5 de fevereiro de 2017

O jovem que surpreendeu a elite em Ovar: "Ainda estou em choque!"

Quem o viu no pódio até podia pensar que Francisco Campos (Miranda-Mortágua) não estava feliz com a surpreendente vitória na prova de abertura da temporada de estrada em Portugal. Mas não. O jovem ciclista estava muito satisfeito, no entanto, o rosto aparentemente mais sério tinha uma razão de ser: "Ainda estou em choque! Foi um feito um pouco grande nesta fase [da época], dada a minha condição física." Quando olhou para o lado, Francisco Campos viu um corredor que já esteve no World Tour, Fábio Silvestre. "É muito bom [bater um ciclista como o do Sporting-Tavira]! Porém, consegui ganhar também devido à nossa persistência. Temos trabalhado muito e o querer ganhar também ajudou bastante", realçou ao Volta ao Ciclismo o primeiro vencedor da época nas estradas portuguesas.

A região de Aveiro foi o palco da prova de abertura, com muitas pessoas a enfrentar o "fresquinho" da tarde para aplaudir o pelotão na meta, em Ovar. Daniel Mestre (Efapel) e Fábio Silvestre (Sporting-Tavira) eram apontados como os principais favoritos, com os jovens César Martingil (Liberty Seguros/Carglass) e Ivo Oliveira (em representação da selecção nacional) a serem também o foco das atenções. Num sprint muito disputado, quem levantou os braços foi um penafidelense de 19 anos - e que começou no ciclismo com oito -, cujo um dos objectivos da carreira passa por conseguir pelo menos metade das vitórias obtidas pelo seu director desportivo, o antigo ciclista - também sprinter - Pedro Silva. E foram mais de cem: "Ainda tenho muito trabalho pela frente!"

Pedro Silva tem, claramente, um papel muito importante na forma como Francisco Campos se sente motivado para continuar à procura de vitórias, mesmo que, para isso, tenha de enfrentar a elite do ciclismo nacional. "Ele incentiva-nos muito. Diz-nos que, apesar da nossa idade, temos capacidade para discutir todas as corridas a nível nacional", salientou.

Sobre o sprint em Ovar: "Surpreendi toda a concorrência, inclusivamente os ciclistas profissionais! Foi uma chegada bastante rápida e com as minhas qualidades de sprinter havia sempre uma possibilidade de ganhar aqui em Ovar, mesmo não estando na melhor forma." Foi a estreia perfeita de Francisco Campos na estrada pela equipa Miranda-Mortágua, depois de duas corridas na pista.

A prova na região de Aveiro, que passou por todos os concelhos, foi a primeira de três do Troféu Liberty Seguros. Seguem-se a Clássica da Arrábida (5 de Março) e a Clássica Aldeias do Xisto (12 de Março), duas competições bem mais montanhosas. Francisco Campos não se deixa intimidar e diz que não é um sprinter puro, sabendo defender-se na média montanha. Quer lutar para manter a camisola amarela que hoje vestiu (lidera também, naturalmente, a classificação da juventude), mas demonstra que é um ciclista que trabalha para uma equipa e não apenas a pensar no sucesso pessoal. "Quero lutar até ao fim, mas dependerá dos objectivos da equipa, pois tanto eu, como outro colegas, podemos discutir a geral do troféu", frisou.

Outros destaques

Francisco Campos (1º), Martingil (2º), Silvestre (3º)
e González (vencedor do prémio de montanha)
Inevitavelmente há que falar de Fábio Silvestre. O ciclista está de regresso a Portugal depois de cinco anos no estrangeiro, dois dos quais no World Tour. Silvestre era o corredor mais sorridente do pódio e com razão. O terceiro lugar é um resultado motivante para quem começa agora a época numa nova equipa e numa realidade diferente há das últimas temporadas.

No segundo lugar ficou César Martingil. A qualidade do ciclista, que se manteve na Liberty Seguros/Carglass, é reconhecida. Talvez tenha ficado desiludido por não ter ganho. Algo normal. Mas Martingil começa desde já a demonstrar que continua a evoluir e que quer dar "o salto" para outro nível do ciclismo.

Ivo Oliveira promete. Esteve há pouco tempo na Califórnia no primeiro estágio com a equipa americana de Axel Merckx, Axeon Hagens Berman. Voltou a Portugal para conquistar três títulos nacionais em pista e ao serviço da selecção nacional aproveitou para mostrar como a sua adaptação à estrada está num excelente caminho. Um ciclista a seguir atentamente em 2017.

Luís Mendonça teve também uma estreia positiva pelo Louletano-Hospital de Loulé. O ciclista que optou pelo profissionalismo apenas há quatro anos (tem 31), chegou em 2017 à elite. Poderá ainda estar à procura da melhor forma, como grande parte do pelotão, mas o sexto lugar será certamente um resultado motivador.

Em quarto ficou Egoitz Garcia. A Equipo Bolivia - que conta com o português Nuno Meireles - tem como um dos grandes objectivos da temporada estar na Volta a Portugal. Não surpreende, portanto, que procure obter resultados desde cedo nas corridas nacionais, tendo sido uma equipa que trabalhou para anular a fuga.

Rafael Silva (oitavo) foi o melhor ciclista da Efapel, equipa que tinha alguns pequenos adeptos (e quem sabe futuros corredores da formação) ansiosos por ver o amarelo da formação que tem precisamente sede em Ovar. A equipa de Américo Silva foi outra das que trabalhou para anular a fuga, mas não conseguiu a desejada vitória caseira.

E claro, André Cardoso passou por Aveiro, com a camisola da selecção nacional, para aquecer um pouco mais para uma temporada ao lado de Alberto Contador, na Trek-Segafredo, e foi muito requisitado pelos adeptos para as fotografias. Sérgio Paulinho (Efapel) é dos ciclistas mais falados; Joni Brandão (Sporting-Tavira) a principal esperança de ter novamente um português a ganhar a Volta a Portugal; Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista) o eternamente acarinhado ciclista que ninguém quer ver retirar-se no final do ano.

Quanto a outras vitórias, o Sporting-Tavira ficou com o prémio de montanha, por intermédio do espanhol Mario González - logo na primeira corrida a equipa mostra que quer ter um ano bem diferente de 2016 -, que integrou a fuga do dia com Tiago Ferreira (o campeão do mundo de BTT que esteve na estrada ao serviço da selecção) e Xuban Errazkin, da Rádio Popular-Boavista, equipa que venceu colectivamente.

Foi um dia de festa e animado para começar a temporada em Portugal. Agora será o momento de receber 12 equipas do World Tour na Volta ao Algarve (de 15 a 19 de Fevereiro), antes de se regressar à luta mais nacional, na Volta ao Alentejo (22 a 26 de Fevereiro).




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