7 de fevereiro de 2017

Morreu o vencedor da Volta a França que esperou décadas para sentir a glória do momento

(Fotografia: Direitos Reservados)
Durante muito tempo Roger Walkowiak ficou conhecido por ter dado início a uma expressão no ciclismo: gagner à la 'Walko'. Era utilizada para referir-se a vitórias por ciclistas menos talentosos, numa corrida medíocre. Seria difícil de acreditar que tal expressão surgiu por ter ganho a Volta a França em 1956, numa edição que não contou com antigos campeões como Louison Bobet (tinha conquistado os três Tours anteriores), Fausto Coppi, Hugo Koblet e Ferdi Kübler, sendo que ainda se esperava pelo despontar da próxima geração, como era o caso de Jacques Anquetil, que viria a ganhar em 1957 e depois mais quatro Tours. "A glória chegou com 50 anos de atraso", afirmou Walkowiak numa entrevista ao As, em 2006, precisamente quando se celebrava meio século da sua surpreendente vitória. Durante muito tempo, o ciclista francês, filho de pai polaco, recusou falar daquela que deveria ter sido a sua maior conquista, mas que chegou a convencer-se que não a tinha merecido.

Recuando a 1956. Roger Walkowiak representava uma equipa regional, ninguém o conhecia - foi chamado para o Tour à última hora, quando um dos ciclistas da formação foi representar a selecção - e o objectivo da equipa era de apenas entrar em fugas. Durante a primeira semana, Walkowiak esteve em três, mas foi numa na sétima etapa, que contou com 31 ciclistas, que o francês começaria a ser o autor de uma das vitórias mais surpreendentes da história centenária da Volta a França. A fuga terminou com mais de 18 minutos de vantagem e Walkowiak vestiu a camisola amarela. Perdeu-a nos Pirenéus, quando a equipa decidiu não a defender, mas nos Alpes, causou espanto. Quando se pensava que o ataque de Gilbert Bauvin (um dos principais candidatos) terminaria com a questão da amarela, Walkowiak cortou a meta inserido num grupo com mais ciclistas considerados candidatos. Recuperou a amarela e foi com ela vestida que chegou a Paris. 

Porém, falou-se mais de eventuais divisões na selecção francesa, que teriam custado a vitória de Bauvin (ficou em segundo, a 1:25 de Walkowiak), e também da ausência de uma nova geração, a quem já lhe era reconhecida grande talento, do que propriamente do mérito do vencedor. Mais parecia que não tinha tido nenhum. O discreto ciclista ainda venceu duas etapas na Vuelta, também em 1956 e em 1957. Porém, no Tour - corrida na qual não triunfou em qualquer tirada - acabaria por desaparecer na geral nos anos seguintes. Em 1957 não terminou e o melhor que conseguiu depois foi o 47º lugar.

Terminou a carreira em 1960, desiludido com uma vitória que mais pareceu uma maldição. No entanto, o reconhecimento acabaria por chegar. Muito mais tarde. Alguns comentadores da modalidade escreveram décadas depois a sua história, mas na perspectiva de um lutador, que enfrentou todas as adversidades e mesmo sendo de uma equipa regional, demonstrou as suas capacidades de trepador, conquistando uma grande vitória.

Numa entrevista de 2012, publicada no site Bicycling, tentou arranjar uma explicação para a forma como foi tratado depois de se sagrar campeão da Volta a França. "Foi por causa do meu pai ser um emigrante polaco e porque eu tinha um nome diferente dos outros? Foi muito difícil lidar [com a situação]. É difícil explicar como me sentia. Ainda antes de terminar [o Tour] os meios de comunicação social começaram a criticar, mas também os directores das equipas o fizeram. Era como se estivessem a dizer 'como é que deixámos isto acontecer?'", referiu Walkowiak.

Depois de terminar a carreira, o francês voltou ao seu antigo trabalho, numa fábrica de metalúrgica. Antes de enveredar pelo ciclismo também esteve numa loja de bicicletas, mas o seu regresso ao emprego na fábrica foi rapidamente explicado: "Precisava de me distanciar do ciclismo."

Depois da morte de Ferdi Kübler em Dezembro, Walkowiak era o mais antigo vencedor da Volta a França vivo. Tinha 89 anos. Agora é o espanhol Federico Bahamontes (88), que foi um dos rivais de Walkowiak em 1956 e que venceu o Tour três anos depois.


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