26 de abril de 2016

Michael Rogers, o ciclista leal

"Todos os grandes sonhos chegam, eventualmente, ao fim e hoje é o momento de concluir o meu."

Michael Rogers anunciou o fim da carreira. Aos 36 anos o problema congénito no coração, diagnosticado em 2001, obrigou o australiano a colocar um ponto final.

O primeiro alarme que algo estava mal aconteceu logo no início do ano quando Rogers não participou no Tour Down Under. Foi para a Volta ao Dubai, mas só fez duas etapas. Agora chegou a confirmação: "Apesar de estar desapontado por não ir à minha 13ª Volta a França e de não ter a oportunidade de competir nos meus quintos Jogos Olímpicos, não estou preparado para colocar a minha saúde em risco."

Foi através de uma carta publicada no Twitter que Rogers anunciou a inevitável decisão. Um rude golpe para a Tinkoff, pois o australiano seria certamente um dos homens importantes para estar ao lado de Alberto Contador. "É seguro dizer que o Michael tem sido uma parte crucial da ambição da equipa nas etapas e nas grandes voltas. A calma do Michael e o seu espírito gentil faz dele um colega ideal e o homem a quem os jovens se dirigem na equipa", escreve a equipa no site oficial.


Michael Rogers começou como profissional na então denominada Mapei-QuickStep, liderada por Patrick Lefevere. Em 2001 ficou na equipa, depois de ter estagiado nos últimos meses de 2000. Em 2002 conquistou o primeiro grande triunfo: o Tour Down Under. Foi campeão do mundo de contra-relógio entre 2003 e 2005. A primeira vitória foi-lhe atribuída após a desqualificação de David Millar e por razões idênticas ficou com a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Desta feita foi Tyler Hamilton a ficar sem o ouro devido a um controlo positivo de doping.

Além das capacidades de contra-relogista, Michael Rogers também sempre mostrou que as corridas de uma semana lhe assentavam muito bem, conquistando, por exemplo, a Volta à Califórnia e a Volta à Andaluzia, ambas em 2010.

Soube sempre aproveitar as oportunidades para produzir resultados para si, mas também mostrou ser um homem leal quando tinha de acompanhar um líder. Assim foi quando esteve na Sky, tendo ajudado Bradley Wiggins a conquistar o Tour em 2012 e depois trabalhou para Alberto Contador na conquista do Giro no ano passado.

Rogers viveu um momento negro na carreira quando a equipa T-Mobile foi acusada de ter recorrido ao doping durante a Volta a França de 2006. O australiano sempre negou qualquer envolvimento nessas práticas e conseguiu prosseguir a sua carreira. Em 2013 deu positivo num controlo durante uma corrida no Japão, mas escapou a uma sanção alegando que o resultado era devido a carne contaminada da China.

Mais uma vez o australiano reage e em 2014 acabou por ter um dos seus melhores anos a nível de vitórias em provas importantes: duas etapas no Giro e uma no Tour.

A retirada de Michael Rogers surge menos de um ano depois de Ivan Basso também ter abandonado devido a problemas de saúde. O italiano da Tinkoff saiu da Volta a França depois de lhe ser diagnosticado um cancro testicular. Em Outubro anunciou que não voltaria a competir, apesar de ter vencido a doença. Dois homens experientes com quem a equipa russa muito contava.

No momento do adeus, Rogers deixou o desejo que a Tinkoff continue, considerando que Oleg Tinkov "não é o estereótipo do ciclismo", sendo "um apoiante único" da modalidade. "Espero que reconsidere a sua decisão de abandonar o ciclismo no final do ano", escreveu.

Para a história ficam os números e o perfil de um ciclista que as equipas por onde passou sabiam que podiam contar. Somou 15 vitórias como profissional e participou em 15 grandes voltas, sendo um dos mais experientes no Tour (12). Competiu no Giro em três ocasiões, prova em que alcançou a sua melhor classificação ao ficar em sexto em 2009. No Tour foi nono três anos antes.

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