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Já se sabe que Rui Costa vive uma fase na carreira em que não é um líder indiscutível da equipa. Tadej Pogacar continua a demonstrar bem as razões da nova geração estar a tomar conta deste estatuto em várias formações. O esloveno está a ser fenomenal na Volta à Comunidade Valenciana, que se prepara para conquistar em condições normais. Mas lá longe, na Arábia Saudita, na primeira edição de mais uma corrida no Médio Oriente, Rui Costa esteve também ele muito bem.
Como por norma acontece nesta zona do globo, as provas são mais dadas aos sprinters. Algumas, como a Volta aos Emirados Árabes Unidos, a organização coloca uma etapa com uma subida mais difícil para favorecer os trepadores, mas o normal é ver muitos sprinters a competir nestas corridas. Na Arábia Saudita as etapas podem não ter sido completamente planas, contudo, o pódio é o exemplo perfeito de como será mais uma prova que apelará aos homens rápidos do pelotão. Dois sprinters ficaram nos dois primeiros lugares: Phil Bauhaus (primeira vitória numa geral na era Bahrain McLaren) e Nacer Bouhanni (estreia animadora do francês pela Arkéa Samsic, tendo ganho uma tirada).
Rui Costa fechou o pódio, depois de se ter tornado o primeiro ciclista a vencer uma etapa na Volta à Arábia Saudita. É preciso recuar a 2017 para recordar quando celebrou um triunfo: venceu uma etapa e a geral nos Emirados Árabes Unidos, na então apelidada Volta a Abu Dhabi. Mais do que estar a tentar recuperar algum estatuto na equipa, começar bem a temporada é importante quando aponta alto aos Jogos Olímpicos. Não indo ao Tour, é nesta fase inicial da época que o campeão do mundo de 2013 procurará o seu primeiro pico de forma, talvez a pensar muito nas clássicas das Ardenas, especialmente no monumento Liège-Bastogne-Liège. Boas exibições e vitórias neste arranque de 2020 podem ser decisivas na altura de lhe ser concedida liberdade para lutar pela vitória, mesmo que não seja o líder.
Nesse aspecto, os objectivos foram alcançados na Arábia Saudita. Porém, teria sido dispensável estar envolvido numa polémica que, felizmente para o ciclista, acabou por ser apaziguada por um dos intervenientes.
Na segunda etapa, Reinardt Janse van Rensburg (NTT) sofreu um toque de Rui Costa e caiu. Estando praticamente na frente do pelotão, o resultado foram vários ciclistas a sofrerem uma queda. As imagens televisivas mostraram o sul-africano a aproximar-se do português, com Rui Costa a tirar a mão direita do guiador. Seguiu-se a queda.
Rapidamente foi acusado de ter sido o responsável pelo sucedido e de ter tido um acto de pouco ou nenhum fair play. As imagens propagaram-se nas redes sociais e as acusações também. Rui Costa afirmou que o gesto tinha sido em sua defesa e que Van Rensburg tinha ido ao autocarro da UAE Team Emirates esclarecer a situação. Dois dias depois o sul-africano explicou publicamente ao pormenor o que aconteceu, colocando um ponto final na polémica.
A explicação de Van Rensburg
"Há muita especulação que o Rui Costa me fez cair, empurrado-me e fazendo-me perder o equilíbrio. Para ser sincero, a queda foi iniciada por mim ao tocar na roda do companheiro da minha equipa que estava à minha frente, o que me levou a perder o equilíbrio. Depois bati na bicicleta do Marco Marcato [da UAE Team Emirates]. Nesta altura, o Rui, que já tinha a mão na minha cara, deu-me um empurrão como uma reacção para se defender. Aconteceu que o empurrão sucedeu no momento em que a minha roda da frente estava presa entre a bicicleta do Marco e o pé dele, que tinha vindo para trás enquanto pedalava."
Assumindo a sua parte da responsabilidade, o sul-africano ainda assim salientou que as mãos são para ficar no guiador, mas assegurou que deseja que se siga em frente após o incidente. Revelou também que ficou satisfeito por os comissários não terem penalizado Rui Costa, referindo como temeu que este fosse expulso da corrida ou sofresse uma sanção, algo que não aconteceu.
Ivo Oliveira e José Neves também em prova
Rui Costa acabou por ser o português que se destacou nesta primeira edição da Volta à Arábia Saudita, lutando até final pela vitória na geral, que "fugiu" por 13 segundos. A seu lado esteve Ivo Oliveira e foram boas as indicações do ciclista de Gaia. Depois de alguns dias de competição no final de 2019 para recuperar sensações após a longa paragem de meia ano devido a uma grave queda - correu o risco de ficar paraplégico -, Ivo quer em 2020 afirmar-se de vez.
Além do trabalho de protecção a Rui Costa, Ivo aproveitou a oportunidade na quarta etapa para se mostrar e foi quinto no sprint ganho por Nacer Bouhanni. Tal como Rui Costa vai viajar até ao Algarve para continuar a temporada (de 19 a 23 de Fevereiro).
Quanto a José Neves, iniciou a sua segunda temporada na Burgos-BH, mas é um trepador nato e este não era um percurso que se adaptasse às suas características. Não foi nenhuma surpresa que tenha estado mais discreto em termos de geral, terminando a 12:25 minutos de Bauhaus (68º).
Rui Costa é um ciclista com mais "explosão", por assim dizer, em subidas curtas. Neves gosta muito mais da alta montanha e é aí que se vê o melhor deste jovem português de 24 anos. A Arábia Saudita foi uma forma de apurar a forma de um ciclista que tem a ambição de em 2020 estrear-se numa grande volta, nomeadamente na Vuelta.
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