Pódio para Rui Vinhas, no primeiro grande resultado de 2017 para o vencedor da última Volta a Portugal (Fotografia: W52-FC Porto) |
O objectivo é ambicioso, mas se há equipa portuguesa que neste momento apresenta ter todo o potencial para chegar ao escalão Profissional Continental é a W52-FC Porto. Nuno Ribeiro assumiu o plano no ano passado, mas alertou de imediato que a subida de categoria não aconteceria em 2017. Talvez em 2018. Para o director desportivo é essencial ter a certeza que a base está consolidada antes de dar um passo importante e que o responsável não quer que seja apenas por um ou dois anos. A equipa do Sobrado está a passar com distinção no que se pode dizer que seja um teste final antes de tomar a decisão de subir de escalão. Neste início de temporada a W52-FC Porto tem apostado forte em provas categorizadas na UCI em Espanha, além de Portugal, tendo inclusivamente aparecido na Prova de Abertura Região de Aveiro com uma formação reduzida de ciclistas, pois levou os principais à Volta à Comunidade Valenciana.
A realidade do ciclismo nacional torna impossível estar em mais do que uma frente em simultâneo, não havendo orçamento para ter tantos corredores. A escolha da W52-FC Porto é clara e os resultados estão à vista. Amaro Antunes alcançou um brilhante terceiro lugar na etapa rainha da Volta à Comunidade Valenciana, ganha por Nairo Quintana, venceu a etapa do Malhão na Volta ao Algarve e conquistou a clássica da Arrábida. Este domingo foi a vez de Rui Vinhas conquistar o seu primeiro grande resultado do ano. O vencedor surpresa da última Volta a Portugal aproveitou a oportunidade e entrou numa fuga na Clássica Primavera de Amorebieta. Parece familiar? O ciclista português sempre disse após a sua fantástica vitória que apesar de saber que o seu principal papel seria de gregário, quando surge uma possibilidade de tentar um resultado pessoal, tentaria agarrá-la. Foi novamente premiado pela audácia e ficou em terceiro, atrás de Gorka Izagirre (Movistar) e Wilmar Paredes (Manzana Postobón).
De pódio em pódio, a W52-FC Porto, equipa do terceiro escalão - Continental - já soma melhores resultados do que algumas equipas Profissionais Continentais. A base desportiva está claramente consolidada. A financeira também dá indicações de ser forte, ainda que uma subida de categoria implicará um maior orçamento do que o actual. A equipa passará a ter um calendário mais internacional e que deverá ir mais além de Espanha.
A aposta internacional não significa que não se veja uma W52-FC Porto completamente focada na Volta a Portugal. Nuno Ribeiro conseguiu manter praticamente todos os ciclistas que fazem parte do núcleo duro da equipa. Saiu Rafael Reis e a formação perdeu um jovem com grande potencial e um excelente contra-relogista, mas foi buscar Amaro Antunes que deu outra dimensão na luta nas montanhas e permitiu a mudança de planos na temporada. O ciclista algarvio continua à procura de dar o salto para uma equipa estrangeira de qualidade, pelo que ter a possibilidade de competir em provas internacionais como líder, foi como um casamento perfeito. Dentro de portas é Gustavo Veloso que continua a ser o líder indiscutível - também já venceu este ano, na Clássica da Primavera - e mesmo com a presença de Amaro, não será surpresa nenhuma que galego seja o número um da equipa na Volta a Portugal.
No ciclismo nacional é muito difícil uma equipa não pensar apenas ano a ano. A nível de contratos é assim mesmo que funciona, mas esta estrutura agora com o nome W52-FC Porto tem oferecido garantias de futuro, como comprova a permanência de alguns dos ciclistas que se mantêm fiéis ao projecto há algum tempo.
A nível individual, o ciclismo português vive uma fase excelente. Oito corredores estão no World Tour este ano, Portugal tem um campeão do mundo e Rui Costa voltou às vitórias e contabiliza três etapas no Tour, Nelson Oliveira conquistou há dois anos uma etapa na Vuelta, tivemos um Sérgio Paulinho -agora na Efapel - que durante várias temporadas foi um gregário de luxo, mas tem uma medalha olímpica, uma etapa no Tour e outra na Vuelta no currículo. Ruben Guerreiro é considerado pelos media internacionais um dos jovens a seguir com atenção na Trek-Segafredo e Nuno Bico é outro sub-23 de grande potencial, com a Movistar a apostar no ciclista na Volta a Flandres e Paris-Roubaix para lhe dar experiência.
E quando se olha para os jovens portugueses, os gémeos Oliveira geram grande curiosidade e Rafael Reis também é visto com enorme potencial para chegar ao mais alto nível. Agora falta algo colectivo. Falta uma equipa num escalão superior. E se nesta altura a curto/médio prazo é uma utopia pensar numa formação portuguesa no World Tour, ter uma forte W52-FC Porto no escalão Profissional Continental será mais um passo muito relevante do ciclismo nacional, abrindo outras portas, conquistando outro mediatismo que vai cada vez mais merecendo.
A modalidade passou por alguns anos no vazio, numa situação que infelizmente não foi inédita. Não foi fácil recuperar financeiramente e até na credibilidade. Mas depois de anos de luta, 2017 está a ser de mudança. O pelotão está mais equilibrado (e por cima, pois houve uma aproximação à W52-FC Porto e não uma perda de qualidade da mesma), há mais espectáculo, há mais corridas e há mais ambição de fazer crescer a modalidade em Portugal.
A Volta ao Algarve já pertence à segunda categoria da UCI. As clássicas da Arrábida e das Aldeias do Xisto têm percursos fantásticos que podem começar a atrair equipas de elevado relevo no futuro, pois não ficam a dever nada a outras grandes provas internacionais. Na Volta a Portugal também se procura que nos próximos oito anos, a partir de 2018, possa conquistar outra relevância lá fora.
Há muito a melhorar no ciclismo português. Muito mesmo. Mas aos poucos os passos estão a ser dados e agora só se pode esperar que 2018 possa realmente ser o ano de ascensão de uma equipa nacional.
Aqui fica a classificação da Clássica Primavera de Amorebieta, que contou também com a presença do Sporting-Tavira. Rinaldo Nocentini voltou a ser o melhor da equipa algarvia (17º).
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