26 de janeiro de 2020

Uma vitória muito bem-vinda num ano importante para Richie Porte

© Tim de Waele/Getty Sport/Trek-Segafredo
Não seria grave não ganhar, mas não fará mal nenhum a Richie Porte começar a época a conquistar o Tour Down Under, a primeira corrida World Tour do ano. Ser o rei de Willunga Hill é algo que Porte gosta bastante e ser batido na "sua" subida não lhe terá agradado (o estreante Matthew Holmes, da Lotto Soudal, foi a surpresa da última etapa). Porém, estando perante um ano importante na sua carreira, vencer a classificação geral foi muito mais relevante do que subir ao pódio "apenas" por ganhar a etapa (até já o tinha feito na terceira).

Fará 35 anos na quinta-feira e já não esperam muito mais temporadas a Porte, principalmente como líder para uma grande volta. A Trek-Segafredo não só prepara a sucessão, como contratou Vincenzo Nibali para partilhar a ribalta. Neste caso há também uma questão de marketing devido ao patrocinador italiano, mas Porte sabe que já não poderá escolher quando é onde quer ser líder. Ficará com o Tour, o que terá sido um alívio, pois Nibali prefere atacar o Giro e pensar nos Jogos Olímpicos. No entanto, já não há margem para mais azares, erros, lesōes por parte do australiano. Richie Porte tem de produzir um resultado no Tour se quiser receber uma renovação de contrato e ambicionar a manter o estatuto mais um ou dois anos, mesmo que mude de equipa. 

Além da Volta a França, não lhe fará mal ganhar outras corridas. É exímio em provas de uma semana e 2020 é um bom ano para recuperar a sua melhor versão nesse tipo de provas. Desde 2018, quando conquistou a Volta à Suíça, que Porte não ganhava uma classificação geral, pelo que não surpreende que tenha admitido que sabia bem voltar a saborear este tipo de sucesso. No currículo conta com vitórias na Romandia, Paris-Nice, Catalunha e também no Algarve, em 2012.

Contudo, Porte é, por agora, aquele ciclista que vive ensombrado pela dúvida do que poderia ter acontecido se não tivesse caído no Tour de 2017, quando se apresentava claramente muito forte, então na BMC. Até já foi quinto (2016), mas aquele ano era um Porte numa forma que não mais repetiu.

Porte não aparece actualmente como alguém que possa desafiar um Egan Bernal, ou porque não dizer um Primoz Roglic, a aposta da Jumbo-Visma para a próxima Volta a França. E não vai aparecer como tal. Ganhar o Tour, só num daqueles momentos inesperados que, falando-se de ciclismo, é melhor nunca dizer nunca. Mas para Porte um pódio seria uma forma de prolongar o seu estatuto e está também na altura de ganhar uma etapa. Pode ser um excelente ciclista para as provas por etapas, mas ao fim de 10 anos ao mais alto nível, continua sem uma única vitória numa grande volta. 

A nova geração está aí. Chris Froome, Nibali e outras grandes figuras da última década sabem disso. Porte, por exemplo, tem um Giulio Ciccone preparadíssimo para assumir uma liderança na Trek-Segafredo, que vá além de conquistar etapas, ser rei da montanha, ou vestir camisolas amarelas por um dia. Tudo já feito! Ciccone é um nome que se vai ouvir na luta por gerais. 

Em 2020 estará ao lado de Nibali no Giro e o jovem italiano mantém o discurso de estar orgulhoso por poder aprender com o "Tubarão de Messina". Mas a Trek-Segafredo sabe que não o pode "prender" muito mais tempo atrás de Nibali e Porte, principalmente se estes não produzirem bons resultados. 

Vencer o Tour Down Under é um bom tónico para Richie Porte. Um pouco de motivação com uma vitória não faz mal a nenhum atleta, independentemente da experiência que tenha. Mas o australiano precisa de mais resultados e boas exibiçōes em 2020 para conseguir ter um lugar de destaque nesta fase emocionante de transição de geração que se vive no ciclismo. 


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