13 de abril de 2017

João Matias optou pelo risco e não compensou... Mas foi tão bonito de se ver!

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
60 voltas à pista, ganha o primeiro, sem sprints intermédios, pontos, ou seja o que for para baralhar um pouco as contas. No que diz respeito ao ciclismo de pista, não há corrida mais simples de entender do que a de scratch. Aos 25 anos, João Matias estreou-se num Mundial desta vertente da modalidade. O seleccionador Gabriel Mendes está confiante que tanto Matias, como Ivo Oliveira, podem muito bem conquistar bons resultados - top dez -, mas talvez não esperasse que por momentos, por alguns gloriosos minutos, João Matias fizesse quem estava a assistir sonhar com uma medalha.

Faltavam nove voltas para o fim. E eis que João Matias se chega à frente do pelotão. Já o tinha feito, mas rapidamente saía, claramente em tentar poupar-se, ainda que sempre atento a qualquer movimentação. Tacticamente o ciclista da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack estava perto da perfeição e quase que a atingiu. Surpreendeu tudo e todos quando atacou, afastou-se e terminou com o período de controlo mútuo que se verificava no grupo. João Matias afastava-se. "Será que consegue?", pensava-se. As voltas passavam e, de repente, já se fazia aquele deslizar no sofá para se ficar mais próximo da televisão, como se isso proporcionasse uma melhor visão do que estava a acontecer, ou de alguma forma João Matias pudesse ouvir o entusiasmo crescente de um resultado histórico que parecia estar a ficar cada vez mais perto de acontecer.

João Matias arriscou. João Matias acreditou. O polaco Adrian Teklinski perseguiu o português. "Fica na roda", desejava-se. Não conseguiu, mas a vantagem ainda era grande. "Uma prata que saberá a ouro", imaginava-se. João Matias pedalava, pedalava, tentava resistir ao ritmo alucinante que o scratch obriga, ainda mais na fase final. No pelotão foram vários os ciclistas que foram buscar as forças necessárias para uma aceleração num último esforço para alcançar um bom resultado. Faltava pouco mais de uma volta quando João Matias foi "engolido". Ah, que pena... Foi por tão pouco. Merecia mais do que o 20º lugar.

No entanto, aqueles momentos, aquelas voltas em que Matias liderou e mesmo depois de ter sido ultrapassado por Teklinski (que venceu), foram de uma emoção que em Portugal pouco se vive com o ciclismo de pista. Os gémeos Oliveira desbravaram um caminho que começa agora a ser percorrido por outros ciclistas e no escalão de elite. Por momentos João Matias fez-nos acreditar que era possível. Não conseguiu... mas agora acreditamos.

Aquelas voltas colocaram o ciclismo de pista noutra perspectiva e claro que ajudou (e muito) haver a possibilidade de se assistir na televisão e não apenas ler depois o que aconteceu. Partilhou-se o momento de risco de João Matias, viveu-se a ansiedade, o nervosismo, a crença... a surpresa, juntamente com o português. Agora só se pode dizer que venha a próxima corrida. E se o risco não compensou desta vez... há que continuar a acreditar.

João Matias volta esta sexta-feira à pista de Hong Kong para a corrida por pontos (12:00, hora portuguesa, mais sete em Hong Kong). Ivo Oliveira fará a sua primeira aparição na perseguição individual na 12ª e penúltima série da fase de qualificação, que começa às 8:00, tendo como adversário o polaco Daniel Staniszewski. A final será às 13:30. No sábado, Ivo Oliveira participará no omnium.



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