28 de junho de 2017

"Espero que no dia em que tiver alguma liberdade no Tour possa fazer alguma coisa bonita"

Tiago Machado será o único ciclista português na Volta a França. O corredor da Katusha-Alpecin considera que a chamada foi "um sinal de reconhecimento" do trabalho que tem feito, realçando que há algum tempo que não se sentia tão bem como agora. Irá estar ao lado de Alexander Kristoff sempre que a etapa seja para ser discutida ao sprint, mas o português ficará à espera de lhe ser dada liberdade em alguns dias e assim tentar fazer "algo bonito".

O ciclista dá mostras de estar a recuperar a sua confiança e motivação: "Sinto-me bem e já há algum tempo que não me encontrava assim. Agora é correr um pouco atrás do prejuízo e tentar voltar ao nível que habituei. Acredito que é possível." Tiago Machado refere-se a uma temporada menos conseguida em 2016, sobre a qual disse ao Volta ao Ciclismo já ter ultrapassado os "factores menos favoráveis" que o prejudicaram. "Quando voltar ao melhor nível, certamente que estarei novamente na discussão das provas", salientou.

Quanto à Volta a França, o seu maior desejo é que "tudo corra bem, sem incidentes". Porém, com a Katusha-Alpecin sem um líder para a geral - Ilnur Zakarin fez o Giro e irá apostar na Vuelta -, sempre que se estiver numa etapa que não seja para o sprinter Alexander Kristoff, Tiago Machado espera que possa chegar o momento de ele mostrar-se. "O objectivo passa por estar no apoio ao Kristoff, como foi feito na Volta à Califórnia. Depois é esperar que durante os 21 dias de prova surja a oportunidade", referiu. E Tiago Machado realçou: "Espero que no dia em que tiver alguma liberdade no Tour, as pernas correspondam e possa fazer alguma coisa bonita."


"Não me esqueci que tinha ainda dois anos de contrato [na então Madeinox-Boavista] quando me deixaram ir para a RadioShack. Se tiver de os 'cumprir', fá-lo-ei com o maior gosto"

Machado esteve recentemente nos Nacionais e não pensou em poupanças para a Volta a França. Sempre ambicioso, o ciclista tentou conquistar a camisola de campeão. No entanto, o difícil percurso de Gondomar teve o seu peso e Machado terminou na oitava posição, a 2:46 minutos do vencedor, Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo). Ainda assim, foi um bom teste para o português.

Machado não vira as costas a um regresso a Portugal

Desde 2010 que Tiago Machado corre no estrangeiro e apenas em 2014 não esteve no World Tour. Depois da passagem na RadioShack, deu o que parecia ser um passo atrás na carreira ao assinar pela NetApp-Endura (actual Bora-Hansgrohe, mas que então estava no escalão Profissional Continental). Acabou por ser o trampolim um novo salto importante. A Katusha foi buscá-lo. Mas no ciclismo já se sabe, os contratos são normalmente curtos e Machado está no seu último ano. No entanto, não se deixa pressionar pela incerteza do futuro.

"Não estou preocupado. Se tiver de deixar de correr, pintando o cenário mais negro possível, acho que posso dizer que tive uma belíssima carreira. Oito anos ao mais alto nível internacionalmente e cinco a nível interno também muito bons. São poucos os que se podem gabar daquilo que eu já fiz", frisou. Estará Machado a pensar em terminar a carreira? Os fãs que fiquem descansados, o ciclista só quis referir um exemplo extremo.

Tiago Machado (31 anos) tem todas as intenções de continuar a competir e se não for na Katusha-Alpecin, ou noutra equipa do World Tour, não afasta a possibilidade de regressar a Portugal. "Não me esqueci que tinha ainda dois anos de contrato [na então Madeinox-Boavista] quando me deixaram ir para a RadioShack. Se tiver de os 'cumprir', fá-lo-ei com o maior gosto", afirmou. O atleta garantiu que tem as portas abertas no país, principalmente na estrutura do clube axadrezado. Realçou como manteve uma boa relação com os responsáveis da equipa portuguesa. "Quando as coisas estão bem todos me falam, quando estão mal, são poucos os que me falam. Eles motivaram-me para que não deitasse a toalha ao chão", contou.


"Em Tóquio2020 vou ser um jovem de 35 anos. Vamos ver se vou ter a honra de representar o meu país no maior evento do mundo"

Para comprovar que terminar a carreira só mesmo no pior dos piores cenários, Tiago Machado admitiu ainda a ambição que mantém em conseguir representar Portugal nos Jogos Olímpicos em Tóquio2020: "Já poderia ter participado em alguns Jogos Olímpicos e por isto ou por aquilo as escolhas não foram as mais justas. Calei-me, engoli... Sei que merecia e tinha valor para lá estar, mas foram essas as escolhas."

O ciclista acrescentou: "A selecção deve ser representada pelos atletas mais fortes num evento desses. Por mais do que uma vez isso não aconteceu. Em Tóquio2020 vou ser um jovem de 35 anos. Vamos ver se vou ter a honra de representar o meu país no maior evento do mundo."

E só para ter a certeza quando a um possível adeus: "Não me passa pela cabeça abandonar. Tenciono deixar a bicicleta quando as minhas pernas não derem mais e acredito que ainda tenho muito para dar." É impossível duvidar disso sempre que se vê Tiago Machado ao ataque, como aconteceu este ano na Liège-Bastogne-Liège. Na clássica belga, o corredor esteve numa fuga que por momentos começou a parecer que poderia singrar. Mas já se sabe que estas corridas são de grande imprevisibilidade e de repente tudo mudou. Machado não discutiu a vitória, mas foi uma daquelas exibições ao seu estilo, como tinha acontecido na Vuelta.

É um homem que joga na ofensiva e no seu currículo destacam-se as vitórias na geral da Volta à Eslovénia (2014) e no Troféu Joaquim Agostinho (2008), dois terceiros lugares no Critérium International, segundo no Giro del Trentino e um terceiro lugar no Tour Down Under. E estes são apenas alguns destaques.

Na Volta a França, a sua terceira, Tiago Machado estará acompanhado por Alexander Kristoff, Tony Martin, Robert Kiserlowvski, Maurits Lammertink, Nils Politt, Marco Haller, Reto Hollenstein e Rick Zabel.

O Tour começa no sábado e a Katusha-Alpecin irá apresentar-se com um novo equipamento. Mantém o vermelho, mas a parte de cima da camisola passa a ser branca, o que poderá ajudar bastante a diferenciar a equipa da BMC, Lotto Soudal e Cofidis.
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