Depois de dois dias em fuga, Richard Carapaz foi outra vez para a frente. Ele e Michal Kwiatkwoski cumpriram o que restava à Ineos Grenadiers alcançar: uma vitória de etapa e o bónus da liderança da montanha. Contudo, para história, mais do que o resultado, ficará a forma como os dois ciclistas trabalharam para deixar para trás os companheiros de fuga e como unidos cortaram a meta em La Roche-sur-Foron, depois de 175 quilómetros de constante sobe e desce.
Foram duas semanas e meio infernais para a formação britânica. Os tempos da Sky fazem parte do passado e por muito que a equipa tenha tentado, nada tem a ver com os seus anos de glória. Não ajudou Egan Bernal aparecer longe do seu melhor fisicamente e de ter recordado que ainda é um jovem com muito para aprender, apesar de já ter vencido o Tour. Não ajudaram as quedas, não ajudou o ambiente que rodeou a Ineos Grenadiers antes da corrida, com muito a se falar de Chris Froome e Geraint Thomas...
Aquele momento em que Kwiatkwoski (o vencedor da etapa) e Carapaz cortaram o meta foi libertação. De se libertarem de tudo o que de mau tem acontecido e começar definitivamente a construir uma nova fase, com novos rostos, sem esquecer ou desrespeitar aqueles que fizeram da então Sky uma equipa que marcou uma era no ciclismo.
Foi também um momento para a homenagem que talvez já pesasse em muitos dos elementos mais antigos da equipa, caso de Kwiatkowski. Ninguém esquece Nicolas Portal, o director desportivo tão importante no sucesso desta estrutura. A sua morte em Março, com apenas 40 anos, deixou um vazio na Ineos Grenadiers. O ciclista polaco não escondeu isso, nem a emoção quando, na conferência de imprensa, recordou Portal.
Uma etapa não apaga um Tour muito abaixo das expectativas da equipa, mas faz com que nem tudo sido em vão. Muitos de imediato se recordaram como em 1986 Bernard Hinault e Greg Lemond também cortaram a meta da mesma forma. Simbolismo completamente diferente. Mas ficará como um dos momentos que marcou o Tour de 2020, de uma equipa que bem estava a precisar de algo positivo, de algo motivador e unificador para o que ainda resta da temporada.
Tudo calmo para Roglic e Jumbo-Visma
As forças de Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) terminaram e nestes dois últimos dias não houve espectáculo por parte do esloveno. Ainda assim, se tudo decorrer normalmente, terminar o Tour em segundo lugar, aos 21 anos, em ano de estreia e a menos de um minuto (57 segundos) - ou talvez um pouco acima, já que ainda falta o contra-relógio - é uma Volta a França para recordar e para marcar posição numa carreira muito promissora. A classificação da juventude também é dele. Ou seja, duas grandes voltas feitas, dois pódios, duas camisolas brancas.
Até Roglic pareceu em certo momento reconhecer como Pogacar foi um adversário de respeito, numa troca de palavras já na parte final da etapa. Miguel Ángel López (Astana) optou por segurar o terceiro lugar e não repetiu o ataque do dia anterior e que lhe valeu uma etapa e o acesso ao pódio. Roglic é que não por meias medidas e deixou bem claro no final da última subida, uma categoria especial em Col des Glières, na parte em sterrato, quem era o mais forte. Como tal se fosse preciso...
Falta o contra-relógio de sábado, mas sendo uma especialidade sua, na Jumbo-Visma já se deverá estar a preparar o champanhe e, claro, todos os adornos que as equipas têm para as grandes vitórias. Haverá uma bicicleta Bianchi amarela em Paris?
Nos próximos dois dias (mais a etapa de consagração no domingo), resta à Jumbo-Visma garantir a segurança em redor do seu líder e esperar que os azares continuem longe.
E Landa...
É inevitável falar de Mikel Landa. Se ontem foi um grande dia para a Bahrain-Mclaren em termos colectivos, o seu líder acabou por desiludir. Aliás, desiludiu durante todo o Tour. Durante 18 etapas esperou-se sempre para ver o espanhol cumprir o que tanto dizia ser capaz. Na Astana, na Sky, na Movistar, sempre quis ser líder único por acreditar que poderia vencer o Tour. Quando a oportunidade chega, mal se o vê.
O quinto lugar (se o mantiver no contra-relógio) é bom, mas tendo em conta que queria o primeiro, ou na pior das hipóteses o pódio... O ataque desta 18ª etapa pareceu mais uma espécie de pedido de desculpas pela falha do dia anterior, do que propriamente algo que fosse colocar Landa dentro dos seus objectivos iniciais. A Bahrain-McLaren - que mais uma vez trabalhou bem em equipa - merecia mais e Landa deveria ter mostrado mais.
O seu ataque acabou por servir para subir um pouco na geral, pois colocou em dificuldade Adam Yates (Mitchelton-Scott) e Rigoberto Uran (EF Pro Cycling), mas a Jumbo-Visma acabou por, sem grande dificuldade, apanhar Landa.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
19ª etapa: Bourg-en-Bresse - Champagnole, 166,5 quilómetros
Estamos assim na recta final de um Tour que, sem grande espectáculo - principalmente quando se recorda o que aconteceu em 2019 -, está a caminho de ver as expectativas confirmadas: Primoz Roglic é o homem mais forte.
Para esta sexta-feira, é dia dos sprinters que bravamente sobreviveram aos Alpes tentar uma vitória, antes da grande etapa para estes ciclistas nos Campos Elísios. É também mais um dia para a Bora-Hansgrohe meter mãos à obra na tentativa de ganhar levar Peter Sagan a uma oitava vitória na classificação dos pontos. 52 pontos separam o eslovaco de Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep).
Só há uma subida categorizada, mas o restante terreno não é plano. Poderá ser uma etapa bem animada devido a esta luta pela camisola verde.
(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
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