6 de fevereiro de 2017

Um irresistível Quintana, um discreto Froome... e um grande Amaro Antunes

Mais uma vitória para Nairo Quintana (Fotografia: Facebook Nairo Quintana)
Aos poucos sentimos que a época de ciclismo vai ganhando forma. Vão aumentando o número de corridas e os principais ciclistas vão aparecendo. E este ano são vários a começar o ano com vitórias. Neste texto, centremos as atenções em dois dos principais nomes para as grandes voltas: Chris Froome e Nairo Quintana. Mas falemos também de um português que se mostrou a grande nível e aguçou a curiosidade do que poderá fazer na "sua" Volta ao Algarve: Amaro Antunes.

Comecemos pelo irresistível Nairo Quintana. Aquela subida em Mas de la Costa, no sábado, na Volta à Comunidade Valenciana, foi simplesmente brilhante. Sim, a concorrência podia não ser a mais forte, mas a verdade é que o colombiano deixou a anos-luz Wout Poels (o ciclista da Sky venceu em 2016), Daniel Martin (Quick-Step Floors), Steven Kruijswijk (homem da Lotto-Jumbo que quer voltar a lutar pelo Giro), Jakob Fuglsang (que procura uma oportunidade no Tour pela Astana) e o jovem espanhol David de la Cruz (Quick-Step Floors), que já sonha com a Vuelta.

Quando o colombiano arrancou na subida conhecida como o "inferno", Merhawi Kudus (Dimension Data) e Amaro Antunes (W52-FC Porto) foram os que tiveram a ousadia (e principalmente as pernas) de tentar seguir Quintana. Não aguentaram o ritmo. Assistimos àquele Quintana que tanto apaixona. Aquele Quintana atacante, confiante nas suas capacidades e que deixa todos, ou quase todos, em grandes problemas para o acompanhar. E a imagem que ficou do colombiano em Mas de la Costa foi que nem sequer deu tudo o que tinha. Não precisou. Pedalou fácil, venceu com categoria e deixou uma clara mensagem: cuidado com ele para a Volta a Itália e para o Tour. Quintana pode mesmo tornar-se no primeiro ciclista a fazer esta dobradinha desde Marco Pantani, em 1998, e o oitavo da história.



Ainda falta aprimorar a preparação para o desafio que tanto assusta os ciclistas na actualidade. Quintana está a fazer em 2017 o que também já tinha demonstrado em 2016: quando participa numa corrida em que pode ganhar, luta mesmo por isso. Porém, há uma diferença no calendário do ciclista este ano, a pensar num dos seus pontos fracos: perder tempo em dias de vento. O colombiano "aqueceu" em duas provas do Challenge de Maiorca e depois da Volta à Comunidade Valenciana segue para a Volta a Abu Dhabi (de 23 a 26 de Fevereiro). Pasme-se, Quintana vai a uma corrida que normalmente atrai mais roladores e sprinters. Objectivo? Garantir que o pequeno ciclista ganhe mais rodagem em etapas planas e possa gerir melhor o seu esforço quando o vento é um factor que pode decidir (e já decidiu no passado) o seu futuro numa grande volta. Naturalmente que este trabalho também será a pensar nos restantes ciclistas da Movistar que irão proteger o seu líder na ambição de conquistar Giro e Tour.

Por mais que na equipa o discurso seja que a Volta a França é que será importante, a verdade é que Quintana, após a vitória na corrida espanhola disse: "De momento pensamos estar no caminho certo para chegar a ali a 100%." O "ali" significa na Volta a Itália. Lá disse que não se pode ganhar sempre, mas Quintana não tem uma mentalidade para não o tentar fazer.

Um Chris Froome diferente de 2016

(Fotografia: Facebook Herald Sun Tour)
Por esta altura há um ano, Froome celebrava a conquista da Herald Sun Tour. Desta feita esteve mais discreto. Não esteve mal, ainda fez uma tentativa - estava quase obrigado a isso tendo em conta o triunfo de 2016 -, mas deixou-se ficar num sexto lugar, a 1:12 do vencedor, o australiano Damien Howson (Orica-Scott) que conquistou a sua primeira vitória como profissional.

No entanto, a corrida australiana foi de extrema importância para a Sky. O francês Kenny Elissonde (ex-FDJ) é cada vez mais uma certeza de uma aposta ganha, podendo vir a assumir um lugar de grande importância ao lado de Froome. Elissonde foi terceiro, a 53 segundos de Howson. A equipa britânica venceu ainda três das cinco etapas da competição: Danny van Poppel, Luke Rowe e Ian Stannard. Este último tanto quis preparar os festejos que quase perdeu na linha de meta (ver vídeo).



Estes triunfos são algo que Froome muito gosta de ver, pois sabe que sendo o centro das atenções da Sky, ter os companheiros motivados quando chegar à altura de darem tudo por ele, pode fazer toda a diferença já terem somado uns triunfos. Por isso, todas as oportunidades que tenham para somar uns sucessos pessoais, são bem-vindas. Muito bem-vindas.

Quanto a Froome, o seu pensamento está exclusivamente na Volta a França, ao contrário de Quintana. Por isso, o melhor do britânico ainda estará para vir. A idade também vai passando - tem 31 anos e o aniversário é a 20 de Maio -, pelo que é natural que de ano para ano, a preparação de Froome possa não ser tão fulgurante em vitórias. Mas será de esperar que elas chegarão antes do Tour.

Amaro Antunes a mostrar-se às grandes equipas

Pode parecer estranho, juntar Amaro Antunes num texto dedicado a Froome e Quintana. Porém, o ciclista português esteve a um nível tão elevado, que se ficou a desejar vê-lo mais vezes ao lado dos melhores. Em 2016 foi 10º na Volta ao Algarve. E é na "sua" volta que este algarvio quer apostar forte novamente este ano.

(Fotografia: Facebook W52-FC Porto)
Recuando até sábado, Amaro Antunes foi terceiro no inferno de Mas de la Costa. Tentou ir com Quintana, mas percebeu que tinha de encontrar o seu ritmo numa subida terrível. Assim o fez, mas a distância que ganhou da restante concorrência fez com que, juntamente com Merhawi Kudus, tivesse a possibilidade de alcançar um resultado que pôs muita gente a falar dele. No final, Kudus teve um pouco mais de gás para ficar em segundo. Mas terceiro, a 48 segundos de Quintana... Brilhante!

Na segunda etapa o sexto lugar tinha sido a primeira indicação que Amaro Antunes apresenta-se já num bom momento de forma. Na geral ficou em 20º, a 4:17 de Quintana. Um resultado que foi prejudicado por um horrível contra-relógio colectivo da W52-FC Porto, que retirou desde logo a possibilidade de uma boa classificação individual de um dos seus ciclistas. Ainda assim, Amaro chegou ao top 20.

Aos 26 anos, o algarvio optou por ficar em Portugal após a extinção da LA Alumínios-Antarte, quando se esperava que pudesse apostar na ida para o estrangeiro “Quando queremos evoluir temos de estar onde há qualidade”, disse ao Volta ao Ciclismo quando assinou pela W52-FC Porto. Depois da Volta ao Algarve, onde Amaro Antunes deverá ter liberdade para se mostrar mesmo tendo Gustavo Veloso como líder da equipa, será de seguir com atenção a temporada do ciclista, que poderá estar a dar umas fortes pedaladas rumo a outro nível do ciclismo.

Numa perspectiva da participação da equipa portuguesa na Volta à Comunidade Valenciana, seria injusto não referir que também Samuel Caldeira não se intimidou por ter como concorrentes, no seu caso no sprint, alguns dos melhores do mundo e na terceira etapa alcançou um excelente sexto lugar.


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