© Deceuninck-QuickStep |
Peter Sagan é uma pálida imagem daquilo que demonstrou em anos anteriores. Já em 2019 não foi o mesmo, mas esta temporada ainda nem ganhou. Sem chama, sem alegria, este Sagan é simplesmente estranho de ver. É a sua décima época como profissional, mas pouco ou nada tem para recordar dela até ao momento. E nem a camisola verde que lhe tem estado destinada quase sem luta em sete dos últimos oito anos está bem encaminhada. Pelo contrário. Sagan está a viver algo novo: bem a veste, mas Sam Bennett teima em tirá-la.
Pela segunda vez, o irlandês da Deceuninck-QuickStep consegue liderar a classificação dos pontos. A curiosidade é que Sagan tem finalmente um opositor ao seu nível que até 2019 foi seu colega de equipa na Bora-Hansgrohe. Outra curiosidade é que Bennett também não está (ou melhor, não estava) a ser particularmente feliz em 2020.
Ao contrário do que tem acontecido com os sprinters mais experientes que a equipa belga contrata, Bennett não "pegou de estaca". Quatro vitórias antes do Tour não é mau, mas o irlandês já produziu mais e melhor em temporadas anteriores. Aliás, foi por ser um sprinter ganhador, que bateu com a porta à Bora-Hansgrohe e forçou a saída ao ser constantemente preterido no Tour para Sagan, além de também estar a ser ultrapassado na hierarquia por Pascal Ackermann.
Uma das boas características da Deceuninck-QuickStep é que o apoio entre todos os ciclistas é enorme, quer se viva uma fase positiva ou menos boa (raramente é negativa a nível de resultados). Mesmo nesta Volta a França, Bennett não estava a convencer nos sprints, mas a equipa continuou a protegê-lo e a lançá-lo na decisão final. Este terça-feira chegou o seu momento.
Bennett venceu um Caleb Ewan (Lotto Soudal) que ainda assustou o irlandês. A emoção foi tal, que Bennett mal conseguiu falar na flash interview. Chorou. "Não quero parecer um bebé chorão", disse. A muito custo lá explicou o quanto tinha sonhado com uma vitória no Tour. Aos 29 anos ela chegou e ainda permitiu que o ciclista entrasse no grupo dos que venceram etapas nas três grandes voltas. Só está a fazer a sua sexta.
Entre os nomes mais recentes a entrar na lista estão, por exemplo, Thibaut Pinot, Thomas de Gendt e Caleb Ewan. Mas não Peter Sagan. O eslovaco vai tentar resolver essa questão na Volta a Itália, onde se irá estrear. O Giro está, aliás, a servir como uma tentativa de justificação da forma menos apurada de Sagan. A notória falta de potência nos sprints revela um ciclista longe de outros tempos, em que, não sendo um sprinter puro, conseguia ganhar. Ainda assim, é difícil acreditar que esteja a preparar um pico de forma apenas para Itália. Afinal, o Tour é o Tour.
O terceiro lugar de hoje até foi dos resultados mais animadores, com Sagan a ser exímio na luta pela camisola verde. Desde o primeiro dia que vai tentando somar pontos nos sprints intermédios e, claro, no finais. Admite que ganhar uma etapa vai ser difícil, contudo, o problema é que Bennett não só já ganhou, como também tem estado melhor em vários sprints intermérdios..
Michael Matthews foi o ciclista que nos últimos anos deu mais luta a Sagan e mesmo assim não teve grande hipótese. Bennett ameaça ser um caso bem diferente. A Deceuninck-QuickStep está unida para destronar Sagan, que terá de melhorar se quer uma histórica camisola verde.
Bennett soma 196 pontos, contra os 175 de Sagan, com Bryan Coquard a somar 129 e Matteo Trentin (CCC) - sempre muito activo nos sprints intermédios, mas longe na disputa pela vitória final - tem 123. Wout van Aert (Jumbo-Visma) soma 111, mas o belga está mesmo dedicado em proteger o líder do Tour Primoz Roglic. Ainda assim, olha-se com desconfiança para um ciclista que, a trabalhar como gregário, pôde lutar duas vezes para vencer etapas e ganhou ambas.
Os testes, o vento e as quedas
O dia começou então com os resultados aos testes da covid-19. Ineos, Mitchelton-Scott, Cofidis e AG2R tiveram um membro do staff a dar positivo. Recorde-se que dois casos numa equipa e esta é excluída do Tour. O quinto caso foi Christian Prudhomme, o director da corrida. Estará afastado pelo menos durante oito dias.
Confirmado que nenhum ciclista tinha testado positivo, 165 partiram (Domenico Pozzovivo, da NTT, ficou de fora, mas devido aos ferimentos da queda no primeiro dia) de Île d'Oléron le Château-d'Oléron até Île de Ré Saint-Martin-de-Ré, em 168,5 quilómetros sem qualquer montanha. Etapa para sprinters, mas não foi um passeio.
Apesar do vento não ser muito forte, aos 100 quilómetros a Deceuninck-QuickStep acelerou para partir o pelotão. E conseguiu. Porém, ao contrário do que aconteceu na sexta-feira, nenhum dos principais nomes foi apanhado desprevenido. Tadej Pogacar ainda sofreu uma queda, mas o líder da UAE Team Emirates recuperou o seu lugar numa altura em que começava a haver tréguas no que sobrava do grupo da frente.
As quedas foram muitas, numa etapa que passou por várias localidades. As ilhas de tráfego quando o pelotão pedala a uma velocidade elevada são um enorme problema. Muitos ciclistas caíram, mas só um abandonou: Sam Bewley, da Mitchelton-Scott. No entanto, Davide Formolo (UAE Team Emirates) fracturou a clavícula e apesar de ter terminado o dia, será mais uma baixa na ajuda da Tadej Pogacar, depois de Fabio Aru já ter ido para casa.
Não foi um início nada pacífico da segunda semana do Tour.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
11ª etapa (9 de Setembro): Châtelaillon-Plage - Poitiers, 167,5 quilómetros
Mais um dia para os sprinters, que vão querer aproveitar, pois as próximas etapas começam a ter um grau de dificuldade maior. Ou seja, mais montanha. O pelotão vai deixar a zona costeira e haverá apenas uma quarta categoria para enfrentar. Sam Bennett e Peter Sagan vão ter mais um frente-a-frente na luta pela verde. Alguém vai tentar intrometer-se?
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