29 de agosto de 2020

Lembram-se deste Kristoff?

© Bettiniphoto/UAE Team Emirates
Por uns segundos pareceu que se estava nos anos entre 2014 e 2016, quando Alexander Kristoff foi um ciclista temível nos sprints e clássicas. Aquele arranque poderoso capaz de deixar o melhor dos adversários para trás, há muito que não se via. O norueguês vai ganhando aqui e ali, até uma ou outra vitória importante. Porém, em Nice, recordou aquele Kristoff espectacular, que era garantia de muitos e bons triunfos, mas que, num curto espaço de tempo, se eclipsou.

Aos 33 anos e com um papel cada vez mais secundário, mesmo na UAE Team Emirates, Kristoff não entrava muito nas contas para ser o vencedor na primeira etapa do Tour. Acabou por ser referido por ser um daqueles sprinters com muitas presenças - é a sua oitava Volta a França -, mas que nunca havia vestido a camisola amarela, a exemplo de Peter Sagan (Bora-Hansgrohe). O eslovaco vai ter de esperar para juntar a amarela à sua extensa colecção de camisolas, mas Kristoff surpreendeu e já a tem.

Desde que a sua relação com a então Katusha-Alpecin começou a azedar em 2017, que Kristoff teve uma tremenda quebra de rendimento. Ia vencendo, mas faltava-lha vitórias nos grandes palcos. Durante os três anos referidos, conquistou a Milano-Sanremo, a Volta a Flandres e também foi figura no Tour, só para referir os triunfos de maior destaque. Em 2014 foram 14, 2015 aumentou para 20 e em 2016, 13.

Mas a partir de 2016, as vitórias eram muitas vezes em corridas de categorias inferiores. Porém, Kristoff sempre teve a capacidade de quando pouco parecia contar com ele, de calar alguns críticos. Como aconteceu na Prudential RideLondon-Surrey Classic e na Eschborn-Frankfurt, por exemplo. Até se sagrou campeão europeu e por pouco não ficou também com o título mundial. Pelo meio enfrentou acusações de estar gordo, num claro mal-estar na Katusha-Alpecin.

A perder estatuto, mudou-se para a UAE Team Emirates para ser novamente líder. Mas se recuperou confiança, não recuperou aquela veia vencedora. Mas lá está, foi aos Campos Elísios vencer a etapa mais desejada dos sprinters no Tour, juntou mais duas Eschborn-Frankfurt, uma Gent-Wevelgem... Fez o suficiente para que a sua equipa não perdesse confiança nele, ainda que também já tenha contratado ciclistas para ocupar o seu lugar de líder nos sprints e mesmo em algumas clássicas. Caso de Fernando Gaviria e Jasper Philipsen, este último ainda está numa fase de evolução.

Na Katusha-Alpecin, Kristoff não esteve disposto a ficar em segundo plano, compreensível visto então ser um ciclista numa idade para pensar em manter-se no auge. Porém, o tempo passou e o norueguês até vai dando mostras de estar preparado para ser cada vez mais um apoio de qualidade às novas figuras da UAE Team Emirates.

© Bettiniphoto/Bahrain-Merida
Mas em Nice, Kristoff aproveitou ser o sprinter escolhido pela UAE Team Emirates, que, contudo, está concentrada em levar Tadej Pogacar a um bom resultado na geral. Kristoff é um ciclista que sabe aproveitar o trabalho de outras equipas, ainda que tenha contado com um lançador seu. E aquela potência no arranque que tantas vitórias lhe deu no passado, surgiu em Nice. Foi a quarta etapa ganha no Tour.

A etapa foi desgastante para todos. A chuva deixou a estrada tão escorregadia que se sucederam quedas. O pelotão chegou a simplesmente abrandar até aos últimos 20 quilómetros finais. Depois de cair no Europeus, na quarta-feira, Kristoff evitou todos os problemas e, como o bom velho Kristoff, foi grande no sprint.

É mais uma prova que este norueguês há-de ter sempre algo para dar, ainda que de ano para ano seja cada vez menos um ciclistas de muitas vitórias. Mas corredores como o Kristoff nunca desistem de obter mais um momento de glória. E vestir a camisola amarela no Tour, mesmo que seja apenas por um dia, é um daqueles que qualquer atleta ambiciona.

© ASO/Alex Broadway
Etapa muito complicada

Pavel Sivakov teve uma estreia madrasta no Tour. Duas quedas, muitas feridas e muitas dores para lidar nos próximos dias. Andrey Amador, também da Ineos Grenadiers caiu igualmente duas vezes, com o rivais da Jumbo-Visma a terem também problemas. Tom Dumoulin e George Bennett foram ao chão. São ciclistas a quem espera um trabalho importante para os respectivos líderes.

A lista de quedas é enorme. Miguel Ángel López (Astana) deslizou até chocar com um sinal, Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) estava a três quilómetros da meta - já com o tempo neutralizado por ordem dos comissários - quando caiu. Giacomo Nizzolo (NTT), Caleb Ewan (Lotto Soudal), Richie Porte (Trek-Segafredo), o português Nelson Oliveira (Movistar) não foram felizes. E estes são apenas poucos exemplos daqueles que tiveram um primeiro dia do Tour bem mais difícil do que o esperado.

Agosto, mês de Verão. Nice, cidade a convidar a mergulhos na praia... Que dia tão cinzento para abrir uma tão aguardada Volta a França. As quedas acabaram por marcar a primeira etapa, de 156 quilómetros, percorridos por Nice. A situação estava tão má que Tony Martin, um autêntico patrão no pelotão, deu ordem para se andar com calma. Só a Astana não respeitou a ia pagando um preço alto com López.


© ASO/Alex Broadway
Até aos 20 quilómetros finais só não se pode dizer que houve de descanso, porque aquela descida, com curvas em cotovelo, deixou todos nervosos, mesmo a velocidade muito baixa. Alguns ciclistas quase pararam para curvar.

Falta agora saber que consequências terão as quedas em alguns ciclistas. Ainda por cima, este é mesmo o Tour mais exigente dos últimos anos e este domingo há já duas primeiras categorias para enfrentar. Espera-se é que a meteorologia esteja mais simpática.

Apesar da etapa não ter sido o que se esperava, ainda assim só dá vontade de dizer: o Tour está finalmente na estrada.

Classificação completa, via ProCyclingStats.

2ª etapa: Nice Haut Pays - Nice, 186 quilómetros


Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) - mais um dos que caiu - tem esta etapa apontada para tentar repetir a exibição de 2019. Ou seja, quer vencer e vestir novamente a camisola amarela. É um bom dia para ciclistas como o francês, numa altura que a Jumbo-Visma e a Ineos-Grenadiers ainda poderão não estar interessadas em assumir já a liderança. Porém, com Primoz Roglic nunca se sabe!

Será um bom dia para os chamados punchers para tentar perseguir pelo menos a vitória de etapa, se a Jumbo-Visma deixar. Já se percebeu que a equipa holandesa quer mesmo ser a nova dona do Tour, destronando por completo a agora chamada Ineos-Grenadiers.


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