31 de agosto de 2020

Caleb Ewan feito para o Tour

© ASO/Pauline Ballet
Que espectáculo! O que parecia ter sido um erro de Caleb Ewan ao perder o seu comboio de lançamento do sprint, terminou com um show de como sprintar quando se fica sozinho. Peter Sagan e Giacomo Nizzolo ainda devem estar a tentar perceber quem passou por eles. Mais parecia que ia de moto! Depois de dois dias tão difíceis para a Lotto Soudal, ao terceiro o seu pequeno sprinter comprovou que foi mesmo feito para o Tour.

Na primeira etapa Ewan foi um dos muitos ciclistas que caiu. Nem se o viu no sprint final. Os companheiros John Degenkolb e Philippe Gilbert também sofreram quedas. O pior estava para vir. O alemão chegou fora do tempo limite, cerca de dois minutos, e os comissários não perdoaram. Foi excluído logo no primeiro dia. Gilbert terminou a tirada, mas os exames médicos detectaram uma fractura na rótula. Não partiu para a segunda etapa.

Na terceira, Ewan finalmente deu uma alegria, mas só depois de dar um susto aos colegas que tanto trabalharam para o colocar na frente da corrida. De repente, nem vê-lo e os ciclistas da Lotto Soudal procuravam pelo seu sprinter. O sprint começou e nada de Ewan, até que, surge um capacete vermelho a alta velocidade, a contornar os adversários com uma incrível destreza e muita coragem. Aquela ultrapassagem a Sagan junto às grades... A cerca de 100 metros da meta, Sam Bennett estava já a ver a primeira vitória no Tour acontecer. Mas, vai ter de esperar.

O melhor é ver o vídeo, principalmente a repetição do sprint da imagem do helicóptero. Uma nota: o vento estava de frente, mas não abrandou Ewan!

Aos 26 anos, Ewan mostra como tinha razão em exigir à sua antiga equipa, Mitchelton-Scott, que o levassem ao Tour. Já com vitórias na Vuelta (uma) e Giro (três), o pequeno australiano (só tem 1,65 metros), tinha dado provas que podia medir forças com os melhores do mundo. Hoje também já o é e a Volta a França está a tornar-se a sua corrida.

Em 2019, com as cores de uma Lotto Soudal que elegeu Caleb Ewan para substituir André Greipel, o sprinter de estranho estilo não demorou a fazer esquecer o alemão. Aquela forma de sprintar deitado no guiador é uma imagem de marca, ainda que já vá mostrando uma posição um pouco diferente. Está a evoluir e está a tornar-se num caso sério de sucesso no grande palco que é o Tour.


Caleb Ewan cortou a meta com clara vantagem sobre Sam Bennett © ASO
Foram três vitórias na estreia, a última na mítica etapa dos sprinters, nos Campos Elísios. Com a desta segunda-feira, Ewan já soma quatro e perante a diferença de velocidade, de potência... de tudo, vai ser sempre forte candidato para somar mais, em condições normais. Já se sabe que em três semanas, muito acontece neste tipo de corridas.

Apesar de ter sido na equipa do seu país, a Mitchelton-Scott, que evoluiu, que se tornou num pequeno grande sprinter, a decisão de mudar-se para a Lotto Soudal não lhe deu só a tão desejada presença no Tour e a liderança nos sprints. Na formação belga, o seu crescimento continuou (e continua) e até deu um salto de qualidade, fruto de uma estrutura muito mais dedicada a este tipo de ciclista (assim como para as clássicas). E ajuda ter corredores experientes e dedicados quase exclusivamente em ajudar Ewan.

O Tour pode ter encontrado uma nova estrela do sprint para os próximos anos, à imagem do que aconteceu - recordando nomes mais recentes - com Mark Cavendish e Marcel Kittel.

Classificações completas da terceira etapa, via ProCyclingStats. 198 quilómetros que ligaram Nice a Sisteron.

4ª etapa: Sisteron - Orcières-Merlette, 160,5 quilómetros



Primeira chegada em alto do Tour. Primeiro teste à liderança de Julian Alaphilippe. O ciclista da Deceuninck-QuickStep talvez nem tenha de se preocupar muito com a Jumbo-Visma e a Ineos Grenadiers. É provável que as duas grandes candidatas estejam a pensar em lançar as suas armas mais adiante, poupando os líderes num Tour que será desgastante. O mesmo poderá suceder com Thibaut Pinot, da Groupama-FDJ.

No entanto, vários ciclistas estão a 17 segundos do francês e vestir a camisola amarela, mesmo sabendo que não a vão manter, poderá ser um momento que marque uma carreira. Sergio Higuita (EF Pro Cycling), Esteban Chaves (Mitchelton-Scott), Pierre Latour (AG2R), Miguel Ángel López (Astana), Pierre Rolland (B&B Hotels-Vital Concept) são nomes a ter muito em conta na etapa desta terça-feira. Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) é um ciclista que já está mais na mira das principais figuras, depois do que vez na Vuelta, mas está desejoso de ganhar uma etapa.

E porque não juntar a esta lista Mikel Landa, da Bahrain-McLaren, ainda que o espanhol esteja a apontar à vitória finaç e não apenas a um pódio. Uma liderança tão cedo poderá não ser o mais sensato para a equipa, longe de poder competir com a Jumbo-Visma e a Ineos Grenadiers. Ainda mais já perdeu Rafael Valls e Wout Poels está a competir com uma costela partida e uma contusão no pulmonar, depois de ter caído na primeira etapa.

Não esquecer Adam Yates. O líder da Mitchelton-Scott só tem quatro segundos para recuperar. É outro candidato, ele que não tem pretensões à geral, mas a amarela está ali tão perto...

Alaphilippe não vai ter um dia fácil, mas já o vimos defender-se em condições bem mais difíceis em 2019, pelo que poderá manter-se como líder e começar a viver uma nova saga de amarelo.

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