15 de agosto de 2020

Que dia!

Com etapa rainha do Critérium du Dauphiné e o monumento Lombardia no mesmo dia, a expectativa era elevada. No entanto, acabou por ser uma tarde de ciclismo marcada por quedas, que talvez tenham contribuído para o que o espectáculo não fosse do nível esperado. Nada que tire mérito aos vencedores, com algumas equipas a terminarem este sábado com razões para estarem preocupadas.

Remco Evenepoel tem sido um dos principais focos nesta retoma de temporada, a par de Wout van Aert. Porém, desta feita, o jovem belga da Deceuninck-QuickStep não está a ser notícia por uma vitória na Lombardia, em que partiu como favorito, apesar de ser o seu primeiro monumento. O ciclista sofreu uma queda. E que queda!

Saiu mal numa curva e acabou por tocar no muro, caindo para o lado de lá da ponte. Ainda foi uma queda de alguma altura. Um susto enorme para uma equipa ainda a tentar recuperar do que aconteceu a Fabio Jakobsen na Volta à Polónia. E como se não bastasse este incidente para marcar negativamente a corrida, ainda se assistiu ao insólito de um carro entrar no percurso da prova.

Não sendo inédito no ciclismo, quando se está a falar de uma das mais importantes competições mundiais, é um erro tremendo de repente haver um veículo não pertencente à corrida a circular. A senhora - algo em choque com o que aconteceu - virou à esquerda, Max Schachmann é que não estava à espera e chocou com o carro, em plena descida. Sem perceber muito bem o que aconteceu, o alemão da Bora-Hansgrohe lá completou os poucos quilómetros que faltavam para fechar no top dez.

Mais quedas no Dauphiné

A equipa alemã teve um daqueles dias... Antes, no Dauphiné, Emanuel Buchamann caiu e abandonou, ele que estava a mostrar boa forma e a lutar pelo pódio. Gregor Mühlberger e Andreas Schillinger seguiram o exemplo. Ainda nada se sabe sobre a condição do líder da Bora-Hansgrohe. A equipa acabou por dar liberdade a Lennard Kämna, que aos 23 anos conquistou a sua primeira vitória como profissional. Tendo em conta que foi na etapa rainha do Dauphiné (seis subidas categorizadas em 153,5 quilómetros), nada mau para a estreia!

Também a Jumbo-Visma teve um dia menos bom, para variar. Primoz Roglic também caiu no Dauphiné e ficou com umas feridas bem visíveis no braço e perna. Nada que evitasse de manter a liderança sem problemas, mas claramente a equipa optou por controlar completamente a etapa, evitar ataques, sem um andamento muito forte, garantindo total conforto ao esloveno. Steven Kruijswijk é que foi mais um dos abandonos do dia. Caiu, deslocou o ombro e a ver vamos como fica a sua situação para o Tour, que arranca no dia 29.

E ainda temos Egan Bernal. Nem partiu, alegadamente por dores nas costas. A Ineos, claro, nem se preocupou mais com o Dauphiné, ainda que Michal Kwiatkowski tenha ambicionado a vitória de etapa. Mas, mesmo na frente da corrida, ficou longe da discussão.

Voltando à Lombardia...

Na Lombardia, George Bennett cumpriu o esperado, três dias depois de vencer esteve novamente na luta. Mas não era mesmo o dia para a Jumbo-Visma conquistar o segundo monumento, depois de Wout van Aert ter ganho há uma semana a Milano-Sanremo. O neozelandês nem teve problema por estar sozinho num grupo que chegou a ter três Trek-Segafredo (Bauke Mollema - vencedor de 2019 -, Vincenzo Nibali - vencedor em 2015 e 2017 - e Giulio Ciccone) e dois Astanas (Jakob Fuglsang e Aleksandr Vlasov). Também não se incomodou por ter ficado depois apenas com os dois Astanas.

No entanto, quando já só tinha Fuglsang como concorrência quebrou e estendeu a passadeira a um dinamarquês que pode ter falhado na sua afirmação nas grandes voltas, mas em clássicas e provas de uma semana surge, numa fase tardia da carreira, como um dos mais fortes.

Foi uma corrida interessante (231 quilómetros entre Bergamo e Como), já muito lançada quando ainda faltavam 50 quilómetros para o final. Mas é difícil não pensar que, sem Evenepoel, acabou por perder alguma espectacularidade, sendo mais uma prova de eliminação, do que propriamente de ataque e contra-ataque, como muitas vezes acontece.

Inevitavelmente, após a corrida, um dos maiores pontos de interesse continua a ser como estará Evenepoel, ele que estava imparável em 2020, ganhando as quatro corridas por etapas que disputou e que estava a mostrar manter a boa forma para dar luta no monumento.

A Deceuninck-QuickStep informou que o ciclista fracturou a pélvis e sofreu uma contusão pulmonar, o que o vai afastar das corridas durante algum tempo. Vai permanecer internado pelo menos até domingo, quando deverá regressar à Bélgica, segundo a equipa.

Os portugueses

João Almeida (Deceuninck-QuickStep) estreou-se num monumento, enquanto Ruben Guerreiro (EF Pro Cycling) fez a sua primeira Lombardia, depois de duas Liège-Bastogne-Liège. Foi a primeira corrida de fundo do ciclista português no pós-confinamento (participou no contra-relógio da Prova de Reabertura, em Anadia, no início de Julho) e esteve em bom plano.

Guerreiro fechou na 17ª posição, a 10:25 minutos do vencedor, num regresso à competição muito prometedor para quem tem a ambição de regressar a uma grande volta para tentar repetir e mesmo melhorar a prestação da Vuelta de 2019. Já Almeida não foi feliz, estando entre os muitos ciclistas que não terminaram a Lombardia.


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