9 de setembro de 2020

A arte de um espectacular sprint

© ASO/Alex Broadway
São quilómetros e quilómetros, quase quatro horas em que é difícil convencer alguém que não goste de ciclismo que é uma modalidade interessante e de grande espectáculo. Foi daquelas etapas em que quase nada aconteceu - tinha de haver quedas, infelizmente -, em que o percurso não é particularmente interessante a não ser que haja vento e com os ciclistas a também querer recuperar do dia anterior e preparar o que aí vem no Tour. No entanto, temos depois a preparação do sprint. Normalmente os dez quilómetros finais. Aí é o momento de olhar com atenção. As tácticas, as colocações, os imprevistos que fazem com que sobressaiam os grandes gregários dos sprinters e claro aquele momento final em que é preciso saber atirar uma bicicleta sobre a linha de meta.

Aqui está uma etapa em que as imagens televisivas podem servir para ensinar os mais novos como se deve fazer, quando se deve fazer. Caleb Ewan, Peter Sagan e Sam Bennett acabaram lado a lado, com Wout van Aert no meio, mas a ser prejudicado pelo eslovaco. Mas já lá se irá. O pequeno Ewan continua a mostrar como é um grande sprinter e ao atirar a bicicleta como mandam as regras, conseguiu bater a concorrência.


© ASO
É tudo uma questão de momento, de potência e, claro, de posicionamento. Mas tendo em conta a alta velocidade de um sprint, estamos perante atletas que após o desgaste físico, não só de hoje, têm de tomar decisões em centésimos de segundo. Ewan não só decidiu bem, como demonstra como está em boa forma e como já não é conhecido pelo ciclista que sprintava "deitado" no guiador. Já é conhecido como um dos melhores sprinters. Foi a segunda vitória no Tour e está a uma de igualar a marca na sua estreia em 2019.

O sprint foi algo caótico (o que muitas vezes ajuda à espectacularidade), com as equipas a ficarem fora das posições pretendidas com as curvas e estreitamentos de estrada nos últimos quilómetros, o que dificultou a muito importante colocação. Aqui entram ciclistas como Michael Morkov (Deceuninck-QuickStep) - um dos melhores lançadores da actualidade agora ao serviço de Bennett - Daniel Oss (Bora-Hansgrohe) - o braço-direito de Sagan - e Roger Kluge (Lotto Soudal) - o inseparável companheiro de Ewan. Mas no final, foi a classe de cada um dos sprinters que fez a diferença.

Desta vez, Ewan foi o melhor depois de ter sido batido no dia anterior pelo Bennett e deixou a garantia que pretende ultrapassar a muita montanha que vai ter agora pela frente, para chegar aos Campos Elísios. Antes ainda haverá mais uma oportunidade na 19ª etapa.

Foi muito tempo à espera do sprint numa etapa com pouca história - Matthieu Ladagnous (Groupama-FDJ) também não deve ter tido o dia mais divertido na fuga solitária, sabendo que não resultaria -, mas quando se assiste a sprints assim, com os melhores do mundo a mostrarem porque o são, então percebe-se e é mais fácil mostrar porque o ciclismo é tão bonito.


Também o exemplo do que não de pode fazer

Foi mesmo um sprint que pode servir de lição. O muito bom que se viu teve o lado negativo por um gesto de Sagan, na procura de ganhar posição. A recta da meta tinha uma espécie de separadores publicitários encostados às barreiras que obrigaram a uma linha mais afastada das grades de protecção. Ao desviar-se de um, Sagan encontrou Wout van Aert no caminho e encostou-se com o ombro e ainda a cabeça ao ciclista da Jumbo-Visma.

Nada aconteceu, felizmente, a não ser que Van Aert foi prejudicado depois de ter saído na frente no início do sprint. O belga protestou de imediato com Sagan. Os comissários não deixaram passar o gesto sem uma penalização. O ciclista da Bora-Hansgrohe foi relegado de segundo classificado para o final do pelotão (85ª posição) e retiram-lhe todos os pontos conquistados na etapa, incluindo os do sprint intermédio.

A conquista da oitava camisola verde ficou seriamente ameaçada. São 68 pontos a separá-lo de Sam Bennett, o seu antigo companheiro de equipa. Das sete que Sagan ganhou, só não são provavelmente oito consecutivas porque em 2017 o eslovaco, ao sentir Mark Cavendish encostar-se a ele (num gesto idêntico ao que se viu hoje) acabou por o afastar com o braço. A queda aparatosa do britânico acabou por levar à expulsão do eslovaco da corrida.

12ª etapa: Chauvigny - Sarran Corrèze, 218 quilómetros



É a etapa mais longa do Tour. A subida de segunda categoria antes dos quilómetros finais com segundos bónus disponíveis (oito, cinco e dois) poderá dar ideias a alguém que esteja de olhos postos na geral a tentar ganhar vantagem. Já se sabe o quanto o camisola amarela Primoz Roglic (Jumbo-Visma) adora amealhar todos os segundos bónus que pode.

Contudo, tendo em conta a dificuldade que espera a todos na sexta-feira, esta tirada poderá ser uma boa oportunidade para aqueles que procuram vitórias em etapas e que já perderam tempo suficiente para não serem perseguidos pelas equipas dos candidatos.

Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep), Pierre Latour (AG2R), Daniel Martin (Israel Start-Up Nation), Hugh Carthy (EF Pro Cycling) foram ciclistas que na etapa desta quarta-feira já pouparam algumas forças.


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