9 de maio de 2017

Muita garganta, pouca acção e uma expulsão por conduta violenta

A paisagem de um vulcão com os favoritos a marcarem-se (Fotografia: Giro d'Italia)
As expectativas eram altas e já sabe que tal pode dar azo a uma desilusão ainda maior. Houve momentos de interesse, é certo, mas foram poucos tendo em conta as características da subida ao Etna, na Sicília, e principalmente tendo em conta os discursos de alguns dos candidatos antes da quarta etapa do Giro100, que pareciam indicar que haveria ataques. Houve apenas uma acelerações, pequenos testes que não serviram para criar qualquer emoção. Restou Jan Polanc, que esteve em fuga 170 dos 181 quilómetros da etapa e fez a ascensão em solitário para uma brilhante vitória, a primeira da UAE Team Emirates numa grande volta. Perante a falta de movimentações dos candidatos, o assunto do dia acabou por ser a expulsão da corrida de Javier Moreno. O espanhol da Bahrain-Merida foi acusado de "conduta violenta" ao ter empurrado Diego Rosa, provocando a queda do ciclista da Sky.

Começando precisamente por esta expulsão. As imagens de televisão captaram o momento em que os ciclistas estariam a trocar algumas palavras, com Moreno a agarrar o italiano e a empurrá-lo. Naquela zona estava algum público e Rosa terá caído ao tentar evitar chocar com essas pessoas. "Foi uma coisa estúpida. Foi o stress do momento. Se um homem empurra outro para fora da estrada e contra o público, é algo perigoso", afirmou Diego Rosa.



Tanto Javier Moreno e a Bahrain-Merida aceitaram a sanção da UCI e pediram desculpa ao italiano e à Sky. O espanhol explicou o que aconteceu num comunicado divulgado pela sua equipa: "Os meus colegas de equipa estavam alinhados na aproximação à última subida, com a Sky a chegar pela esquerda e o Rosa queria ficar na roda dos meus colegas, que estavam à minha frente. Quando ele se apercebeu que eu estava a resistir, ele insistiu e eu reagi empurrando-o, infelizmente provocando a sua queda. Quero pedir desculpa pela minha reacção e deixar claro que não foi minha intenção que ele caísse. Peço desculpa a ele, à Sky, aos meus companheiros de equipa e aos patrocinadores."

O director da equipa, Brent Copeland, também deixou a sua mensagem: "Esta foi uma situação infeliz que aconteceu durante um momento de tensão, contudo, o acto do Javier é inaceitável. Em nome da Bahrain-Merida peço desculpa aos envolvidos." Depois de cinco anos na Movistar, Moreno foi para a nova equipa do Médio Oriente e a sua expulsão significa a perda de um importante homem de trabalho na ajuda a Vincenzo Nibali.

Agora a corrida...

Polanc nem conseguia acreditar no seu feito (Fotografia:Giro d'Italia)
Não vamos deixar que um acto irreflectido de Javier Moreno se sobreponha à espectacular vitória de Jan Polanc.  O esloveno de 25 anos descreveu o dia como o mais difícil da sua carreira, mas sem dúvida que será certamente um dos mais memoráveis, mesmo daqui a dez anos ou mais. Não é muito habitual tão cedo numa grande volta se ver uma fuga tão longa triunfar, mas tendo em conta que Polanc já tinha perdido algum tempo, acabou por não haver grande preocupação para apanhar o colega de Rui Costa.

Os candidatos estiveram mais preocupados em fazer uma marcação cerrada uns aos outros. Chegaram ao ponto de estarem alinhados lado a lado, sem que ninguém tomasse a iniciativa. O Etna merecia que tivessem feito um pouco mais, mas o vento acabou por tornar a subida ainda mais difícil, pelo que o objectivo acabou por ser não perder tempo e não tanto atacar e fazer diferenças. Vincenzo Nibali acelerou, mas Nairo Quintana nem se preocupou em ir atrás do italiano, esperando que Andrey Amador fizesse a perseguição, sem grande problema. Thibaut Pinot (FDJ) ainda passou pela frente, Tom Dumoulin (Sunweb) quis ver como estavam as forças dos rivais. E ficaríamos por aí não fosse Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin).

O russo está a ter um Giro acidentado - chegou a cair nesta etapa - e como precisava de recuperar alguns segundos, aproveitou quando todos estavam a marcar-se mutuamente, a ver se alguém atacava e foi ele quem se afastou. Com os seis segundos de bonificação do segundo lugar, mais uns na estrada, Zakarin está agora a 14 da liderança. Em primeiro lugar está Bob Jungels. Este luxemburguês lá vai coleccionando maglias rosas. Há um ano já a tinha envergado e nesta edição sucedeu ao colega da Quick-Step Floors, Fernando Gaviria. Aos 24 anos, Jungels vai fazendo a sua afirmação e o trabalho feito pela equipa na terceira etapa - que aproveitou o vento para provocar cortes no pelotão - garantiram agora mais uma liderança, que até poderá manter-se pelo menos até domingo, quando houver nova chegada em alto, em Blockhaus.

De destacar ainda Geraint Thomas que sprintou pelas bonificações e ganhou quatro segundos, enquanto o seu colega e co-líder da Sky, Mikel Landa, teve um furo no início da subida ao Etna e foi obrigado a esforço extra. Conseguiu chegar com o grupo. Quem acabou por ter uma grande desilusão foi Rohan Dennis. O homem do plano de quatro anos para ganhar uma grande volta abandonou o Giro logo na quarta etapa. O australiano teve uma queda feia no terceiro dia, numa altura em que a velocidade era muito alta, com alguma confusão a gerar-se no pelotão devido ao vento. Dennis ficou muito mal tratado do lado direito do corpo e apesar do dia de descanso, o ciclista da BMC queixou-se durante a tirada desta terça-feira de dores de cabeça e no pescoço. Por precaução, a equipa e o ciclista optaram pela retirada.

A BMC irá agora ficar exclusivamente concentrada em Tejay van Garderen, mas já a AG2R e a Katusha-Alpecin perderam dois homens de trabalho. A equipa francesa ficou sem Alexandre Geniez e a formação suíça sem Pavel Kochetkov, que foi um dos envolvidos numa queda que afectou também o seu líder, Zakarin. Alberto Losada também caiu noutra fase da corrida. Parecia que poderia abandonar, mas lá conseguiu terminar. Foi o último a cortar a meta, a mais de 38 minutos do vencedor.


Giro d'Italia - Stage 4 - Highlights por giroditalia


Rui Costa deixa boas indicações, Gonçalves e Mendes voltam a perder tempo

Foi uma excelente etapa para Rui Costa. O ciclista português só na derradeira fase da subida ao Etna perdeu o contacto com o grupo da frente. Ainda há pouco tempo, Rui Costa esteve a treinar naquela zona de Itália, pelo que se esperava que pudesse ter alguma ideia, mas claro que com Polanc na frente, o campeão do mundo de 2013 não podia atacar. Tendo em conta que o objectivo é a vitória de etapas, a perda de 1:05 minutos não é nada que preocupe o português. Com Polanc a garantir o triunfo, não era necessário forçar o andamento e o melhor era mesmo começar a pensar que ainda há muita corrida pela frente e Rui Costa quer uma etapa. "Esta vitória deixa toda a equipa mais tranquila, feliz e serve de motivação para as dificuldades que se avizinham. O objectivo da nossa equipa para este Giro era a vitória de etapas e a primeira já está. Seguimos o bom caminho", escreveu Rui Costa no seu blogue.

O campeão nacional, José Mendes (Bora-Hansgrohe), não teve um bom dia e perdeu quase 23 minutos, enquanto José Gonçalves (Katusha-Alpecin) terminou a 10:45 de Jan Polanc. Para o ciclista de Barcelos é um resultado absolutamente normal. Fez o seu trabalho e depois começou a pensar nos próximos dias. Estas perdas de tempo poderão ajudá-lo numa eventual fuga que possa integrar. Já José Mendes certamente que já estará a estudar etapas em que possa também ele tentar entrar num grupo que pretenda disputar uma etapa, longe do pelotão.

Quinta etapa



Nesta quarta-feira haverá uma etapa mais curta, "apenas" 159 quilómetros entre Pedara e Messina, terra de Vincenzo Nibali. A primeira parte do dia será algo acidentada, mas é provável que as equipas dos sprinters voltem a tentar preparar terreno para os seus homens rápidos.

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