Quando Kris Boeckmans cortou a meta em terceiro lugar, na quarta-feira na Volta à Turquia, quase que parecia inacreditável que há oito meses o belga tenha sofrido uma queda que fez temer o pior. Pode ainda não estar no seu melhor, mas Boeckmans tornou-se em mais um exemplo da incrível capacidade de recuperação de um ser humano.
Na oitava etapa da Volta a Espanha, Boeckmans não viu um buraco quando estava a beber e foi projectado da bicicleta. Sofreu uma concussão, três costelas partidas, um pneumotórax, nariz partido e o queixo ficou de tal forma que foi necessário ser operado, uma cirurgia que demorou oito horas. A gravidade dos ferimentos fez com que estivesse em coma induzido durante mais de uma semana. Correu risco de vida.
O director desportivo da Lotto Soudal, Mario Aerts, recordou que durante algum tempo não sabia se o seu ciclista sobreviveria, quanto mais se alguma vez voltaria a ser o mesmo atleta e, principalmente o mesmo homem. Boeckmans deu a resposta nos meses que se seguiram e regressou à competição antes do previsto. "O Kris tem muito carácter, resiliência e coragem. Ele possui muita força para regressar como ser humano e como ciclista e quer regressar ao mais alto nível no desporto", salientou Aerts ao site Velonews.
Aos 29 anos, Boeckmans tenta agora recuperar o tempo perdido. Em 2015 estava a realizar a sua melhor temporada de sempre: seis vitórias em etapas ou corridas de um dia, mais dois triunfos em classificações gerais. Oito vitórias das 11 que contabiliza como profissional. Regressou na clássica de Handzame, desistiu na primeira etapa da Volta à Catalunha, esteve na corrida de Scheldeprijs, mas foi na Volta a Turquia que o belga regressou aos bons resultados. Todo o sacrifício de uma penosa e longa recuperação começam a valer a pena.
"Passaram-se quase nove meses e eu sinto-me como se tivesse renascido. Demorei o tempo necessário para recuperar. Nunca forcei nada, mas também nunca tirei um dia de folga, nem um", contou ao Velonews.
A terceira etapa da Volta à Turquia foi atípica, é certo. O vento provocou um corte no pelotão e a equipa da Lotto Soudal acabou com seis ciclistas no top dez. Mas a importância o terceiro lugar de Boeckmans é melhor compreendido quando André Greipel admite que teria cedido a sua vitória para que o colega fosse o vencedor. "O Kris Boeckmans merecia-a, sem dúvida, pois é impressionante que ele tenha feito parte do grupo da frente. Teria sido muito emocionante se tivesse ganho", referiu o sprinter alemão, que acrescentou que a equipa manteve-se fiel ao plano, que tinha Greipel como a primeira aposta.
Ainda não se fazem prognósticos do que Boeckmans poderá vir a ser no ciclismo. O próprio admite que terminada a Volta à Turquia vai voltar ao trabalho com o treinador e o fisioterapeuta (não tem, para já, mais nenhuma corrida agendada). Motivação não parece faltar e o belga parece já ter alcançado a grande vitória que desejava: "Estou a desfrutar tanto do ciclismo como o fazia antes da queda e penso que isso é um feito tendo em conta o que passei."
E Boeckmans salientou ainda: "Para mim a melhor parte desta viagem é estar aqui a pedalar com os melhores companheiros de equipa do mundo. É de loucos que eu esteja aqui."
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