gregário de luxo. Se o britânico vencer o Giro este domingo, muito tem a agradecer a Dennis e foi visível esse reconhecimento pela forma como abraçou o colega no final da etapa.

A história nas três subidas a Sestriere foi em tudo idêntica à do Stelvio, mas desta feita Geoghegan Hart venceu e Hindley foi segundo. Segunda vitória para o britânico, sexta da Ineos Grenadiers! Este domingo Filippo Ganna é favorito para garantir a sétima, com Geoghegan Hart a poder ser o vencedor do Giro, algo que até recentemente nem se falava.

Foi uma Ineos Grenadiers que olhou à distância para a camisola rosa e tirou um coelho da cartola inesperado: Rohan Dennis. Já a Sunweb treme. A decisão de não deixar Hindley no Stelvio para ajudar Kelderman pode ainda custar caro. Para já, com o holandês a ceder novamente, parece ter sido a decisão mais correcta, pois agora de pouco valem o "se" Hindley tivesse ajudado, talvez Kelderman não perdesse tanto tempo, estivesse mais confiante e acreditasse que a equipa o apoiava.

Agora só há uma escolha: Hindley. O jovem australiano, de 24 anos pode tornar-se no primeiro ciclista do seu país a vencer o Giro. Geoghegan Hart pode ser o segundo, depois de Chris Froome. O terceiro frente-a-frente será o do tudo ou nada, numa Volta a Itália recheada de emoções (principalmente para Portugal) e que acaba em grande.

João Almeida, um senhor ciclista

Um último fôlego, um último esforço de João Almeida e da Deceuninck-QuickStep. Nos 190 quilómetros entre Alba e Sestriere, a equipa belga colocou vários ciclistas na frente que, ao não terem possibilidade de ganhar a etapa, todos acabaram a ajudar Almeida num derradeiro ataque.

Kelderman até beneficiou de todo este esforço do português durante alguns quilómetros, mas Almeida acabaria por se afastar, à procura de pelo menos subir ao quarto lugar. Pello Bilbao (Bahrain-McLaren) ficou a 23 segundos de distância, tempo que não será fácil recuperar nos 15,7 quilómetros finais, até porque o espanhol é o campeão nacional da especialidade. Mas não é impossível e já se percebeu que para Almeida, o mote é lutar até ao fim. Excelente atitude de um senhor ciclista de apenas 22 anos.

De referir que o sexto classificado, Jakob Fuglsang (Astana), está a mais de três minutos de João Almeida. O top cinco é bem merecido para o português. O pódio também não lhe ficaria nada mal, mas só um colapso total de Kelderman permitiria chegar ao terceiro posto, pois tem mais de minuto e meio de vantagem.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

21ª etapa: Cernusco Sul Naviglio - Milano (CRI), 15,7 quilómetros


É um contra-relógio sem dificuldades de maior, excepto a parte final mais técnica, devido a algumas curvas a 90 graus, segundo a explicação dada pela organização do Giro. Cai o pano na Volta a Itália, em Milão. Quem celebrará?


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