O principal foco da Volta a Abu Dhabi foi até à entrada do último quilómetro o fantástico pelotão, com quase todos os grandes nomes do ciclismo presentes, no que diz respeito a sprinters e a voltistas. Porém, uma queda mudou tudo e a polémica utilização dos travões de disco está de regresso em força. Não que tenha desaparecido, mas uma nova queda, um novo corte alegadamente provocado por um disco e os ciclistas viraram-se para o Twitter para contestar o novo período de experiência que a UCI autorizou para este ano.
Marcel Kittel é o único ciclista dos 158 presentes em Abu Dhabi a utilizar este sistema de travagem. O alemão foi um dos envolvidos na queda no último quilómetro. Vários corredores ficaram feridos e um dos mais graves foi Owain Doull. Porém, se fisicamente o britânico poderá recuperar, Doull não se conforma com o que lhe aconteceu. O ciclista até atribuiu o facto de não estar gravemente ferido a uma dose de sorte, no meio de um grande azar. O jovem, que está a fazer a sua estreia no World Tour, mostrou como ficou um dos seus sapatos. O corte, visível na fotografia divulgada, é atribuído aos travões de disco da bicicleta de Kittel.
"Atravessou o sapato até ao meu pé. Sinceramente, foi uma sorte não ter sido a minha perna. Eu acabei por ter sorte, pois se tivesse sido na perna, tê-la-ia cortado certamente. Nada mais poderia ter cortado assim. É como uma faca"; afirmou Doull no final da etapa, mostrando ainda como ficou mal tratado após aparatosa queda.
Sky riders questioning safety of disc brakes after Owain Doull fell heavily in crash with Kittel, who uses them, et al. #AbuDhabiTour pic.twitter.com/SrwFPD34vR— Sophie Smith (@SophieSmith86) 23 February 2017
A imagem provocou uma reacção em cadeia de vários ciclistas que se insurgiram contra a utilização dos travões de disco. Um deles foi Alberto Contador. O corredor da Trek-Segafredo - que também caiu a cerca de cinco quilómetros da meta - escreveu na rede social: "Uma bicicleta com travões de disco das 158 no pelotão e acontece isto. Por sorte não atingiu o pé, o que aconteceria com 158?"
1bici con freno de disco de las 158del peloton y pasa esto!Por suerte no fue el pie,que pasaria con 158?@UCI_cycling https://t.co/p0Loai0exe— Alberto Contador (@albertocontador) 23 February 2017
Wout Poels, colega de Doull, pede que a segurança dos ciclistas esteja em primeiro lugar antes de se experimentar coisas novas. Alex Dowsett (Movistar) questiona se compensa o risco, apelando para que as consequências sejam consideradas, enquanto Leopold König (Bora-Hansgrohe) pede união entre ciclistas e equipas.
To everyone driving the disc brake campaign in the pro peloton. Accountability, please consider the consequences. What's it really worth?— Alex Dowsett (@alexdowsett) 23 February 2017
Once again riders safety first, it's a shame we are not united as a riders and as a teams, we should stand more together🤝 https://t.co/VYUxCca2YZ— Leopold König (@LeopoldKonig) 23 February 2017
Em 2016, o período de experiência dos travões de disco foi suspenso depois do incidente que resultou num corte profundo na perna de Francisco Ventoso, então ciclista da Movistar, no Paris-Roubaix. No entanto, a UCI voltou a autorizar a utilização do sistema. Tom Boonen tornou-se na Volta a San Juan o primeiro a vencer com travões de disco na sua bicicleta. O seu colega da Quick-Step Floors, Marcel Kittel, também é adepto do sistema, apesar de só ter concordado em utilizá-lo se os discos fossem redondos. Peter Sagan também já utilizou uma bicicleta com o sistema, mas apenas nos treinos. Todos têm bicicletas da Specialized. Porém, também a Cannondale já começou a adoptar os travões de disco e na Ruta del Sol todos os ciclistas da equipa tinham o sistema montado.
A Associação de Ciclistas Profissionais (ACP) tem estado muito activa para tentar que a experiência de utilização dos travões de disco seja cancelada. A ACP considera que a maioria dos ciclistas estão contra este sistema, com outros a contestarem que num pelotão uns tenham travões de disco e outros o método mais tradicional.
Mark Barfield, presidente da Comissão de Equipamento da UCI, enviou uma carta à ACP - antes do incidente com Owain Doull -, que o site Cycling News teve acesso. Na missiva, Barfield pede respeito pelo "processo democrático", considerando infundadas as preocupações da associação e salientando que muitos ciclistas mostraram-se a favor dos travões de disco.
A integração dos travões de disco é considerada por alguns como inevitável, mas outros ciclistas continuam a resistir a esta mudança, alegando questões de segurança. Além da possibilidade de cortes - que a julgar pelo corte no sapato de Doull (caso tenha sido mesmo provocado pelo disco) não se resolveu com o arredondamento dos discos -, há ainda a questão do aquecimento, podendo causar queimaduras se os discos entrarem em contacto com a pele. A principal preocupação prende-se de em caso de uma queda entre vários ciclistas, os travões de disco serem mais um instrumento que poderá provocar ferimentos.
Uma das acusações é contra as marcas, com ciclistas a dizerem que estas têm um interesse comercial na introdução dos travões de disco ao mais alto nível do ciclismo profissional. Apesar de ser notório o melhoramento do tempo de travagem, sendo principalmente importante em dias de chuva, no entanto, os que defendem a manutenção do método de travagem tradicional dizem que o risco não compensa os benefícios, pois na maioria das corridas, o actual sistema é mais do que suficiente.
A polémica vai certamente continuar.
Um início difícil para Owain Doull
Aos 23 anos e depois de se revelar na Team Wiggins, Owain Doull conseguiu um contratado com a toda poderosa Sky. Estagiou na equipa nos últimos meses de 2016 e convenceu os responsáveis. Naturalmente entusiasmado com a oportunidade, Doull acabou por começar mal a temporada. Quando estava escalado para competir no Tour Down Under, o britânico sofreu uma apendicite. Recuperado, foi chamado para estar na Volta a Abu Dhabi.
Segundo Marcel Kittel, os guiadores da sua bicicleta e de Doull ficaram entrelaçados o que provocou a queda. O alemão ficou com umas mazelas no joelho e cotovelo, mas Doull terá certamente uma noite bem penosa tendo em conta as imagens que mostram como ficou a parte esquerda do corpo.
A queda ainda provocou ferimentos noutros ciclistas. Caleb Ewan e Phil Bauhaus foram ao hospital. O ciclista da Orica-Scott ficou com dores no ombro esquerdo e no pulso, enquanto o da Sunweb queixou-se da mão direita. Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors) ficou com dores no peito e numa mão e Alex Dowsett terá sido o que saiu com menos mazelas da queda.
Quanto à etapa, Mark Cavendish (Dimension Data) conquistou a primeira vitória da temporada, ao bater ao sprint André Greipel (Lotto Soudal) e Niccolo Bonifazio (Bahrain-Merida).
»»O que pensam os ciclistas portugueses deste sistema?««
»»Travões de disco e as "facas gigantes" de Ventoso ««
1 out of 158 riders in abu dhabi using disk brake and this happens! Imagine all of them use disks!! #coverup @UCI_cycling ?? https://t.co/DvtVXDczr5— Gregory Rast (@gregory_rast) 23 February 2017
UCI pede respeito pelo "processo democrático"You know that they say: "human test dummies are the best test dummies." 🤔......or maybe not https://t.co/U8NxkesP0Q— Larry Warbasse (@larrywarbasse) 23 February 2017
A Associação de Ciclistas Profissionais (ACP) tem estado muito activa para tentar que a experiência de utilização dos travões de disco seja cancelada. A ACP considera que a maioria dos ciclistas estão contra este sistema, com outros a contestarem que num pelotão uns tenham travões de disco e outros o método mais tradicional.
Mark Barfield, presidente da Comissão de Equipamento da UCI, enviou uma carta à ACP - antes do incidente com Owain Doull -, que o site Cycling News teve acesso. Na missiva, Barfield pede respeito pelo "processo democrático", considerando infundadas as preocupações da associação e salientando que muitos ciclistas mostraram-se a favor dos travões de disco.
A integração dos travões de disco é considerada por alguns como inevitável, mas outros ciclistas continuam a resistir a esta mudança, alegando questões de segurança. Além da possibilidade de cortes - que a julgar pelo corte no sapato de Doull (caso tenha sido mesmo provocado pelo disco) não se resolveu com o arredondamento dos discos -, há ainda a questão do aquecimento, podendo causar queimaduras se os discos entrarem em contacto com a pele. A principal preocupação prende-se de em caso de uma queda entre vários ciclistas, os travões de disco serem mais um instrumento que poderá provocar ferimentos.
Uma das acusações é contra as marcas, com ciclistas a dizerem que estas têm um interesse comercial na introdução dos travões de disco ao mais alto nível do ciclismo profissional. Apesar de ser notório o melhoramento do tempo de travagem, sendo principalmente importante em dias de chuva, no entanto, os que defendem a manutenção do método de travagem tradicional dizem que o risco não compensa os benefícios, pois na maioria das corridas, o actual sistema é mais do que suficiente.
A polémica vai certamente continuar.
Um início difícil para Owain Doull
Aos 23 anos e depois de se revelar na Team Wiggins, Owain Doull conseguiu um contratado com a toda poderosa Sky. Estagiou na equipa nos últimos meses de 2016 e convenceu os responsáveis. Naturalmente entusiasmado com a oportunidade, Doull acabou por começar mal a temporada. Quando estava escalado para competir no Tour Down Under, o britânico sofreu uma apendicite. Recuperado, foi chamado para estar na Volta a Abu Dhabi.
Segundo Marcel Kittel, os guiadores da sua bicicleta e de Doull ficaram entrelaçados o que provocou a queda. O alemão ficou com umas mazelas no joelho e cotovelo, mas Doull terá certamente uma noite bem penosa tendo em conta as imagens que mostram como ficou a parte esquerda do corpo.
A queda ainda provocou ferimentos noutros ciclistas. Caleb Ewan e Phil Bauhaus foram ao hospital. O ciclista da Orica-Scott ficou com dores no ombro esquerdo e no pulso, enquanto o da Sunweb queixou-se da mão direita. Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors) ficou com dores no peito e numa mão e Alex Dowsett terá sido o que saiu com menos mazelas da queda.
Quanto à etapa, Mark Cavendish (Dimension Data) conquistou a primeira vitória da temporada, ao bater ao sprint André Greipel (Lotto Soudal) e Niccolo Bonifazio (Bahrain-Merida).
»»O que pensam os ciclistas portugueses deste sistema?««
»»Travões de disco e as "facas gigantes" de Ventoso ««
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